Fome

Foto de Lou Poulit

REQUERIMENTO PARA TOLOS

Tolos que a brisa dos amores tange, possuem o instante. Tolos, algo mais tolos, que ofertam o brilho agônico de estrelas já consumidas por si próprias, possuem mentiras. Tolos que vaticinam o gozo apoteótico no leito incerto do sol, possuem uma tola eternidade. Mas quem lhes atiraria a primeira não-tolice? Quem jamais se sentiu tolo por amor, sem que antes, ou depois, ou mesmo durante, em algum tempo tenha sido possuído e gostado disso?... Ao sol, senhor de todos os tempos, as nossas vênias... Ao amor humano, grão-senhor de todas as tolices, lambamos as suas mãos generosas... Porque nem a transitoriedade de tudo pode nos derrubar dos trançados neurônios, onde balouça como pêndulo nossa auto-estima, tangida pela própria brisa, molestando-se a si própria, por todos os tolos requeiro...

No comezinho lar do tolo, uma mulher ocupa-se dos seus afazeres, imersa no seu sagrado silêncio. Ao tolo, mais parece uma extensão dos seus domínios, mas tudo em volta dela está semi-nu, tanto quanto ela. As sombras de cada recanto seguem-na, como a pervertê-la à luz da manhã, tenazmente disposta a revelar arrepios nos insuspeitos recônditos da sua pele pudica. Os seios dela esvoaçam de alças baldias da seda dormida, e dançam com simetria um tango ousado, ainda com cheiro de amor ressacado. Nádegas sorridentes tremelicam e, ingenuamente, espalham um sismo pela casa. Por onde ela passa soberana (e ela passa muitas vezes), arrasta um pedaço de céu que convida o tolo ao inferno. Mas entre as suas penugens, uma fauna carnívora e dissimulada a protege da insensatez do tolo. E lá vem ela de volta... Vê-se que ela possui tudo ao seu redor. O que possui o tolo?

E os seus pés? Ah, os pés da mulher amada... Nem os seus pés ele possui... Não são apenas os pés do corpo. Com eles caminham a sua identidade e a sua auto-estima, os seus ideais e o seu silêncio, sua sabedoria ancestral crida submetida. Com eles ela refaz todo dia o caminho da sua escolha tola e descrente, e atrás deles caminham as tolices de muitos tolos crentes. Ao ser apresentado à mulher da sua vida, o tolo é também um injusto por beijar a sua mão. E para mantê-la sob sacro juramento de fidelidade, antes algum dedo do pé recebesse a aliança. Pois mesmo com as plantas altas, e por mais que estejam distantes, e ainda que apontem para direções opostas, eles não crêem. Eles sabem. E dissimulados vagueiam no peito do tolo ancorado, que assim não pode ver suas pegadas, prova mais indelével, endosso insofismável do seu amor. Com as patas silenciosas da fêmea, sobre o barro vermelho do sangue da manhã que se anuncia, caminha a vida que tem fome e sede da mônada, caminho da criatura única, de volta à nudez do lar.

O tolo penitente é de todos o mais desapegado. Em certo momento, distribui as suas tolices e crê que assim poderá seguir leve e ileso, porém não pode distribuir a solidão que o segue. Suas tolices pesam na alma como... um jardim, entre o corpo e o espírito. Ele o cultiva como cultivasse o seu amor e o defende como um cão raivoso. Mas não pode trazê-los para dentro de casa como gostaria, nem o jardim nem o cão. E noutras tantas vezes, o seu amor prefere ficar do lado de fora também. Antes de viajar, o tolo o rega, e ao passar por ele se despede já sentindo o peso da sua ausência. E quando retorna da viajem (nos tolos pesa a compulsão por retornar), encontrando-o do mesmo jeito ele reconhece a sua lealdade. Então o jardim, repleto e perfumado de belas tolices, fica sempre além das paredes, erguidas pelo lado de dentro para que possam se reconhecer, sem se confundir com as suas obras e tolices.

No entanto, não são as tão diversificadas tolices particulares que caracterizam o tolo-medium, mas a maior de todas as tolices, a mais geneticamente generalizada, a mais sustentada por ideologias hoje dominantes no mundo como o capitalismo e o consumismo, e por tantas razões a mais maquiada: o insaciável sentimento de posse. Alcunhado de amor-objeto por dificuldade lingüística, seria mais conciso dizê-lo amor por objetos. Sim, no plural, e isso é facilmente explicável. O primeiro amor de qualquer tolo são na verdade dois. Basta apenas alguma manha para que um deles lhe seja disponibilizado, ficando o outro para depois. Com o passar dos anos, o pequeno tolo desenvolverá muitos tipos diferentes de manha, porém, ao longo de toda a sua vida e mesmo quando já for um tolo-velho (talvez desdentado) ele dará preferência a objetos de aparência dupla... E macia...

Portanto, não se deixem iludir as tolas pelas deliciosas tolices maquiadas dos tolos, nem vice-versa. Sejam tolos novos e inexperientes demais, ou muito velhos e canalhas, sejam enormes ou apenas tímidos tolinhos, bem pressurizados com pouca irrigação celebral ou escassos de sangue com muitos sonhos na cabeça... Se já é tão difícil ter posse de alguma coisa nos amores, imaginem a tamanha tolice de querer exclusividade de coisas de aparência dupla! Posse das suas respectivas portadoras? Sem chance... Sustentar financeiramente as suas fartas e socializadas tolices? Como investimento, certamente será a alternativa mais segura... Garantia de uma aposentadoria tola e miserável.

Ora, o amor humano tem sobrevivido a tolices milenares. Mas teria se perpetuado sem elas? A brisa que tange os tolos, assim como as estrelas que podem ver, não são mais que um instante fugaz, a própria vida é um instante fugaz! Mas é tudo que podem possuir, tolos ou não... Por que então se deveria descartar as tolices? Não são elas mesmas as melhores referências para que se reconheça o tipo de amor insosso e inócuo? As tolices e o sexo se alternam enquanto o amor sobrevive, mas ele só será feliz se ambos ocorrerem simultaneamente de vez em quando. Apenas algumas vezes, e isso tornará cada amor inesquecível. Se alguém cultiva um amor por muito tempo, provavelmente cultiva alguma tolice. E se alguém se recorda de um amor passado, com muita certeza tem alguma tolice para contar. Talvez ambos sejam tolos e tenham seus próprios jardins particulares... Assim como eu, que sequer tenho uma carteirinha de estudante para pagar meia-entrada, em algum pulgueiro da cidade, e ser tolo o bastante para assistir o filme! Não, chega... Sejamos tolos, até sejamos convictos, mas nunca mais sejamos tolos-anônimos...

Eu, Lou Poulit, vulgo Passarinho-tolo (*), artista plástico, poeta e contista, por meio desta tolice crônica venho reclamar de volta todas as minhas tolices antes distribuídas, por equívoco desapego, declarando-as doravante reintegradas ao meu acervo sentimental, inalienáveis e insucessórias.

Por seu justo reconhecimento, venho requerer à minha própria auto-estima de tolo do amor humano, registro definitivo e carteira de identificação de tolo-aprendiz, com foto de passarinho.

Outrossim, declaro, por ter declarado “de rua” meu cão raivoso, que meu jardim desde já está aberto à visitação de tolas, loiras ou não, desde que portadoras de coisas de aparência dupla apreciáveis (a critério do declarante) e queiram nele amanhecer.

Para dirimir quaisquer dúvidas, elejo como fórum privilegiado a subjetividade coletiva de todas as beneficiárias das minhas tolices, destas desapropriadas sem “chorumelas”, digo, sem querelas, bastando que seja sediada em algum lugar entre o corpo e o espírito.

Sem mais para reclamar...

(*) – Em sites e comunidades de poesia da Internet, o autor também é reconhecido pelo pseudônimo de Passarinho.

Lou Poulit

Foto de José Brás

Espelho...quase

és mar
e eu um barco
a navegar
nas águas do teu corpo
rumo-te a sul
adentro o delta
sacio a sede
num rio
que de ti chega

és terra
e eu arado
lavro em teu peito
sulco-te a pele
buscando o húmus
afundo o ferro
sacio a fome
no cheiro
que de ti chega

és mar (de novo)
e eu um barco
pronto a entrar
em todos os teus cais
acerto o rumo
vou onde vais
provo o teu sumo
cheiro os teus sais

és terra (agora)
e eu arado
lavro em teu peito
este meu fado
seara d´água
no semear
colho esta mágoa
no teu olhar

Foto de Ednaschneider

Proteção/Lar

Com você me sinto protegida
Sinto que sou muito querida
Sou amada.Não iludida.
Como é bom ter você em minha vida!

Você irradia sentimentos positivos
Como você eu vivo.
Não apenas sobrevivo.
Com você eu aprendi:
A ser feliz!

Com você não preciso de analista;
Você me ensina a ser residente permanente
Não apenas turista.
Do coração e da mente.

Você mostrou sua moradia
E me convidou para entrar
Eu entrei e não quero mais sair
A hospitalidade mostrada todos os dias.
Fez-me querer ficar
Agora estou aqui.

Sentindo-me protegida, querida!
Sem dores, não há ilusão!
Estou de bem com a vida
No seu lar: Seu coração.

Estava sentindo frio
Você me deu cobertor
Estava com fome
Você me alimentou
Não tinha sequer um nome
Você me nomeou.
Não vejo o mundo sombrio
Como o de antes que você me tirou.
Foi um anjo celeste que te enviou...

Nem sei se tanto amor mereço
Mas quero contigo ficar
Todos os dias a Deus eu agradeço
Por você ter me convidado para entrar
No seu coração, no seu lar.

Joana DArc Brasil*
09/07/07
*direitos reservados à mesma®

Foto de Anja Mah

Meu Prazer

Não faça do meu prazer algo efêmero.
Não transforme meus instintos em algo abstrato.
Meu corpo vibra ao som de tua palavra,
Meu sexo inunda-se pelo êxtase que me provoca.
Assim nos devaneios de nossos diálogos
Sou levada pelo instinto de mulher a desejá-lo.
Cada fibra de meu corpo vibra
Desejando tua carne nua a saciar me.

Assim embalada pela canção do prazer
Que agora me inunda,
sou levada a desejar ti.
A querer-te tão somente você,
Para extasiar meus impulsos.
E o desejo consumindo meu ser,
Aflorando meu instinto de fêmea.
Sinto-me uma fêmea no cio
Desejando que teu delicioso corpo
Desperte-me toda minha fúria,
Todos os meus desejos adormecidos.

Serei a tua fêmea
Entregue aos teus caprichos,
Saciando tua fome.
Serei tua fêmea realizando tuas fantasias.
Deixando você deflorar cada orifício,
Deixando você me inundar com teu mel
Saciando minha sede.

Te amo M.D.

Foto de angela lugo

Solidão...O que é?

Solidão... O que é?
É estar só em plena multidão
É sentir um amargor no coração
É cantar e não ter ninguém a escutar

Nada sinto no âmago da minha alma
Somente um imenso vazio fazendo eco
Tento olhar para dentro de mim mesma
Nada vejo apenas uma tenebrosa escuridão

Sinto a brisa passando causando calafrios
Meu corpo já sente a frieza do meu coração
Solidão é tudo o que se sente quando
Dentro da gente não se vê mais esperança

Quando tudo a nossa volta vira melancolia
Quando não percebemos mais o brilho do sol
Quando até a lua se esconde de nós
Quando percebemos quanta ingratidão recebemos

Ah! Esta ingratidão que acaba com nossos sonhos
Devorando-nos aos poucos com fome de silêncio
Fome de destruição de um coração amargurado
Pela falta de amor que o abandonou há tanto tempo

Deixe-me triste solidão... Vai-te embora!
Deixe meu coração libertado deste sentimento
Desta amargura que é estar neste silêncio
Quero esquecer este tempo que esteve a me devorar

Foto de Adriano Saraiva

Calabouço Encantado

Não são as paredes que me prendem
È a fome insaciável de ti
Que acorrenta minha vontade
Um querer interminável
Que se alimenta de uma energia mítica e voraz

A magia está solta
Hipnose profana
Tua voz , teu cheiro...

Mesmerize-me!!!!

Chega de paliativos inconvenientes
Com tudo o que há no universo
Vamos liberar a luz que existe em nós
Canalizar a força de um amor verdadeiro
Subir um degrau na escala da evolução
Provar a fagulha divina num êxtase mútuo
Abrir as portas do céu e conhecer os mistérios da vida

Foto de LordRocha®

Sonhei...

Essa noite tive um sonho;
Sonhei que tudo era perfeito;
O sol brilhava com sua majestade;
O céu tinha um azul puro, imaculado;
O mar mantinha-se em movimento;
Apenas para produzir ondas suaves;
A brisa era suave, com o som das águas;
Não existia poluição sonora, nem visual;
Apenas horizontes naturais e impecáveis;
Vi crianças a brincar e sorrir;
Adultos a dançar em harmonia;
Anciães a caminhar como anjos;
Não existia fome, miséria, doenças...
Não existiam ambições, desigualdades...
Tudo tinha um equilíbrio natural;
A terra exalava o cheiro do orvalho;
Pássaros voavam e cantavam como nunca;
Não existia presa ou predador, só vida;
Acordei, percebi que tinha tido o sono dos anjos;
E isso tinha se dado pelo fato de você estar ali;
Sentia seu corpo no meu, então tive a certeza;
Que nem tudo estava perdido, o sonho tinha acabado;
Mas você estava ali, podia sentir isso, ainda sinto.

Foto de Jósley D Mattos

Neoplasia social

Ligeira fome reflete espelho sertão
Palida politicalha tragando sonhos made in brazil nos intervalos do seu champanhe sentado em trono cravejado de leis em decomposição...
decoro de festim.
Ligeira fome banqueteia-se de arte e gente.
No cume discursos e metrancas
horário gratuíto em caristia.
Neoplasia, arrotos fédidos de patriotice...
Ah, ruinoso povo rutilante
cospe fora esse silêncio que mastigas...despe essas amarras surdas e iniquas,
nega essa esmola em polvora irrascível,
levanta-te aceso na busca do teu ser.
Diz-me, Eis-me Setão
Teatro de gente, sabores
sons e tons,
saberes, valores...
Não apenas um ávido calvário
de pratos e talheres vazios de arte...
Não apenas uma mixórdia mística,
não apenas a luxuria pedófila,
mas um altar patrio de cultura
miscível e humano.

Foto de Jósley D Mattos

Fluídos humanos (DNA)

Homo cyber nada sapiens...
ejaculação precoce em estéril tubo de ensaio,
útero atômico...
Guerra fria...
Morte & CIA,
Guerra Santa sintomática,
automática,
Carismática,
Olho Clínico,
Vejo o cínico...
Deserto ártico,
Saara aquático,
Nada sério...
Desevolução!!!!!!!!
Proclamam.
Clone, colera, nausea...
livre-arbítrio,eutanásia, apagão aereo,
Ícaro paraplégico...
Vicio analgésico..............
Cem mistérios.
Decretam.
Bicho homem, em fome se consomem,
Sem ideário, ideologia, neoplagia
A peste já não é negra etnía
Circulo-palhaço não tem graça
ariano estardalhaço...estúpido
estopim...a desgraça...
sem censura,não depura,não escolhe...vícios,nem crênças a doênça... HIV, EBOLA
não é futebol
Na carne na alma preconceito nas entranhas...
QUEM SE ENGANA???
QUEM SE ESGANA???
RAÇA HUMANA.

Foto de Saramar

Acordar

De manhã,
acordo em silêncios,
em penumbras, sonhos lentos.
De manhã em silêncio fico
a ouvir os ecos dos teus gemidos
tremulando em minha boca,
trocando línguas e palavras.
Transe, sustenido,
suspendo o acordar
ergo-me e leve e louca
entrego-te novamente
o seio, o ventre, a boca
ao teu orvalhado desejo,
à tua fome e ao fogo
que reacendes, aos poucos,
com a lava dos teus beijos.

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