Prosas

Foto de cafezambeze

FUNGULAMASO


FUNGULAMASO
1977 RIO DE JANEIRO.
O RIO DE JANEIRO SEMPRE FOI UMA CIDADE VIOLENTA.
EM 1977 JÁ O ERA, MAS NADA QUE SE COMPARASSE AOS DIAS DE HOJE. QUEM SABE A DITADURA
MILITAR SE FIZESSE MAIS PRESENTE...
OS POLICIAIS AINDA USAVAM REVÓLVERES E VELHAS MAUSERS, E OS FORA DA LEI AINDA NÃO
SE TINHAM ORGANIZADO. ME ATREVO ATÉ A DIZER, QUE NA SUA MAIORIA, ERAM APENAS FREELANCES.

HOJE ELES USAM ARMAS AUTOMÁTICAS E SEMI-AUTOMÁTICAS. EXPLODEM BANCOS, SEQUESTRAM
QUALQUER UM A TROCO DE ALGUNS REAIS E MATAM POR DÁ CÁ AQUELA PALHA. NÃO EXISTE MAIS
UMA IDADE MÍNIMA PARA ENTRAR NO CRIME. CRIANÇAS QUE AINDA USAM FRALDAS MATAM GENTE.
SE ERAM MANCHETE NOS PRIMEIRAS PÁGINAS DOS JORNAIS, HOJE CEDERAM LUGAR AOS POLÍTICOS.
ELES FICAM LÁ PELO MEIO. A SANGREIRA JÁ VIROU ROTINA. A CADA DIA QUE PASSA AUMENTAM OS
NÚMEROS. O GOVERNO RESOLVEU DESARMAR A POPULAÇÃO, MAS NÃO INCLUIU OS CRIMINOSOS NO MEIO.
E A JUSTIÇA?... BEM, A JUSTIÇA É CEGA.

MAS VOLTEMOS A 1977 PARA CONTAR A MINHA ESTÓRIAZINHA.
EU SAÍA LÁ PELAS 5 DA MANHÃ, E SÓ CHEGAVA A CASA LÁ PELAS 8/9 HORAS DA NOITE.
SALTAVA NO PONTO FINAL DO AUTOCARRO, E TINHA QUE CAMINHAR UM BOM PEDAÇO A PÉ, POR RUAS JÁ
DESERTAS.
ÁQUELA ÉPOCA, EU USAVA UMA BOLSA PARA CARREGAR DOCUMENTOS, SEMPRE SOLICITADOS PELA POLÍCIA,
E TRAJAVA O QUE TROUXE DE MOÇAMBIQUE, CALÇA E BALALAICA. A BOLSA, AQUI CHAMADA DE CAPANGA,
EU ENTALAVA NAS CALÇAS, DEIXANDO-A COBERTA PELA BALALAICA A FIM DE NÃO CHAMAR A ATENÇÃO.

CERTA NOITE, MERGULHADO NUM SILÊNCIO QUE ME PERMITIA ATÉ OUVIR OS MEUS PASSOS, REPARO
QUE SOU SEGUIDO, E LOGO OUÇO OS PASSOS DO MEU AMIGO, NO OUTRO LADO DA RUA, AUMENTAREM O RITMO.
TÔ FERRADO. VOU SER ASSALTADO!
AINDA HOJE SORRIO QUANDO ME LEMBRO DO QUE FIZ. QUANDO PASSEI POR DEBAIXO DE UM LAMPIÃO,
OSTENSIVAMENTE, LEVANTEI A BALALAICA E LEVEI A MÃO À CINTURA, OS PASSOS ATRÁS DE MIM,
DIMINUIRAM O RITMO. TATEEI O FECHO DA BOLSA QUE ABRI, FECHANDO-O EM SEGUIDA PRODUZINDO
UM CLIQUE QUE SE ASSEMELHAVA MUITO AO ENGATILHAR DE UM REVÓLVER. MANTIVE LÁ A MÃO.
A PERSEGUIÇÃO ACABOU. NAQUELE TEMPO ELES AINDA TINHAM UM MATACO PARA CUIDAR.

NOTAS:
FUNGULAMASO (ABRE OS OLHOS, CUIDADO, PRESTA ATENÇÃO)
MATACO (RABO)

Foto de Paulo Master

Bálsamo do Amor

O prazer em ter nos braços a mulher amada, desfrutar seu doce sabor, o bálsamo do seu amor. Embriagar-se com o néctar dos deuses. Úbere gineceu, transbordante em demasia. Melífero apetecível, oriundo de fonte saborosa.

Foto de Carmen Vervloet

Felicidade

A felicidade abriga-se na alma. Quando permitimos (e só nós temos este poder) que entre em atividade, faz brilhar os olhos, abre os lábios em sorriso, nos faz dar risada por qualquer bobagem, nos incita a cantar, dançar, abraçar o mundo com alegria, pois dentro de um abraço existe aquele calor gostoso, sendo um lugar sempre seguro. Ela nos faz viver a vida com a leveza que só as crianças sabem ter e nos deixa plenos.
Faz- nos lançar um olhar positivo sobre a vida e deixa tudo, ao redor, melhor e mais bonito!

Foto de Maria silvania dos santos

Venha, quero sem limites te devorar

Venha, quero sem limites te devorar

_ Venha, envolva em meus braços, juntos sentirmos um só desejo, entre caricias e beijos, deixe o calor, o suor da minha pele banhar o teu corpo, nossos liquidos se misturar e se aconchegar em um só lugar...
_ Deixe que o desejo do meu corpo te deixe loco...
_ Deixe a essência do nosso amor transborda a qualquer lugar, vamos juntos delirarmos , libidos em juras de amor eternos...
Percebas-tu, que a sua essencia es contagiante e me deixa ofegante, venha delirar em meus braços fazermos trocas de amaços...
Durante a noite, sozinha, não posso suporta, nua , pronta a me entregar, quero dos meus desejos me liberta...
Venha, mergulhe nesta loucura de amor, é que meus desejos já transbordaram, minhas fantasias aumentaram...
Suga de mim este mar de desejo que me tira o sono, durante a madrugada, lembro de você e sinto um desejo que me consome, começo naturalmente a rebolar , imaginando em seus braços estar, quero mergulhar em teu corpo, sentir teu calor, é que já sinto o cheiro de amor que no meu corpo já exalou;..
Te imagino com seu membro já esposto, já na mira de penetrar, quero senti-lo, inteiramente e gulosamente minha entranhas a sugar, quero sentir seu liquido dentro de meu utero jorra, em seguida com minha lingua aspera com sede de sugar, aproveitar cada gota de esperga que escapar...
Venha, quero sem limites te devorar, suas fantasias a qual for realizar!...
Autora; Maria silvania dos santos

Foto de Paulo Master

Anjo de amor

Encantadora criatura cuja tez aveludada é tantas vezes submissa. Compleição elegante, costas pequenas, mãos delicadas, sorriso bonito de lábios suavemente edulcorados. Seus cabelos são perfumados. O busto gracioso e seios protuberantes compõe o enredo de sua formosura. Estética corporal magnífica, desenvolvida exclusivamente para encantar. Composição poética de curvas magistrais, como explicar o enlevo da fina cintura? E o contorno sensual que se acentua dos seios até as coxas? Perfeita simetria! O escritor francês Honoré de Balzac referiu-se a ela como: “anjo de amor, tesouro de vida e felicidade”! Uma bela criatura que segundo as leis da natureza precisa ser cortejada, possuída e amada. A dádiva de seu amor nos tornou desvelados amantes. Não obstante, a suntuosa composição, a doce magia e os cuidados com a vaidade ostentam os tesouros de sua inigualável beleza.

Foto de Evandro Machado Luciano

A Louca dos Espelhos

Os espelhos estavam voltados para as estradas da cidade de Outrora. Todo domingo Ofélia virava os seis espelhos de sua casa para a rua. Ninguém, absolutamente ninguém sabia o motivo. Alguns, mais perspicazes, ousavam especular...
Enfim...
Imagine, você andando tranquilamente pela estrada de chão batido, quando de repente, não mais que de repente, se depara com a imagem mais horripilante que possa ser concebida pela mente humana. Sim, os espelhos estavam voltados para a rua. Ofélia era, sem dúvida, a mulher mais maligna que a cidade de Outrora já conhecera. E não havia nada a ser feito. Ora bolas, a polícia local tentou de tudo: balas de canhão, bombas de hidrogênio, e armamentos bélicos jamais vistos, nem mesmo em Outrora. Os espelhos não quebravam de jeito algum. Magia? Alquimia? Sei não, havia algo de muito estranho naquela mulher.

O que sempre me incomodou naquele ser odioso, – veja bem, refiro-me à OFÉLIA- é que seus surtos psicopáticos aconteciam apenas nos domingos. Nos outros dias da semana, Ofélia agia como uma perfeita mulher de Outrora. Mantinha-se calma, submissa, obediente aos bons costumes e, jamais relava seus calejados dedos sobre os amaldiçoados espelhos. Que tinha aquela mulher? Que vozes lhe ordenavam repudiar os bons costumes e reverter sua normalidade em ousadia repreensiva? Quem era aquela mulher para apresentar ao mundo imagens tão devastadoras?
Ouviu-se dizer, que um dia desses, Outrora havia sido invadida por uma tropa distinta, vinda diretamente de Lugar Algum. Esses rebeldes enrustidos fantasiavam-se de nobres senhores, apoiados sob a retórica social, e desfilavam asneiras em praças públicas. Certa feita, pernoitaram na residência de Ofélia. Ao amanhecer, diziam querer libertá-la dos grilhões de Outrora, e conduzi-la à Lugar Algum.

Que desrespeito! Uma mulher exemplar, corrompida por estes arruaceiros. A partir daí, aquela casa nuca mais fora a mesma. Doravante, todos os domingos seriam de extremo pavor para os transeuntes da cidade.
Aquelas ruas nunca mais foram as mesmas.
Quando a semana anunciava o crepúsculo, todos temiam passar em frente à casa da louca dos espelhos. Enquanto isso, Ofélia sonhava. Sonhava com Lugar Algum.

Exceto nos outros dias, quando se tornava a mulher exemplar.

Foto de Bruno Silvano

A Caverna

Seu olhar era triste, talvez pela saudade que estava sentindo de casa, ou por esta se sentindo uma estranha, em um pais desconhecido, sem nenhum amigo. Cursava o primeiro semestre de Moda em uma das maiores universidades de Londres, mas ainda era uma garotinha ingênua e insegura, cheia de expectativas para o que mundo pudesse vim a lhe mostrar, a lhe trazer.
A primavera chegava, e florescia o coração daquela jovem, que por muitas vezes pegava-se a observar o céu estrelado chorando de solidão, da falta que uma companhia lhe fazia. Deitava-se sozinha na rede para acompanhar a transformações das flores, sentia-se como uma, a mais sensível e perfumadas delas, uma daquelas flores que enfurecida com o descaso das pessoas abria somente a noite, onde realmente tinha liberdade para ser somente uma flor.
Costumava banhar-se em um riacho com águas claras, doces, ao som de passarinhos e da goteira que pingava uniformemente da parte de cima da caverna. Era o lugar em que costumava se encontrar com seu interior, em que botava calma na alma, o que ajudava a disfarçar o seu semblante triste.
Sua solidão era cada vez maior, procurava relações de todos os tipos, porém nada fazia com que aquele sentimento tivesse um fim. Sempre procurava cura naquela caverna, aquilo se tornava um vicio, porém em uma de suas idas encontrou algo lá, algo que para ela realmente valesse a pena, a os seus olhos ele era diferente, tinha seu brilho especial, era espetacular, tinha seu toque de humor e simpatia. Foi paixão a primeira vista, fez dele o seu tudo, passava horas com ele, já mais havia sentido tanto amor e prazer quanto o que ele deu a ela, juntos, ela realmente se sentia mulher, algo que não sentiu com mais ninguém.
A caverna tornou-se seu ponto de encontro, não havia alegria maior do que ir todos os dias para lá, e em seu ponto de êxtase deixou-se seduzir de vez por ele, o acariciou com vários movimentos, se deu toda a ele, utilizou de todo os artifícios que havia aprendido em sua vida, deslizou sua mão suavemente sobre todo seu corpo, fazendo-o sentir vibrações, porém ele já não estava com mesmo brilho de como ela a viu pela primeira vez, porém insistiu em acariciá-lo, deslizando com toda sua sedução, a mão até suas partes mais sensíveis, e em um gesto de amor ela pediu “me deixa cuidar de você?”, porém não obteve resposta, o seu brilho foi diminuindo lentamente, até que sem saber o que fazer, ela o deixou ali imóvel, até que toda sua bateria acabasse. Porém não se deixou abater, saiu correndo em direção a cidade e em menos de uma hora já estava com um novo amor, um iphone 4s, que embora seja menos compacto que seu antigo amor ainda trazia lembranças de seu já sem bateria iphone 5.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Setembro - Capítulo 9

Por três exatos milésimos, simultâneos, milimétricos, Dimas e a torta, seguros de toda a sorte, sentiam-se maiores que a morte. Mas então a dona Clarisse, e ela é escrita assim mesmo com dois "ésses", para que exista um ar mais nacional-socialista ao texto, interrompeu a alegria. O erro é proposital e sempre foi. Esse texto é um erro. Ele começou como uma história de amor, passou ao gênero fantástico, ameaçou ser sociológico, ou até mesmo filosófico. Meu aviso, aos que aguardaram um final para isso, é que essa estória ao menos não terá um desfecho religioso. Deus, e Ele fez os judeus, os cristãos, os muçulmanos, Deus não me orientou em que época situar os acontecimentos aqui descritos, se são verdadeiros, falsos, se é em primeira, segunda ou terceira pessoa. Mas assim segue. Eis o fogo em seu rosto, meu amigo.
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- Antes de a gente morrer, vou lhe dar o maior presente que se dá.

A torta se torna bonita por um instante.

- O maior presente que uma pessoa pode receber é um nome. Um nome é a identidade de um ser, é a sua alma expressa em um tempo. Um nome, e qualquer nome serve, desde que seja um nome, confere para a pessoa aquilo que há de mais sagrado, que é a sua consciência em fazer parte do mundo, que é se definir, que é ter valor, dignidade, no meio do lixo ou no meio da abastança. Eu vou te dizer o meu nome, Dimas. A única prova do meu amor por você é o meu nome, pois o seu eu já tive o prazer de ter nos meus lábios passageiros.

A vilã interrompe a sequência brechtiana.

- Chega. É hora de morrer.

- Não é.

- É.

- Não é.

- É.

- Então morra primeiro.

A infantilidade da disputa entre as duas meninas tornou uma grave situação de pavor em uma briguinha idiota por razão e sentimento. Mas os presentes e principalmente o autor não se importam com tanto. As mulheres serão sempre reducionistas. Sempre vão turvar as palavras em seu favor, na sua fragilidade superior, na sua sinceridade que nunca menciona tudo. A mulher é o tipo mais fascinante de ser humano, pois nunca em momento nenhum de suas vidas vão reconhecer que são um. Dimas era sonso e manipulável. O perfeito exemplo do que idealizaram Sade e Masoc, ainda que não os tenha lido, bem como os cinquenta tons do cinza, Dimas representa o herbivorismo, o verme que carregamos e nos faz sobreviver em um planeta de falsidades e maravilhas inigualáveis. Ele toma a oportunidade, para se tornar o homem que sempre quis e nunca teve forças para alcançar.

- Lasque-se. Ou foda-se. Vamos sair daqui.

Os capachos se tornavam capachos até segunda ordem. O líder agora mudou de cara.
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E a guerra tomou a tudo e a todos, como já fora imaginado. Não vou descrever o ocorrido, já escrevi oito capítulos, imagine o grande espetáculo, você pode fazer muito melhor que eu. A trama saiu totalmente do meu controle, e o prazer de quando isso acontece é surreal, arcadiano, barroco. Bombas aéreas, pessoas espatifando, "epitafiando", bacanais, como na época da peste negra, uma fila em frente a um campo de concentrações, de lamentações. Músicas ressoavam, vidas tomando e perdendo forma. Tudo dentro de si, da sua cabeça pensante, dos dez por cento que a sua alma declara que usa para a sua consciência, aquilo que você esconde de si mesmo, que não se lembra para a sua própria segurança. Os seus antepassados clamam por serem recordados, os seus antecessores clamam para sentir o calor do nosso Sol. Não se sinta culpado. Você é só uma pessoa, uma pessoa com os complexos e desejos, eu também, não se cobre perfeição alguma, eu vou repetir a palavra pessoa e aquelas que forem necessárias quantas vezes forem necessárias, ainda que não acrescente nada na sua vida. Voltarei agora ao diálogo, compreenda você ou não.
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- Corram, carreguem os que puderem, mexam-se todos, continuem a passagem!

Dimas resplandecia em utilidade.

- O meu nome é Tânia e eu te amo. Eu te amo e sempre vou te amar. Nunca se esqueça que eu te amo. Eu te amo e quero você, vou te prender se for preciso, e vou te prender se não for.

Os corpos seguiam no jogo do trabalho e na dança das mãos.

- O meu nome é Tânia, podia ser outro, mas agora é Tânia. Escute-o. É o que eu tenho pra te dar agora. Pode ser que mude, pode ser que se torne outra coisa com os anos. Mas é o amor que eu tenho para o momento.

Clarisse fugiu com seus olhos laranjas, seu nariz de porco, suas pernas de bode. Ela ficou feia e sem brilho. Talvez o anonimato deveria recuperá-lo.

A torta tinha uma aura que lhe cobria a pele. Era uma linda monstra, uma linda e esplendorosa monstra.

- Dimas, eu te quero para até depois do último dos seus dias.

Não havia tempo hábil para a recíproca.

- Corram, corram todos os que puderem...
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O texto não se define nem erudito nem popular. E ele acabou dessa maneira.

- Eu voltarei, pois só é forte aquele que subjuga o outrem, aquele que tem o poder e o tenta até o último suspiro, aquele luta com o destino na ansiedade de ser imortal definitivamente.

Clarisse dá margem para mais um capítulo, distanciando-se completamente da jovem na qual foi inspirada.

Foto de Wilson Numa

Traição: A oportunidade de ser Feliz

Sei de quem gosto, quem quero para a minha vida, mas por destino infeliz que tenho não posso estar com a pessoa amada, mas tento encontrar uma saída, algo que me deixará feliz e me completará parcialmente.
Para viver o que o destino me impediu estaria disposto a arriscar tudo para puder sentir mais uma vez o que é Amor, ter a oportunidade de voltar sentir algo inexplicável, viver momentos inesquecíveis como os de ter de beijar de novo os lábios que me fazem delirar que me deixam louco(fora de mim), o toque que me faz gêmer de dentro para fora, de ouvir a voz que me faz sentir paz, serenidade, alívio como se não tivesse no mundo dor, tristeza, sofrimento e ódio, pena que a solução para viver algo assim não passa de uma "Traição".

Foto de Fernanda Queiroz

O Show

Em meio aquela multidão eu me sentia perdida. Por mais que imaginasse nunca cheguei a pensar que pessoas poderiam ser tão apressadas e barulhentas.

Na hora de reservar meu ingresso optei pela geral, pensei que assim passaria despercebida, a idéia de camarote não me inspirava privacidade e sim destaque e como jamais tinha assistido a show de uma Banda famosa ou qualquer outra tudo era novidade. Minha experiência se resumia nas quermesses organizadas pela Associação Comunitária da Vila onde o som da banda dominical entoava valsas enquanto desfilávamos entre barraquinha de jogos e doces e aguardávamos os fogos, estes sim eram a estrelas das festas. Ficar olhando para cima vendo um pequeno zumbido se transformar em imensas partículas colorida era um espetáculo, mesmo que ás vezes acarretasse lembranças nostálgicas, eu amava aquele céu pontilhado de luminosidade.

Enquanto tentava entrar em um enorme recinto, daqueles que se vê somente pela TV, empurrada para lá e para cá por uma multidão que parecia não conhecer as normas da boa educação, estava pensando o que tinha me levado a tomar esta decisão.

Já havia se passado quase dois anos desde que falei com ele pela última vez, neste tempo tão forte quanto às lembranças que sobreviveram estava meu medo de saber o rumo que ele tinha dado a tua vida.
Afastei-me completamente do mundo das manchetes, onde certamente ele sempre seria destaque. Não lia revistas, jornais somente seção de investimentos e cultura, TV canal fechado sobre economia e agricultura, assuntos fundamentais em meu trabalho.
É claro que sem que eu pudesse evitar ás vezes os ouvia cantando, no radinho de pilha de algum operário, nas grandes magazines de eletrodomésticos na cidade, na faculdade onde os rapazes bonitos e famosos fazem à cabeça das garotas que até tatuavam em teus corpos nomes juntamente a desenhos exóticos.
No principio sofria muito por isto, depois sabendo que nada podia fazer, passei a ignorar, afinal quem tinha mandado me apaixonar pelo ídolo do Rock?

Finalmente tinha conseguido entrar no estádio onde a multidão se aglomerava onde estar á frente era certamente um privilégio para expressar o fanatismo que alterava o comportamento das mais diversas maneiras.
E agora estava ali, há poucos minutos e metros de onde ele entraria, duvidando de minha sanidade em ter tomado a decisão de ir vê-lo. Talvez se não fosse próximo à cidade que estava a trabalho há dois dias, jamais teria ido. Fui exatamente para ficar dois dias resolvendo questões de Marketing, mas era impossível não ver todos os outdoors espalhados pela cidade. Minha primeira reação foi de pânico, queria voltar sair correndo ao fitar ele entre o grupo sorrindo, como sorriu muitas vezes para mim... Deus...as lembranças voltavam em avalanche fazendo meu corpo estremecer, meu coração disparava, como aquele ressoar de buzinas que soavam atrás de mim, foi quando me dei conta que estava atrapalhando o transito e com mãos tremulas segui em direção ao hotel onde me hospedara, parando somente em uma loja especializada onde adquiri um potente binóculo, se fosse levar esta loucura a frente ele seria necessário, pois pretendia me manter mais distante possível e algo dentro de mim gritava para ir...Eu iria.

Já se passava 1 hora do horário grifado nos cartazes, a multidão que formara era tudo que jamais tinha visto, parecia uma disputa de quem conseguiria gritar mais alto, ou agitar mãos blusas lenços ou faixas mais altos. De onde estava bem retirada da multidão a tudo assistia ocultando minha ansiedade.

De repente os gritos se tornaram mais forte e contínuo em resposta a presença deles no palco.
Minhas mãos suavam tremulas, meu peito parecia que iria explodir lançando meu coração ao palco, por um momento pensei em desistir e sair correndo para meu abrigo, meu canto onde meus segredos me protegiam... respirei fundo, ergui a cabeça, encostei em uma pilastra, como se ela pudesse segurar meu fardo de dor, estava cantando acompanhado eloqüentes pela platéia minhas mãos levantaram o binóculo sem a pressa de quem esperou tanto por este momento, lentamente o ajustei aos meus olhos onde avistei gigantes holofotes, estava tentando me orientar, olhei em volta tentando ajustá-lo. Vi o baterista movimentado ao frenético ritmo que me fez piscar várias vezes, parecia a minha frente, lentamente movi para a esquerda encontrei o saxofonista, voltei-me para a esquerda devagar, quase sem respirar para não perder o foco, quando o vermelho da guitarra coloriu as lentes senti um impacto tão grande que parecia atingida por um soco no estomago.Engoli saliva inexistente, tentei suavizar os ressequidos lábios passando a língua por eles, meu peito arfava e meus olhos buscava naquela potente tecnologia, tua face amada.

Recosta bem no fundo, longe da entusiástica platéia sabia que precisava vê-lo. Determinada, ajustei as lentes tentando reencontrar o foco reluzente de tua guitarra e lá estavam tuas mãos a segurarem firmemente, dedos firmes dedilhando-a, mãos de artista. Fui subindo, encontrei tua camisa alaranjada, Deus eu amava esta cor em você, lembra-se daquele casaco? Quando o vi sabia que tinha sido feito para você. Caiu como uma luva ficou lindo como sempre foi, será ainda que o guarda? Ou estará jogado e esquecido em algum armário?

Pela camisa entreaberta pude ver tua inseparável medalha segura pelo fino cordão de ouro que cismava em colocar entre os lábios quando estava nervoso, como naquela vez que esqueci o celular desligado por toda tarde exatamente no dia que te aconteceu um imprevisto, tinha que viajar, e não conseguia contato. Quando conseguiu falar, a primeira coisa que disse... já mastiguei todo meu cordão... risos, era sinal de perigo... mas também das pazes de teus beijos ardentes de tuas palavras que compunha as mais belas declarações de amor.

Teu rosto... Deus... a barba feita, cabelos desalinhados como sempre te dando um ar de garoto, tua boca em movimento, cantando ... para a platéia...para o mundo, como gostava quando cantava só para mim que entre risos sempre podia ouvir dizer que me amava... muito, fitando-me longamente com este olhos da cor do oceano e infinitamente maior, pois era a janela que me transportava para as portas do paraíso que meus sonhos tanto almejaram.

Deus... é ele, meu eterno amor, há poucos metros de distancia, no palco, no teu show, no teu mundo.
A lente ficou turva, lágrimas desciam copiosamente por minha face, uma dor física me invadiu fortemente fazendo-me escorregar pela pilastra até encontrar o abrigo do chão, pensamentos desatinado trazia o passado de lembranças onde o presente se fundia em uma imagem com o olhar perdido na platéia.

Teus olhos sorriam as manifestações enlouquecidas, gritavam teu nome em todos os tons, gestos, mãos erguidas, cartazes, onde os pedidos nítidos requeriam tua atenção... teus olhos vagavam acompanhando em um misto de alegria e encantamento.
Olhos para o flash, foi como me disse um dia. Que era um olhar reservado á todas outras garotas do mundo... que para mim sempre seria um único e eterno olhar.
E agora? Que olhar era este? De flash? E se pudesse me ver, me olharia de novo como se tivesse me inventado? Como se tivesse me feito nascer a partir de teu olhar?

Levantei-me cambaleante, tonta, ouvindo o frenesi se tornar mais acentuado, você jogava rosas...a toalha que usou para secar teu rosto...como se doasse um pouco de você...e tudo de mim.

Às vezes vivemos em minutos, muito mais que em dias ou meses, minha mente parecia entorpecida diante da lente que deixava você tão perto quanto eu queria estar, teu rosto, teu sorriso, teu corpo... você do jeito que eu sempre amei... no mundo que não conhecia...no palco...na fama...tua vida, tua carreira, teu destino.

Sai caminhando devagar, virar as costas me custou muito... muito mesmo... nunca saberá o quanto...
A menos que um dia queira assistir um show... em um palco diferente... cheio de galhos e flores... talvez se quiser se juntar á platéia dos passarinhos... ouvindo somente o som de minha flauta, que mesmo tocando baixinho pode-se ouvir além do horizonte...

Fernanda Queiroz
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