Costas

Foto de Fabricio silva

De ilusão em ilusão

Estou escrevendo esta carta para dizer que nunca te encontrei. Eu nunca estive onde você estava, onde você esteve. Minha margem era sempre o fundo do rio. Você insistia em voar de asa delta.

Ontem sentei novamente na ponta daquele quebra-mar. Lembrei das tantas vezes em que tudo era saber você. Lembra do universo que era meu corpo? Está implodindo, toda aquela escuridão de beleza, de prazer, de intimidade, está indo embora. Meu corpo (e isso é algo que me deixa triste) está voltando a ter a cor de sempre. Mas essa, essa cor não fica para sempre e você também não vai ficar.

Estou escrevendo esta carta porque o tempo é inevitável. Esta carta foi feita para ser perdida dentro de um livro esquecido na estante, para ser roída pela traça mais gordinha que a sua biblioteca tiver, para ser encontrada por escanfandristas (Ah! Chico Buarque...) quando o dilúvio vier e o sertão virar mar. Esta é uma carta feita para ser desfeita.

Ontem foi ontem novamente e eu lembrei de você pela penúltima vez. A última ainda está por vir, e não é essa. Ontem foi ontem, mas a minha sede, que você imbecilmente ignora, é de apenas um hoje feliz. É de um carinho que retorne para mim como o protetor solar espalhado nas suas costas. Eu também quero me proteger do sol. Quero que me protejam.

Estou escrevendo esta carta porque não paguei o telefone, esqueci dos prazos esperando que as nuvens refizessem a imagem do seu rosto. Estou escrevendo esta carta porque você não atende o telefone. Estou escrevendo esta carta molhado da chuva que tomei no orelhão.

Ontem ficará para trás, mas enquanto isso eu deixo esse dia ecoar no meu albúm de fotos imaginário. Irá diminuir, diminuir, passará de poster de 3 folhas, frente e verso, para uma fotografia 3 x4 no canto inferior esquerdo da página ímpar. Vai ser preciso separar com cuidado as folhas para não arrancar seu rosto dali. Enquanto isso, ocupe o espaço que quiser.

Estou escrevendo esta carta porque você não quer. Estou escrevendo esta carta porque não sei onde você está.

Escrevi esta carta, mas não sei como entregar.

Carinho,

Later.

Foto de Maryah

Desejo oculto

Não tem como controlar meus pensamentos, cada dia que passa estou mais entregue a você,não imaginei que seria tão dificil, te reconquistar, nossos planos mudaram de rumo,
cada um tenta seguir sua vida como se fosse fácil.
Mas quando a noite chega o sufoco invade nosso sossego, ainda ontem você fazia parte de cada canto desse quarto, por que? tudo acabou assim.Não consigo viver sem você, ainda ontem tive um sonho que adoraria se fosse real,você chegando me dominando.
Como somente você sabe fazer, seu cheiro pude sentir, não sei como mais senti.
Nebriada, por aquele cheiro sentir seu toque em minha costas, seu beijo em meu pescoço, você escancarando cada segredo meu que só você conhece, quando estou chegando ao ápice do prazer,acordo a te procurar, você simplesmente não está.
Somente ficou o vazio ao meu lado, como um vento de um furação que vem e vai, devastando e levando tudo que em nossa vida fazia sentido, ficando so os restos de uma vida inteira.

Foto de betimartins

A vida corre apressada.

A vida corre apressada.

Olho e vejo dia clarear, escutando o belo chilrear dos passarinhos, as nuvens correndo com lentidão, à noite a ir embora e o sol a acordar, vendo a vida correndo...

Olho distraidamente para o campo em frente da minha janela, vendo homens tratando da terra, sua pele morena queimada pelo sol, seus animais parecendo já cansados, exaustos pelo calor que se faz sentir, abro a torneira do lavatório e água sai demasiado quente. Molho meu rosto, refresco minha alma inquieta e logo começo meu dia.

Dou o meu passeio matinal, observando com alegria cada momento, cada respirar, que é sagrado para mim e uma obra divina, estar aqui no meio desta beleza, observo as formiguinhas trabalharem com afinco, levando comida para seu ninho. Logo sinto a magia, o maravilhoso viver, vejo as crianças de mochilas nas costas, conversando com seus pais apressados, tagarelas, pois elas jamais ficam cansadas.

Observo uma casa, engraçada, cheia de terra trabalhada, com diversificadas plantas parecia uma casa de brincar, dentro sai um casal de velhinhos, com uma mangueira, diminuo meus passos, observo-os. Curioso como eles têm uma calma incomum, sua forma meiga, sábia de se tratarem e seu sorriso iluminado e sereno.

Observo um beija-flor, voando sobre mim, engraçado, parece estar parado. Voltando sua atenção as flores que a arvore sobre mim tem, parecem pequenas orquídeas lilás, tão frágil, quase uma miniatura, ele anda de forma singela debicando e se deliciando no néctar de casa flor...

O calor é abrasador, a terra parece sufocar, a noite não refrescou nosso ser, só aquietou nosso cansaço, caminho meio apressada porque quero sentar e descrever o que minha alma saboreou no seu caminhar.

Entro no meu quarto, observo e fico a pensar, tantas horas ali passamos, ora dormindo, ora em lazer, outras matando nossa sede de amar, mas ali é onde mais refletimos, sejam na escrita ou no nosso altar mágico, onde aprofundamos até ao mais elevado ser.

Reflito quantas pessoas passaram pela minha vida, quantas foram tão amadas por mim, quanta historia perdida, guardada dentro de mim, quanta alegria guardada na caixinha mágica e quanta tristeza foram enterradas no baú do esquecimento. Pessoas que deixam marcas, a vida é assim corre, corre e um dia será minha vez de fazer parte dessa corrida. Ficar no rumo da historia de uma recordação ou quem sabe de algo editado e contado aqui na terra...

Meu coração bate descompassado, olho minha linda criança ainda dormindo, sinto uma lagrima correr pelo rosto, quero a ver acabar de crescer, traçar seu rumo, quero ter tempo para pegar num neto no meu colo e ter os meus ossos diminuídos e cansados...

Olho no teclado do meu computador e vejo alguns rascunhos, algumas idéias, partes do meu ser, espalhados ali sem nexo e quero ordenar trazer a paz e a tranqüilidade dentro de mim e levar para longe os pensamentos piores e desagradáveis, varrerem a mente do entulho astral...

Reflito aquele momento, os meus medos, minhas ânsias, meus afetos e atitudes e vejo quando a vida corre apressada e eu não quero desperdiçar nem um minuto dela porque é bom viver...

Eu vivo e tu?

Foto de OComum

Onde estás?

Onde está a Lua que me prometeu luz durante a noite?
Onde está o Sol que me prometeu aquecer durante o dia?
Tudo o que mais desejo é sentir o calor da tua pele na minha; os teus lábios encostados suavemente aos meus, num beijo doce e meigo; ver a cor e o brilho dos teus olhos pasmados nos meus; um olhar sereno que me seduz e hipnotiza dominando-me por completo que chego a desejar perder-me nesse olhar. Que loucura de pasmo que me impede de pensar em alguém que não sejas tu. Que loucura de paixão que vai para alem do tempo e da distância.
Onde está a vida que a morte me prometeu?
Onde está o sonho quando abro os olhos e acordo sozinho?
Onde estás tu afinal? Quando toda a vida te procurei e não fui capaz de encontrar; mas que mesmo assim sou capaz de sentir, capaz de te ver, e num último fôlego de desassossego vejo o esvoaçar dos teus belos e longos cabelos, dançando com a passagem de uma suave brisa criada pelo bater de asas de um anjo. Oh! Como eu invejo esse anjo, ele pode tocar-te com um sopro e levar-te ao paraíso. Como eu queria ir contigo! Tocar-te, sentir-te, beijar-te! Mas só o posso desejar, tocar-te seria morrer, e eu não te consigo encontrar, mas se algum dia, por acaso, isso acontecesse, morreria de bom grado, nem que fosse só para te beijar uma única vez!
Sim, sonho! Sonho ver-te, sentir-te. Tocar o teu corpo num desejo real. Beijar-te os lábios docemente, percorrer lentamente os meus dedos pelo teu corpo divino, pousar as mãos no teu ventre ao de leve! Ouvir-te respirar, passar os dedos no meio do teu cabelo. Cheirar o teu perfume que me inebria. Sim, sonho, com a loucura do primeiro beijo, do primeiro abraço, da primeira visão, da primeira noite de amor. Ao sonhar, sou teu, e tu, só minha!
Será assim tão infantil sonhar com um momento infinito? Porque há-de ser apenas um sonho?
Quero-te mais que querer, desejo-te mais que desejar, preciso-te mais que precisar, sinto-te mais que sentir; como um latejar pulsante e vibrante de vida e paixão no meu peito, corpo e alma. E agora que posso, amo-te mais que amar.
Que parte é que não entendes, não sou um puto que pensa que ama, não tenho nenhuma confusão a assombrar-me, tenho certezas e simplesmente tenho coragem de dizer o que sinto.
Amo o que nunca vi, o que nunca conheci, o que nunca toquei nem beijei. Amo, porque sei, simplesmente porque sinto!
É a primeira vez em toda a minha vida, por entre lágrimas e sentimentos incertos e confusos, que tenho a certeza do que sou, estou mais sóbrio que nunca. Não sei explicar o porquê nem o como, apenas sei o que sinto, e é verdadeiro, não uma ilusão.
Por seres eu sou, por sentires eu sinto, por viveres eu vivo, por amares eu amo. Tu não és tu só, e eu não sou eu só, mas sim, juntos, nós somos!
Sinto que somos um, tu não surgiste por mero acaso, chama-lhe o que quiseres, destino, sorte, intervenção divina, ou talvez tudo isso ao mesmo tempo. Coincidência, não creio.
Foi nas trevas cerradas, num momento de cegueira dos sentidos, numa altura de pesadelos temidos e desesperos perdidos que, num clarão invisível surgiu, um anjo de luz que me seduziu e pacificou, devolveu a esperança de um lugar etéreo.
Vieste para me salvar de mim mesmo, impedires-me de desistir, e é nisso que acredito. Sinto-te como nunca senti ninguém, e tu sentes o mesmo, o que poderá ser isto senão amor.
A nossa alma, a nossa essência, o nosso ser e existir são um só, separados apenas por distâncias intoleráveis ou tempos longos mas que se acabarão por encontrar.
Desejo a oportunidade de te dizer nos olhos o que sinto, que estou aqui, que sou teu.
"Como é duro amar em silêncio, sofrer em silêncio, quando tudo o que se deseja é sussurrar ao ouvido da pessoa que faz bater o coração: ‘amo-te!’ Como é duro não poder fazê-lo, não porque não se quer mas porque não se pode. Imaginar ou pensar será que ela também sente como eu a sinto no peito sempre que fecho os olhos? É duro amar o que está distante da vista mas perto do coração" (Pedro Vasco)
Sonho contigo, este foi um deles: vejo teu corpo, espelhado contra a água desse mar azul, dançando ao ritmo da chegada das ondas à margem, estranhamente não possuem o dom da rebentação, significando talvez, que ele (o que sinto) é infinito. Aproximo-me de ti pelas costas sem que te apercebas, abraço-te enrolando os meus braços à volta da tua cintura, beijo-te o pescoço com paixão e ficamos ambos a observar a beleza desse mar azul. Sussurras-me ao ouvido, mas não ouço o que dizes, e queria tanto! Caminhamos descalços sobre a areia aquecida pelo sol, o teu vestido branco de anjo serpenteia ao sabor da brisa que traz consigo o inconfundível cheiro a água salgada, a água do mar. Há uma gruta perto, escavada de propósito para nós entre as rochas que povoam aquela imensidão de areia. Entramos. Sentamo-nos sobre pedras que parecem bancos. Abraço-te e acaricio-te os cabelos dourados, ficamos a ver o pôr-do-sol, ele desaparece tão lentamente, arrastando consigo o dourado e prateado que pintou sobre esse mar azul. As ondas continuam sem rebentar, apenas se dissipam ao chegar à margem. À medida que o Sol se esconde atrás do horizonte, tu adormeces tão meigamente nos meus braços, com a tua cabeça repousada sobre o meu ombro. Anoitece. Beijo-te a testa e fico a ver as estrelas. Começo a contá-las, cada uma é um ano do meu amor por ti, e são tantas! Desejo ficar assim contigo para sempre.
Acordo. É apenas um sonho e choro! Mesmo sem te ter realmente beijado nem tocado consigo sentir-te, tenho no meu corpo o teu suave cheiro e na mão um fio de cabelo. Não me digam que foi apenas um sonho, foi algo mais, algo mágico. Acredito nisso, tenho de acreditar.
Sinto-te à distância, porém anseio um abraço ou beijo teu!
Acredita que eu não me queria apaixonar, simplesmente aconteceu e não sei explicar.
Eu permiti apaixonar-me. Simplesmente agora já não consigo suportar o sol, nem a lua, nem as estrelas, nem as árvores, nem o frio ou o calor, ou mesmo a paz e o sorriso de uma criança, até o nascer de uma flor; não suporto a solidão, nem o azar ou a sorte! Não suporto a vida se tiver que a passar sem ti. Só entendo a morte!
Porque tens de estar tão longe? Porque tens tanto medo? Sei que me sentes! Receio tanto não te ver, não te tocar que me faz sentir desesperado. Eu não penso que amo, sei que amo, quando amo e porque amo. Não amo a tua imagem, mas sim quem és e pouco importa o que foste ou virás a ser, só me interessa quem és, simplesmente porque és!

Foto de Lady Godiva

Memórias pintadas

Imagem guardada a sete chaves
A que trago comigo a teu respeito.

Dona de tela e pincel
num rasgo de memória e vontade
teu corpo erguido volta à liberdade!

Despido de tudo o que não lhe falta.

Peregrinação louca de minha boca sedenta...
Jogo de curvas e contra-curvas.
E em direcção oposta...
eis que meu corpo encontra!

Regras quebradas, costas arqueadas...

E és meu!

Vírus que me alimenta,
e se apodera de cada canto em mim!

Infecção contagiosa?
ou cura milagrosa?

E ao pintar-te assim,
num rasgo de memória e saudade
deitado,
despido,
nascido...

Penso eu,
inocente...

Que te trago para mais perto de mim...

Foto de MARCELO NAZARIO

POR TEUS AIS, POR TEU CAIS

Em contrapartida ao calor que te invade
Tuas mãos espalmadas no veludo vermelho
Suplicam a sobreposição cabal do meu corpo.

Mordo o lóbulo que a mim se insinua
Deslizo sobre tuas costas inteiramente nuas
E monto na cela macia que, sem sequer me olhar, ofereces.

Por teus ais, sou teu amante de ofício.

Por teu cais, te faço meu porto definitivo.

Foto de apaixonado por catarina

catarina

Catarina
catarina
O nome do amor.
E com o amor transporta dor,
Com a dor magnitude.
Com a magnitude a virtude.
Apesar de confusa foste tu a 1º.
A 1º a quem disse amo-te.
Mas apesar de tanta sinceridade.
Tu so querias amizade.
Eu com esperança enchi o meu coraçao.
Apesar de saber que isto nao teria salvaçao.
Remei contra a mare.
Enfrentei todo e todos para agora
Acabar como diz a musica de xutos e pontapes.
Sosinho na noite um barco ruma para onde vai.
O eu barco nao sabe nem para onde vai nem o que fazer.
So sabe que o unico porto seguro sao os teus braços.
Mas este barquinho naufragou quando te sentiu cada vez mais distante.
A tripulaçao salvou-se e deixou este barco a merçe de todo.
Este barco sem forças para lutar ou para se defender do mal.
Cai em desgraça quando o teu coraçao me dizia que me amavas
E a tua boca dizia para eu me afastar.
A minha vida desmoronou.
O mundo que me tinhas tirado das costas
Voltou a cair em cima de mim.
Tenho um fardo com um peso que nao consigo suportar.
Agora que seis anos passaram.
Finalmente os tempos bons voltaram.
Finalmente este barco naufragado foi rebocado.
Rebocado e atracado no meu porto seguro.
Nos teus braços me reconstrui e passei de barquinho a vela
Para uma fragata
Uma fragata fortemente armada.
Cuja a unica função era proteger este porto tao seguro
Em troca da portecçao dos teus braços.
Eu agora como fragata amada
E acarinhada acarinhada pelo teu amor
Com o teu amor veio a felicidade
Com a felicidade a leveza
Aquele peso nos meus ombros saiu
Saindo fiquei mas calmo e feliz.
Agora apear de tudo o que passou
A minha alma voltou
Esta alma em tempos perdida a deriva
Agora esta fortemente portegida com o teu amor.
CATARINA
C- Compaixao
A-Amorosa
T- terna
A-Apaixonada
R-Radiante
I-Intelegente
N-Namorada perfeita
A-Alma.
AMO-TE MUITO BEBE LINDA

Foto de João Felinto Neto

Poesias selecionadas

APELO À MISÉRIA

Quem me dera, miséria,
eu fosse parte
de um baluarte de sonho e de quimera.
Pela boca mantém-se assim o povo,
a lavagem é a comida que a si, dera.
Na vergonha de reconhecer-se porco,
ter o rosto metido na sujeira,
enlameado atrás de uma porteira
seu anseio é mantido na espera.

Quem me dera, miséria,
eu me calasse
e ocultasse o meu rosto na janela.
Meus princípios mantêm-me assim exposto.
Sou mau gosto travado na goela.
Quem engole as palavras que eu digo
traz de volta a vontade de lutar,
elas tocam a ferida no umbigo
que o conformismo já ia cicatrizar.

Quem me dera, miséria,
quem me dera,
que de ti eu pudesse me livrar.

PERSONAGENS INFANTIS

Será que o lobo é tão mal.
O lobo ama também.
Ele protege os filhotes que tem.
Caçar, para ele é natural.

A chapeuzinho, talvez,
quando crescer seja outra.
Se torne uma megera
que não gosta de criança
e perca toda a esperança
de voltar ao que era.

O caçador, o herói tão valente
que salvou a vovozinha,
costuma matar friamente a fêmea,
deixando a cria sozinha.
Ele acabou sendo preso
por caçar ilegalmente.

A vovozinha morreu.
Pois, a idade a levou.
Mas, quantas vezes brigou com a vizinha da frente.
Isso prova que a bondade e a maldade,
na verdade,
são apenas uma história diferente.

O POEMA QUE EU DEIXEI DE ESCREVER

O poema que eu deixei de escrever,
Falaria de você,
De nosso tempo,
De angústia, de tormento,
De alegria e de prazer.
Iria contradizer
Cada palavra
Que as nossas falas
Tinham pouco a dizer.

O poema que eu deixei de escrever,
Seria na verdade,
Uma ameaça.
Calaria minha boca,
Qual mordaça.
Não seria uma desgraça,
Por não ser.
Os meus versos,
Talvez fossem sem querer,
Uma ofensa
A sua crença,
Que eu acreditava
Ter.

O poema que eu deixei de escrever,
Não seria
De valia.
Sem valia,
O deixei de escrever.

SEPULTAMENTO

Os meus olhos pregados
no infinito
como os pregos nas tábuas
cravejados,
e de pontas viradas,
redobrados,
sustentados e fixos
numa curva.
No aconchego da madeira macia,
minhas costas
nos ossos da bacia
consolam meu corpo
tão curvado.
Pelo tempo que tenho acumulado,
a ferrugem do mundo
me comeu,
e a tampa que pregam
me prendeu
para sempre num rito consumado.
Por debaixo da terra
condenado
a ser parte da mesma
e não ser eu.

CANTO DE SEREIA

Como um canto de sereia
de belíssima harmonia,
letra correta, verdadeira poesia
e melodia
que eterniza nossa alma.
Por onde anda
a sereia encantada
nas profundezas desse mar de ignorância?
Letra incorreta com falta de concordância
e melodia
que nos faz perder a calma.
Só na lembrança,
o teu canto nos enleva
na emoção que tua voz nos faz sentir
e na saudade, o nosso coração desperta
pra realidade,
não há nada mais pra ouvir.

PEDESTAL DE BARRO

Revogo silêncio
ante palavra e voz.
Reato os nós
que me prendem ao medo.
Reavivo memórias
em busca de segredos
que já não interessam mais.
Reclamo por paz
em meio a intensa guerra.
Replanto a erva
que não nasce mais.
Relato as dores
de males e fome.
Repito o meu nome,
antes de dormir.
Reato os laços
que me prendem aqui,
ao pedestal de barro.

TORRE DE BABEL

O juiz do supremo,
Jeová,
se irrita e sai do sério,
quando seu filho Jesus
vai à noite, ao cemitério.

No boteco do Davi,
onde quem manda
é o Golias,
não há funda,
quem afunda
na cachaça, é o Isaías.

No salão do senhor Sansão,
quem faz o cabelo
é sua mulher Dalila.

As mulheres de Salomão,
o cafetão lá da vila,
choram e sentem solidão
quando estão de barriga.

Lúcifer anda arrasado,
o seu mundo virou trevas,
por ter visto abraçados,
Adão e a senhora Eva.

Noé, o velho barqueiro,
não gosta de animais.
No entanto, adora um peixe-frito
no barzinho lá do cais.

Essa torre de Babel
é o mundo em que vivemos,
onde não há inocência.
Se algum nome ou fato ofender,
é mera coincidência.

A MULHER DA MINHA VIDA

A mulher da minha vida,
Sempre é lida em meus versos,
De uma forma ou de outra.
É a sua voz que ecoa
Reclamando meu regresso.
É bem mais que uma amante,
Que uma amiga e companheira.
Necessária como a fonte
No deserto de areia.
A mulher da minha vida,
Entre linhas abstratas,
Põe em mim, doces palavras
E expressão de alegria.
A resumo em poesia,
Tal qual em cartas,
A saudade que nos mata
Se envia.
A mulher da minha vida
É a graça
Que um devoto em desgraça,
Alcançaria.

O LABIRINTO

Pelas ruas infinitas,
Não encontro meu destino.
Endereço repentino;
Então, me pára.
Não é nada;
Sigo em frente, o meu caminho.

A mim mesmo, ainda minto:
- Logo chegarei em casa.

Em calçadas,
Eu percorro o labirinto
(Cruzamentos, sinais verdes e paradas).

O suor não pára o tempo;
Lágrimas, enxuga o vento;
E um triste pensamento
Não se afasta.

A cidade, assim, se fecha em semelhança.
A lembrança,
À realidade, não se adapta.
Eu confundo o momento
E me perco no silêncio
De um triste monumento
Que me agrada.

Minha calma é necessária
Para espantar o medo,
Desvendar todo o segredo
Que o labirinto encerra.
Os meus pés seguem por terra,
Minha alma por promessa,
O meu corpo por saudade.
Edifícios, tais quais pedras,
Alicerçam a cidade;
Conduzindo minha mocidade
Eterna,
De encontro ao passado.
Eu me torno um condenado
Num presente adulterado,
Que me enterra.

Observo as vidraças
Das janelas,
Onde o sol ofusca a vista
Com a luz que é minha guia
Na escuridão tardia
Do passado.

Cada praça
Me congraça,
Tal um templo
Erigido como um marco à memória.
Cada uma conta a história
De seu tempo,
De sorriso e sofrimento,
De conquistas e derrotas.

Novamente, me encontro sem saída,
Apesar de tanta via planejada.
Já não reconheço nada
Do que havia,
Já não reconheço nada.

Alimento meu silêncio,
O tempo passa,
Onde pombos batem asas
Sem voar.
Não consigo encontrar
O meu caminho;
O meu ninho
Não encontro em meu lugar.
Continuo a me enganar,
Ainda minto,
Preso a esse labirinto
A me fechar.

À DERIVA

Posso até perder o brilho dos meus olhos,
Mas jamais, deixar de ver tanta tristeza.
No esbanjar de pratos sobre minha mesa,
Vejo a fome refletida nos teus olhos.

O que faço se estou preso ao sistema
Onde a indiferença
Sobrepõe a caridade,
Onde a verdade
É varrida
Pra debaixo da mentira
E onde a vida
É um barco à deriva
Sem ações de piedade?

UM POUCO MAIS

Percebo
A minha vida esvaindo-se entre meus dedos
Em minha mão aberta
A dar adeus ao mundo
Pela janela.
A minha juventude
Em quietude eterna,
Silencia os meus dias.
As velhas alegrias
São lembranças tristes.
Os sonhos não resistem
Aos carinhos da morte.
E que meu sono suporte
Os meus pesadelos,
Já que meus apelos
Ao que me resta de força
Não me sustenta.
Talvez, o mundo não entenda
Esses meus ais.
Não tenho medo de morrer.
Eu só queria era viver
Um pouco mais.

O GRANDE DIA

Ai de nós se não fosse o profeta
Para converter o nosso coração.
Do contrário, Deus feriria a terra
Com terrível maldição.

Com o Senhor não há perdão.
Seu grande e terrível dia
Não será de alegria
E sim de destruição.

O poder de sua mão
É extremamente acintoso.
Deus é um ser ambicioso,
Quer de todos,
Atenção.

Não importa a condição,
Será imposto
Sofrimento e desgosto
Por qualquer contravenção.

Deus não quer nos dá lição,
Quer aniquilar a todos
Pelo caráter odioso
Que passou à criação.

EPITÁFIO XIV

Ela se aproxima
Sorrateira e linda,
Com seu manto escuro,
Sua mão suada.
Não nos pede nada,
Mas nos toma tudo.
Deixa então, de luto,
A pessoa amada.

Ela não se importa
Com aquele que fica.
Pois só se dedica
Ao que se despede.
Sorrateira, impede
Que a gente viva.
E sutil se infiltra
Sob nossa pele.

Ela só se afasta
Quando mata a alma
E deixa o corpo inerte.

ETERNA SOLIDÃO

O que eu tive na vida
Além da data esquecida,
Da dor no peito, contida,
E da perdida ilusão?

O que mantenho na mão,
Já na forma cadavérica,
Senão,
A luta sem trégua
Com os germes que a terra
Colocou em meu caixão?

Os meus feitos,
Foram em vão.
Meus defeitos,
Exaltados.
Não sou de Deus nem do Diabo.
Sou um louco condenado
A eterna solidão.

ESPANTALHO MORIBUNDO

Minha alma sempre está
Num silêncio tão profundo,
Que eu chego a duvidar
Que ainda estou no mundo.

Espantalho moribundo,
Onde a morte vem pousar.
Talvez para lhe falar:
Sinto muito! Sinto muito!

Num milésimo de segundo,
Volta o corpo a respirar.
Espantalho vagabundo,
Fecha os braços para o mar,
Abre os olhos para o mundo.

FRUTO SEM CASCA

Espalhando letras
Sobre velhas páginas,
Semeei palavras
Que insatisfeitas
Deram-me em colheita
Uma grande safra
De um fruto sem casca,
A minha tristeza.

Uma fruta fresca,
Presa pela boca
Em que uma ou outra
Tenta mordiscar,
Murcha sem parar;
Se tornando feia,
Seca na areia
Quando o vento dá.

Versos pelo ar,
Lágrimas e poeira,
Solidão na mesa
Onde o fruto está
Exposto, sem par,
Sem mostrar beleza,
É minha tristeza
A me alimentar.

HOMENS DE FUMAÇA

No arrastar de minhas sandálias
Pela casa,
Tenho as lembranças arranhadas
E esquecidas.
Por onde andam as conversas conduzidas
Pelos homens de fumaça?

Se desfizeram com o tempo,
Nas costas de um tênue vento,
Pela janela escancarada.

O velho barco na distância, ainda aguarda
Pela tripulação dispersa,
Numa espera
Que parece eternizada.

Em meio a tralhas,
Depuseram suas velas.
Em meio a elas,
O seu capitão se apaga.

O FRACASSO

Eu sei que a vida me leva em trapos.
Caldeirões de barro
De bruxos modernos.
Favelas de inferno,
Diversos buracos.

São armas de ferro.
São balas de aço.
Sou eu, o fracasso
De um programa sem sucesso.

Eu sei que a morte me olha de perto;
Que chego a sentir o seu frio abraço.
Eu fumo, eu prego
Minha mão no maço
De notas sem eco.

São barras de ferro.
Algemas de aço.
Eu sei que sou o fracasso
De um programa sem sucesso.

Eu sei que caminham lado a lado,
O errado e o certo,
A ira de Deus
E a fama do diabo,
Senhores e servos,
Patrões e empregados,
Progresso e atraso.

São os mãos-de-ferro
Em torres de aço.
Sendo eu, o fracasso
De um programa sem sucesso.

OLHOS DE AZULÃO

O que busca essa mulher
Pela qual minto,
Senão
A mesma solidão
Que sinto
Quando longe de seus olhos de azulão?

Os mesmos olhos
Que me olham da gaiola
Quando eu abro a porta
E eles vêem a imensidão.

SE FOSSEM SÃOS

A rima
É mera aflição
Dos versos que me espelham
Naquilo que são.

De forma nenhuma dirão
Do que são feitos.

Meus versos
Seriam perfeitos
Se fossem sãos.
Mas nada são,
Senão
Defeitos.

QUANDO CHORO

Onde andam os meus olhos
Quando choro,
Se não consigo encontrar
As minhas lágrimas?
Nas migalhas,
Além de meus remorsos?
Nos meus ossos,
Aquém de minha alma?

A FANTASIA

Amo você
Com o mesmo ardor da juventude,
Na quietude
De minha atual idade.
Amo-a na ausência
Como num dia de saudade,
Detenho-me a cada ínfima lembrança,
Com a mesma paz
Que traz
Aquela esperança
Após uma guerra.
Amo-a em terra
Com a cabeça pelas nuvens.
Amo atitudes
Que jamais seriam minhas,
Como entre linhas,
Leio uma poesia.
Amo como se ama o alvorecer
De cada dia,
Como o sorriso
Na inocente alegria
De um bebê.
E ter você,
Ainda parece utopia.
Mas, quis a vida
Que eu vivesse a fantasia
De meu ser,
Que é para sempre,
Você.

MINHA GERAÇÃO

Essa amargura
Que me faz um homem rude,
É mera atitude
De defesa.
Odeio a pobreza
Que aos pés de Deus se ilude;
Enquanto a juventude,
Nada almeja.
Desprezo a mania de grandeza
Que o rico tem com tudo.
Não sou um carrancudo
Por frieza;
Somente faço uso
Da tristeza
De um sisudo,
Por ser fruto
De uma geração que aceita.

SONETO DA VITRINE
(Sombras & espelhos)

A vidraça estilhaçada,
Não desfaz a minha imagem,
Não subtrai da cidade,
A luz do sol ofuscada.
De pé, fiquei na calçada
Com minha mão estendida.
Exorcizei minha vida
Na pedra que arremessara.
Por um instante, escutara
O som de ossos quebrados
Da montra fragmentada.
Meu corpo feito estilhaços
Que os passantes pisavam
Entre espanto e gargalhadas.

POETAS
(Sombras & espelhos)

São tantos os poetas
Quanto estrelas,
Dispersos em bandeiras
Pelo mundo.
Eternos e profundos
Pelas letras,
Em digressões soberbas,
Em dimensões sem fundo.
São tantos os poetas
Que o planeta,
Em tinta de caneta,
É resumo.
Enorme rascunho
Em línguas estrangeiras.
A tradução perfeita
Das emoções do mundo.

MOSAICO
(Sombras & espelhos)

Em minha mão,
Mil pedaços.
Antigo quadro,
Uma mesa,
Alguém que come calado
Com discrição ou tristeza.
E lado a lado
Na mais extrema destreza,
Enfileirado
Sob a antiga nobreza,
Assenta-se o mosaico.
Sob os meus pés, o passado
Em um quadrado,
Pintado
Nesse retalho do tempo.
Breve momento
Guardado
No mais antigo mosaico
Preso à calçada,
Ao tempo.

SÓ EM TE AMAR
(Sombras & espelhos)

Só em teus lábios,
Eu encontro meus gemidos.
Só em meus gritos,
Eu consigo te encontrar.
Como enganar
A emoção de estar aflito.
Eu te preciso
Como a noite, do luar.
Só em teus passos,
Eu caminho decidido.
Surpreendido,
Tento não justificar.
Sem teus abraços,
Os meus beijos são sofridos
Como os feridos
Que não podem se curar.
Só em te amar
É que eu encontro o sentido
De tudo aquilo
Que consigo imaginar.

NUMERAL UM
(Sombras & espelhos)

Eu atribuo
Minhas palavras ao poeta.
Uma espera
Numa tarde em jejum.
Nós como dois,
Dividimos.
No que dera?
Apenas um.
Eu me situo
Nas medidas de uma régua.
A mais complexa
Ou talvez a mais comum.
Sou menos um,
Minha conta se completa
Com menos um.
Eu me anulo
Numa soma que me zera.
Um dois que nega
A existência de mais um.
Sou incomum,
Tabuada que ainda preza,
Numeral um.

CONTRACEPTIVO
(Tríptico)

Eu não sei se é o desespero
que me leva à loucura
quando o sexo estupra
a minha alma,
ou a calma
que advém do meu tormento
pelo tempo
que passou em minha palma.
Movimento anormal
de penetração moral
em sua saia,
e no cheiro da indecência,
feromônio da ciência
em uma jaula.
Uma fera excitante
que no último instante, ofegante,
cospe a vida
no seu couro de borracha.
Não há luta, nem corrida;
há uma triste despedida
de um suposto vencedor
que foi fruto de um amor
e se enforcou
com a própria cauda.

SONHOS
(Tríptico)

Os meus sonhos
são apenas fragmentos de memória,
pequenos focos de luz
como cristais dispersados
num caleidoscópio de pensamentos,
distorções esdrúxulas da realidade.
Rumores, amores e momentos,
abertos numa gaveta destrancada.
Minhas pálpebras fechadas
num caixão de quase nada.
Um quase definido como os sonhos
que são versos que componho
numa noite agitada.
Movimento involuntário dos meus olhos,
que entre risos, ainda choro
por apenas acreditar sofrer.
Entre cartas mal escritas e seladas,
vem a calma ao chegar o amanhecer.
Vem enfim, o esquecimento
desse quase fingimento
que é sonhar.

EM DEMASIA
(Tríptico)

Eu sou demasiado triste,
pelos versos que componho.
Eu sou demasiado louco,
pelo pouco
que proponho.
Não deveria o mundo ser assim,
em demasia.
Talvez não seja o mundo,
seja enfim,
minha poesia
Demasiada em meu tédio,
sem remédio,
em grafia;
em longas noites mal dormidas;
nos insultos
que eu ouvia.
Não caberia em minha mão,
toda a visão
que em mim cabia.
Eu sou demasiado em tudo,
que ironia,
demasiado em meu luto
por ser fruto
de utopia.
Em demasia são os dias
que me escapam entre os dedos
como uma teia
que é lânguida e esguia.
O mais sublime pensamento
que perde tempo
em demasia.
Demasiado, meu tormento,
pelo tanto
que eu não via.
Demasiadamente eterno,
meu inferno em agonia.
Em demasia sou
quem sou,
um astronauta que acordou
num mundo estranho
em demasia.

DISLATE
(tríptico)

Talvez minhas palavras sejam tolas,
minhas ações, inconseqüentes;
as minhas brincadeiras, ironia;
eu próprio seja falho e negligente.
O meu discurso seja sátira;
minha seriedade, uma piada.
O meu humor seja mau gosto;
o meu dislate, permanente.
Meu riso entre dentes, atimia;
a minha faina seja ociosa;
meu pranto, uma lição jocosa
e o jeito infantil, idiotia.
Talvez a minha vida seja um fracasso;
meus versos, um engodo imoral.
Em epítome, sou um gracejo nefasto.
Meu desejo, um esboço abnormal.

TURGESCÊNCIA
(Sob meus calcanhares)

Eu sinto os teus cabelos
entre meus dedos,
teus lábios comprimidos
ao meu desejo,
o arfar de teu cansaço
entre meus braços
e ouço teus gemidos.
Vejo teus olhos tolhidos
fitar meu medo
de não tê-la satisfeito ainda.
Tenho todos os sentidos
na extensão do meu leito.
E no auge da turgescência,
me torno uma larva imersa
em teus fluidos.

O RAMO
(Sob meus calcanhares)

Onde está minha alma,
que não encontro?
Onde está meu encanto,
minha calma?
São perguntas que faço,
ainda em pranto,
ao meu eu freudiano
que me cala.
Onde está este anjo
que me fala?
Um quebranto
que minha mãe me pôs.
Ouço a antiga canção
que ela compôs
em minha rede embalada.
Vejo um ramo na árvore desfolhada,
resistir ao vento,
envergado.
Nesse instante me sinto
envergonhado
pelo meu triste pranto.
Minhas lágrimas
são simplesmente água
que faz falta ao ramo.

O DIÁLOGO
(Reticências desfeitas)

- Dou-te a palavra
para principiares o diálogo.
- Fico muito grata
por ceder-me o favor.
És muito amável.
Vou falar de amor,
sentimento imensurável
que é tão natural
quanto o desabrochar da flor.
- Já vou interpor.
O que tu estás dizendo?
O amor é um invento
cultural e sem valor.
- Estou espantada.
És um homem insensível.
O amor é indizível.
É nosso maior legado.
- É soma sem resultado.
O amor não é normal.
É estóico, irracional,
nos mantêm aprisionados.
- És um homem insuportável.
Mas o que dizes é refutável.
De que vale a liberdade,
sem motivo para a saudade.
- És uma eterna sonhadora.
De que vale um sentimento
que só nos provoca medo,
fraqueza e sofrimento.
- O amor é imortal.
A mais pura poesia.
Nos fere, é natural.
Mas compensa com alegria.
- É uma simples utopia.
Inconstante, passageiro.
Quem se entrega por inteiro,
viverá em agonia.
- Vou deixar por encerrado
o nosso breve diálogo
em tua cética pessoa.
Mas eu sei
não é à toa
que nós dois somos casados.

ELA
(Quadrilátero)

Ela me leva,
me engana
e ainda me desafia.
Levou meu corpo
para a cama,
enquanto me distraía.
Deu-me o fruto do pecado,
enquanto Eva,
e compensou com redenção,
quando Maria.
Em Joana D'arc
foi Vitória,
também rainha.
Já foi de todos
e só minha.
Ela é pouco e é demais.
Como Helena,
ela foi guerra.
Como Tereza,
ela foi paz.

INDECENTE
(Quadrilátero)

Não sou um cavaleiro imaginário,
apenas um vassalo
que caminha.
Pela realidade,
um escravo
que tem a ilusão
que é livre ainda.
Não sou nenhum beato,
nem um cão.
Eu não uso sermão
e nem batina.
Meu rosto
é palidez,
enquanto expiro.
Meu sexo
sem estilo,
estupidez.

MUNDO FICTÍCIO
(Pax-vóbis)

Uma criança brincava
Com a comida, na mesa.
Corria de pés descalços,
Sem ninguém a seu encalço,
Pela ruazinha estreita.
Não enxergava a sujeira,
No seu mundo fictício,
Do real desconhecido;
Tudo era brincadeira.
Contudo, era tão bonito
Ver o mundo d’aquela maneira:
Sem ter ódio,
Ser ter vício,
Sem sombra de sacrifício,
Sem pecado
E sem tristeza.

SOMBRA DE NANQUIM
(Pax-vóbis)

Que a vida,
Mesmo frágil, continue.
Que perdure
Meu amor, além de mim.
Que não tenham fim,
Meus passos pela rua.
Que dissipe sob a lua,
Minha sombra de nanquim.

A PEQUENA D’ARC
(Olhos de guri)

A guria
não gostava de pia,
de casinha ou fogão.
Para ela,
tudo era opressão.
Ela ouvira
sua mãe reclamar
que a mulher tende a trabalhar
só com água e sabão.
Por que não
brincaria de guerra,
de doutora,
de terra na mão?
A guria,
parecia antever
que seu mundo seria
uma doce ilusão.

A SOMBRA
(Olhos de guri)

Minha sombra
que se perde no escuro,
salta o muro
quando o sol
no céu desponta.
Se arrasta no chão duro,
se encolhe,
se estica,
passa rente a dobradiça
e se perde pela casa.
Mas à noite,
minha sombra cria asa,
voa quando saio a rua.
Pela luz que vem da lua,
minha sombra me abraça.
Me divirto e acho graça
quando atravessa a fogueira.
Minha sombra, não sou eu,
mas é minha companheira.

TAMBÉM SOU
(Letras, ...)

O louco
é apenas mal ouvido.
Seu riso,
tenebrosa gargalhada.
Sua fé,
um constante, eu duvido.
Sua mente,
uma porta escancarada.
Seu pedido de ajuda
é um grito.
Seu gemido incontido,
uma dor.
Seu amor,
um abraço emotivo.
Sem motivo,
eis que louco
também sou.

A GRAÇA
(Letras, ...)

Deus me deu o fardo
para eu achar pesado
o termo ser livre.
Deus me deu o espelho
para ver se aceito
esse meu rosto triste.
Deus me deu o segredo
para pensar, eu mesmo,
o que é ser tolice.
Deus me deu a culpa
para eu pedir desculpa
por qualquer deslize.
Deus me deu a dor
para eu sentir pavor
do seu dedo em riste.
Deus não me deu nada,
eu que faço a graça
crendo que ele existe.

VERSÃO REFRATADA
(Letras, ...)

Quantas vezes eu tive
que mergulhar no sorriso
para fugir do abismo
que é o existencialismo
de mim mesmo.
Quantos pueris desejos
entre prosaicas conversas.
Quando nada interessa,
meu mundo me dá medo.
Eu sou apenas ensejo
que o acaso consagra.
Uma versão refratada
na ilusão do que vejo.
Quando não me percebo,
é sinal de que eu mesmo
sou a soma do nada.

QUEM SOU EU
(De versos, ...)

Sou um jovem ateu
Que entra na igreja
Para tomar cerveja
E beber café.
Desconheço a fé,
Mesmo na ressaca.
Rio quando a graça
É de um milagre
De ser eu, um padre
Que toma conhaque
Num cálice de vinho
E vive sozinho
Pensando que sonha
Em ser um demônio
Que se sente Deus,
Ser o próprio Deus
Se sentindo humano,
Ser um santo insano
A brincar de ateu.

DESESPERANÇA
(De versos, ...)

Quem é essa
Que me tira o sono,
Que arrebata o dono
De uma humilde casa?
Quem é essa
Louca, desvairada,
Que ao seio me prende
Sem saber se sente
A dor que a outro causa?
Lábios que procuram vida
Carne apodrecida
No envelhecimento.
Quem é essa
Que corrói por dentro
Como um veneno
Sem nenhum antídoto?
Eu sou outro,
Sou um homem dito,
Dito morto
Pela agonia.
Quem é essa
Musa e tirania,
Mistura que havia
Desde minha infância?
Quem é essa
Triste companhia?
Talvez seja a morte,
A desesperança.

O MATUTO
(Cálice)

O matuto está triste,
cabisbaixo e pensativo.
Não encontra um só motivo
para saber se existe.
Tal canário sem alpiste,
preso a uma velha gaiola,
vendo longe a aurora,
sem ter ânimo pra cantar.
Com vontade de voar
para longe, ao horizonte;
a saudade o consome
antes mesmo de partir.
O matuto fica ali,
a pensar no que seria
sem a única companhia,
a choupana em que vive.
Tal amor só visto em versos,
o matuto é regresso
de um lugar que não existe.

SEM CONDIÇÃO
(Cálice)

Seus ombros à amostra,
me deixam insinuado.
Seu corpo ainda agora,
me deixa provocado.
Seus seios contornados
pela blusa,
me fazem sinal da curva
do seu corpo ondulado.
Seu jeito comportado
não me mantém à distância.
Na sua tolerância,
encontro o meu pecado.
Seus olhos não perturbam minha paz,
além do mais,
recebem meu recado.
Seu pare, deixa disso, mais cuidado,
só fazem aumentar o meu querer.
A dúvida faz crescer
minha ilusão,
que eu terei nas mãos
a chance de fazê-la entender.
Amar é mais que ter.
É aceitar querer
sem condição.

CONVÉS
(Cálice)

Foste meu caminho sem regresso
em um verso.
Minha poesia mais bonita.
Entre as estrelas,
rabisquei um só desenho,
o seu rosto,
como eu bem queria.
Foste a derradeira flor
perdida no deserto.
Em meu universo,
um farol de guia.
Arrancaste o aviso que dizia:
“Uma saudade”.
O vazio da idade,
preenchias.
Foste o colorido
de uma tela que eu pintava.
A mão que segurava o meu filho.
O espírito de um cético
que chorava.
A paz esperada
por um homem aturdido.
Foste o barco rijo
que sustenta a onda em fúria.
O pescador que nada
à procura de si mesmo.
Para mim,
a mais incrível criatura.
A doce loucura
do desejo.
Foste na verdade,
o meu mundo.
Hoje, na saudade,
apenas és
um velho convés
com o qual afundo.

GRAMATICAL
(Cabaz)

Só em letras imprimo minha alma.
Mais do que texto
sou contexto indecifrável.
Meu sinônimo é antônimo de si mesmo.
Um sujeito indefinido
que é objeto de um erro
gramatical.
Entre modos e tempos,
triste verbo
que ecoa na forma nominal.
Orações que são subordinadas
aos meus vícios de linguagem.
Um início em letras ordenadas
e um fim
numa expressão oral.

AFLORA UM POETA
(Cabaz)

Assim se fez um poeta.
Como talhe na madeira
esculpi minha poesia.
De uma maneira fria
infundi minha alma no papel.
Nas costas de um corcel
cavalguei por entre versos;
muitas vezes sem regresso,
o poema, me tornei.
De um sono despertei
enquanto escrevia,
da caneta então fluía
as idéias que sonhei.
Quem sabe se eu errei?
Foram mais de trinta anos,
foram tantos desenganos
que poeta, me tornei.

INGÊNITO
(Cabaz)

Seguir os passos
a um lugar perdido na distância;
entrar na dança
de um ritual de acasalamento;
sentir nas mãos
o instintivo dom
que vem de dentro;
ouvir o som
de vozes ecoadas;
e nas entonações
das poesias declamadas,
revelar-se poeta.

LIAME
(Cabaz)

Sou livro
intitulado.
Um desabafo.
Sou todo
em parte.
Um lacre violado.
Sou tudo
num nada
dissipado.
És flor
dissecada
na mão aberta
em palma.
És colo e calma
na casa onde cresci;
moeda encontrada
que perdi;
o berço
em que nasceu
minh'alma.

Foto de juliano cezar

O menino perdido nos seus pensamentos

ele e um menino que vive pensando na vida
pensa no hoje já querendo saber o amanha
pensa no amor que um dia vai chegar
pensa se um dia vai chorar
pelo seu amor que não sobe cuidar
pensa se vai sair do casulo ou vai permanecer escondido
pensa se vai receber um sim do mundo
ou se o mundo vai virar as costas para ele
pois e ,ele e um menino que pensa ,que cresce , e todos os dias
em frente a sua janela esperando sua vida passar

Foto de Arnault L. D.

Brisa

Deixa uma janela aberta
que eu serei uma brisa
a soprar gostoso,
lhe buscar em hora incerta
arrepiar a pele que alisa
com um tocar gostoso

Buscar as frestas de seu vestido,
tocar as curvas delicadas,
atravessar sua roupa...
Despertar desejo e sentido
te fazer tão desejada...
de prazer tornar-te louca

Como um soprar de um beijo,
como o frio do cetim,
como a seda que lhe recobre.
Se fecho os olhos te vejo,
linda, e inteira pra mim. Assim...
Seu corpo que se descobre

Sou uma brisa, suave e amena
que suas costas alisa e toma.
Que transpassa os tecidos e flerta
a lhe trazer uma caricia plena
mas como entrega e sem doma
deixa-me a janela aberta

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