Dentes

Foto de Remisson Aniceto

Cara-de-pau

Hoje tirei o dia para pensar.
Pensar nas coisas que tenho para consertar:
os meus dentes, os dentes dos lá de casa,
os meus calos, aquele sapato furado (único que tenho),
a camisa social onde faltam dois botões,
o meu salário ou a falta dele,
o emprego que não tenho,
o pagamento dos impostos em atraso,
as contas de água e de luz,
o cheque sem fundos do supermercado,
as roupas das crianças que já não lhes cabem,
as sandálias surradas da minha esposa,
a comida na mesa...
Tanta coisa para consertar,
tanta coisa para comprar,
tanta coisa por fazer,
para por em dia,
mas esse filho pai-d`égua
tem que primeiro colocar vergonha
nessa cara suja!

Foto de Lorenzo

Teu Beijo, Meu Céu...

Para muitos não passa de mais um
Para outros é o último da vida
Alguns beijam quando chegam
Outros quando estão de partida

Mas o teu beijo, o nosso beijo
Aquele beijo, tão esperado beijo

Me fez entender tal gesto
É mais do que lábios que se tocam
Ou sentir a respiração de alguém
É saber o que o outro sente
É querer pular de tão contente
E não pensar em mais ninguém

E quando vejo teu sorriso após beijar
Me sinto seguro, acolhido
Em meio aos teus dentes, língua e lábios
Que novamente voltam a beijar, e beijar...

Teu beijo é meu céu
Que me leva ao calor do inferno
Teu beijo é mar
Em que mergulho pra te buscar
Teu beijo...
Precioso, mais que necessário
À essa boca que te fala.
E cala...

Foto de Soninha Porto

POESIA: FILOSOFAR SOBRE A VIDA

A poesia filosofa sobre a vida...
filosoficamente...

mente entre dentes
e correntes.

sente a prisão
visão das abstrações...

liberdade, verdades
realidades do ser ou não ser

do poder, do querer,
do viver

simetrias, analogias
Tudo é poesia

inquietude, atitudes
plenitude a arder

morder o imaginário
binário do homo

efervescência do pensar...
filosofar sobre o tudo e o nada

cada filo, cada sépala
pétalas do cálice que derramam-se

poesia é o lírico, o épico
picos entre o banal e o ardente

do casual e do vicio
de ter a alma nas mãos.

é a curiosidade de ver
investigação do saber ser

Soninha Ferraresi Porto®

Foto de TrabisDeMentia

Onze da noite

Onze da noite. Soava a campainha. “Aposto que ele estava à espera que a hora chegasse” pensei enquanto me dirigia à porta atando meu robe. Ajeitei os cabelos ainda húmidos e espreitei pelo orifício enquanto levava uma mão à maçaneta. Do lado de fora aguardava um indivíduo cabisbaixo. Não era ninguém que eu não esperasse! Corri o trinco e cumprimentei-o com um sorriso! “Entre”, Ordenei em tom de pedido e estendendo a minha mão à sala de estar. “Sente-se ali por favor, no sofá”. Não era um jovem bonito, mas era contudo interessante. Musculado o suficiente para me despertar a curiosidade e abastado de masculinidade se bem me quis parecer. Fiquei observando-o caminhar enquanto fechava lentamente a porta. “Sim, sem dúvida o que eu estou precisando”. Dei duas voltas à chave como sempre faço quando tenho visitas. Se por um lado transmite segurança a quem vem por bem, por outro lado transmite desconfiança a quem vem por mal. E eu gosto sempre de saber em que terreno estou pisando antes de partir para a caça. Aproximei-me do jovem contornando o sofá pela esquerda e me debruçando sobre as costas deste. “E vai querer beber alguma coisa?” Ele se virou e num instante desviou seus olhos para o meu robe propositadamente entreaberto. Antes que ele se engasgasse ao me responder eu continuei - “Não tenho nada com álcool, mas tenho sumo, água...Tenho chá preto fresco, quer?”
“Pode ser chá então se não se importar” disse ele retomando a posição. Atravessei a sala lentamente em direcção à cozinha. Pelo ruído quis-me parecer que ele estava se ajeitando por entre as calças. E concerteza que estava me observando. Assim é que eu gosto, de deixar meus convidados bem esfomeados antes da refeição! De mostrar à presa quem é o predador!

Não demorei mais que dois minutos. O jovem estava debruçado sobre a mesa de vidro com um ar de expectativa. “Espero que não se importe, preparei para si também!”. Não pude evitar o meu ar de surpresa. Afinal não é todos os dias que me deparo com um espectáculo destes! “Não! De jeito nenhum! Hoje vamo-nos divertir imenso!” - disse eu enquanto me ajoelhava e descortinava o porquê dos ruídos! Com um cartão de crédito ele ajeitava o risco de pó branco na minha direcção. Me estendeu uma nota de vinte enrolada sobre si mesma e me convidou. “Não! Você primeiro” retorqui lhe devolvendo a mão! Não se fez rogado! E na mesma sofreguidão que inspirou o pó se recostou no sofá! “Agora eu!”. Levei a nota á narina e limpei o que restava na mesa! Ele olhava para mim com um rasgo ofegante nos lábios e eu... Que saudades que eu tinha disto! Me sentia como que... Viva! Do meu coração partia uma sensação que se espalhava até ao formigueiro na ponta dos dedos! Fitava o jovem com meus dentes serrados, lábios entreabertos, olhar de desejo! Gatinhei até ele e me encaixei entre as suas pernas! “Era assim que me querias?” - falei sem esperar resposta. Puxei a sua camisa branca para fora das jeans e comecei pelo botão de baixo, escalando em direcção ao seu peito, ao seu pescoço. Ele me pegou nos cabelos e deixou que eu levasse minha língua até os seus lábios. Trepei para cima dele, e deixei que ele me desatasse. Sentia ele pulsando sob mim, pulsando a um ritmo louco. Como que implorando pelo meu toque ele se esfregava. Mas é assim que eu gosto, é assim que eu gosto! “Vem cá” disse eu lhe mostrando o caminho com a minha mão! “Vê como eu estou!” - O jovem não cabia em si com tanta loucura, tanto tesão. Tomou meus seios como se fossem dele e se vingou. Queria que eu devolvesse a ele o prazer que ele me estava a dar. “Mas eu devolvo, eu devolvo” -pensei. “Tira as calças” -mandei. Ele num ápice as chegou aos joelhos. Mostrava-se abastado, como eu já esperava pela firmeza das investidas. O tomei em minha mão e me apressei em aconchegá-lo em mim! A sua falta de ar estava, a cada batida, mais apercebida. Ele me olhava boquiaberto com ar de deslumbramento. Eu retorquia com movimentos mansos... Sob as minhas mãos palpitava um coração descontrolado. Cravei as unhas e demarquei meu espaço na sua boca. Sua língua me procurava numa ânsia louca. Demasiado louca para se conter num só lugar. Demasiado grande para caber num só sofá. Agarrou em mim e sem se permitir afastar me jogou no chão. Cruzei minhas pernas sobre as suas costas enquanto ele me ganhava centímetro a centímetro, enquanto palmo a palmo me arrastava pela sala. “Quero mais que isso, muito mais que isso” - eu avisava, mas ele já nem me ouvia de tão surdo que estava. Todo o seu ser se resumia num único ponto e com um único objectivo: me vencer no prazer. Encurralou-me num canto... Uma mão sob mim, outra na parede. Nada poderia ser mais perfeito. “Queres saber o que é prazer?" - Ameacei. Seus movimentos cada vez mais frenéticos eram já de um comboio descarrilado. “Queres?” - E no momento em que ele se enterrou em mim, eu me enterrei nele. Cruzei forte as minhas pernas e não lhe permiti nem mais um movimento.
Sob os meus lábios o quente sabor do prazer. Sob os meus lábios, em cada vez que ele compulsava, o doce sabor do sangue, impregnado de toxinas, me levava ao êxtase. Como leoa esperei pela morte incrédula da caça. Ali naquele canto, me satisfiz!

Foto de tchejoao

Alguém vai pela rua

O olhar, tão diferente,
Exclama!
Indiferente, diz que ama,
E assusta
A rua, quando passa...
Co'a boca fechada,
Colada entre os dentes,
A língua, a nota,
O acorde que faltava...
Na pauta, nas cordas,
Na vida que ela leva
Pra casa, que alegra
O mais triste fantasma...
Mas mata, enterra,
O pouco que restava
Daquilo, que o corpo,
Chamava de Tezão...
E o peito jurava
Que o nome era paixão...
E o dia entendia
Como sendo uma canção.

Foto de Minnie Sevla

Mendigo

Vejo o sol que resplandece e
salta das nuvens reverenciando
o dia que nasce com o pulsar da vida,
mesmo que moribunda ainda insiste.

Onde nem a dor é sentida
e todos os sentimentos indiferentes.
Vive dentro de mim um mendigo,
que busca no súbito silêncio a esperança do amor que persiste.

No dia que não tem reprise, na noite interminável,
na cor púrpura de minh’alma que sofre
um vazio imenso, uma camada de ozônio,
que se resume no nada para compor uma canção.

Queria ver seu sorriso, os dentes brancos e bonitos,
pois hoje é dele que preciso, anseio seu toque suave
e a chave inexorável do seu coração
para alojar-me no jardim das tuas emoções.

Arriar minha cabeça em teu peito másculo
Deixar as lágrimas rolarem pela face ainda pálida
Aconchegar-me em teus braços, como ninho
e inebriar-me com tuas palavras cálidas.

Sou mendigo vagando pelo mundo da solidão
Vasculhando o lixo e tentando juntar meus pedaços.
Dormindo nas ruas da amargura, me aquecendo com jornal,
pois o frio que congela meu ser já não causa tanto mal.

Minnie Sevla/Ramgad

Foto de Lou Poulit

Soneto Inglês Para a Mulher Amada

Ah, mulher... Não sabes o quanto eu te amo...

Como aparei das pedras as arestas

Rasguei o abraço de úmidas florestas

Me dessedentei no amor que proclamo:

Venham sobre minh’alma os julgamentos

Meu castelo é de cristais transparentes

Devasso o peito, teus beijos de dentes

Meu indulto, inequívocos sentimentos!

Ah, mulher... Com que loucura desejo

Descer ao ápice do teu abismo

E nos teus escuros ver-me sem pejo

Qual bicho amante, cheirando teu sismo.

E pacificado, de um grito ledo

De um verso último, branco e vigoroso

Largar-me em tua vertente, cioso

Só, ciente, senhor do teu levedo.

Ah, mulher... Exala essa paz de amada

Cuja estrela se me esvai... Saciada.

Foto de Lou Poulit

Soneto Inglês Para a Mulher Amada

O formato alcunhado de "soneto inglês", pelo gosto do seu povo e pela predileção de Shakespeare, é para mim muito sedutor. Primeiro, porque em 18 versos (no caso decassílabos) se tem um pouco mais de conforto para sintetizar o sentimento, comparando-se com os 14 versos do soneto tradicional. E segundo, porque o encerramento com dois versos conclusivos, destacados no corpo da poesia, oferece ao poeta algumas possibilidades importantes, como reforçar certo ponto ou sugerir outro, que não tenha sido claramente contemplado.

Eis o último que construí, mais uma evocação do poeta perdulário, que nunca consegue pagar sua dívida de devoção. Espero que gostem tanto quanto eu:

AH, MULHER...

Ah, mulher... Não sabes o quanto eu te amo...
Como aparei das pedras as arestas
Rasguei o abraço de úmidas florestas
Me dessedentei no amor que proclamo:

Venham sobre minh’alma os julgamentos
Meu castelo é de cristais transparentes
Devasso o peito, teus beijos de dentes
Meu indulto, inequívocos sentimentos!

Ah, mulher... Com que loucura desejo
Descer ao ápice do teu abismo
E nos teus escuros ver-me sem pejo
Qual bicho amante, cheirando teu sismo.

E pacificado, de um grito ledo
De um verso último, branco e vigoroso
Largar-me em tua vertente, cioso
Só, ciente, senhor do teu levedo.

Ah, mulher... Exala essa paz de amada
Cuja estrela se me esvai... Saciada.

Foto de Ananas

Comida Da Sogra

O Devaneio
Proveu-se de uma quimera
Divagou e obteve um melífluo tempero
Que usou pra preparar uma sopa
Nossa quão insossa
Pois não tinha nem cheiro

Talvez outrora impetrava para a panela
Que se abnegasse para o desjejum alheio
Iracundo tornou-se
De primeiro o lépido
Agora perverso guerreiro

Da lâmina obliterada
Impugnadora de mentes
Finalmente acorda
O cozinheiro Razu
O velho sem dentes.

Foto de Mauro Veras

Temporal

.
Trago nas veias não sangue
o beijo partido de dentes e marcas
a carne ferida, o aroma dos mangues,
o temporal que encharca a mente
e transforma em pântano
o âmago do que era afago.

Trago essa bebida mórbida
de desilusão e salvias apodrecidas,
uma saraivada de trovões e órbitas
azuladas na boca hoje nada, onde
reinaram versos e que agora pétreos
são grilhões de uma tórrida paixão.

Trago raiva.
Sou seu prisioneiro.

Hoje eu queria as calçadas
marés de pés ligeiros, casais namorados
corriqueiros de mãos dadas e luas
assanhadas e nuas a consagrá-los ... e

trago raiva.
Sou seu prisioneiro.

Hoje eu precisava um roçar de lábios
e não roçar os lábios em palavras
lixas, sentidos sórdidos e prolixas
piras de angústias e decepções...

trago mentiras
de mil corações

que entoavam canções reconfortantes,
que reinavam diamantes na boca juvenil
de cantigas de roda infantis, mentiras
imperiais, ardilosas prostitutas, mentiras
abruptas e ilações. Trago mentiras
de mil corações.

O pôr-do-sol mediterrâneo que, se foi
a semente do jasmineiro, hoje vidrino
e por inteiro rasga com seus cacos e iras
o destino subcutâneo do sonho atro
pelado coração, exposto, mentiroso....

Trago mil corações
de mentiras.

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