Dor

A poesia chora...
Quando a cena é a mão que apedreja
e a palavra machuca o coração,
terra sem escape...
Jardim onde a flor fenece
junto ao tempo que passa indiferente
e deixa pra trás uma saudade latente!

A poesia chora...
Quando os ouvidos se fazem surdos
ante os gritos da natureza ensanguentada
que caminha destroçada rumo à morte
e poucos se curvam frente seu infortúnio
e sua sombra se move sobre o futuro,
catástrofes que destroem o porto seguro.

A poesia chora...
Quando ninguém ama ninguém
num mundo onde o egoísmo é rei
e a vaidade apaga a luz que brilha
sem pausas, sem lanternas, sem faíscas, sem velas...
Erva daninha brotada do veio da seca terra,
lâmina afiada que sobre todos se enterra.

A poesia chora...
E já nem molha o papel!
Máquinas, engrenagens, computadores
robotizam os endurecidos corações
e a terra qual fria e impermeável pedra
povoada por semideuses de aço,
sentimento implodido, pedaços de amor no espaço!

E em cada lâmina que fere a vida,
a poesia já nem chora...
A poesia afoga-se em lágrimas
e morre de dor!

Carmen Vervloet

Como protagonista
executei o meu papel,
dei o melhor de mim,
mais do que podia...
Mais do que se exigia
e fui extremamente fiel
não sei se a mim mesma
ou à história que revivia.

Nunca uma encenação saíra tão perfeita...
Nenhuma cena precisou ser refeita,
não foi difícil encenar aquele amor,
mas foi difícil encarar de novo a dor.

Saí de cena...
(saí mesmo?)
Agora o impossível,
separar a história, a atriz,
da vida verdadeira,
da vida que restou,
da cena derradeira...

Confusa, já nem sei o que é real
...ou irreal...
Saio do palco, perco o chão,
sobra emoção...
E continuo contracenando com a ilusão.

Carmen Lúcia

estou caindo...
caindo aos pedaços
estou morrendo de tanta dor
estou moribunda, mal amada
meu maldito coração entregou-se sem compaixão de mim
estou caindo,
caindo no abismo
no abismo da vida, da morte
da ida sem volta
estou morrendo,
derramando sangue,
sangue de lágrimas, lágrimas de sangue.

me ajude...
me ajude a te esquecer,
pois tu não me amas
tu me elidiste, me enganaste
fizeste-me promessas, apenas promessas
hoje me maltratas, me abandonas
hoje me vês a morrer e simplesmente não te importas!

poquê?
porque me fazes sofrer assim
porquê coração?
porque não tiveste pena de mim,
eu choro sofro,
porque te abriste pra quem não te quer?
hoje sangras dentro do meu peito
coração malandro, idiota,
olha onde te foste meter
agora não tens como sair,
levas minha alma nas tuas loucuras
obscuras,
porquê não ganhas juízo?

porquê me enganas?
porque me fazes sofrer assim
sem pão
sem água
sem vinho
sem leite
sem colo
sem ombro
sem vida
sem morte
porquê coração?
ao menos deixa-me morrer
eu não aguento tanta dor
amar sem ser amada é pior que viver ou morrer...

Depois que a hora acabou,
As estrelas piscaram,
O sol nasceu,
O rio secou,
A chuva inundou
Você não me chamou por aqui.
E, antes que eu dissesse,
Que o trovão cantasse,
O galo acordasse,
por aqui nem te vi.
Entre, um piscar e outro,
Um copo e outro,
Um dia e uma noite,
Um sonho e outro sonho,
Um esquecimento e uma lembrança,
Da minha cabeça você não sai.
Entre um urbano e outro,
Um telefonema e outro,
Uma lógica e uma dúvida
Não pensar em você é impossível.
Eu com óculos ou sem óculos,
De roupa ou sem roupa
Sentir você já não sinto mais,
Com segurança ou sem segurança,
Sabendo o que você pensa ou não sabendo de nada,
É em você que confio o meu amor.
Entre uma dor e uma alegria,
A razão e o saber, certo e errado,
O único esquecimento que não tenho,
Que você quer o melhor de mim.
Entretanto, muito pouco tempo é muito pra nós,
Um pouco de carinho muda nosso humor,
Que seja eterno enquanto estivermos próximos,
Que aconteça o necessário pra ficarmos bem,
Que aceite minhas razões,
Que saibamos nos fazer felizes.