Artista

Foto de Lou Poulit

UM INCENTIVO À REFLEXÃO DE TODOS OS PROSADORES TÍMIDOS

Continuando uma conversa, esquecida noutro lugar...

Dei-me conta de um outro conceito integrante do curso, que também tem tudo a ver com essa reflexão sobre os nossos personagens na vida. E avança sobre fazer arte, sobre percorrer um trajeto evolutivo, lucidamente. O que inclui escrever prosa (a arte da palavra fluída) de modo mais artisticamente pretensioso, e não exatamente presunçoso...

Depois de entrar no ateliê, com a coragem e a desenvoltura de quem entrasse no castelo de Drácula, e tentar compreender alguma coisa da parafernália que havia ali, que equivalia a uma avalanche de informações visuais e olfativas nem sempre esperada, pinturas e esculturas por toda a parte, rascunhos espalhados como que por alguma ventania, uma infinidade de miudezas, coisas difíceis de imaginar e fáceis de fazer perguntar "pra que serve isso?"... O aluno iniciante dizia, como se ainda procurasse reencaixar a própria língua: eu não sei desenhar nada, sou uma negação, um zero à esquerda, nem sei direito o que estou fazendo aqui...

Eu tentava ser simpático, e sorria sem caninos, para provar que não era o Drácula. Depois pedia ao rapaz espinhento (convenhamos que o fosse neste momento) que desenhasse aquilo que melhor soubesse desenhar, entregando-lhe uma prancha em formato A2 e um lápis. A velha senhora (agora convenhamos assim) procurava uma mesa como se houvesse esquecido a sua bússula, e a muito custo conseguia fazer a maior flor que já fizera, de uns 15 cm numa prancha daquele tamanhão, e muito distante do centro da prancha. Claro, eu não conseguia evitar de interromper, se deixasse ela passaria a tarde toda ali improdutivamente. Aquele desenho já era o bastante para que eu pudesse explicar o que pretendia.

O executivo que arrancara o paletó e a gravata para a primeira aula, depois do expediente, com a gana de quem subiria num ringue para enfrentar um Mike Tison no maior barato e cheio de sangue no álcool, olhava pra mim, a interrompê-lo, como quem implorasse deixá-lo continuar! Queria mostrar talvez que eu deveria investir nele, que estava disposto a tudo, e que ele estava ali para que eu fizesse com ele o que bem quisesse. E eu finalmente explicava: não é necessário, já vi que você pode fazer. Me diga, quantas vezes você estima que já tenha desenhado esse mesmo Homem-Aranha que acabou de rascunhar?... Ah, não contei, mestre... Claro que não, mas talvez possa fazer uma estimativa, em ordem de grandeza. Uma vez? Uma dezena? Uma centena? Mil vezes?...

O velhote, com jeitão de militar reformado, pôs a mão no queixo. Mas em vez de estar fazendo alguma conta para responder, na verdade tentava avaliar (com a astúcia que custa tantos cabelos brancos) que imagem a sua resposta produziria, na cabeça do jovem mestre. Afastou as pernas uma da outra e naquele momento eu pensei que ele pretendia bater continência para mim, mas não, aquilo era um código comportamental. Sempre fui antimilitarista, mas procurei entender o seu personagem íntimo. Afinal, ele resolveu arriscar: Mais para mil vezes... Alguém poderia acreditar nisso – perguntei a mim mesmo? Se o velhote houvesse desenhado Marilyn Monroe, vá lá que fosse. Ou a bandeira do Brasil, um obuz, uma bomba atômica, ao menos um pequeno porém honroso canivete suíço!... Mas não. Um militar que estimava ter desenhado quase mil vezes o Papa-Léguas – antigo personagem de quadrinhos e desenhos de televisão – ou tinha algum grave desvio (talvez culpa do canivete) ou estava construindo naquele momento um personagem específico para a sua insegurança, o que mais convinha deduzir. Antes que ele dissesse “Bip-bip” e tentasse correr pelo ateliê, eu tratei de prosseguir com a minha aula.

Mas qualquer que fosse o aluno, eu pedia então que sentasse nas almofadas que ficavam pelos cantos do espaço, e em seguida me sentava no chão, sem almofada. E perguntava: você já ouviu falar no Maurício de Souza, o “pai” da Mônica?... Sim, das revistas... Isso mesmo. Sabe que ele é capaz de desenhar a Mônica (mas talvez não outro dos vários personagens que assina) de olhos vendados?... O aluno tentava refletir, mas eu não esperava pela resposta. Garanto a você que ele faz isso. Sabe por que?... Acho que não, assim de surpres... Por um motivo muito simples e óbvio: ele já fez tantos desenhos semelhantes, que não precisa mais se preocupar em construir nenhuma imagem do desenhista que ele é. Muito menos com o desenho que vai fazer.

Eu não estou pretendendo estabelecer nenhuma comparação com a sua pessoa, mas somente adiantando para você uma espécie de chave para quase todas as perguntas inerentes a aprendizados. Você pode achar até que é um zero à esquerda, quer diga isso ou não. Não é. Mas a sua memória técnica é. E essa seria a principal razão de você achar que não sabe desenhar, ou não ser capaz de ver-se como artista. Todo mundo nasce com alguma sensibilidade, percepção para o belo, capacidade de fazer associações psíquicas, afetivas, emocionais e tal. Isso tudo é inato, intrínseco à natureza humana. Contudo para transpor o que está dentro de você (imaterial) para fora, de modo que outros, além de você próprio, possam compreender através de alguma sensorialidade, é preciso usar um meio físico, também chamado de veículo. Para fazer essa materialização você terá que lançar mão de uma técnica, e a técnica não é inata (salvo em raros casos).

Essa é razão mais elementar pela qual está me pagando. Mas eu não fabrico desenhistas. Apenas, com base na minha própria experiência e na minha memória técnica, vou traçar um atalho para você chegar ao que definiu como suas preferências, na nossa conversa inicial. Bastará que você faça apenas algumas coisas simples, mas que podem exigir alguma disciplina: que não faça os exercícios como faria um robô, que preste atenção com intuito de memorizar o que vou lhe dizer (como se fôsse um robô!) e que não jogue fora nem mesmo o pior dos seus resultados, pelo menos até que termine o curso. Os seus resultados de exercício, em ordem cronológica ou pelo menos lógica, por mais que pareça entulhar a sua vida, serão como os frames de um filme que só existe na sua memória, e que serve para estruturar a sua memória sensorial. Será a mais eficiente forma de avaliar o processo de aprendizado, e poderá estar sempre disponível para reavaliações.

Sua verdadeira obra, será construir um arcabouço de informações técnicas. Muito naturalmente e sem começar pelo fim ou pelo meio, você irá armazenando o conjunto da sua sensorialidade ao exercitar. Não irá memorizar tão somente o desenho em si, mas a interação entre os materiais, os sons, o cheiro, a impressão tátil de manusear e pressionar, enfim, tudo será memorizado, e a partir de certo ponto, além de saber, você estará compreendendo o que faz. Contudo, não tem que esperar o fim do curso para estabelecer uma relação mais madura consigo próprio, enquanto artista. Poderá começar a amadurecer (e reorientar) desde logo o seu foco preferencial, a sua linguagem e estilo próprios, seus conceitos e o seu próprio personagem de artista...

Isso mesmo, o artista, seja pintor, músico ou escritor, tem um personagem próprio. Para as pessoas que só podem conhecer a sua arte a partir do veículo e não a sua pessoa, será inevitável eleger atributos para agregar referencialmente ao seu nome, ou para humanizar o seu nome, e torná-lo mais compreensível. As pessoas “tocam” o produto artístico como se tocassem a pessoa do artista subconscientemente. Por isso, se você não quiser criar lucidamente o seu personagem e torná-lo compreensível para eles, os admiradores da sua arte o farão instintivamente e você só saberá depois, ou talvez passe pela vida sem saber como é visto, ou pior ainda, imaginando o que não corresponda nem de longe à realidade.

Não importa muito a linguagem artística que se escolhe. O processo evolutivo é muito semelhante. E todo aquele que reluta em mostrar seu trabalho e predispor-se a um julgamento que não se submete ao seu próprio, apenas retarda a sua própria evolução.

Foto de onil

NA ESPERANÇA DE UM DIA

COMO SONHEI SER FADISTA
INSPIROU-ME UMA GUITARRA
NUMA FESTA BEM BAIRRISTA
ONDE OUVI CERTO ARTISTA
O FADO CANTAR COM GARRA

ESSE SOM DELIRANTE
DE UMA GUITARRA A TRINAR
ENTROU FORTE EM MINHA MENTE
DEIXOU MINHA ALMA CONTENTE
E NA VIDA ESTE SONHAR

ESCREVER ENTÃO MEU FADO
UM DESEJO TÃO PROFUNDO
ESCREVER VERSOS AO PASSADO
DO AMOR QUE É TÃO SAGRADO
E CANTAR ALEGRE AO MUNDO

QUANDO ESCUTO A VOZ NO CANTO
DA GUITARRA O SEU TRINADO
NA MELODIA ME ENCANTO
PONHO O VERSO EM PENSAMENTO
E ESCREVO ENTÃO MEU FADO

NAS RIMAS DA POESIA
O FADO É MEU CISMAR
ESCREVO VERSOS DE ALEGRIA
NA ESPERANÇA DE UM DIA
MEU FADO PODER CANTAR.

28.01.98
ONIL

Foto de Lou Poulit

Poema do Poeta Passarinho

A ÁRVORE NOVA E O LAGO

A árvore nova, em seu instante mais florido,
é a dona do silêncio do lago soturno.
Pequenas flores descalças dela vêm pousar no leito do espelho,
senhoras da emoção latente, e bailando possuem astros.
Não há vento que se veja.
Mas a brisa, discreta, se não viesse do poeta que verseja,
viria eflúvio da seiva dela, compor o seu olhar apocalíptico,
como um dilúvio de concupiscência,
vertente sulcada pela inútil iminência,
loucura das palmas distante, bastante para não caber.

A árvore nova, desconhece o portador da sua semente.
E se amanhece, a prece e a gratidão do lago desconhece.
Não há verso que o poeta verse
que faça com que completa ela se veja.

Mas se curva ao próprio reflexo, indefesa no abraço infindo,
multicôncavo e pluriconvexo, em que sem vileza o lago deseja.

E que desejo.
Que imenso e tão antigo, tão intenso e tão amigo desejo,
capaz de querê-la com um querer lacustre,
sem que lhe custe o absurdo de tê-la, imagem refletida.
Mas o velho poeta, muito mais que um profundo lago,
mais que um monge, é um mago.
As suas areias têm a febre terçã da manhã que o habita.

E não há em toda a orla, árvore nova tão bonita!

O doce poeta, muito mais que um mago,
mais que um abrigo, é um artista.
O seu amor isento é lúcido, mesmo a cada manhã que parte...
Ah, o cerne da arte é uma aventura,
mais que viver sem cura, mais que morrer sem ferida!...

E não há em seu contorno, árvore nova tão florida.

Foto de CarmenCecilia

BAILARINO TRAPEZISTA VÍDEO POEMA

POESIA: WILSON MADRID
EDIÇÃO: CARMEN CECILIA
MÚSICA:YANNI

BAILARINO TRAPEZISTA

Ele é um grande artista,
um bailarino trapezista,
que dança entre as flores do jardim
e sempre se equilibra como um serafim,
entre os perfumes da rosa, do lírio e do jasmim...

Ele é um enamorado contumaz,
voador ligeiro, ágil e fugaz,
que convive com as flores mais lisonjeiras
e se encanta com suas belezas faceiras,
naturais, exóticas e passageiras...

Ele é um amante apaixonado,
galanteador de toda flor que surge ao seu lado,
que abana suas asas para refrescar a querida
e que sussurra às suas pétalas sua intenção já decidida:
beijo muitas, mas você é a preferida...

Ele é um jardineiro dedicado,
floricultor que trata todas suas amadas com cuidado,
que planta no peito da margarida o cravo fulgurante,
aquece a azaléa com o girassol brilhante
e sustenta a orquídea com o copo de leite espumante...

Ele é um ecologista fanático,
vegetariano, esotérico e enigmático,
que faz qualquer botão florir sem sentir dor,
que flutua nas cores do arco-íris do amor
e atende pelo nome de beija-flor...

( Wilson Madrid )

Foto de DENISE SEVERGNINI

VIVER NA ARTE

VIVER NA ARTE

Pinto a vida
Imersa numa tela de palavras
Que soam aos ouvidos
Como melodiosa poesia

A vida tinge-se em muitos matizes
Há dias brandos com amarelo napoli
Outros escuros com gris-de-pane
Circunstâncias vis, clonam-se de vernizes
Que descascam ao sabor do tempo

Telas de natureza morta
São as dificuldades que nos batam à porta
Um jardim de Monet traduz-se
Na alegria sentida de um amor presente

Tantas faces distorcidas em obras
De Picasso... São vidas em fracasso
Ou existências ricas de felicidade mil

Poesia é alma de poeta
Que das palavras ser faz atleta
Pintura é alma de artista errante
Que do pincel se faz viajante

Denise Severgnini

Foto de Carmen Lúcia

A menina e o tempo

Ah, menina sonhadora...
Canta o amor que transcende a vida,
vibra sentimentos em comunhão com a paz,
compõe versos espelhados na beleza
precursora da arte,
invasora de sonhos,
que se faz perceber...
mesmo sem querer.

Ah, menina sonhadora...
Dança rimando seus passos,
gira, contagiando o mundo
que no fundo também quer sonhar.
E dançar...
Faz da vida um grande show
expondo sua arte
que o palco da emoção invade
e a ilusão fomenta.

Ah, menina sonhadora...
Segue sonhando e driblando o tempo
que veloz caminha e deixa a menina.
Talvez não queira surpreender a artista,
descompassar a frágil bailarina...
Desvia seu destino
eternizando o dom da compositora,
aplaudindo a menina sonhadora.

Ah, menina sonhadora...
O branco dos cabelos não a faz desistir,
as rugas em seu rosto, motivo pra seguir
reverenciando a vida
a lhe cobrir de fantasia
concedendo espaço para alçar seus voos,
espalhando sonhos
onde a inspiração atua
e o tempo complacente perpetua...

E a arte predomina
imorredoura
no coração da menina
sonhadora...

_Carmen Lúcia_

Foto de Carmen Lúcia

Morte e ressurreição de um poeta (ao Dia do Poeta:20/10)

Sangra, agora, seu coração...
Mudo, destroçado, sem vibração.
Quer bramir um verso,
despertar a emoção...
Mas cala-se ante o gemido que brota
confirmando a triste derrota.
Sangrando assim, não é capaz...
Sangrando assim, seu verso jaz.

Outrora voava com a fantasia,
som de violino em feitio de poesia,
seus versos percorriam céus e terras...
Era o amor indo ao encontro de almas vazias.
Pisotearam o poeta, tiraram-lhe a visão,
rasgaram os seus versos, escarraram suas rimas...
Amores perversos, almas desumanas,
maldade imbuída na mente humana...

Hoje, um farrapo vagueia pelas esquinas,
um resto de inspiração o incita à nova vida...
E tateia as emoções pelos cantos, perdidas,
restaurando seus versos, resgatando suas rimas...
Esculpindo sua alma...
Um verdadeiro artista!

(Carmen Lúcia)

Foto de leandro carvalho 87

O ARTISTA MAIOR

nos divãs do vão conhecimento
procurando a arte sem artista
projeto perfeito sem projetista
pães que crescem sem fermento.

vivendo na ignorância dos seus corações
pregam à parede uma obra de arte...
olham pra ela e dizem:
"o artista está em que parte?"
"não o vejo...não o vejo..."

mas, eu vejo!
que todos podem provar a possibilidade
de um quadro ser feito sozinho...
mas, quem explica a escolha de caminhos?
e quem explica essa bússola que há em nós?
quem explica a capacidade de amar?
quem explica o equilíbrio entre as diferenças?
quem explica...
quem explica a insensatez
de ver um mundo triste e egoísta
manchado por guerras e fome.
onde a guerra começa em casa
e onde o mal se esconde no egoísmo de cada um?
e mesmo assim...
todos os dias caem chuvas...
nascem sóis...

e agora
quem explica...
não aceitar a existência de um artista maior
simplesmente porque o tempo
e nossas escolhas insensatas
estragaram sua obra de arte?

Foto de Carmen Lúcia

O palco é seu...

Toma!O palco é seu...
Derrama sobre ele
todo o veneno infundado
e o mal que sempre escondeu,
roubando-lhe o sorriso guardado
que a vida não devolveu...

Destila o que há na alma,
o que guardou em segredo
e lhe queima as veias...
Um nó preso na garganta,
o soluço que não se abranda
na pele de uma personagem
vivendo sórdido enredo.

Não faça figuração...
Encarne a personagem
em toda a encenação...
Dá-lhe autenticidade,
aquela que ainda restou.
Solte as palavras às luzes dos refletores;
que elas reflitam, bem alto, as dores...
Segura as que calaram e perca as que se foram.

Tira a máscara que o sufoca;
a capa que os sentimentos tolhe...
Não ouça a música que toca...
Canto de sereia pra levá-lo de volta...
Sinta-se livre, respira o novo ar...
Seja protagonista de sua própria vida...
A do artista sempre o trai...

Carmen Lúcia

Foto de ROSA GUERRERA

MAGIA

Há uma magia diferente
nesse amor que vem de você ...
Você consegue beijar o meu sorriso,
colocar estrelas no céu da minha minha boca,
raios de luar no brilho dos meus olhos,
tempestade nas minhas emoções,
imobilidade nos meus gestos,
silencio na minha voz
e calmaria no meu orgasmo .
Você é como aquele mágico misterioso
que sem auditórios nem cenários
estrapola os limites da minha feminilidade
mirabolando fatos nunca antes descritos ...
E no palco vazio do nosso quarto
iluminado apenas por um tênue abajour
essa magia me aparece em forma de homem,
escultor e artista ...
Único pintor para mim capaz de transformar
em realidade o meu sonho
na tela lençol que deixa nas marcas do suor
apenas o contorno dos nossos corpos ....

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