Miséria

Foto de Rosamares da Maia

Produtos da Indiferença

Produtos da Indiferença

Nas sombras proliferam criaturas medonhas,
Amontoadas, escondem-se, defendem-se,
Prontos para atacar, mostram os dentes,
Brancos dentes de leite. Por pouco tempo.
Em breve, serão caninos cariados, afiados.
Maternidades espúrias, profanas, sem sentido,
Tal impunidade custará ao futuro, em vidas.
As hediondas criaturas povoam as ruas,
Como se direitos lhes coubessem!
São matilhas solidárias que procuram.
Juntas, dividem o produto da sua pilhagem.
Comem como cães vorazes, roem como ratos.
Escondem a magra nudez em trapos,
Refestelados em camas de papelão,
Enganam o frio e o estomago, na cola de sapatos.
São produtos da miséria, forjados pela dor.
Sem escola, cinema, remédio ou pipoca.
Morrem e se reproduzem prematuramente.
Nasceram crianças - meninos e meninas,
Se ainda ousam sonhar, é difícil saber.
Mas têm rostos, olhos que refletem verdades.
Olhos frios, sob viadutos, em baixo dos tapetes,
Dos palácios fartos e dos luxuosos gabinetes,
Providencias e decisões em cima do muro.
Muros de nababos, vergonha da Nação.
Não são cães, nem ratos, apenas uma matilha solitária,
Matilha invisível de quem não tem nomes - “Excluídos”,
Que gritam com fome e rangem dentes, causando medo,
Mas não são cães nem ratos! São Homens...
Meu Deus! ...São Homens!

Foto de diny

IMPIEDADE

IMPIEDADE
Deus... Tem piedade!
Dessa desencaminhada humanidade,
Que diz com o coração louco e infeliz;
Não há Deus!...

Ah essa descrença...
Meu Deus que tormento!
Desamor... Maledicência,
Desespero, sofrimento...

Tudo isso destrói,
Corrói desgraça,
Aleija, corrompi, traça;
Morte inconsciente...

Ah a miséria humana,
Que deturpa tudo, maldade,
Ser o nefasto, dessa nefasta;
Impiedade...

Diny Souto

Foto de Paulo Gondim

O mensageiro

O MENSAGEIRO
Paulo Gondim
09/12/2012

Nuvens negras num mundo de trevas
Ganância de uns e, de outros, a submissão
Os homens não se entendiam
Dúvida, guerras, intriga, desolação...

Era o tempo de uma longa vigília
Noites longas, frias e dias indecisos
Legiões de pobres há tempo esquecidos
Andavam sem rumo, por caminhos imprecisos

Uma promessa de longa espera
Que já se fazia desconfiança
Mas toda a crença haveria de ser real
No nascimento de uma criança

E Ele veio, na simplicidade do pobre
Como vento que surge para mudar tudo
Quebrar amarras, antigas crenças, velhos preconceitos
Num novo pacto, dar luz ao cego, e voz ao mudo

Sua proposta é simples, clara e possível
Amor ao próximo e um mundo de paz
Sem domínio, sem fome, sem miséria
É a mensagem que o Deus Menino traz

Foto de raziasantos

Um Lugar Para Descansar.

“Nos fins de tarde eles cruzam as cidades”
Perambulam sem destino.
Em busca do sol...
A mãe tenta amenizar a dor do filho que chora de fome.
Agasalhados entre trapos traspõem o véu
Do descaso e preconceito.
O sino da catedral começa a badalar
Anunciando para os afortunados que
Que é hora do jantar.
O som do estomago vazios são como melodias
(Fúnebres).
Os pobres coitados com olhos vazios
Caminham em silencio para engar a fome dos filhos
Que esperam ansioso chegar algum lugar.
A escuridão cobre o sol.
Nem mesmo o brilho da lua e a beleza das estrelas
São capazes de dar alentos aos pobres coitados.
Acoitados pela vida destituída do direito de sonhar.
Fragilizados, e humilhados, pela dor, fome, miséria e abandonou.
Violentados em seus direitos de ir e vir embora não tenham
Nunca para onde ir...
São os filhos do abandono.
De sorriso apagado pela fome.
Que rastejam pelos esgotos das cidades.
São anjos sem asas que não pode voar.
Depois de vagar no vazio em busca de um lugar para descansar.
Debruçam em sua realidade olham para o céu e pedem perdão! Perdão Deus por eu não ter nem um pedaço de pão. Para alimentar o meu filho que dorme no berço da solidão.

Foto de poetisando

MORTE II

Quando me vieres buscar
Leva-me com bastante rapidez
Não quero mais viver neste mundo
Onde vejo cada vez mais estupidez

Tantas crianças a passar fome
Estou farto de ver tanta guerra
Tanto senhor inteligente
E na miséria não pondera

Guerra que tanta destruição
Esta a causar a humanidade
Esses senhores inteligentes
Só podem estar a agir por maldade

Não vem o que os rodeia
Cada vez mais gente faminta
Crianças a perderem os pais
Com uma dor infinita

Quando me vieres buscar ó morte
Leva-me logo de repente
Não quero ver a aumentar
Mais a fome a esta gente

Não vos pesa a consciência
Senhores que mandam no mundo
Por verem tanto mal que estão a causar
Tanta guerra e fome que causam
Por causa do dinheiro ganhar

Ó morte por onde andais
Que não vês o meu padecer
Vem-me buscar depressa
Não quero mais neste mundo viver

De: António Candeias

Foto de poetisando

Andam por ai certos senhores

Andam por ai certos senhores
Políticos desta a nossa praça
Entraram na política pobre
Agora já são gente ricaça

Como foi que assim enriqueceram
Quando dizem que ganham pouco
Para enriquecerem tão depressa
Só pode ser a terem roubado o povo

Podiam explicar a todos nós
Como tão depressa enriquecer
Todo o povo ficava-lhes grato
Sabia que de fome não ia morrer

Muitos desses ditos senhores
Nunca na vida trabalharam
Nem sofreram privações
Como foi que enriqueceram

Só neste país vejo milagres
Feito por gente se diz séria
Roubam até se fartarem
Deixando o povo na miséria

Falam com uma tal altivez
Parecem mesmo uns barões
Andam todos bem engravatados
Mas são uns autênticos ladrões

E o povo parece estar feliz
Com esta grande gatunagem
Defendo-os como clubes da bola
Prisão para eles é mesmo miragem

O que está a dar neste país
É mesmo o de ser aldrabão
A justiça está cega não os vê
Só julga e condena o pobre cidadão

Andam aqui na nossa praça
Políticos de grandes gabaritos
Se isto fosse num país a sério
Eram presos estes políticos

Podiam ensinar o povo
Como como fortuna fazer
Sem sair lhes o euro milhões
Assim o povo teria que comer

Não sou nenhum economista
Mas sei que para enriquecer
Só roubando o seu povo
Até ele de fome morrer

É a classe política que temos
Que honesto dizem ser
Quando vão para política
É para roubar e enriquecer

De: António Candeias

Foto de Rosamares da Maia

MENINO DE PERIFERIA

Menino de Periferia

Sonhando sonhos de menino-homem,
Dorme obscuro nas noites das periferias,
Cama de papelão e lençóis de jornal,
Pesadelo em cada esquina feia e fria.

Mas um menino tem o direito de sonhar!
Precisa de estímulos para sonhar – filosofia.
E não deve chorar porque foi ignorado,
Chamado Homem de segunda classe.
Substrato de pó de trac, de pó e crack.

Políticos pedem verbas, acusam, apelam,
É preciso muito para salvá-lo da perdição!
Resgatá-lo das drogas, de ser soldado!
Mas ele é somente um número, mais um,
Consolidando a estatística da miséria.

Construímos cadeias para a ressocialização.
Não sonhamos os sonhos da educação,
Dos meninos de barriga cheia e limpa
Da Fome pacificada, sono sem sobressaltos.
Dos meninos com cadernos nas mãos.

Um Homem tem direito a sonhos mínimos,
Foge, viaja na sua forma de respirar liberdade,
Reencontrar e resgatar a sua dignidade,
Varrida para baixo do tapete, no lixo comum.

Se ele for subproduto da mestiçagem,
É pardo? Certamente sem boa expressão.
Sua fé será medida, sua alma será pesada.
Quanto vale? Sem tradição. Quem dá mais?

Finalmente realiza sonhos na cela trancada,
Fundas verdades, no fundo, bem caladas.
Fome, preconceito, abandono, omissão.
Para a sociedade, não é nada, nunca foi nada.

Ele não será nada, só mais um elemento.
Mais um, que não soube ser cidadão.
Sonha menino. Capricha na dose,
Até uma over dose. Liberdade menino!
Sua alma está pacificada sua fome é pacifica.
Liberdade passiva - Já não podes respirar.

Rosamares da Maia
22/11/2005
Monografia – Puc RJ

Foto de poetisando

Também quero ser Doutor

Como sou analfabeto
Num partido vou ser filiado
Quero ser também doutor
E porque não ate deputado
Quero o canudo de engenheiro
Tenho experiência de construção
Construi prédios e vivendas
E tudo que era ligado ao betão
O canudo de economista
Experiência tenho coisa séria
Tenho governado a minha casa
Com um salário de miséria
O canudo de veterinário
Tenho experiência em tratamento
Tenho tratado dos meus animais
Só não tratei foi um jumento
O canudo de artista político
Faço o que o chefe mandar
Bato-lhe sempre palmas
Cada vez que ele estiver a falar
Sou uma pessoa de bem
Nada tenho a me acusar
Se for preciso para deputado
Não sei mas aprendo a aldrabar
Mesmo não sendo doutor
Mas sou muito bem mandado
Levantarei o cu da cadeira
Assim que me for tal ordenado
Como veem senhores mandantes
Também ao senhor reitor
Podem-me bem dar o canudo
Para passar também eu a doutor
Quero também tratado por doutor
Não sou menos que os deputados
Que sem terem experiência da vida
Passaram todos a serem doutorados
De: António Candeias

Foto de poetisando

Tanta fome tanta guerra

Tanta fome tanta guerra
Tanta gente estropiada
Tanta gente inocente pela guerra ignorada
Tanto dinheiro gasto em armamento
Tanta gente a morrer por falta de alimento
Tanta gente a enriquecer com a guerra
Tanta gente a viver na miséria
Tanta gente inteligente que só os faz viver
Tanta gente que á guerra tenta sobreviver
Tanta gente a fazer guerras
Tanta gente a morrer
Tanta gente a paz a desejar
Tanta gente a guerra a fomentar
Tanto dinheiro gasto
Tanta gente que ia alimentar
Parem senhores da guerra e ponham-se sim a pensar
Como acabar com as guerras e os seus povos tratar
Parem de investir em armamentos
Pensem antes como aos seus povos dar alimento
Parem de enriquecer com guerras por vós fomentadas
Alimentem os seus povos que não tem culpa de nada.
Ponham a mão na consciência
E vejam o que arranjaram
Estropiaram inocentes
E a fome espalharam.

De: António C.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Avenida Ultramarino

Tomara que não seja verdade o que vi ontem à noite.
Tomara que aquela luz na mão do mendigo não seja a de um cachimbo de crack.
Tomara que ele não esteja revirando o lixo em busca de comida.
Tomara que aquilo que ele coloca na boca não seja restos com chorume.
Tomara que a sujeira realmente não lhe cause as doenças que me passam pela mente.
Tomara que essa miséria toda seja apenas por vagabundagem.
Tomara que não seja assassinato e sim um mero descarte.
Tomara que aquela chama seja para o esquentar.
Tomara que não seja o seu corpo morto após a cobrança de uma dívida ridícula.
Tomara que o sapato jogado não contenha ainda o que foi o seu pé.
Tomara que aquele pedaço de manta não embalasse seu dono.
Tomara que o transeunte que jogou algo no fogo não tenha percebido mesmo o mesmo que eu.
Tomara que o pedaço de carvão que parece uma canela não seja uma canela.
Tomara que a minha impressão do fogo alto e sem fumaça tenha sido apenas uma impressão minha.
Tomara que não haja a cumplicidade para um crime cometido na frente de todos, que não pode ser sequer denunciado, que levanta a questão nunca citada pelas pessoas pertinentes de que a cidade é um palco para o desespero, a fome e o vício desenfreado, placebo dos desenganados.
Tomara que a vida seja uma coisa boa.
Tomara que Deus exista.
Pois se o que eu vi o que se repetiu na Avenida Ultramarino ontem foi realmente o que vi, então nós mostramos finalmente do que é feita a matéria humana.

Páginas

Subscrever Miséria

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma