Carros

Foto de Cabral Compositor

Num Piscar de Olhos

Num Piscar de Olhos

Catou um monte de ideias
Saiu pelas ruas, viu arvores, esquinas e comercio
Muita gente em vestes
O calçamento, cores nos carros, nas casas, em tudo
Cheiro de café, de flores
Um grito, uma musica e o canto dos pássaros
Ruido de motores, uma velha varrendo a calçada, folhas secas caidas
Uma praça, uma torneira aberta
Um céu azul e nuvens brancas
Um varal com roupas ao vento
Um Sol, nem quente, nem morno
A alma e as batidas do coração
Uma oração na mente
Um sonho, uma vida em frente
Uma brisa leve
Um dia, um tempo nesse momento, na memória, na historia
Num piscar de olhos atentos
E as mãos em poesia

Foto de Luciana Magalhães

Roubaram minha infância

Roubaram o brilho dos meus olhos
O segredo da minha alegria
Roubaram minha vontade de amar
Minha memória está vazia.

Hoje faço parte de um todo
Mas eu não mato nem tão pouco roubo
Porém sou um número a mais
Sou órfão dos meus pais

Faço parte do cinza do céu
Do nublado da vida
Das enchentes que inundam as ruas
De uma estrada sem divisa.

Sou a prova viva da miséria
E se meus olhos já não dizem mais nada
O meu peito ainda sente a vida
Será que existe dentro de mim uma saída?

Pele castigada pelo sol
Corpo franzino de um menino
O peso da realidade sob meus ombros
E pés calejados pelo trabalho

A infância que me faz fraquejar
Meu desejo que renega onde estou
Um trabalho imposto pela fome e pelo medo da morte

Janelas abertas aprisionadas pelo medo
Carros blindados e refrigerados
Minhas palavras ignoradas, são ditas em vão
Somos os monstros da população.

Tem menino bem cuidado
Sentado do outro lado
Feliz com a vida que tem
E eu aqui nesta vida de ninguém.

Não é fácil entender esta estatística
Que nos faz personagens do lado errado da vida

Quero de volta meus chinelos
Quero agasalho para me aquecer
O coração que me arrancaram do peito
Barriga cheia para me satisfazer
E se possível, devolvam meus sonhos
Para que eu possa voltar a viver!

Foto de Dirceu Marcelino

14ª parte da VIAGEM DO TREM ENCANTADO - 'AFECTO AUTÊNTICO' - Homenagem a HENRIQUE FERNANDES, visitas a VILA REAL e MURÇA

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AFECTO AUTÊNTICO

Amigos poetas
Do “Poemas de Amor”
Entro pelas portas abertas
Unindo-me ao vosso calor

A emoção que aqui passeia
É normal e pura no seu total
Resulta da epopeia
Do meu ser sentimental

Rumo romântico
Clareado no escuro
Por afecto autêntico
Saboreio-o tão puro

Reúno amor num cartel
Protegido no olhar
Ditando letras num papel
Assinando o meu amar

Partilho com todos vocês
Um pouco do meu talento
Sem mais nem porquês
Parabéns por este evento

Do trem encantado

Dirceu Marcelino" - (Autoria HENRIQUE FERNANDES )

******

Obrigado Poeta

Henrique Fernandes

Você é muito legal

O poeta diamante

De Vila Real
Levara-nos a conhecer a região de
Trás dos Montes
Sentado na boleia
Da locomotiva da alegria
Ladeado por belas
Companhias.

Trará novas energias
Invisíveis andando
Pelos carros do comboio
Dando-nos todo apoio,

Rumo ao desconhecido
Porque é nosso amigo,
Mais um Poeta da Esperança.. ( Dirceu Marcelino )

******

NUVENS DE FUMAÇA II

O vapor forma uma nuvenzinha fina!
Mas desta vez estou dentro do trem.
Acompanhando aquela menina,
E a apóio para não cair no vaivém,

Do trem! Pois, agora é mui grã-fina!
Senhora do interior com seu neném.
Formosa e radiante não se amofina
Com nada, pois, sabe que a mantém.

Um marido que a ama e se fascina,
Com seus olhos verdes que o entretem
E que a segura, amarra e o domina.

Viajam assim sem pensar em ninguém.
Ali está a representação divina
Da família: “pai, mãe e mais alguém”. ( Autoria: Dirceu Marcelino )

Foto de Gideon

O doutor, o carroceiro e a joça (conto)

-Bela paisagem, Zé…
-É sim doutor
-A gente até esquece que é da cidade…
-Pois é, doutor
-Zé, você nasceu aqui mesmo?
-Sim, doutor

-É Zé, eu sou da cidade grande, vida agitada…
-Hum… Cidade grande…
-A gente cresce no meio dos carros, dos prédios, do lixo, até esquece que existe isso aqui, bem perto…
-É, doutor…

-Tá balançando muito aí, doutor?
-Um pouco, mas dá pra levar. É tudo muito gostoso, a natureza, essa carroça…
-Pois é Zé, eu vou trabalhar… Ainda bem que é aqui.. nesse paraíso…
Dá prazer vir ver as pessoas doentes aqui… Elas parecem conformadas com a sina…
Na cidade, Zé, as pessoas brigam com a gente dentro do consultório…
-É mesmo, doutor?
Brigam assim, por nada?
-Mais ou menos. Reclamam que a gente faz a receita sem mesmo olhar para eles…
Às vezes querem que a gente atenda aos conhecidos usando o seu plano de saúde, enfim…

-Belo pássaro aquele, Zé…
-Cambaxirra, doutor…
-Cam-ba-xir-ra.. Nome estranho e diferente. De onde deve ter surgido esse nome?
-Sei não, doutor, sei que é Cambaxirra desde que eu era menino…
-Bela égua, a sua, Zé…
-É Betinha, doutor. Ganhei ela quando inda era potra. Antunes da Bigorna me deu… Era dívida de uns carretos de pai que ele devia….
-E você a criou assim tão bela…
-Foi nosso Senhor, doutor, eu apenas dei sal grosso com capim… Ela ficou bonita pela natureza mesmo…

* * *

-Deixa ver Zé, quem sabe ela levanta agora!
Êpa, levanta eguinha, vamos lá…
-“Dianta” não, doutor, acho que ela bateu as botas…
O senhor é doutor, poderia ouvir o coraçãozinho dela…
-Deixa ver, Zé, vou botar o ouvido aqui, perto do coração…
-Não doutor, ponha aquela joça, que fica pendurada aí na orelha…
-Ah, sim, o estetoscópio! Não Zé, acho que não adianta no corpo de uma égua…
-Mas doutor, ela não tem coração?
-Tem, Zé…
-Ela não respira?
-Sim, Zé, respira…
-Pois então, tasca essa joça logo no peito dela e ouve se ainda vive…
-Para quê Zé? Não tenho remédios aqui nem tempo para esperá-la melhorar…
-Não, doutor, é que se ela inda tiver viva, eu rezo para São Francisco de Assis e ela vive..
-Ah, sim, Zé. Você tem razão, vou ouvir o coração dela então…

Quem diria, eu, um médico aqui ouvindo o coração da égua com meu estetoscópio, nesse fim do mundo !!!

* * *

-Até a próxima, Zé.
-Té mais ver, Doutor e brigado pela Betinha!
-Se ela deitar, Zé, é só tascar a joça no peito dela e rezar para São Francisco de Assis.
-Tá bom Doutor, brigado pela joça.

Foto de Gideon

O Theatro da minha vida

Domingo, 2 de outubro de 2005

Na sexta-feira passei em frente ao Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na Cinelândia. Estava iluminado. Era noite. Tinha um enorme cartaz, que já estava lá há tempo anunciando espetáculos a preço popular.
Meu coração pulava pela ânsia da arte. Tenho fome de arte, todo o tipo dela. A cada dia reconheço que deveria ter estudado Arte, não Economia e Informática. Às vezes penso que ainda há tempo para estudá-la. Tavez entrar em uma faculdade de Artes, enfim. Aliás, estou amadurecendo a idéia de fazer faculdade de Violino. Tenho estudado arduamente, diariamente. O cartaz do Theatro Municipal estava chamativo. Pensei rápido: Meus filhos, vou trazê-los aqui!.

Cheguei em casa e liguei para a Idailza avisando-a de que no Domingo eu levaria o Jean ao Theatro Municipal. Ela passou o telefone para ele e então ouvi um “Oba!” feliz.
Liguei para a Irani, irmã de Idailza e que é mãe da Priscila e de duas gêmeas de 8 anos, lindas: Paloma e Paola.
No domingo levantei-me às 6:30. Ageitei-me e camihei para apanhar o Jean, Paloma e Paola. A Paola é apaixonada por Violino. Diz ela que quer aprender este instrumento ainda na infância. Elas duas já estavam agitadas quando eu
e o Jean chegamos lá. Enfiei todo mundo no Pálio, passamos na Nete, outra irmã de Idailza, para convidar a Dayane, sua filhinha, mas ela não pode ir.

O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é lindo por fora e por dentro. Deslubrante mesmo. As crianças quase ficaram com o pescoço duro de tanto olharem para o alto. A Paola disse:

- Tio, aqui está cheio de mulheres peladas.

Onze horas em ponto a orquestra estava a postos e entrou o maestro. Para a minha surpresa agradável era o grande e conhecidíssimo Isaac Karabtchevsky. Meu coração disparou a mil por hora. Confesso uma coisa aqui. Também foi a primeira vez em que entrei no Theatro Municipal. Desde garoto sonhava ir lá. Sempre ouvia meus colegas na banda de música falarem sobre o Municipal. Quando cresci e passava em frente a este monumento, sempre via a classe rica descendo de seus carros com seus chofés e então concocluía que aquilo não seria para mim.

Ainda menino quando eu solava o Prelúdio La Traviata de Verdi no clarinete junto com a orquestra me imaginava em uma grande orquestra no Teatro Municipal com o corpo de balé se movimentando ao som da música que eu tocava. Bem, isto ficou somente na imaginação mesmo, pois jamais toquei no Municipal.

Enfim, voltando ao espetáculo. O maestro, após a verificação da afinação feita pelo spala, dirigiu-se ao público de forma muito simpática e passou a explicar situações de ensaios etc. Pois é, o espetáculo seria iniciado, como foi, com o Hino Nacional. Isaac Karabtchevsky fez uma brincadeira com o público lançando um desafio para ver quem conseguiria cantar o Hino Nacional inteiro sem errar. Deu chance para três pessoas mas ninguém conseguiu. Todos rimos muito e finalmente, ao seu comando, todos se levantaram para cantarem o nosso Hino Nacional. Foi um momento de muita emoção. A orquestra iniciou a apresentação e pude sentir aquele espírito da arte passeando pelas galerias do Theatro. Todos em silencio com a atenção direcionada para o palco. A Paola fez carinha de choro de emoção e todos rimos um pouco dela. Ainda bem que não notaram a minha cara de choro também, pois não resisto a concertos sem chorar. Claro que disfarço o quanto posso, mas nem sempre consigo. Enfim, o espetáculo acabou e voltamos todos felizes para a casa. Antes, tive de passar no Mc Donald com as crianças. Enfim, visitei o Theatro Municipal do Rio de Janeiro que tanto visitou as minhas ânsias musicais.

Todos rimos. Ela se referia aos afrescos e vitrais com os painéis do Theatro. Chegamos cedo e compramos quatro ingressos na galeria nobre. Entramos na nave do Theatro, nos sentamos e ficamos observando os músicos afinarem os seus instrumentos. O Theatro estava lotado. As crianças não paravam de olhar os vitriais e as obras de arte.

Foto de Gideon

Um Amor Prá Ser Lembrado

Sentirei falta
Do sorriso escondido
Dos pezinhos ligeiros
Da cinturinha fina
Da vozinha débil e sussurrada.

Sentirei falta
Do abraço acolhedor
Do beicinho birrento
Da mãozinha acomodada à minha
Do sorriso treinado, mas sincero...

Sentirei falta
De sair do trabalho e ir correndo
Encontrar-te arrumadinha
Esperando-me para o café.

De apressar os passos,
Atravessar na frente dos carros
Prá não perder um minuto sequer
E encontrar logo aqueles lábios úmidos,
Sedentos de amor.

A menina sapeca
que sabia pecar sem parecer pecadora.
Que sabia amar sem parecer apaixonada
Que queria carinho sem parecer carente.

Sinto falta de a meia-noite chegar
E eu ter de ir correndo embora
Antes que a madrugada nos traísse
Entregando-nos ao amanhecer descuidado.

Os beijos ardentes e quentes
Que pareciam nos tragar,
Aprisionando o nosso amor dentro de nós,
Pra nunca mais escapar.

Ah, são tantas coisas que não dá prá contar
Mas dá prá lembrar e sentir saudades deste amor
Acelerado e quente que nos envolvia ardentemente.

Essa droga de tempo,
Que não tem manivela prá deixar voltar
Que segue incólume sua marcha em frente
Como que debochando da gente.

Quando a conheci não imaginava amá-la.
Não procurei o seu olhar nem a sua atenção,
Mas fomos logo tragados pelo abraço do acaso
Disfarçado de circunstância qualquer.

A diferença de idade logo ressaltou o especial
O deslumbre nos impulsionava
Contra as horas marcadas do tempo.
Queríamos estar juntos sempre, o tempo inteiro.

Ela, esperta e viva, mas avexada e arredia
Foi entregando-se na velocidade dos beijos.
Que libertaram o amor que estava preso em nós.

Logo vieram os planos e atitudes.
O sonho da felicidade possível
Pousou em uma árvore ao lado de nós
Plantada em uma praça especial
Aonde costumávamos devanear,
E ficávamos nos deliciando com as possibilidades.

Dia, após dia, foram-se passando
E o nosso amor descobrindo novos sabores.

Sinto falta do bolo de fubá com café
Que se derramava em meu estômago
Forrado de amor e carinho despendido por ela.

Não é assim! Não basta desligar o sentimento
Que a nossa mente esquece, desacostuma-se!
Leva tempo, e muito tempo, às vezes...

Que droga de tempo...

Beijos proibidos agora...

Foto de Mentiroso Compulsivo

O TOURO

DECIDI PUBLICAR ESTA HISTÓRIA A PROPÓSITO
DE UMA POLÉMICA QUE EU PRÓPRIO LEVANTEI
(como todas as histórias, esta também tem uma moral)

Numa linda manhã primaveril em que os raios de sol brilhavam pelos verdejantes campos do Ribatejo, parecendo reflectir a essência da vida de um botão de flor que acabava por desabrochar, estava um menino de três anos a brincar com dois dos seus primos, uma vizinha e dois irmãos: uma irmã de nove e um irmão de cinco anos.

Naquele lugar, podíamos avistar ao longe o cinzento da serra a contrastar com o verde da planície e dos olivais.

Por entre as oliveiras e um ribeiro que passava por perto, as crianças corriam, pulavam e brincavam às escondidas, como se o mundo girasse à volta daquele instante.

O pai das três crianças, por trabalhar em turnos nocturnos, estava a dormir com a sua irmãzinha mais nova de um ano e meio, enquanto a sua mãe trabalhava, por aquela altura, no turno de dia.

Na euforia da brincadeira, ignoravam um perigo eminente que estava por perto, até que o seu irmão de cinco anos apercebeu-se da surpreendente e bizarra fatalidade que a qualquer altura poderia acabar em desgraça.

Apressando-se de imediato a avisar a irmã mais velha, que se certificou do touro selvagem que andava à solta por aquelas bandas. Ficando em completa histeria, começou aos gritos e apelou à fuga das restantes crianças que ali brincavam para se refugiarem em local seguro.

Pânico instaurou-se entre todos que intuitivamente começaram a correr em direcção à casa mais próxima, tentando evitar, a todo o custo, serem apanhadas por aquele touro.

O seu primeiro instinto foi o da sua própria protecção. Depois, já em local seguro, numa das casas das redondezas, a irmã lembrou-se do mais pequeno de três anos. Este talvez ficasse admirado com toda aquele reboliço e deveria ter pensado que aquilo era uma grande festa e brincadeira. Será fácil imaginar ver a sua cara feliz daquela enorme satisfação, para ele um touro era um simples animal, tal como uma vaca, um pouco estranha, por ser diferente, o que até lhe dava até um ar de mais engraçado. Habituado aos porcos, galinhas, vacas e ovelhas que os pais e os vizinhos criavam por ali, para ele aquela criatura não representavam qualquer ameaça.

O inevitável aconteceu, segundo o relato de algumas testemunhas que presenciaram à tragédia, ao terem acorrido ao local levados pelo alvoroço e o grito das crianças, o rapazito foi arrastado por três marradas do touro, sendo que uma o fez levantar para o ar a uns dois ou mais metros do chão e nas outras duas foi arremessado pelo campo vários metros para a frente.

Os habitantes locais depressa afugentaram o touro e socorreram a criança já toda molestada. Um vizinho pegou-a nos seus braços, cheia de sangue por todo o lado, nas roupas e na cara onde o verde dos seus olhos contrastava com sangrento vermelho que neles ficou. Rapidamente, levando a criança no colo, acorreu para a casa do seu pai para contar o sucedido e pedir auxílio médico. Bateu à porta, bateu e tornou a bater, mas ninguém apareceu para a abrir. Dizia-se por ali que deviria estar muito cansado e talvez com um copito a mais que teria bebido ao sair do trabalho, parece que já se tinha tornado num hábito.

Profundamente a dormir num sono descansado, pai e filha ali estavam, ela sã e salva, pois não estivera a brincar com os seus irmãos naquela hora e local, dado que era a mais pequenita, se lá estivesse, quem sabe não teria sido ela a vitima.

Foi então que um dos vizinhos decidiu pegar no seu carro e levar o miúdo para o Hospital da cidade mais próxima. Naquela altura os carros eram raros e na povoação só haviam duas famílias que possuíam carro.

Mais tarde, os seus pais, como é óbvio, depressa ficaram a saber do sucedido. Enquanto a criança lutava pela vida ligada a máquinas, ninguém tinha esperança. Esteve assim por três dias em coma e quando já as esperanças eram poucas a criança conseguiu vencer a vida.

Veio-se depois a saber que o touro teria fugido já ferido de um matador das redondezas.

Pensado que estava marcado o destino desse menino por aquela tragédia, vaie-se lá saber porquê, a sua mãe um dia saíra de casa para ir fazer alguns afazeres e deixara um candeeiro a petróleo aceso no quarto da irmãzinha, nessa altura não havia electricidade por aqueles lugares.

Ao contrário do dia da tragédia do touro, ela não conseguia adormecer, estava muito agitada e com curiosidade, própria daquela idade, mexia em tudo o que apanhava pela frente, até que conseguiu alcançar o napron onde estava o candeeiro, fazendo-o tombar para o chã. Depressa as chamas se espalharam, primeiro pelo quarto, depois por toda a casa. Por mero acaso ou destino, um soldado estava passando por perto, e ouvindo gritos vindo dentro da casa, não perdeu tempo, entrando por uma das janelas salvou primeiro o irmão, depois foi a vez dele e por último a irmã também foi retirada.

Saíram todos com vida e logo foram levados para o Hospital, o seu irmão não tinha sofrido nada, ele apenas teve algumas queimaduras que vieram a sarar, contudo, a sua irmã tinha sofrido graves queimaduras e acabara por sucumbir antes de chegar ao hospital.

Esta é uma história que nunca contei a ninguém, esta é uma história real. Quando a lembro, lembro-a em jeito de tourada e conto-a muito vagamente, apenas pequenos trechos, como o pequeno toureiro que enfrentou o touro pelos chifres, em jeito de brincadeira. Por coincidência ou não o meu signo é Touro.

Foi acaso, foi destino, não sei. Essa criança de três anos, é hoje um homem e pessoa. Essa criança cresceu normal, talvez só diferente na sensibilidade para a vida (será que afectou o cérebro?).
Esta história foi dedicada à minha irmãzinha, ANA MARIA, que nunca conseguiu viver a vida. Eu não dou mérito ao facto de ter sobrevivido, apenas à vida. É A VIDA QUE INTERESSA. Vale a pena pensar ou levar tão a sério aquilo que eu chamo de «mesquinhices» da vida? Fica para pensar.

Esta foi a primeira vez que tornei esta história pública, tentei um dia fazê-lo, mas por respeito a uma pessoa que esteve numa situação muito mais grave e delicada que a minha, retirei a publicação da história. Hoje essa pessoa, penso ter conseguido ultrapassar já os obstáculos mais difíceis. Eu teria mais dia, menos dia, que quebrar o gelo.

Foto de Dirceu Marcelino

LEMBRANÇAS DO MENINO QUE QUERIA SER MAQUINISTA DE TREM

***

"Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar
Lá vai ciranda e destino
Cidade noite a girar
Lá vai o trem sem destino
P’ro dia novo encontrar
Correndo vai pela terra, vai pela serra, vai pelo ar
Cantando pela serra do luar
Correndo entre as estrelas a voar
No ar, no ar, no ar."
( O trenzinho caipira: Heitor Villa Lobos)

***

Eram três crianças de 8, 6 e 4 anos de idade.
Iriam viajar da cidade de sua infância para outra grande metrópole regional.
A viagem de trem:
Enquanto aguardavam na estação a chegada do trem que os levaria para uma cidadezinha próxima, um importante tronco ferroviário que interliga várias ferrovias que vem do interior do estado ao litoral, mais propriamente ao Porto de Santos, o que viam.
Viam as manobras das locomotivas a vapor.
Entre várias, tal como a chamada “jibóia” enorme, gigante, com várias rodas, as “Baldwins”, a que mais chamava a atenção do “menino” era uma “Maria Fumaça” pequenina. Tão pequena que nem tender ela tinha.
Ia para frente apitando, estridentemente:
Piuuuuuuuuuuuuuuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiuu!
Retornava, repetia os movimentos para frente para trás, tirando alguns dos vagões de várias composições estacionadas nos diversos trilhos da estação ferroviária.
E o Menino sonhava. Queria ser maquinista de trem.
Tanto que ele gostava, que em outras ocasiões, quando levava comida em marmitas para o pai, que trabalhava nas oficinas, permanecia várias horas sentado nos bancos da estação.
Via as manobras das “marias fumaças” e também a passagem das longas composições de carga puxadas por máquinas elétricas, verdes oliva, chamadas “lobas”.
Até que um dia sua mãe resolveu levá-los em uma viagem.
Nesse dia enquanto aguarda o Menino avistou ao oeste um único farol que surgia no horizonte da linha ferroviária, amarelado e a medida que se aproximava ouvia-se o barulho característico daquela famosa locomotiva elétrica, que zumbia como um grande enxame de abelhas: “zuuummmmmmmmmm”
A locomotiva devagar passava do local de aglomeração das pessoas e aos poucos deixavam em posição de acesso os carros de passageiros de segunda classe e lá quase ao final da plataforma um ou dois vagões de primeira classe.
Eram privilegiados, filhos de ferroviários.
O Menino sentia orgulho desse privilégio.
Lembra-se que naquele dia sentou-se no último banco do lado direito.
Dali podia ver que poucas pessoas permaneciam fora da composição. Alguns parentes, que gesticulavam se dirigindo aos parentes acomodados nos carros de passageiros.
Ao longe. Via um senhor uniformizado de terno azul marinho e “quepi”, com o símbolo – EFS.
Aos poucos esse Senhor vem caminhando pela plataforma, desde o primeiro carro até próximo da janela em que o Menino se encontrava.
Para e tira um apito do bolso superior de sua túnica e dá um apito estridente: “piiiiiiiiiiiiiiiirrriiiiiiiii”
Em seguida, a locomotiva apita “Foohhooommmm..”
Novo apito.
A seguir, começam a ouvir-se os sons característicos dos vagões que retirados de sua inércia estrondavam um a um e começavam a se locomover lentamente até que o carro e que o Menino está começa a se locomover, mas, sem fazer o barulho característico, o seja, o “estralo” ao ser acionado, pois os solavancos que se sentem nos primeiros vão diminuindo gradativamente e quando atingem o ultimo praticamente são imperceptíveis.
Justamente, por essa razão é que os vagões de primeira classe são colocados no fim da composição.
Este carro diferia dos demais por ter os bancos revestidos, corrediços, que permitiam serem virados e propiciar as famílias se acomodarem em um espaço particular.
Assim iniciava-se o percurso até a cidadezinha, onde passariam para outra composição, a qual seria tracionada por uma locomotiva a vapor.
Como era linda a paisagem.
Muitos locais dignos de cartões postais, o primeiro, por exemplo, a ponte sobre o rio Sorocaba, que nasce na serra de Itupararanga e desemboca no rio Tietê
Lindos lugares que por muito tempo permaneceram esquecidos, mas que hoje podem ser registrados em fotos e filmes das câmeras digitais.
Fotos que nos fazem afagar a saudade dos dias de outrora.
Mas, além dessas fotos antigas ou digitais, temos a capacidade de guardar no fundo do nosso inconsciente outras imagens e filmes de nossas lembranças.
Revendo tais filmes, verificamos que inconscientemente queremos alcançar trilhar os nossos sonhos, mas, geralmente em razão das dificuldades da lida, não o atingimos, ou então, ultrapassamo-nos e exercemos outras atividades ou profissões que nada tem a ver com aqueles sonhos.
Eu, por exemplo, adoro trens.
Simplesmente, queria ter sido “maquinista de trem”.
Mas termino este conto, simplesmente, para dizer:
À poucos dias, nesta cidade, de onde o Menino iniciou a viagem teve oportunidade de ver, aquele Senhor, em uma comemoração do retorno da “Maria Fumaça” que estava em outra cidade, onde permanecera sob os cuidados da Associação de Preservação Ferroviária, ser chamado entre outros velhos aposentados, pelo Prefeito:
_”Agora para comemorar o retorno de nossa Maria Fumaça - “Maria do Carmo” - chamo o mais velhos dos aposentados.
Puxa! Que felicidade do Menino, ao ver aquele Senhor caminhando pela plataforma da estação.
Sim. Era motivo de felicidade.
Pois o menino, já não é mais tão criança, já é um envelhescente e aquele Senhor continua vivo.
Oitenta e quatro anos.
Era o “Chefe da Estação”.
O mesmo “Chefe de Trem” que vira caminhando a quarenta anos pela plataforma da estação.

Para assistir video - poema relacionado entre em:

http://www.youtube.com/watch?v=7fE5aNx-zQ4
e em
http://www.youtube.com/watch?v=knPPSfHNm2U

Foto de Carmen Vervloet

FESTA DO SIM

Vinha...
Seta ligada...
Vou entrar... Atenção!...
Corta-me
Pessoa apressada
Sem razão
Pela contra mão...

Carros em choque...
Susto... Atordoamento...
Sensação de desfalecimento...
Amigos que correm,
Que socorrem,
Que falam,
Que se ocupam
E se preocupam...
Amigos...
Só amigos...
Amigos que se dão...
Que vem e vão...
Que assumem comigo
A angústia, a preocupação!...

E a rua toma para mim
Um ar de festa...
É a festa da amizade e do sim...
É a festa da comunicação...
Da doação...
Da distribuição...

Mas de repente tenho pena
Do imprudente solitário...
Ninguém lhe acena,
Ninguém lhe é solidário...
Tenho vontade de com ele
Dividir o que me é trazido
Mas nada faço constrangido
Por esse homem desconhecido...

E da batida,
Ficou a mágoa da omissão...
Da oportunidade perdida...
Da não valorização...
E o agradecimento a Deus
Pela vida...
E o propósito de que seja
Melhor distribuída!...
Carmen Vervloet

Foto de Sirlei Passolongo

Máscaras

Luzes na avenida
sonhos na passarela
histórias e alegorias
que nem lembram
o barracão da favela

não mostram na televisão
os sonhos dos meninos
que enfeitaram os carros
alegóricos
pra que?
esse é um problema
histórico.

não mostram as meninas
que os gringos
brincam no carnaval
deram a elas camisinhas
para o comércio sexual

eis o país do carnaval.

(Sirlei L. Passolongo)
.

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