Colheita

Foto de Robson Coelho

O lamento indígena

O lamento indígena.

Havia felicidade, havia alegria
Todo dia era dia
Caça, pesca e colheita
Havia música tambores e dança.

Éramos livres na terra de ninguém
Éramos felizes pois a terra era de ninguém.

Mas aí sem ninguém perceber
A liberdade se foi
A vida se acabou
A terra sem dono com dono ficou

E em terra de dono branco a infelicidade indígena se instalou
Nos perseguiu, nos feriu, nos refletiu um mundo doente
Um mundo carente, um mundo pobre injusto e imundo.

Na terra de ninguém a natureza era vívida
Na terra de alguém homem branco a tudo poluiu
A tudo destruiu
A tudo poluiu
A tudo desconstruiu.

Insatisfeito com a falta de propriedade capitalizou
Num mundo cheio de liberdade escravizou
E onde morava a paz guerreou e matou e matou.

Foto de Lou Poulit

CANTOS RECENTES DO POETA PASSARINHO (PROSA E VERSO)

BLASFÊMIA

Porque eu não quis o fardo de perdê-la, com cada dardo de luz a sua estrela moça me apunhala; mas o tempo entre nós, de dedo em riste, fez-me triste pela sua intangível plenitude. Em quietude, reflito. E me lembro da sua pele tesa, ansiosa sobre trêmulas fibras, me comendo como a uma jovem presa predada às sombras frescas do dia (hoje dessa minha tristeza). Como esquecer suas tramas ingênuas, de uma mulherice de reações rosadas vestida de saltos e brilhos para a noite? Como resgatar tão tênues limites tangidos pelo olhar, quando dissimulando bramidos e silêncios de um improvável e profundo mar fazíamos concessões fugazes, como espumas na areia?

Porque como um bardo adolescente eu quis detê-la, e ao seu instinto inevitável na ponta dos pés, a sua estrela ferida por outro vagueia ao rés dos meus exílios e possui os brancos fartos dos meus pelos, sem pressa, até dos meus cílios, ferrenhas grades dos porões dessa minha lágrima tardia e inconfessa. Reflito. À beira de penhascos resvalo, e reflito. Sob o trepidar dos cascos da memória me ralo, mas ainda reflito. Mesmo ao engasgo com que rasgo os vazios subterrâneos da minha decrépita esperança, desesperadamente reflito!... Até que refletir seja apenas um estratagema, ignóbil, imperdoável e ironicamente necessário, que à transitoriedade de tudo blasfema: o amor não tem idade!

Mas é tarde. Porque entre a reflexão e a lágrima já não há vago, é tarde. Porque a certeza que trago caminha de bengala, porque não se cala mas já não trama, é tarde. Porque o fim de quem ama não está no decurso do tempo nem no percurso da distância, mas na vagância de não amar; nem na demência da moral nem na presença de juízo, mas na ausência de saudade; o fim de quem ama está em não se exercer o tempo. A melhor de todas as minhas descobertas fora encontrar, nas flores abertas, o divino de cada mulher, em que devia crer como menino; mas a pior de todas as minhas íntimas blasfêmias, foi não me prostrar ao que sempre houvera crido nas fêmeas.

(Itaipú, mar/2008)

AMANTE EU ME QUIS

Amante eu me quis
E ela quis-se prenda
Cio e cena, senda
De uma bela atriz;

Jugo e julgamento
Paguei preço justo
Mas depois, que susto...
Mesmo hoje inda tento

Inda quero e busco
Tombo ávido e brusco
Nos dorsos da vida:

Quem sabe, com sorte
Morro inda de morte
Do amor comovida.

(Itaipú, mar/2008)

ERGUE-SE A VIDA

De sob o tempo indolente de um caminho íngreme e da sua penitência, de descer sem resvalar para saber como voltar, de não ter a quem contar como devesse ser julgada, e saber que a solidão voluntária mais que um direito é uma dádiva, ergue-se ávida a vida.

De sob julgamentos ilegítimos, os ritmos do destino crido, o protagonista interino, ferido pelo próprio veredicto, o bailarino das sombras, refém das próprias luzes, exilado no silêncio e na castidade, banido remido da cidade profana, nele ergue-se a vida, soberana.

Porque o amor não é óbvio como a nudez que se revela, porque se a procela íntima jura e insulta, a paixão mesmo impura indulta a florada dos espinhos... O amor não tem caminhos e caminha mesmo longe dos aplausos, como um monge velado por sua estrela, selado por seu arcano... Meu amor é pela vida um amor humano.

(Itaipú, mar/2008)

ANTES

Antes que me profane esse céu que eu mesmo criei por querê-la, tanto, de minha alma tardia como seu leito tardio... Antes que me sacuda um aplauso de mim mesmo arredio, e a chama expire e repouse sobre a cinza o pavio e soluce a sombra do que antes fomos... Antes que a paixão, descida dos seus tronos, renuncie à nossa milenar cumplicidade... Antes que essa saudade me deserde dos seus hormônios, pelos meus poros, posseiros das minhas estrelas, juízes dos meus himeneus... Mas antes!... Antes que meus rasgos desalinhados sejam remendados por impura compostura e se recomponha o herdeiro das idéias, dos golfos nas traquéias por impostura, a criatura completa perdida da sua costela, incontinente em sua cela: solidão... Oh, antes que uma vergonha aflita me possua e a desdita lembrança dela, inconha e nua, toque fundo no berço o sonho que já não sonha... Poesia!... Oh, minha poesia, arrebata-me das palmas desse papel frio e sedento! E colha-me em teu colo colossal... E recolha meu corpo estilhaçado, poro a poro, esse impagável fardo em que ainda agora eu ardo e evaporo, incomodado, sobre uma chama abissal.

(Carioca, mar/2008)

POR QUE SE ME DESTE?

Porque se me deste manhã, quando já não havia um luar que me oferecesse a sua esmola, implora esse meu amor agnóstico por um crepúsculo de relâmpagos e lama, arrastando-se o leito cósmico, em que se alargue bem, e aos poucos, com roucos protestos, o inventário dos meus futuros restos, aos punhados, desapunhalados dos tremores que acarinham o gozo que me assola... Eis, enfim, a mais desejada esmola!... Ah, por amor mais se amarga a ausência do que se alarga o silêncio na distância, e mais se erguem vãs defesas do que se embarga a manhã de ilesas estrelas... Pois o amor não tem sentido em si mesmo, porque dar-se exige quem o receba, ao alcance do tato! E porque o fato... É que não suporto mais essa espera! Apenas um momento quisera. Depois quis o tempo de espera. Mas o amor exagera e agora só quer tudo, o tempo todo. Não transige, não mente e mais se sente nada, tanto, tanto... Oh, por que tanto assim se me deste, Manhã?

(Carioca, mar/2008)

ESPANTALHO

Amo... Eu amo essa mulher. E se tanto eu não a amasse hoje que ruge e fulge no poço o anjo quando ela se debruça sobre o céu grisalho, eu seria tão injusto quanto um fútil amante, plantando em meu peito um inútil espantalho. Pois que se deite comigo à nossa colheita e abarrote as suas entranhas de sementes e acolha esse rio meu de estrelas cadentes (e o seu silêncio morno) à espreita
dos nossos futuros percalços, inseguranças, intrigas, ciúmes, brigas e tudo que desune. Protegido, esse nosso amor permaneça imune e ao mais profundo arrebatamento desça.

Amo... Eu amo essa mulher. E se tanto eu não a amasse em lucidez, nem fosse a sua tez a aurora dos meus escuros (toda vez que o amor se mete em apuros), o espantalho, refém do próprio espanto, em vez de um encanto seria um anjo degredado. Pois que venha o amor à mesa, e a sua chama acesa ao fio dos olhares, sobre a comovente juventude dela e a minha paixão, essa cadela indecente... Pois que se mantenha o indignado julgamento alheio longe do dorso amado, sem nenhum arreio, veio profundo dessa droga genérica, minha liberdade homérica e indigente.

Ah, como eu amo essa mulher, tanto... Com o vigor de cada fio branco, quitado com a minha velha juventude inquieta, que me arde o peito franco de poeta enquanto guarde o quanto exerça o espantalho, emancipada do talho, a emoção da minha amada.

(Itaipú, mar/2008)

CALÇADAS DESSA NOSSA VIDA URBANA

Calçadas dessa nossa vida urbana... A insana crença de ser e estar sempre dando uma chance ao destino, ser solto no mundo e, ao mesmo tempo, estar como na sala, receber e ser também recebido e, em compartilhada privacidade, desarmar o proibido. Sobretudo a nossa libido, assenhorada, indultados de habitá-la.

Alçadas pela divina verve humana (que assim profana que se preserve) ao dossel da densa solidão da urbe, por mais que lhe conturbem as dívidas das tão vívidas ilusões tão frágeis, ah, as nossas calçadas intermináveis são retos labirintos de preces devotadas, de penitências e caçadas. Nenhum decreto, nenhuma vela acesa... Qualquer promessa liberta a alma, ilesa de ser no fundo só e íntima do exíguo (ínfima queixa que nem vale à pena); à lua plena, quem precisa de liminares em lugares onde os olhares, como floradas, defloram a jurisprudência do desejo?

Pois na minha calçada predileta, hei de plantar ainda uma placa. Mas uma placa de poeta, como convite póstumo a Baudelaire e Pessôa, onde escreverei: "VOILÁ LA VOLUPTÉ". Por que não? As paixões são também portuguesas, como as volupitosas pedrinhas de Copacabana! E em baixo: "MOI ET TOI". Onde habitamos e somos habitados...Oh, as calçadas dessa nossa vida urbana.

(Itaipú, mar/2008)

ME ABDUZA

De manhã, a manchete de hoje era um salto de espinha abaixo, sem truques nem cambalachos, sem volta, sem escolta... Implume, à beira do ninho. Imberbe ao fim do caminho.

Mesmo sem ter a quem pedir ajuda ou conforto, nem morto, meu coração, eu te renego. Não te nego o direito (nem ao torto) agora que enfim tuas dívidas cairão do prego, que virá ela pousar plena ao meu tão sonhado alcance... Não caia o poleiro, o verso não canse. Porque voa essa pássara no rumo em que lhe aguarda o amor e a poesia... Pois, que à revelia ela arda! Pois que a valia de arder é ter amado.

Mas não espero ser meramente amado pelo seu amor medido em eras de anos-luz. Nem apenas seduzido. Quero ser em verdade abduzido! Varrido e vasculhado, desidratado pela cauda de um cometa, que me reduza à uma lágrima de mulher... Ah, Pássara, me abduza.

(Itaipú, março/2008)

SE FOSSE TANTO O AMOR CRUEL

Tomou-me, ufano e covarde à faina da velha bateia, à tarde, de ser notado por tardios, preciosos olhares, roubados ao céu e ao mel mas curvados ao seu e ao meu: um desertado amor magoado.

Era tanta, tanta a sua mágoa, a dessedentar-se no meu espanto, que pensei: se fosse tanto o amor cruel não cantaria seu canto a cotovia, não haveria o sonho de amar, nem (que falhassem) tantos venenos, e nossos enganos seriam pequenos.

Devolveu-me esse amor (que ainda arde) a mim mesmo, depois e a esmo, numa calçada sem esquinas: se fosse tanto o amor cruel as minhas amadas seriam todas bailarinas e aos seus palcos (tão mais ardidos) talvez me faltassem proteínas.

(Carioca, março/2008)

PINTURA FRUGAL

Súbito, nas palmas da lua o tema...
Plena e deserta a tela implora a cena
Como um teorema a ser consumado.
Ávida e nua, dádiva a ser consumida.

O amor usa de sofismas só seus
Para nos converter em cismas suas.
É demônio e é santo. Até deus!
Doando luares como hóstias cruas.

Traços, aguadas, promessas, primícias
Devassas servidas, doces sevícias...
A arte é um coito que nunca termina.
Pierrô afoito. Oh, afoita colombina!

No epicentro de um pouco épico tombo
E no assombro de um gozo nem tão estético
Em que a febre viceja (e a alma a deseja)
O artista verseja, quase profético:

Pintura frugal, a dar-se a mim estreito
Hás, limiar, de dar-se além do leito.

(Carioca, março/2008)

CANTOS GAIOS

Eis a vida, aos pés da sorte.
Um sonho galgo, galgando gratas misérias
Sem temer tombos e trombos que suporte
Nos largos ombros do anjo que lhe vier.

Donde vejo essa, na estratosfera
Perdoaria Dalila e acudiria Prometeu
Porque a eternidade é uma quimera
Para um amor tão generoso como o meu.

Do que entre fatias fugazes de amenidades apenas
Fazendo mágicas tenazes (nem tão amenas)
Seria eu eterno e inteiro entre seus dedos
Mais à vontade do que no caderno do jornaleiro.

Ah, eu pagaria com juros as minhas juras
Doando-me a ler todo dia o jornal de ontem
Só para recair de todas as minhas curas!
E loucamente amar de novo... Oh, cantem

Ao precipício entre os olhares e aos seus soslaios
Meus pássaros, os meus cantos gaios, cantem.

(Carioca, fevereiro/2008)

ESGUICHO

Um esguicho aspergindo agonia tingiu o nicho escuro da minha auto-estima, com tons claros de uma líquida e morna alforria. Eu corria tanto. Corria e corria... Como um bicho sem paz eu zanzava, sem sair jamais do lugar em que estava; preso no visgo, vesgo de amor eu não via meus escombros na poça (a que fiz jus!), do corte certeiro de um raio de luz.

Dissimulada, a estrela que fez isso (do instinto intangível, íngreme e insubmisso o poeta dócil, submerso no esgarço do velame e acoleirado pelo verso ao firmamento) quer apenas que eu ame. Ame e ame... E escame o brilho d’alma ao vento. Mas o amor teme a própria catarse e por uma múltipla entorse (do salto para dentro) exila-se num centro em que tudo se lhe roce.

Ah, o amor que desnuda e desarma... O penitente que em sua Compostela espera ungir-se com os estilhaços da janela, no entanto preserva os cordeiros do vitral; até que converta-se a noite atéia em dia, e a alcatéia em coral e a teia casta da anorexia em um esguicho lustral.

(Carioca, fevereiro/2008)

UM RAIO INSUSPEITO E ARREBATADOR

Um raio insuspeito e arrebatador entre opostos exílios, antes tramados por escolhas colhidas à razões tolhidas, nos fez amantes desertados.

Quando nada os detém, olhares detonam uma reação em cadeia servida à ceia de um desejo vasto, em que sós nossas testemunhas somos, ideais sem pejo de aias e mordomos, comensais intrépidos em tépidos covis...

Oh, tépidos covis da madura idade!
Oh, ledos covis sem cocho ou grade!

Um olhar insuspeito e arrebatador do exílio colheu-me e comeu-me à flor da minha abissal leviandade; a lágrima fringiu-se e evaporou-se, cingiu-se de cinzas o peito que a trouxe, decerto, meus covis hoje correm a céu aberto.

(Engenho Novo, fevereiro/2008)

JARDIM DO ABISMO

Nem eu me lembrei do tempo nem ele se apercebeu da minha ausência, mas se agrisalharam os meus pelos... Nem eu quis vertê-los nem capturei os seus buquês, mas os momentos voaram do cálice... Seixos que um dia, talvez, encaixem-se, a memória amontoa, assim à toa, cobertos de pó nos recônditos do absurdo... Em cada beijo um estalo, eco surdo de lirismo, que roga um resvalo à nudez das paredes. Ah, os dias sem amar... Ajardinam o fundo do abismo.

(Largo da Carioca, fevereiro/2008)

TEZ SEM EXTREMOS

Ah, porque ela não tem na tez extremos
(Salvo os olhos, que também são morenos)
Pouso a alma e vejo o meu próprio reflexo
Porque o sexo, estância além do mundo

Rio profundo, caminho estelar
Grafara n’alma, ao silêncio das curvas
Feitas sem o zelo de me tomar
Dos limites: A morte não me quis.

Restou, feliz, este amor são e salvo
Alvo das suas perguntas tolinhas
Rangendo as janelas donde as rolinhas
Nos espiavam, pelas persianas;

Em preces profanas, tão doidivanas
Sim, eu amei... E como nunca soubera;
Porque não era o fim a antiga era
Porque eu não estava ainda preparado.

Pouso alado (ao lado a tez sem extremos)
No ermo lúcido do amor em que cremos.

(Carioca, fevereiro/2008)

VENHA

Venha, porque eu tenho
Bem mais do que fui
E donde hoje eu venho
A dor não possui;

Venha, porque trago
Bem mais do que cabe
Neste meu vago
Que ninguém mais sabe;

O meu sonho é um salmo
Na tez d’alma escrito
Com letras de um palmo
E ainda a ser dito:

Se o afago perpassa
A tona do lago
E é luz o seu cio...
É o amor que trago

Guardado e tardio...
Divina devassa.

(Carioca, fevereiro/2008)

QUISERA O AMOR QUE EU AMASSE

Quisera o amor que eu amasse
Tanto, tanto ele quisera
Que ao desarmar-se o amor que era
Ele antes me devassasse.

Quis o amor assim tocar-me
Tanto, tanto, o sol ao lis
Que o céu que de mim eu fiz
Devassou a minha carne!

Será sempre o amor assim.
E eu serei sempre o que sou
Sem saber mais que soubera.

A me armar, como arlequim
O amor vem (quem nunca amou?)
Deserdar-me do amor que era.

(Carioca, fevereiro/2008)

ME SABER ME BASTA

Eu dissimulava por onde fosse. Cantava o tempo todo. Sussurrava, depois quase gritava. Ah, eu cantava, cantava, cantava... A música era a da amada, sua preferida. Eu a tomava emprestada. Se pudesse, seria capaz de roubá-la! Eu dissimulava perdidamente. Colhia todos os olhares do caminho mas só ficava mesmo com os dela... E com a carne úmida dos sorrisos e o risinho tímido dos mamilos e o andar, que mal tocava os pisos, e os glúteos. Glúteos? Oh, comprimi-los...

Eu dissimulava enquanto ria de mim mesmo. Não por auto-piedade ou desestima. Eu dissimulava piamente! Ela era um templo, uma porta entreaberta. No nicho, uma absolvição além da palma, roçando a alma como açoite de dia, de tarde e de noite, vazando entre os dedos da mão tenaz. Sonhada... Uma graça fugaz sob a coberta de credos e dogmas deserta. Generosamente incontinente. Mas até seu resíduo era emprestado, como tudo o que era dela crido. Até que da vidraça fez-se o alarido de miríades de estrelas, janela afora vazada.

Mas não doeu nada, não doeu nada... Eu mesmo fiz isso. Avidamente eu mesmo fiz isso... Não há mais no que crer. Me saber me basta.

(Itaipú, fevereiro/2008)

O ESPELHO E A BAILARINA

Esse amor meu de poeta...

Cuja paz decreta e se professa ungida
Que, impune, confessa ser a própria sobrevida
Do réu imune, ao rés de mais uma vez tocá-la
Com um arrepio de sopro, pele tão desejada...

É uma montanha que jamais se cala!
Mas resvala e em profundo silêncio se esbate
No magma de um improvável vate.

Dentro dela habita uma estrela antiga
Que sussurra uma cantiga e nina a emoção
De ser a mansão e a monção da bailarina
De infladas cortinas e peito pronto a se fender...

Oh poesia das entranhas do ensandecido
Sou eu que fendo! Sou eu que fendo! Eu, a montanha...
Ao gume úmido, entre arabesques colhido...

Na poça, em que de versos me embriago seu
Tombam a lua e o gozo com que pago eu
As minhas brancas súplicas no breu da fonte...
Então... É a poça que seduz o lago?...
Ou a dor de amar? Que a ninguém se conte...

Esse amor meu de homem...

Cujos olhos comem a carne emancipada
E que verte o sonho e o seu torpe inchaço
No levitado abraço do amor da amada
Não aconselha jamais o que se cobre...

Mas esse nobre amor meu sempre a espelha
Concede a verdade e a fantasia e as espalha
Aos dentes da noite e aos palcos do dia...

Que dentro do espelho havia nela um abismo
Por cujas paredes o seu sismo, que a desvalia
Refém das suas areias e dos meus espumados dedos
Escorregava e em mim cravava velhos medos.

Oh céus dos meus sentidos
Eu fui o mar! Eu fui o mar! E o espelho-mar...
Mas sou agora os rochedos... No olhar, bramidos...

A moça, estrela cujo sonho na poça repousa
A senhora da lousa, de sapatilhas desatadas
Confia como as fadas no amor frugal, mas ferina
Despetala o seu amor de bailarina, cada centelha à mó
Do aço nu... Do espelho amado que a espelha só.

(Itaipú, Fevereiro/2008)

HOJE A CELEBRO, TÃO GUARDADA

Não era minha, nem tua
A mão que encrespava o mar
Pastoreava o vento
E escavava os grãos de areia...

Nem na vinha, nem na lua
Nem ao amor restava amar
Tão doce, o resto lento
Mais que o sonho pastoreia...

Era d’alma dos amantes
Que, indelével, o tempo habita
Montando em pelo a delícia
De sermos assim da vida

Ermos d’estrelas distantes...
A lembrança mais bonita
(a mais eterna primícia)
a emoção na voz contida

Celebrada, tão guardada:
Como, Sempre, és tão amada...

(Itaipu, mai/2007)

PREDESTINAÇÃO
(Poema Tríptico)

Manhã I

Há dias, Mulher, em que dias hibernam
Como cios em que se deveria amar.
E dias que tardios anunciam:
O amor vem... E nada o poderá evitar!

Como ígneos folguedos cósmicos
Astros saltam reluzindo, acima do mar
Das profundezas do desejo vindos.
E na areia a luz de um gozo rendado
Extrema unção de um amor guardado
Prenda-fruto do silêncio e da madrugada...

Ambas fugidias...
Nossa alma vagueia
Como fossem dois dias.

Tarde II

No entorno do sol se ergue uma ciranda
De palmas morenas escritas por Deus...
Os sonhos meus andam apenas
Centúrias pequenas, que eu mesmo cri.

No entorno da rua em que habitam passos meus
Não quis Deus nenhum cão nos portões
Mas vagalhões vieram de longe
Ilhar de olhares vários meus olhos perdulários
E varrer do poente os meus azimutes de monge...
O rastro não mente, eu mesmo o escrevi.

Areia antiga...
Que amor te trouxe, Branca, a perdê-los
Os brancos fios dos meus cabelos?

Noite III

No fundo do covil, ao rés do céu,
Prostrou-se (quem viu?) o cajado como um manto.
Nenhum fogo apagado aquece tanto...
Só a morte em que não se morra, só a borra de aço-mel.

Ah, Tristezas, que me fizeram dulcíssimo mecenas
Palmas morenas (em que eu não previ proezas)
Te aguardam, madalenas,
Porque uma só Madalena haverei de tocar, tanto...
Mesmo antes de chegar, sanha e pranto
Essa vaga já me alarga, com o tanto que é feliz.

Desencanto: Dalva-Lis...
De lãs que não vesti mas, por um triz, já me afaga.
Há manhãs, Mulher, que jamais teriam paga.

(Itaipú, 30/ago/2007)

ANIVERSÁRIO DA MIXINHA

Hoje celebro uma estrela, extrema estrela velada pelos véus de antigas eras, de fogaréus, de esperas, quimeras, deveras dada; que em silêncio crepita n’ara desdita que lhe valha a dor do peito. Acalenta. E por direito se apascenta dos lapsos de um anjo canalha...

Hoje celebro uma fêmea, efêmera crença minha, roubada a um conto de fadas por arcanos, comezinha; e por anos de vigília, ppr um gozo que eviscere a plenitude, em que se esmere a rapsódia do claustro. Fausto íntimo, fausta chama, que só não cala a quem não ama.

Hoje celebro uma luz que só nus temos por nossa; querer bem a um anjo alado, de um querer que não se apossa, é um amor iluminado, que não se pode tocar sem que se toque a si mesmo, por inteiro. É o amor mais verdadeiro... Inconho amor, já por si mesmo tão naturalmente celebrado.

(Itaipú, maio/2007)

Foto de Henrique Fernandes

COLHEITA DE ESPERANÇA

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Há uma extensa paixão que há muito não habita
Na suprema realidade da minha indomável solidão
Sobrevivendo á seca despontada nos meus vãos
Vigorizados e demasiadamente repetitivos
Desolados em gotas que acumulam nuvens de dor
A solidão deixa de ser triste quando é liberdade
Numa verdadeira terra de ninguém de alguém
Sobre um planalto varrido por ventos de fogo
Onde as sementes esperarão o regresso das chuvas
Adormecidas na erva daninha do esquecimento
Na franja de uma esperança que absorve o amanhã
Desnudando arbustos que dançam sem eco
Deixando apenas uma crosta salgada de lágrimas
Semeando no rosto uma colheita de nada
Num jardim sobre uma lua que não existe
Esvaziando-me de entrega a esperas que não esperam
Afio as garras do rancor sobre o dorso
De um rochedo de ausências nas minhas vontades
Que reclamam poéticas num alarme que soa revolta
A saudade devora o tempo de medo mas saboreia
A esperança encontrada num amor tatuado
No Sol que bronzeia de prazer cada ontem
Do meu chegar hoje a este cálice de emoções
O amanhã é sombra iluminada de luz
De carências que a alma exige do corpo
Que trago ao colo de uma paixão contida
Num subsolo de duvidas confirmado
O ideal toca-me o olhar com a perfeição
Num puzzle que a solidão não completa
Gritando o murmúrio de uma alma gémea

Foto de Henrique Fernandes

TRABALHO ÁRDUO DE TRABALHAR A VIDA

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Cultivamos sabedoria no campo do sofrimento
E regamos com lágrimas de dor
As sementes que rebentarão inteligência
No trabalho árduo de trabalhar a vida
Anestesiados pela esperança
Na colheita de felicidade
Semeamos carícias, colhemos ternura
E encontramos no dar
O nosso receber

Foto de Henrique Fernandes

DIAS FELIZES

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Não modero o consumo de paixão ao pensar em ti
E corrijo todos os meus erros por te amar
Sou um poeta de muitas palavras relaxantes
Que fazem esquecer o homem normal que sou
Um homem sem truques a transbordar de amor
Não tenho segredos a proteger e deslizo livre
Como um pincel de tons luminosos numa tela
Sublimando o verniz da minha pura verdade
Que sem abusar de vaidade me orgulha o ego
Como pessoa entras no meu pensamento
Desferindo realces ao volume maravilhoso
De como é limpo o teu ser de mulher
Graciosamente irresistível renova o meu brilho
Em aromas que reflectem a minha personalidade
Que sobe ao altar dos teus detalhes de rainha
Embaixatriz dos meus sentimentos de amor
Indicando-me o caminho da vida com energia
Fazendo-me guardião de palavras de esperança
Que te falo aos olhos com o meu olhar terno
As tuas carícias são autoridade de felicidade
Uma boa colheita de recompensa não pedida
Ao abraçar-te sinto a harmonia da lealdade
Dos sentimentos que partilhamos e percorremos
Num vertigem de emoção e encantamento
Somos a legitimidade do que tem valor
Requintados para os nossos dias felizes

Foto de Rose Felliciano

REFLEXOS DO TEMPO

REFLEXOS DO TEMPO (Rose Felliciano)

"O tempo não age em favor
De quem magoou e fez sofrer um amor
Mas é elixir de avivamento
Para aqueles que, magoados,
Ficaram no esquecimento...

Todos os dias o sol nasce
Aquecendo o coração frio e esquecido
Por alguém que,
Mesmo não tendo merecido,
Teve o melhor do nosso amor.

Assim vão passando-se os dias
E aos poucos a alegria
Vem nos fazer companhia
Em cada novo amanhecer.

Esse é o bálsamo do tempo
Tudo vai ficando no esquecimento
Como algo que passamos,
Amarguramos e choramos,
Mas não nos incomoda e não desejamos mais...

Então, como por milagre,
Ficamos mais jovem e voraz
Como se voltássemos atrás
Para amar pela primeira vez...

Olhamos para o horizonte e contemplamos
As promessas de Deus se realizando.
Pois nossas lágrimas Ele contou
E em bênçãos uma a uma transformou.

É triste saber que para quem causou sofrimento
O tempo aí é traiçoeiro.
Toda dor causada é refletida como um espelho
E o engano e decepção
Destroem seu coração.

E quando vêem quem os amou
Em nova vida
Alegre e radiante
Percebem que por meras bijuterias
Trocaram seu Diamante

Esse é o agir do tempo
Ele apenas amadurece o fruto
Plantado por suas mãos
NÃO SE ENGANE
A colheita trará paz
Ou tormento ao coração." (Rose Felliciano)

Mantenha a autoria do poema. Direitos autorais em nome de Rose Felliciano.

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Foto de Gleisson Brito

Luz da Fresta

A luz apagou-se ao fundo.
Pingos invasores choravam...ressoavam...
Preta velha, colchão velho, jornal novo,
fitava o teto do barraco, do seu mundo

A noite a luz entra, pela fresta
Da janela, da porta, do telhado
Compõe vultos ignóbeis, tão igênuos...
desses filhos dessas pretas, incorretas

Ja vai longe a lembrança (la no fundo)
do café, do trigo, da colheita
Fazem parte de um passado, do seu mundo

Luz da noite. Luz do dia, Luz da fresta
Acompanham o martírio insolúvel
Dessa gente, a luz do mundo, incorreta.

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

CONVOCAÇÃO TRANSCEDENTAL.

CONVOCAÇÃO TRANSCENDENTAL”

Minha irmã, meu irmão, este convite não é para todos, talvez sejá só para você ou algumas poucas pessoas consideradas especiais, te convido a dividir com pessoas também muito especiais essa trilha que daqui para frente enfrentaremos juntos.

O que temos para oferecer sem duvida é muito pouco diante de tudo que conquistaras.

Falando de minha pessoa, posso testemunhar que vivi quase meio século em extrema ignorância, mesmo assim buscando atabalhoadamente conhecimentos que de nada adiantaram, mas que serviram para que continuasse buscando cada vez mais, pesquisando até me deparar com a porta de entrada para a consciência cósmica. Entrando por ela deparei-me com dados desconhecidos por mais de 90% da população terrena, e estou disposto a dividir com quem realmente quiser evoluir.

A vida humana aqui na Terra tem uma peculiaridade única. Embora a maioria dos estudiosos não confirme a existência de vida em outros planetas, elas existem, e acreditem, das mais variadas formas, e nós somos apenas mais um planeta habitado.

Nossa população é constituída de 49 raças que se miscigenaram por alguns milênios e adquirindo formas e comportamentos interessantes, evoluíram e agora precisam caminhar em direção a verdade.

Caro leitor, as informações que detenho sobre a origem dos humanos todos podem ter acesso, só que na realidade, há de se juntar as peças de um grande quebra cabeças, coisa que a maioria das pessoas não tem interesse, pois bem, eu fiz isso , e me deparei com dados bombásticos, os quais fazem ir as raias da loucura, mas tudo faz sentido, tudo se encaixa, a Bíblia hoje para mim tem mais importância que tinha antes, hoje eu leio com outro entendimento e encontro em suas paginas fatos e relatos altamente reveladores sobre a origem dos nossos irmãos planetários.

Ilude-se quem trabalha só com a perspectiva de vida terrena, quem investe só na Terra, por aqui ficará, é necessário que vivas esta vida, mas que também se prepare para a próxima dimensão e assim sucessivamente.

A oportunidade é dada a todos, mas a grande maioria tem preguiça de se aprofundar no conhecimento, temendo com isso uma decepção, ou praticar heresia, nada disso meu irmão, o caminho é Deus, e essa viagem ao centro de informações que todos temos que fazer é de vital importância para nossa ascensão. Não perca tempo, comece hoje mesmo a buscar informações, a traçar seu futuro, a reunir a bagagem necessária à viagem de encontro à evolução.

O tempo não espera, não deixe seu corpo terrestre morrer, pois ele hoje é a ferramenta fundamental para destrinchar os enigmas, eles detem todas as provas daquilo que somos não perca as provas que possibilitarão o processo evolutivo.

Nosso corpo físico é constituído de elementos químicos inerentes às regiões de onde viemos, e isso o D.N.A./ genoma, reúnem condições de decifrar, já o corpo sutil, etéreo, o G.N. A, tem todas as informações que revelam nossa origem cósmica, e esse é o mistério a ser desvendado, de onde viemos? Como viemos? Por que viemos? Vamos voltar? Qual é o caminho de volta? , Como voltaremos se não temos lembrança de como viemos? , enfim, são dezenas de perguntas e precisamos das respostas, e só nos aprofundando no conhecimento é que as obteremos.

As leis cósmicas nos levam a um Universo puro, sem maldade, a um entendimento em que o amor é a moeda de troca, o perdão é requisito básico e o altruísmo é pratica constante, vale a pena você embarcar nesta nave para uma viagem sem volta a caminho do centro que emana energia positiva para todo Universo.

O homem precisa disso, pois sua estada aqui não tem sido digna, tudo da certo para quem é certo, mas como é ser certo? Nem tudo fica claro em tempo hábil, muitos homens só vão se convencer disso, e eu me incluo entre eles, já no final de sua vida terrena, após ter errado muito e ter comprometido seu prontuário cósmico. Minha insistência é no sentido de que devemos (nós que já vivemos bastante), viabilizar aos adolescentes e jovens, os ensinamentos, para que cheguem mais rápido cada um ao seu compromisso cósmico.

Meu irmão/a, a partir desta revelação, nada fará que transgrida as leis cósmicas, a felicidade, a saúde e a prosperidade serão eternas em sua vida. Na Bíblia esta escrito que "tudo é possível ao que crê" , exercite a crença e tudo lhe será ofertado, partirás dos desejos materiais ao encontro dos presentes Divinos.

Meu amigo, quando o Universo te presenteia ele não economiza, se o que precisas é de dinheiro, ele enche teu cofre, se o que buscas é o poder, ele te coroa como um rei, se que buscas é o amor, ele abarrota teu coração de prazer e felicidade, tua colheita será sempre abundante.O único preço a pagar é ser puro de coração é trazer as pessoas que você ama para a existência Universal, ao conhecimento que é Deus, seja bem vindo meu irmão.

Procure um bom curso de desenvolvimento mental para que possas aprender, dê a ti a oportunidade de conhecer o novo, ele é revelador e muito te auxiliará nesta busca. Leia livros de evolução mental aprenda mais sobre a raça humana, aprofunda-te nos mistérios cósmicos, mas segue o meu conselho ouse muito ao dar o primeiro passo, pois a partir do segundo receberas ajuda dos nossos irmãos de luz e nunca mais estarás sozinho.

Quero-te como irmão, venha compartilhar dos enigmas cômicos milenares.

Um forte abraço e vida longa para todos os teus.

EDSON PAES

Foto de Suavenigma

Outono que amo

Outono: De 21 de março a 21 de junho

Do latim: autumno. Também conhecido como o tempo da colheita, pois é nesta época que ocorrem as grandes colheitas. Os dias ficam mais curtos e mais frescos. As folhas e frutas, já estão bem maduras e começam a cair no chão. Os jardins e parques ficam cobertos de folhas de todos os tamanhos e cores.

Aproxima-se minha estação preferida!
Estas cores e matizes de ouro com que se revestem nossos parques, estes meios tons, estas nuances intensas que prenunciam um depois, ainda que distante...
Com ela estou, também a me renovar, folhas caindo para serem trocadas por novas na próxima primavera, é tempo de armazenar energias e promover mudanças.

Em breve não teremos mais acácias, já não se sentem perfumes de jasmim.
A dama da noite, solitária, venenosa, com seu perfume doce e exótico já não excitara mais nosso olfato.
Os bem (não mal)-me-queres, tantas vezes despetalados por mãos apaixonadas, naquele jogo ingênuo de adivinhar quereres; estarão ausentes, até a próxima primavera e amores.
O amor (já não, tão perfeito)-perfeito sobrevivera apenas por dentre as páginas de um livro de poesias, um molho de cartas amarelecidas, ou postado delicadamente entre uma bela moldura, enfeitando uma foto (como fiz com a tua um dia).
Tudo cumpre seu ciclo.
Nascer... morrer...renascer!
Adoro mudanças profundas!
Resgatar, substituir, renovar...
Afinal viver é, um todo adequar-se.
Quem sabe!?
Chega de calor!!!!

Suavenigma®

Foto de Bernardo Almeida

Geração exonerada

Na distinção entre um sorriso e uma lágrima
Pende para o absurdo desejo da catástrofe
Uma pavorosa mania não mais possível
De ser expressa por meio de gestos calculados
Os movimentos, seqüencialmente imperceptíveis,
Protegem o esquecimento que tomará conta da sua alma
Descarnada, desnuda, etérea, imaterial
Dilacerada e agredida como cada milímetro da sua ossada
Escondes este peso em um jazigo distante
Onde apenas olhares mortos te alcançam
Colabora com a terra que fornece a colheita
Da qual tanto te beneficiaste em vida
Colha agora a raiz, e deixa o fruto para os que restam
Contentas-te com a jaula em que te encerras
Sem praguejar contra o fardo que te aflige
O teu rastro, em breve, será apagado
Para que as novas gerações sejam mais belas e ternas
Menos hipócrita, sujismunda, atávica e apática
Como as guardas, os punhos, os corações e as lanças
Dessa tacanha representação da realidade humana

Bernardo Almeida ( Livro Crimes Noturnos – 2006/ www.bernardoalmeida.jor.br)

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