Aflição

Foto de sofiaclarisse

À procura da luz

Fechei-me na escuridão, no breu mais profundo. Tentei caminhar como cega repentina. Para compreender os verdadeiros cegos, entender os outros que são sem o serem e, depois a minha vida, toda ela escuridão.

Procurei a dor, a aflição, o escarnecer,... tudo o que existe ou não para além do ser.
Tatubeei por entre o nada, ouvi o silêncio que me engole, mas não cedi perante o pânico de saber que tudo aquilo era, de facto, o reflexo do meu viver.

Queria encontrar o caminho no meio do nada e do ninguém.

Contornei o medo e subi devagar todos os degraus que me desafiavam na ausência da luz.
Conclui o que não é novidade: reforcei em mim a noção da inércia pesada que sou e onde tenho de viver.
Tenho medo, de mim e de existir.
Dos outros não. Nunca existirão.

É aí o centro da escuridão.

Clarisse.

Foto de DeusaII

Carta de desculpas

Desculpa este meu jeito sem jeito... De ser... Esta aflição que carrego no peito que transforma todo o meu ser.
Desculpa as palavras ditas.. Sem sentido, que fizeram-te erguer as tuas defesas.
Desculpa-me este meu estado desolado, perdido em lembranças... E esqueci –me que também sentes. Perdoa-me amigo por esta magia que se criou entre nós e eu estupidamente quebrei.
Desculpa-me por tentar incendiar o que a água extinguiu para sempre. Por tentar devolver a luz ao teu olhar já sem vida e fazer-te viver. Eu sei que não me compete a mim salvar-te, mas eu não consigo ver-te adormecido nos teus pesadelos Não consigo ver a dor e a revolta em teus olhos, e ficar serena enquanto tu te deixas abandonar. Desculpa por querer devolver-te a vida... Por não querer permitir que morras, mais uma vez. Desculpa-me meu amigo, por este meu egoísmo em querer fazer-te amar, não a mim, mas a ti próprio.
Desculpa-me por me intrometer nos teus medos e querer afastá-los de ti, para não te ver sofrer. Desculpa-me por me importar contigo. Não te quero perder amigo, pois sem ti perco-me, esmoreço.
Perdoa-me amigo, por tudo isto... e por todo o resto...

Foto de marcosgambiarra

O AMOR PODE DAR CERTO

Antes de te conhecer não prestava atenção nas coisas da vida
Em uma carta que escrevia ou um poema que terminava,
Um dia a mais de vida nada significava para mim
Vivia aos prantos sonhando com o irreal.

Antes de te conhecer não podia imaginar
Que a vida tinha tanto pra me dar,
E que eu podia até mesmo com um simples olhar
De uma forma incomensuravel mudar.

Quem diria que num certo dia assim sem avisar
Você apareceria e eu começaria a reparar,
Nas coisas que um dia eu nunca havia de pensar
Mas que assim do nada eu comecei a me apegar.

O amor muda as pessoas e isso não sei como explicar
Ele chega como um vendaval tirando tudo do lugar,
Quando o risco é grande ninguém o quer correr
Por isso deste vendaval de amor todos tentam se esconder.

O que sinto por você é sincero não posso negar
Por que foi em seus lábios que aprendi a amar,
Gostei de ter provado este remédio pra dor
Dor que eu sentia longe do seu amor.

Sei que são só palavras que vem do meu coração
Mas como podia ser diferente se sinto tanta aflição,
Logo sem perder tempo vou lhe contar
O amor pode dar certo é só você acreditar.

Foto de Rosinéri

A HISTORIA DO HERNANI

Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de Engenharia.
Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro. Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças.
Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo.
Sempre quieto, inofensivo, à parte, Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala.
Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante.
Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo.
Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal. Antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós.
No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes.
Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani.
Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós.
Mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte.
- Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras!,
disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo.
Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço.
Cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia:
- Obrigado!
Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último.
Era para o Ernani.
Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa.
Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer.
Ernani não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto. Em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo.
Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa.
Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto.
Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando.
Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção.
- Eu sabia que você não ia se esquecer de mim
disse com a voz embargada. Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração.
Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós.
-- Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção.
Sabem... Eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. E estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar.
Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios.
As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa.
Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... Bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche.
Ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita.
Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos ...
Ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos.
- - Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos... e ele começou a abrir o pacote...
Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro.
Mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Mas era tarde demais.
Ernani já tinha aberto e pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe.
Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente:
- Obrigado!
Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani.
Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu.
Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças.
Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito:
Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico.
Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio: elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados.
- O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em Engenharia; sendo que, hoje, é o Diretor Geral da mesma empresa em que eu, Ernani e os nossos colegas trabalhávamos.
Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras;
entretanto, são de um tipo muito diferente:
ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, estórias e outros divertimentos.
Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal a conhecemos.
Nunca lhe demos a devida atenção; não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela;
ignoramos suas ansiedades ou seus problemas
Que possamos manter sempre vivo, em nossas mentes, o ensinamento de Jesus Cristo:
Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros.
(João 13,34)
vejamos se não somos um pouco como Mauro e seus companheiros.
Se formos... por favor, há tempo de mudar sem dor.
A história é real.
E eu sei que serve de Lição para a vida.

Foto de Anderson Maciel

EU E VOCÊ

minha vida está a mil
meu coração não para de pulsar
os meus olhos estão a delirar
hó quão bom te ter
hó quão bom te amar
caminhos passados
não te tive ao meu lado
só nos meus recitar
agora vem isso
em um momento difícil e me faz questionar
ver que tudo nessa vida pode mudar
tava sem caminho sem rumo
só la te fazendo o que é teu futuro
tentando te ajudar
te dando apoio para que não viesse tropeçar
dai veio isso num momento de aflição
no momento que eu mais tinha guardado o meu coração
e agora não sei mais o que fazer
um mundo perdido onde não consigo me encontrar
um lado passageiro desse meu pequeno amar
vidas novas corações apaixonados
caminhos deferentes coisas de namorados
agora estou aqui não perto de você
mais com tudo isso ainda me da o prazer
por ter a certesa que um dia irei de te amar
e em fim poder contemplar um mundo chamado EU E VOCÊ. Anderson Poeta

Foto de Anderson Maciel

DE MANHÃ BUSCO A TUA FACE

vem o dia acabo de acordar
vejo o céu tão lindo a brilhar
o sol a resplandecer
ó que dia maravilhoso a de ser
entro em meu mundo
começo a ti buscar
onde estas ó minha amada
sefa que eu vivo uma ilusão um conto de fadas
eu mesmo não sei
só sei que te busco
de manhã estou a te contemplar
estou a te ver em meu coração falar
minha alma tem cede de ti
pois eu um dia te pedi
para que amastes o meu coração
você veio com um imenso não
mais não parei de buscar a ti
ó quão grande tu es
ó amada minha de manhã busco a tua face
pois te quero pra amar não pra se ter desastre
mais sim para ter amor
de manha te busco te procuro
mais vejo que estou sem caminho sem rumo
então começo a pensar
até onde vai o meu amar
ai vem a alegria
que me consola com aflição
que dis amas como nunca amastes ninguem
por isso que a ela ainda não tens
pois ela está sendo preparada para ti
alegrimente ainda a te buscar
de manhã a tua face contemplar
momentos a te ver
poder te fazer
de uma pessoa mais feliz
apenas é isso que me diz
o meu pobre coração. Anderson Poeta

Foto de Sirlei Passolongo

Olhos da Guerra

Olhos perdidos
no horizonte
mãos se esfregam
aflitas...

Pés inquietos
quase saltitam.

Involuntários gemidos.
Bocas silenciadas
pelo medo.

O corpo responde aterrorizado
aos bombardeios malditos.

O menino não compreende
o que adultos não explicam.

Em nome do que há guerras?
De terras, poder, religião...

Se a vida é o que vale mais
Porque não cessam esta aflição?

Esta incerteza do amanhã,
se os olhos de novo se abrirão

Os olhos se fecham assustados
inseguros de abri-los ou não

E os homens seguem...
abrindo valas no chão.

(Sirlei L. Passolongo)

Direitos Reservados a Autora

Foto de DeusaII

Quero você mulher... Quero você meu homem Dueto Ricky Bar & Deusaii

Quero você mulher
Tocando minha alma
Entrando pela minha tela
Invadindo meus sonhos
Possuindo-me inteiro
Mente e corpo
Realizando todos os desejos
Levando-me ao puro êxtase
Da conjunção carnal
Do prazer total
Quero sentir teus braços
Envolvidos em meus abraços,
Teus lábios molhados
Calados rompendo de mim o silêncio
Nada dizendo
Apenas os olhos sangrando
E de mim gemidos arrancando
Olhando a invasão do meu membro
E louca sobre ele gritando
Como o mar na praia avançando
E quando a lágrima escorrer
Será o nosso gozo chegando!

(Ricky Bar)

Quero você meu homem,
Sentir teu corpo colado ao meu,
Ficar no teu regaço,
No templo do teu corpo
Explorar suas fantasias
Seus desejos mais recondidos.
Quero sentir seus beijos
Percorrendo todo o meu corpo
Sentir o delírio percorrer minha alma
Sentir-me estremecer de puro prazer.
Quero sentir sua boca,
Pura e doce,
Percorrendo cada centímetro de mim,
Sentir-me perder dentro de ti,
Afundar-me em tua pele,
Quente e macia.
Quero olhar-te bem dentro
E quase numa aflição louca
Sentir teus movimentos ritmados.
Quero sentir-te entrares dentro de mim,
Bem de devagarinho,
Quero beber o teu suor,
E sentir o teu puro néctar
Entrar aos poucos em boca.
Quero saborear cada pedaço,
Desse leite quente, bom
E no fim...
Apenas ficar assim, junto a ti
Observando as estrelas que brilham para nós,
E a lua que nos canta uma canção de embalar.

(Deusaii)

Foto de ALTOLIVER

Margarida

Margarida!

Margarida, minha flor...
Margarida, linda e bela...
Margarida, minha donzela...
Margarida, minha guarida no Amor!

Simplesmente, singela Cinderela...
Ou seria a Bela Adormecida...
Em busca de um sapatinho de cristal...
Ou, até despertar do sono profundo!
O que sei é que quer receber e dar...
Um amor dantes, moribundo!

Margarida, em sua eterna lida...
Sabes que és formosa e querida...
Sem querer, teus olhos a traem...
E revela-me a dor de sua ferida.

Confias em teu coração...
Buscas na incessante aflição...
Dentre palavras despidas e duras...
Que, ainda assim alento te dá...
No bojo de meu peito, um Amor...
... Um coração!

Sai da toca Margarida...
Venha o raio do sol tomar...
Sinta o calor na pele e na alma...
E sem perceber, se deixar penetrar...
Como a virgem em seu primo ato de Amar!
Altair Oliveira – 26/12/2008.

Foto de Carmen Vervloet

OLHOS QUE VEEM, CORAÇÃO QUE SENTE

No meu coração, gravada em felicidade, a fazenda Três Meninas! O casarão caiado em branco, portas e janelas pintadas em ocre, a varandinha, como mamãe chamava, com jardineiras repletas de gerânios coloridos e camaradinhas que caiam até o chão. Em frente à casa, estonteante jardim, onde borboletas faziam seu ritual diário, beijando com amor a cada exuberante flor, cena que meu coração menino guardou para sempre. As cercas todas cobertas por buguenvílias num festival de cores. Em seguida ao jardim, o pomar com gigantescas fruteiras (olhos de criança, enxergam tudo maior), mangueiras, abacateiros, laranjeiras, goiabeiras e tantas outras que não se conseguiria enumerar, onde com a agilidade da idade subia, não só para colher e saborear os frutos maduros, mas, para ver de perto os ninhos de passarinhos, que papai com sua profunda sabedoria, já me ensinava a preservar. Passava horas sobre os galhos das minhas fruteiras prediletas, principalmente goiabeira, que era só minha, ficava ao lado do riacho, onde também costumava pescar. Lá do alto, no meu galho preferido, junto aos pássaros, voava em meus sonhos de criança feliz!
Nos meus devaneios, fui mãe (das minhas bonecas), fui anjo (nas coroações de Nossa Senhora), viajei pelo mundo (sempre que via um avião passar), fui menina-moça (sonhando o primeiro amor). Na vida real fui criança feliz, cercada pelo amor e carinho de minha doce mãe, de meu sensível e amigo pai (ah! Que saudade eu sinto de você, pai), de minhas duas irmãs mais velhas que faziam de mim sua boneca mais querida, colocando-me sobre uma pilha de travesseiros, num altar improvisado sobre a cama de meus pais, onde eu era o anjo, na coroação que faziam de Nossa Senhora. Nesta época eu tinha apenas dois anos e se o sono chegava, a cabecinha pendia para o lado, logo me acordavam, pois não podiam parar a importante brincadeira.
Já maior, menina destemida, levei carreira de vaca brava, só porque me embrenhei na pasto, reduto das vacas com suas crias, para colher deliciosa jaca, que degustara com o prazer dos glutões. O cheiro da jaca sempre me reporta às boas lembranças da Fazenda Três Meninas... Até hoje tenho uma pequena cicatriz na perna, que preservo com carinho, sinal de uma infância livre e feliz. Desci morros em folhas de coqueiros, cavalguei cavalos bravos, pesquei com peneira em rio caudaloso! Ah! Tempo bom que não volta mais!...
Mês de dezembro. Tempo de expectativas e alegrias. Logo no começo era a espera do meu aniversário, da minha festa, do vestido novo, do meu presente, o bolo, a mesa de doces com os deliciosos quindins feitos por mamãe. Depois a expectativa do Natal, a escolha do pinheiro, do lugar estratégico para montar a imensa árvore, os enfeites coloridos, estrelas, anjinhos, bolas que eu ajudava mamãe a pendurar, um a um, com delicadeza e carinho, junto à certeza da chegada do bom velhinho, em quem eu acreditava piamente, com todos os presentes que havia pedido por carta que mamãe me ajudava a escrever. O envelope subscritado com os dizeres: Para Papai Noel – Céu
E depois era esperar a chegada do grande dia. Era o coração batendo em ansiedade, era a aflição de ser merecedora ou não da atenção do bom velhinho. Quando chegava o dia 24, sentia o tempo lento, as horas se arrastando, o sapatinho, o mais novo, sob a árvore, desde muito cedo, o coração batendo acelerado. Mal anoitecia, já deixava a porta entreaberta para a entrada de Papai Noel e corria para minha cama tentando dormir, sempre abraçada a minha boneca preferida, para acalmar as batidas do meu coração. O ouvido apurado para tentar ouvir qualquer ruído diferente. Era sempre uma noite muito, muito longa! Os olhos bem abertos até que o cansaço e o sono me venciam!
No dia seguinte, cedo pulava da cama. Que grande felicidade, todos os meus presentes lá estavam sob a árvore. Era uma festa só! Espalhava os presentes pela casa toda, na vitrola disco LP tocando canções natalinas, função de papai que adorava música... (Ah! Papai quanta coisa boa aprendi com você). Lembro-me bem de um fogãozinho, panelinhas, pratos, talheres que levei logo para o meu cantinho, onde brincava de casinha. Lembro-me também de uma boneca bebê e seu berço que conservei por muitos e muitos anos.
Todas essas lembranças continuam vivas dentro de mim, como se o tempo realmente tivesse parado nestes momentos de paz e felicidade. Os almoços natalinos na casa de meus avós paternos onde toda a imensa família se reunia em torno de uma enorme mesa. Vovô na cabeceira, vovó sentada a sua direita, tios, tias, primos e mais presentes para as crianças, comidas deliciosas, sobremesas dos deuses, bons vinhos que eu via os adultos degustarem, (depois do almoço, escondida de todos, eu ia bebericando o restinho de cada copo), arranjos de frutas colhidas no pomar, flores por toda a casa e depois minhas tias revezando-se ao piano, já na sala de visita, onde os adultos tomavam cafezinho e licores. A criançada correndo pelo quintal, pelo jardim, pelo pomar... Tantos momentos felizes incontáveis como as estrelas do firmamento! Momentos que eternizei no meu coração.
Hoje o tempo é outro, a vida está diferente. Muitos se foram... Outros chegaram... Os espaços estão reduzidos, as moradias se verticalizaram, as janelas têm grades por causa da violência, as crianças já não acreditam em Papai Noel, desapareceu o espírito cristão do Natal para dar lugar a sua comercialização, as ceias tomaram o lugar dos grandes almoços em família, da missa do galo...
Mas a vida é dinâmica e temos que acompanhá-la. Os grandes encontros de família são raros. As famílias foram loteadas, junto aos espaços, junto a outras famílias, junto à necessidade de subsistência.
Nada mais é como antes, mas mesmo assim continuamos comemorando o nascimento do Menino Deus, em outros padrões é verdade, mas com o mesmo desejo de que haja paz, comida e felicidade em todos os lares.
Feliz daquele que tem tatuado nas entranhas da alma os venturosos natais de outrora vistos por olhos que vêem, olhos atentos de criança, sentidos com a pureza do coração!
Olhos da alma, sentimentos eternizados!...

Carmen Vervloet
Vitória, 23/12/2008
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