Normalidade

Foto de Evandro Machado Luciano

A Louca dos Espelhos

Os espelhos estavam voltados para as estradas da cidade de Outrora. Todo domingo Ofélia virava os seis espelhos de sua casa para a rua. Ninguém, absolutamente ninguém sabia o motivo. Alguns, mais perspicazes, ousavam especular...
Enfim...
Imagine, você andando tranquilamente pela estrada de chão batido, quando de repente, não mais que de repente, se depara com a imagem mais horripilante que possa ser concebida pela mente humana. Sim, os espelhos estavam voltados para a rua. Ofélia era, sem dúvida, a mulher mais maligna que a cidade de Outrora já conhecera. E não havia nada a ser feito. Ora bolas, a polícia local tentou de tudo: balas de canhão, bombas de hidrogênio, e armamentos bélicos jamais vistos, nem mesmo em Outrora. Os espelhos não quebravam de jeito algum. Magia? Alquimia? Sei não, havia algo de muito estranho naquela mulher.

O que sempre me incomodou naquele ser odioso, – veja bem, refiro-me à OFÉLIA- é que seus surtos psicopáticos aconteciam apenas nos domingos. Nos outros dias da semana, Ofélia agia como uma perfeita mulher de Outrora. Mantinha-se calma, submissa, obediente aos bons costumes e, jamais relava seus calejados dedos sobre os amaldiçoados espelhos. Que tinha aquela mulher? Que vozes lhe ordenavam repudiar os bons costumes e reverter sua normalidade em ousadia repreensiva? Quem era aquela mulher para apresentar ao mundo imagens tão devastadoras?
Ouviu-se dizer, que um dia desses, Outrora havia sido invadida por uma tropa distinta, vinda diretamente de Lugar Algum. Esses rebeldes enrustidos fantasiavam-se de nobres senhores, apoiados sob a retórica social, e desfilavam asneiras em praças públicas. Certa feita, pernoitaram na residência de Ofélia. Ao amanhecer, diziam querer libertá-la dos grilhões de Outrora, e conduzi-la à Lugar Algum.

Que desrespeito! Uma mulher exemplar, corrompida por estes arruaceiros. A partir daí, aquela casa nuca mais fora a mesma. Doravante, todos os domingos seriam de extremo pavor para os transeuntes da cidade.
Aquelas ruas nunca mais foram as mesmas.
Quando a semana anunciava o crepúsculo, todos temiam passar em frente à casa da louca dos espelhos. Enquanto isso, Ofélia sonhava. Sonhava com Lugar Algum.

Exceto nos outros dias, quando se tornava a mulher exemplar.

Foto de Allan Sobral

Pai, afaste de mim este cálice

Os últimos acontecimentos, e os atos de repressão que tem ocorrido, nos mais diversos pontos do nosso país, faz com que se levante das cinzas o monstro que sempre combateu o espírito jovem revolucionário brasileiro, pois é como se os tempos do cativeiro, da autocracia brasileira, a ditadura militar, mostrasse aos poucos suas garras, sufocando qualquer ar de liberdade que conquistaram nossos heróis. Como se o velho tempo do “cálice de vinho tinto e sangue” ressurgisse, ou ao menos se faça em memória.
Já há muito tempo que nossa sociedade se estagnou, por uma falsa estabilidade econômica e moral, acorrentando-se a um laço servil regido por uma minoria, como diria Marx, a burguesia; minoria esta que se manteve no trono por possuir supostamente o controle das riquezas universais, podendo assim obrigar grande parte de nossa população a submeter-se a suas vontades, e trocar suas vidas pela miserável parte de seu capital, suficiente apenas para manter-se em vida.
Com o avanço tecnológico, esta mesma parcela controladora da sociedade, expandiu seus ideais escravistas a um horizonte antes impenetrável, chegaram ao ponto maximo de domínio, controlar pensamentos, com o poder de formar opinião e distorcer a realidade, poder fornecido pela mais poderosa ferramenta de coerção, a mídia. Atributos que caberiam a população, ou a cada ser em sua particularidade, hoje são supostamente digeridos pela partícula dominante, e vomitada sobre nós, classe trabalhadora, operaria e estudante. Ditam os pensamentos padrões, roupas padrões, empregos padrões, atitudes padrões, e tacham esta padronização como normalidade, traçando um perímetro, onde qualquer que se opor ou se afastar de tal ideal é tido como louco, ou rebelde, baderneiro, ou até mesmo como maconheiro (como foi o caso recente dos estudantes da USP).
Simplesmente somos tachados como estúpidos, pois a tal “ditadura militar” apenas mudou de nome, agora a conhecemos como Republica Federativa do Brasil, o DOPS agora não tem mais grades e não tortura fisicamente quem se opõe as regras, agora ele manipula a sociedade para que se volte contra os que a querem libertar, os militares já não andam mais fardados de verde ou cinza, agora obrigam a população a vestir um terno ou um uniforme operário, assinar um contrato de trabalho, e lutar o quanto puder, em busca de sua carta de alforria, ou como preferem, sua suposta aposentadoria. Fazendo que a sociedade acredite que a liberdade é um favor, e que a sua remuneração mensal, é justamente recompensada a medida de seu esforço. Como os adultos fazem com crianças, para que não os chateei, dão passatempos, para que não desviem sua atenção, nos é imposto a distração, como a novela o futebol e outros supérfluos, para não chatearmos quem se beneficia com tal estabilidade.
Basicamente, a ditadura não acabou da mesma forma que não acabaram os revolucionários, pois não deixaremos de lutar em busca de nossa liberdade, pois o sistemas sempre deixa brechas (nós), que podem se tornar rachaduras, que ruminarão as muralhas da imposição fascista, e porá em ruínas as ideologias ditatoriais, pois só lutando poremos fim nas corrente que nos prendem para termos paz, pois como disse Malcom X “...Não se pode separar paz de liberdade porque ninguém consegue estar em paz a menos que tenha sua liberdade”.

Allan Sobral

Foto de Jessik Vlinder

Vazio - O Branco da Alma

Vazio, é isso que tem me preenchido nas últimas semanas, na verdade, nos últimos meses. Não um vazio causado pela falta de alguém, pelo buraco que este suposto possa ter deixado ao ir embora. Não. Faz muito tempo que este tipo de vazio estagnou em meu coração e foi ocupado. Não é um vazio causado por uma partida, por uma despedida indesejada. É simplesmente um Nada... Sabe quando não estamos a fim de fazer, nem mesmo de pensar em nada? É como estar numa sala com proporções desconhecidas, onde tudo é branco, em todas as direções tudo o que se vê é um infinito vão branco. Não é como fechar os olhos, porque quando o fazemos ainda vemos pontinhos coloridos e formas estranhas oscilando. É um silêncio... Silêncio esmagador que não me permite ouvir minha própria voz. Muitas vezes nem meus pensamentos...
Eu pretendia escrever um poema ou qualquer coisa mais poética, mas somente palavras banais e carregadas de normalidade poderiam atingir você, caro leitor, com a mesma frieza que tal sensação me toca, me esvazia...
Preencha-me se for capaz.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O verdadeiro terremoto

Vemos, todos os dias, pessoas sãs cometendo crimes dos mais diversos, promovendo chacinas para proteger sua normalidade, destruindo valores para manter os mais variados vícios, e seus respectivos cíclos, especializando-se em banalizar cada vez mais a existência de menos para concentrar poderes pequenos, estéreis, vulneráveis, tossindo palavras sujas e contagiosas e escovando suas bocas com suas lâminas de barbear.
Necessário o seu poema, Carmem, diante da surdez das tragédias.

Foto de Melquizedeque

Elixir dos imortais

Meus sonhos não tornarão a ser o que já foram um dia
Pois hoje tudo mudou, se entardeceu e me modificou
E o ar que eu respiro não é o mesmo que respirei ao dormir
Agora os pesadelos me atraem, me hipnotizam em lugares sombrios

Havia um homem, de certo lugar, com o nome incerto
Que escreveu em seu túmulo verdades em versos
Dizia que a vida não é mágica, não é um mar de lírios
Ela é simples, vaga, corrosível, lastimada...

Não aceitamos tais verdades, pois almejamos ser imortais
Assim criamos a esperança, filha bastarda da maldade
Com a pretensão de postergar a morte e esquecer como ela age
Mas igual ao carteiro que não se atrasa, ela sabe o seu endereço
Vem com cheiro de velório trazido nas asas dos pardais

Lembro-me que muito tempo atrás, contemplava o céu depois do mar
Via gaivotas que pairavam na beira da praia, como livros indomáveis
Posso sentir a brisa do silêncio entorpecedor que me libertava da normalidade. Tudo se passou e agora contemplo esse evento com olhos de águia. Vejo além do que se pode ver... Tudo significa mais, o mais lúcido devaneio

Por de trás dos véus avisto legiões de sonhos que não posso mais sonhar. Foram engolidos por fantasmas beberrões. Estão em cofres bem guardados. Agora entendo o olhar daqueles pardais... Jogados aos ventos são vitais. No entanto, não me encontrarão antes que eu beba o líquido imortal...Feito pelas mãos da aventurança, um elixir com gosto de vingança. Exclamam alto, os que se arriscam a beber... Gritam forte: quero mais!

(Melquizedeque de M. Alemão, 16 de Março de 2011)

Foto de Elenildo

Tardes Solitárias

Tardes solitárias, estou sentado no banco da praça, vejo que os namorados que passam, nem notaram minha solidão, tardes como as outras tardes,
tardes vazias, onde a tua ausência é minha companhia, tardes iludidas por uma normalidade falsa onde a tranquilidade superficial que no meu rosto
se reflete nada retrata o transtorno que sinto por dentro.
Tardes tenebrosas com claridades obscuras que só ilumina minha amargura, tardes que me fazem lembrar das vezes em que eu sonhava e até mesmo
planejava planos para uma eternidade que só existia nos meus sonhos alimentados por uma realidade passageira, tardes com ventos frios que me causa
calafrios aterrorizantes, e como as outras tardes, essa tarde se despede com o decline do sol levando consigo todos os que estavam a minha volta.
agora, o silêncio que prevalece do lado de fora não é mais forte do que a guerra que permanece do lado de dentro de um coração atormentado
pela solidão...

(Elenildo Soares)

Foto de Nailde Barreto

"Eflúvios do Amor"

*****
*****
*****

Das mãos do autor,
Suaves pinceladas deram-te forma,
Cujo olhar parece transbordar sobre a tela,
Ansioso para viver os eflúvios do amor,
Cuja realidade insiste em adiar...
Mas, quando não podemos tocar na obra,
É cabível, ao menos, o deleite do apreciar
Secreto e silencioso da mais bela arte,
Que outrora pude contemplar...
Com ínfimo desejo,
De ser pincelada em seus braços,
Enaltecendo e deslumbrando o amor,
Dando vida às telas de Picasso...
Na contida e extravagante, normalidade!
**********************************

Nailde Barreto.
03/03/11

Foto de Nailde Barreto

Falso Prazer. 7º Concurso

*****
*****
*****
*****
Solidão, murmúrios lamentosos do falso prazer, ilusão!
Agonia desenfreada do tanto querer, decepção! Que deslumbra nas noites de tantos e emergentes faróis, que refletem o falso prazer do ser que divaga na noite, sem luz...
Insensato sentimento passageiro camufla o falso sorriso, traduz a solidão nos braços da esplendida euforia, fantasia!
E, tudo passa ser visto como normal, homem, mulher, sentimento de “animal”...
Normalidade (agradar para não ser diferente) hipocrisia!
E, o tempo passa e, nada muda...
Sempre haverá fingimento e mentira e falso prazer, espelhado nos olhos de quem tanto nos faz querer.
Conquista e nos faz acreditar que é verdade, sobre esse amor ilusório, estampado pela irrealidade.

Nailde Barreto.
31/01/11

Foto de jessebarbosadeoliveira27

O TOM MAIOR DO DIVAGAR

Penso com fôlego, sem fôlego:
A mente mastiga a frase
Poder ao Povo,
E não consigo tornar exequível o sonho.

A mente vaga errante, errática
Por descampados, vácuos e reinos da impotência:
Lugares onde a miséria humana
Faz-se a eterna etérea presença!

Cavalga-me pelas pradarias da verve
A voz de Renato cantando
Vento no Litoral,

Enquanto a voz de Cazuza,
Buscando agônica
A ideologia perdida,
Adormece nas asas
Da sua precoce supernova afinal.

Ah, é quando o ladrar pressuroso
Dos cachorros expulsa
A minha consciência
Da labiríntica viagem --- até então ---
Á margem do taciturno sabor do pouso
Sobre o solo da gravitacional realidade.

Enfim sinto passear,
Pela rodovia da boca,
O antigo gosto da vida-normalidade;

Entretanto, para não deixar esta aventura
Ao bel-prazer de uma página em branco,
Procuro a flor da catarse,
Que germina e desabrocha
Como um poema prolixo, insano:
Facunda topografia do absurdo humano!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

Foto de Joaninhavoa

Pinga Amor

*
Pinga Amor
*

"Pronta para ti
A qualquer hora
Jeito e maneira
Penso em ti

Ainda mais
quando te avisto
à minha beira
Ao fim de uma eternidade
até a torneira
Pigarreia! Pingando
Pingo...
Zinco!
Ácido cítrico!
Frutose
e fosfatase
Ácida!

Em suma
Estou vitaminada
para te desfrutar...
Como uma heroína!
Quero ser tua droga
E te snifar"

Nota:
O pH, mantém-se estável...
Este indicador como o próprio
indica normalidade e poder
para entrar em ACÇÃO.

Joaninhavoa
(helenafarias)
08/11/2009

Páginas

Subscrever Normalidade

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma