Blog de Sonia Delsin

OUTONO NO PARQUE

Meu chapéu sobre o banco a descansar.
Os sons que ouço...
Como vou contar?
De uma água que ao meu ladinho está a cantar?
Das crianças a brincar, a gritar?
E maritacas,
papagaios,
bem-te-vis...
... nas flores quanto colibris.
Ergo o olhar.
Uma folha que está caindo chega quase a me tocar.
Abaixo os olhos.
O chão é um tapete de folhas velhas.
Fico a admirar.
As árvores estão se desnudando.
O horário de fechar o parque está chegando.
Meu chapéu eu vou pegando.
Sigo calmamente a caminhar.
Esta noite com o parque vou sonhar.
Com a paz deste lugar.

MEU PIRATA

“Pirata da perna de pau.
Do olho de vidro.
Da cara de mau”.
Lembrei hoje minha mãe cantando pra nós...
Lembrei hoje eu menina imaginando o pirata.
Pirata, tu foste tudo no meu viver.
Roubaste o meu mais caro tesouro.
Roubaste mais que ouro.
Roubaste meu coração.
Ó, pirata dos sete mares!
Dos meus devaneios.
Dos meus anseios...
Pirata. O que não daria agora por um beijo teu?
Sei que tu, pirata. É e não é meu.

DESENCANTO

Cantas.
Eu canto.
Danças.
Eu danço.
Sorris.
Eu sorrio.
Corre folha morta no leito do rio.
Desencantas...
Eu desencanto.

TU

Tu fingias.
Eu morria.
Doía.
Ó, como doía!
Tu fingias.
A vida ia.
Eu poesia.
Tu dizias.
Tola.
Tu repetias.
Sonhadora.
Tu fingias.
Eu morria.
E escrevia...

DEDILHAS

Tange a corda.
Eu que vivia meio morta.
Levanto.
A cabeça.
O olhar.
Fico a escutar.
Dedilhas o violão.
E ficas a cantar.
Baixinho.
É um momento de carinho.
Penso.
Morri no passado.
Renasci do outro lado.

SAMAÚMA

Lanças ao vento tuas sementes.
Lanças.
Amanhã virão árvores crianças.
A ganhar altura.
A ganhar beleza.
Ó, natureza!
Estende teus “braços-galhos”, samaúma.
Para os céus do meu país.
Finca firme tua raiz.
Samaúma, tão bela és.
Sou pequenina aos teus pés.

O SILÊNCIO

"É no silêncio que marcamos um encontro com nosso
próprio Eu".

O ÓDIO

"Odiar é corroer-se a si próprio com um ácido que não atinge o ser odiado".

MORRER

"Morrer é deixar o casulo de carne e bater asas em direção ao desconhecido".

PALCO DA VIDA

No rosto sem maquiagem a lágrima do palhaço.
Ninguém tem coração de aço.
...
A atriz esconde a cicatriz.
...
O ator morre de amor.
...
Tanta dor no palco da vida.
Ainda que seja tão bela a estrada escolhida.