Oração

Foto de Vlad Silva

INJUSTA JORNADA

Cinco horas da matina,
Inicia-se a rotina,
Clama o despertador:
Acorda, pobre trabalhador!

O café da manhã é parco,
Só o tira do jejum.
Agradece pelo pouco,
Sabe que está no sufoco,
Mas há quem não tenha nenhum.

Despede-se de seu rebento
Com um terno e suave beijo
Promete-lhe um brinquedo
E pergunta o seu desejo.
Ele escolhe, sem pestanejar:
Quer que o pai fique em casa pra brincar.
Mas, esse presente, o pai não pode dar.

Ao pôr os pés fora de casa,
Já começa a preocupação:
Mora em área de risco
E o clima é de tensão.
Faz o sinal da cruz
E uma breve oração,
Pedindo, mais até para os que ficam,
A divina proteção.

O aceno da esposa
Da janela do barraco
Faz dele um homem forte,
Apesar do corpo franzino e fraco.

A primeira das batalhas
É encarar o transporte.
É uma tarefa árdua,
Requer força, destreza e sorte.
Se o patrão imaginasse
Como é penosa a jornada,
Por cada hora de transporte
Pagaria o dobro da trabalhada.

Mas o patrão vem de carro,
Com ar-condicionado,
E diz que não entende:
Como alguém já chega no trabalho cansado?

E assim se inicia
Mais um dia de labuta.
A hora rasteja-se ao passar,
Retardando o fim da luta.

Findo o primeiro turno,
É a hora da refeição.
Ao se benzer ele agradece
Pelo arroz com feijão.
O descanso é breve
E não faz do fardo
Algo mais leve.
Coragem, Camarada!
O segundo turno te aguarda.

Dez para as cinco da tarde,
Ele é chamado na administração:
Será mais uma bronca?
Ou a escala para o próximo serão?
Quiçá até um aumento ou promoção?
Ouviram-se rumores e boatos:
“Mudanças ocorrerão!”

Chega em casa cabisbaixo
E coloca sobre a mesa,
Onde deveria pôr o pão,
Uma folha de papel,
Que é a missiva mais cruel,
Sua CARTA DE DEMISSÃO.
(Vlad Silva)

Foto de Dirceu Marcelino

O DOM DA INSPIRAÇÃO POÉTICA - Reedição de Homenagem a MANUEL FERREIRA NUNES

*
* Homenagem a Manuel Ferreira Nunes - MFN
*

Como disseste, provavelmente,
não vais reler este texto, mas,
Já o fizeste em momento anterior.
Assim, tomo a liberdade de reeditá-lo,
Acrescentando nele o teu comentário,
Pois, tenho muita honra de registrá-lo
Em meu blogue, onde ele ainda não estava
Postado...
***
Não posso guardar só para mim
As respostas que tenho recebido
De poetisas e poetas mais gabaritados
Do que EU.
Por isso, tomo a liberdade
Sem sequer pedir-lhes autorização
Para transcrever aqui
Algumas de suas idéias.
Pincelei um verso ali
Outro daqui,
Do meu coração
E agora, mesclo-os
E lhes transmito:
Reitero a oração Perdão Senhor.

“Senhor meu DEUS! Ajoelho-me e te peço!
Rogo! Que escute as nossas preces ...
Revigora-nos com teu amor infinito,
Cuida de nossas feridas, das nossas almas.
Cuida de nossos corações,
Não permitas jamais, que esmoreçamos...
Mas, não vimos aqui
Só para Lhe pedir:
Mas, sim nosso Senhor e Criador,
Para lhe agradecer.
Permita-nos conversar consigo através de nossas poesias.
Fazei que elas não sejam entendidas só pelos letrados, pelos sábios, poetas e filósofos,
Mas também pelo leigo, pelo pobre e analfabeto,
Sim, Senhor!!!
Pelos necessitados, pelos pequeninos
Tira-nos a trava dos olhos
E permita-nos que enxerguemos ao longe
E, ao mesmo tempo que saíbamos interpretar
Corretamente, nossos pensamentos.
Pois, embora, os conhecimentos da ciência,
Apresente às vezes conclusões científicas,
Existem mistérios que não conseguimos desvendar
Basta-nos ver ao acordar:
Até a luz do sol nos cega.
Impede-nos de enxergar,
No entanto, dependemos dele.
Da sua energia, de seus calor, de sua luz...
Embora, reconheçamos nossa pequenez diante de ti.
Sabemos que somos parte de tua criação
E tentamos chegar à perfeição que nos permitires...
Sentimos o paradoxo da vida:
Nascemos como um livro aberto,
Um livro em que escreveremos nossa história de vida
Mas, nem sempre temos conhecimento suficiente,
Sequer recebemos ensinamentos ou exemplos adequados, e, o pior
Nem sempre servimos como bons exemplos...
É dificil Senhor,
Ter consciência que logo depois que iniciamos a vida,
A cada dia, minuto ou segundo,
Caminhamos com a vida para a morte.
É doloroso Senhor
Sentir que muitas vezes ainda antes de nascermos
Somos mortos, sequer vemos a luz do dia,
O clarão do sol, Tua energia...
É doloroso ver partir
Pessoas queridas...
Pessoas que queríamos que ficassem ao nosso lado,
Ou então, pessoas que queríamos que ficassem do lado de outras pessoas que as amam...
Por fim, Senhor,
Como reconhecemos que o
Grande Poder pertence a Ti,
Nosso Pai Celestial.
Só nos resta pedir-Lhe:
Dai – nos força para consolar as pessoas que ficaram...

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Sexta, 23/11/2007 - 21:53 — mfn

Agradecimento!
Amigo Dirceu,
cometeste um erro de "inspiração"...
As iniciais "mfn" que gentilmente apontaste, pecam por falta de inspiração e qualidade tamanha a merecer o referido... no entanto, muito me sinto por poder saber que a tua alma é enorme na criação como na amizade.
Muito obrigado e uma vez mais, conseguiste fazer maravilhas com as palavras.
Cumprimentos, mfn - (Manuel Ferreira Nunes)
************

Em 21 / 04 / 2008

Senhor! Mais uma vez me ajoelho
E, humildemente, te peço.
Abençoai esse Amigo que parte
E protegei o no restante da viagem,
Assim como iluminaste no momento
Em que mais precisou.

Amigo, desculpe-me pelas brincadeirinhas
Que fiz contigo,
Pois, eu sei que é o Manuel,
Manuel com “uuu” e não com “ooo”
E só sei que é um grande Homem,
Um Homem com o Dom da Inspiração Poética
E tenho honra de ter sido seu amigo!

Tenho certeza, que continuarei a sê-lo.

Assim, sabemos que sim! Um dia irás abraçar
Esse amigo que desembarcou antes de ti
E com certeza é um dos Anjos
Que te estão a iluminar...
Meu amigo como diz:

“Um abraço”!

E sei que é o mesmo que desejam todos os nossos amigos deste site. (Dirceu Marcelino)

Foto de Eric

Amo-te ...

Longe de Tudo o que pode-se sentir...é apenas a fria solidão, me peguei a falar comigo mesmo, em um grito de saldade e dor. aqui distante no meu mundo sem niguêm em quem eu póssa confiar esse segredo, este que carrego comigo desde o dia em que você se foi...
o caminho é ardo e frio, por Deus quanto tempo ainda resistirei, em meio a letras me perco, em um Mundo onde só pósso expressar você...Queria eu ser dono do Tempo, e volta atraz reviver os momentos mais felizes d`minha vida, tempo em que sentia o carinhO,o amor , dias onde sonhei a vida como um sonho real.
Hoje sem você ja não sonho, acordei novamente o pesadelo, no começo a dor de saber que eu ja não mais a Tocaria dilacerava a alma , com o tempo a saudade machuca ... ao ponto de não suportar mais, "Deus a Ti agora péço forças em uma oração silenciosa de desespero, de amor e tristeza, acalma-me meu coração"
Distante dos amigos, ou quem sabe inimigos, as unicas coisas que pósso é mergulhar na recordação... me abraçar apertado e chorar a sua falta em silencio... me sinto tão só e fraco.
O amor me conduz a um abismo, onde a unica alegria é saber que está feliz, que a minha partida tornou isso possivel... ainda lembro do primeiro dia ao ultimo,cada palavra,cada toque...
Nesse mundo a vida não tornou possivel essa felicidade eterna, de esta ao seu lado em todos os momentos, Porque você faz falta aqui...

Foto de Carmen Vervloet

HOMENAGEM A VIRGEM DA PENHA, NO SEU DIA

Oração a Nossa Senhora da Penha

Lá, no alto pico da montanha,
Em seu convento envolto em luz,
Cheia de encantamento, vela por nós,
A Santa Mãe de Jesus!

Contempla toda a cidade de Vitória
Cravada nesta ilha,
Guardada pelo mar...
Vê de cada um de seus filhos
A triste ou feliz história...
Pássaros, peregrinos, anjos a voar!

Senhora Nossa da Penha,
Do povo capixaba, padroeira,
Nossa amiga e companheira
Dê-nos sua mão, venha...
Ajude-nos a expandir sua luz,
Mostre-nos o caminho de Jesus!
Diminua a carência de amor,
Acabe com a gritante desigualdade,
Aniquile a maldade,
Enxugue as lágrimas de dor!

O povo está cansado de correr...
E ainda mais cansado de sofrer...
Eu te suplico Mãe de Jesus,
Saia do seu convento... Suba outras penhas,
Ajude-nos a carregar a cruz!...
Entre sem chave, sem senha,
Pacifique a cidade com sua paz!
Apague o fogo da violência
E dos poderosos a demência!

Tenha piedade de nós!
Tão machucados pela vida!
Ouça do povo a voz sentida...
Seque todas as feridas!
Dê-nos o seu alento...
E do alto do seu convento
Abrace cada um de seus filhos,
Seja rico ou maltrapilho!
Mas abrace com mais calor
O pobre sem cobertor!
Abrace a Maria,
A da panela vazia...
No seu barraco pendurado no morro
Gritando por socorro!...
Amém!

Carmen Vervloet
Todos os direitos reservados ao autor

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"ORAÇÃO POR TODOS NÓS"

“ORAÇÃO POR TODOS NÓS”

Meu Pai peço por mim e pelos meus...
Cuide do Sr. João, nosso padeiro, que todas as manhas
Enche nossa mesa com o carinho de seus pães...
Peço também pela família do Sr. Higa, o feirante que abastece
Nossa dispensa...
O Sr. Ferreira dono do mercadinho que complementa nossa
Dieta...
O Paulão e sua equipe são os garis da minha rua, sem eles,
Com certeza nossa vida seria um caos...
Ao Ricardo carteiro nosso anjo das boas noticias...
A Maria um doce de mulher que mantem nossa bagunça arrumada...
Ao Sr. João nosso vizinho, sabe aquele que tem um cachorro chato,
Mas que é um eterno guardião de nossas casas...
Ao Sr. Olegário, aquele que vez ou outra entende nossos apertos e paga meus cheques, mesmo sem saldo...
Ao Luiz, aquele amigo chato, mas que sempre esta presente pronto
A ajudar...
Ao Coelho meu quase irmão, tão carinhoso com todos nós...
A Nê meu amor que fala comigo sem sequer abrir a boca...
A minha mãe, aos meus filhos, aos meus netos, a meus primos, tios cunhados, cunhadas, sogras, sogras??? Sim, tenho duas, uma ex e outra atual, excelentes pessoas, a minha ex-mulher, a todos meu Pai, proteja com seu manto sagrado, que a melhor fatia do bolo seja dividida quantitativamente a eles, que o melhor dos sentimentos seja atribuído a todos eles, que todos sempre gozem de uma excelente saúde...
E a todos de POEMAS DE AMOR, meus mais novos amigos, meu Senhor, dê saúde, paz, tranqüilidade e que permaneçam com esta habilidade de escrever o amor em toda sua plenitude, no mais meu Pai, devo agradecer por tudo que sou e consegui nesta minha vida!!!

Foto de cafezambeze

O GRANDE DIA - POR GRAZIELA VIEIRA

O Grande Dia

20 de Julho 1953.

Ás quatro da madrugada, quando a pálida luz d’aurora ainda mal fazia a sua aparição, já minha mãe me arrancava aos braços de “Morfeu” onde eu na véspera, prometera a pés juntos não mergulhar.

Chegara enfim o grande dia. O dia do acontecimento mais relevante dos meus franzinos dez anos. Ia, enfim, fazer o meu exame da 4ª classe a Mirandela.

Mirandela!!!!!!!! Uma Vila que eu só conhecia em sonhos, ou de ouvir falar. A azáfama dos últimos preparativos e conselhos dos familiares orgulhosos, as últimas recomendações da senhora D. Ermelinda Rafael, minha professora e irmã do ilustre médico Dr. Mário Rafael, tinham feito com que adormecesse mais tarde e àquela hora, francamente, não me apetecia nada levantar.

- Anda filha que são horas: já tens o caldo na malga. Põe-te a dormir e depois come do sono. Olha que o exame não espera por ti e temos muito que palmilhar. Se tínhamos! É que dos Avidagos, minha terra, até Mirandela são cerca de 24 km os quais tínhamos que fazer a pé:

-Porquê? Pela simples razão de não haver dinheiro para a Camioneta, ida e volta, para a chita do vestido novo que a minha tia Mariana me fez, para os sapatos comprados para a ocasião, para pagar a Pensão onde teria que ficar, etc. Os meus pais para suprir as despesas mais prementes, tiveram que segar manual e prematuramente duas jeiras de trigo e vender o grão ao senhor Regedor.

O sacrifício foi enorme, mas o orgulho de ter uma filha que ia fazer o exame da 4ª classe quando ainda não era obrigatório, compensava-os plenamente.

Engoli o caldo á pressa e pusemo-nos a caminho eu e minha mãe. As nossas socas brochadas faziam barulho nas pedras do caminho quebrando o silêncio matinal. De vez em quando sacudia uma ruga, imaginária, do vestido novo. Por vezes, levava a mão á cabeça a ver se a fita cor-de-rosa que a minha avó materna me oferecera para a ocasião, ainda lá estava. Querida avó! Tinha vindo das Varges aos Avidagos a pé só para me presentear com a fita. Ela queria que a sua neta, fosse a mais bonita de todas. Não estou bem certa, mas penso que a distancia por ela percorrida por caminhos tortuosos, devia rondar os nove ou dez quilómetros, senão mais.

Comecei a tomar noção da responsabilidade em não defraudar, com um chumbo, as expectativas e esperanças que os familiares em mim depositavam.

-Ó mãe ainda falta muito?

-Não, é já ali.

Relógio? Que é dele. Isso era um luxo dos ricos, mas pelas minhas contas, havia mais de duas horas que a minha mãe dizia, é já ali. Eu nunca antes tinha feito uma caminhada daquela envergadura. As minhas fracas pernas, começavam já a acusar o cansaço. Sem querer, invejava os meus cinco irmãos mais novos que haviam ficado no aconchego da cama. O sol começava a despontar no horizonte cobrindo as já louras searas de trigo e centeio que ondulavam com a fresca brisa matinal como se fosse um mar gigantesco de ouro salpicado de papoilas vermelhas mais fulgurantes que rubis. As cotovias, melros, rolas e picanços, saudavam o astro-rei com os seus melodiosos gorjeios, num agradecimento á mãe natureza o fausto banquete que esta pusera á sua disposição e das respectivas proles. De vez em quando, uma lagartixa espreitava por entre as pedras do caminho, curiosa com o sincronizado das nossas socas, trepa que trepa. Ao longe, um ou outro rancho de segadores começava o seu árduo trabalho com os rins dobrados sobre as searas que as seitouras iam dizimando. De repente um frémito de alegria percorreu o meu já cansado corpito ao avistar uma povoação. Aligeirei o passo e pergunte

-Ó mãe, ali já é Mirandela?

-Daqui lá não me doa a mim a barriga, respondeu a minha mãe já agastada de tantas vezes responder, á contínua pergunta de, ainda falta muito?

-Ali são as Lamas, falta quase outro tanto para chegar a Mirandela e temos que andar mais depressa para estar lá ás nove horas senão, não fazes o exame.

Prossegui calada deitando um olhar de esguelha á saquita que a minha mãe levava á cabeça onde a par dos livros e da merenda, iam os sapatos novos que só calçaria á entrada da Vila para fazer jus ao rifão. Menina da aldeia, á entrada da Vila calça a meia A malga do caldo de cebola? Onde é que ela já ia.

Reparando nas minhas espiadelas á saquita e como caminhássemos ao longo de uma parede que circundava uma horta, a minha mãe disse:

- Sentemo-nos só um cibinho para comer que depois já temos força para andar mais depressa. Ó que mágicas palavras para os meus ouvidos. Levantei o vestido quase até á cabeça para não o sujar ou enrugar na parede de xisto, e á fatia de pão centeio, que minha mãe cozera na véspera, e ao punhado de figos secos, foi um ar que lhe deu.

Reconfortada com a frugal refeição e com cinco minutos de descanso, pusemo-nos novamente a caminho. De súbito ouvi o trotar de uma cavalgadura atrás de nós. Voltei-me devagar e disse:

-Ó mãe, vem ali o ti João Vinhais com o filho a cavalo no macho. Na verdade, não era meu tio, mas na minha aldeia, os mais novos tratavam os mais velhos por tios e tias.

-Bom dia senhora Adelina! Madrugaram!

-Bom dia senhor João, que remédio!

Deixei de ouvir o resto dos cumprimentos e concentrei-me no Francisco Vinhais, um rapaz da minha idade e que todo janota em cima do anafado macho também ia fazer exame. Eu bem me saracoteava para ver se o Xico olhava para o meu vestido novo e para o laço que me prendia os curtos cabelos mas o Xico não reparava e eu saltitando, quase me punha á frente do macho. Ó! Vaidade feminina, que tão precocemente te manifestas em futilidades. O ti João vendo os olhares constantes que eu deitava aos cavaleiros e atribuindo-o ao meu cansaço, apeou-se e disse:

-Monta no macho enquanto vou um bocado a pé para esticar as pernas.

-Obrigada senhor João, disse minha mãe: Ela só já ia a ganir que lhe doíam as pernas

-E tem razão, com o estiraço que já fizeram não é para admirar.

Ele mesmo, pegou nos meus vinte e cinco quilos e pô-los em cima do macho. Nunca lhe agradeci o gesto nobre e bondoso que tomou naquela ocasião. Hoje ainda me pergunto se chegaria a tempo do bendito exame sem a sua intervenção. De vez em quando eu, com pouca vontade, ainda lhe dizia:

Ó ti João, quer montar que eu desço?

-Deixa-te ir que vais bem.

O Xico repontava; ó pai, ela não vai quieta com os ovos daqui a pouco caímos os dois.

O que o Xico nunca soube, é que para não amarrotar o vestido, eu estava sempre a puxa-lo debaixo do assento desequilibrando-me.

Por fim, chegamos á entrada da ponte. Já se avistava a Vila de onde sobressaía a então famosa Casa Verde. Depois de deixar o macho entregue a uma pessoa conhecida, o ti João cheio de paciência, esperou que eu calçasse os meus sapatos novos, dois números acima do tamanho indicado para me servirem daí a muito tempo, e começamos a atravessar a ponte, a caminho da escola onde iam ter lugar os exames.

-Ó mãe, deixe-me ir ali a Senhora do Amparo fazer uma promessa para eu ficar bem no exame

-A promessa, dou-ta eu. Se ficares mal, á vinda para cá atiro-te da Ponte abaixo.

-Ó senhora Adelina!.......Disse o ti João apaziguador: Não diga isso á rapariga, que ela pode-se enervar e fazer mal a prova.

-Eu cá sei as linhas com que me coso, isto é falar por falar.

Só alguns anos depois é que me apercebi que a minha pobre e querida mãe ia mais nervosa que eu, e que os meus pais, tinham sido criticados por fazer tantos sacrifícios para que eu pudesse fazer a 4ª classe. Se ainda fosse um rapaz, vá lá, que sempre fazia falta para arranjar um emprego! Agora uma rapariga pobre para que é que queria o exame? Melhor me mandassem ir servir para aprender a ser uma mulher como devia de ser. Isto, diziam aquelas senhorecas de meia tigela que mal sabiam assinar os próprios nomes, e que queriam quem as servisse a troco dos restos da comida que deixavam nos pratos. As “comadres” que as há em todas as aldeias e não só, essas diziam que parecia mal uma rapariga sozinha no meio de quatro rapazes propostos a exame, e outras coisas no género próprias dos meios rurais. Mas a minha ânsia de aprender aliada à boa compreensão de meus pais tudo superaram; o compreensível receio da minha mãe, era que eu ficasse reprovada e depois ter de ouvir as línguas viperinas a rirem-se de nós depois de tantos sacrifícios.

Por meu lado, estava consciente que a oportunidade se não repetiria mas tinha a certeza de estar bem preparada. Graças á minha boa Professora que sem esperar qualquer recompensa além da gratidão, depois das horas de aula oficiais, dava-nos em casa dela mais umas horas de explicações todos os dias. Nunca até essa altura, ela tivera um aluno seu reprovado; e essa era a sua gratificação interior. A meu ver, bem mais valiosa do que se recebesse algumas “luvas” coisa de que nunca houve conhecimento. Nos tempos que correm pode dizer-se que era um exemplo raro de dedicação ao ensino.

Chegamos á Escola dos exames um pouco cedo, mesmo assim já lá estavam algumas dezenas de alunos. Com olhar de lince vislumbrei a nossa Professora e dirigimo-nos para junto dela. Depois dos cumprimentos devidos, perguntei se os restantes rapazes já tinham chegado.

-Ainda os não vi e já estou a ficar preocupada. É que depois da sala de aula fechada para a prova escrita, não entra mais ninguém. De repente, o Francisco Vinhais, aqui já não era Xico, porque a Professora exigia que todos nos tratássemos pelos nomes próprios em vez das usuais alcunhas disse:

-Ali vêm eles.

De facto, o Casimiro, O Viriato, e o Luís Filipe, parecendo os três da vida airada, depressa chegaram junto de nós. Depois das últimas recomendações, e com uma disposição parecida à de quem vai para a guilhotina, entramos para dar início á Prova Escrita. Na Sala repleta de alunos de todas as Aldeias do Concelho, o silêncio era sepulcral. Só se ouvia o raspar dos aparos das canetas de pau, molhadas nos tinteiros brancos, no papel.

Ditado, Problemas, Contas, Redacção, etc., tudo seguia os seus trâmites sincronizados. Os pais ou acompanhantes, esperavam do lado de fora, quem sabe, pedindo a Deus para que nenhum dos seus fosse reprovado. Após três longas horas, abriram-se finalmente as portas e em silêncio, todos esperavam sofregamente os resultados. Ninguém arredava pé. Mais algum tempo e eis que os almejados resultados eram afixados. Começaram os empurrões, o esticar de pescoços, o por em bicos de pés a ver quem primeiro chegava junto dos resultados. A minha mãe teve que pegar-me ao colo para eu ver o meu resultado uma vez que ela não sabia ler e sendo eu tão pequenina, corria o risco de ser esmagada pelos mais matulões ou pelos adultos. Depois de muitos encontrões e pedidos de desculpas, lá chegamos aos famigerados resultados. Olhei atentamente e ao descortinar o meu nome, gritei:

-Mãe!... Fiquei bem! Ela ergueu-me bem nos braços e disse:

-Vê bem filha, não te enganes.

Tornei a olhar e confirmei. Fiquei bem, mãe, é verdade.

Quando me poisou no chão, fiquei como que petrificada ao ver rolar as lágrimas pela face de minha mãe. Intrigada, perguntei:

-Então a mãe está a chorar porque eu fiquei bem?

-Ó filha, não. Tu não sabes que também se chora de alegria? Pois o que eu sinto agora, é uma alegria enorme como há muito tempo eu não sentia. Deus te abençoe.

Entretanto os quatro rapazes, com um sorriso de orelha a orelha, davam também a boa nova. A nossa Professora que se associava á nossa alegria, lembrou.

-Agora toca a ir comer e descansar para estarem fresquinhos para a Prova Oral que é amanhã á tarde.

Não sei onde os outros se hospedaram, quanto a mim, a minha mãe levou-me a uma Pensão pequena, tipo familiar, que embora retenha o seu interior na memória, não fixei o nome da rua onde a mesma se situava. Levava vinte escudos por dia, com direito a três refeições e dormida. A minha mãe pagou o estipulado e preparou-se para o regresso a casa pelo mesmo caminho.

-Então a mãe não come aqui?

-Não, come tu que eu como o resto da merenda pelo caminho. Tenho que ir fazer o caldo para o teu pai e para os teus irmãos mas amanhã cá estarei para assistir á Prova Oral. Entretanto a senhora da Pensão já trazia para a mesa, uma fumegante travessa de batatas cozidas com congro. Lembro-me como se fosse ontem. Comi que me fartei. Á noite, fui para um grande quarto onde estavam duas camas e dois colchões no chão. A mim, calhou-me um dos últimos. Entraram depois uma senhora e duas meninas que rondavam a minha idade pelo que o motivo devia ser o mesmo. Aldeãs para exame. Apoderando-se cada qual do respectivo lugar. Em menos de um credo, já eu dormia o sono dos justos sem sentir as dores das bolhas que os sapatos me haviam feito nos calcanhares. Quando acordei na manhã seguinte, o quarto estava já vazio e arrumado. Ao dirigir-me á casa de banho, vi num relógio de parede que já eram onze horas. Depois do almoço, furtei um guardanapo da mesa, e fui para o quarto puxar o lustro aos sapatos com ele atirando-o depois para debaixo de uma cama. Pedi para me arranjarem o laço do cabelo e toda prosmeira, fui ter com a senhora dona Ermelinda que já me esperava á porta para me acompanhar ao local das Provas Orais. Reparou a Professora que eu andava devagar e com passo inseguro, como quem pisa ovos.

-Que é que tens rapariga? Vais com medo ou fizeste xixi na cama?

-Não minha Senhora, foram os sapatos que ontem me fizeram bolhas. Se calhar, vou-me descalçar.

-Nem penses, quero lá agora uma aluna minha descalça no exame. Calça as socas.

-Não as tenho cá, a minha mãe levou-as.

Ao cabo de uns minutos que me pareceram séculos devido ás dores, lá chegamos ao local. Já estava o que me parecia a mim, um mar de gente junto da Escola, para assistir ás Provas Orais. Naquela época, mesmo quem não tinha familiares a fazer exame, gostava de assistir ás Provas Orais para ver as habilidades dos alunos conhecidos e não só.

Como não descortinasse a minha mãe em parte alguma, trepei ao muro para ver melhor em todas as direcções. Que grande desilusão! Não estava em parte alguma. De certo não pode vir. Era tão longe! Ainda na véspera fizera a pé o caminho de regresso, e com certeza não aguentara outra viagem.

Envolta nos meus pensamentos, nem me dera conta de que já todos tinham entrado.

A sala estava cheia até à porta. Saltei o muro e precipitei-me para a entrada onde algumas pessoas não me queriam deixar entrar.

Que queres tu daqui? Não vês que não podes entrar? Vai brincar para a rua.

-Mas eu vou fazer exame, respondia em altos gritos. As pessoas olhavam para o meu corpo franzino, que não aparentava mais que seis anos, e riam-se.

Chô: - Cresce e aparece.

No meu desespero comecei a distribuir pontapés a torto e a direito, e furando por baixo da amálgama de pernas que vedavam a entrada da sala de Aulas, lá consegui chegar ao meu lugar. Mesmo a tempo… Estavam a chamar pelo meu nome.

Muito esbaforida, com os livros a monte dentro da saquita e toda despenteada, devido à entrada forçada, encaminhei-me para a mesa do Júri. Por instantes, esqueci a minha mãe, e concentrei-me na enorme responsabilidade do momento.

-Abre o livro de leitura.

Fiz o que me era mandado. O livro abriu-se na Lenda da Laranjeira de Santa Isabel. Li com gosto e com voz bem timbrada, era uma das minhas lições preferidas. Até ali, tudo bem

-Vamos à História.

Mentalmente, pedia a Deus que me fizessem perguntas sobre D. Pedro IV de Portugal e I do Brasil que me fascinava e do qual eu sabia tudo de cor e salteado como se costuma dizer. Calhou-me em sorte D. Dinis. Parecia de propósito, era o rei de quem eu menos gostava.

-Que cognome teve el-rei D. Dinis?

Mas porque cargas de água me haviam de fazer perguntas sobre um homem, mesmo sendo Rei, que era mau para a Rainha Santa? Na minha fértil imaginação, um homem que proibia a Rainha de dar esmolas aos pobres a ponto de ela ter de invocar a protecção divina para que o pão que levava no regaço, se transformasse em rosas, não podia ser boa pessoa. Se eu mandasse, que é o que aqueles que não mandam pensam, se eu mandasse, esse Rei não entrava para a História.

Fez-se silêncio na sala. De novo a pergunta era repetida.

-Então, não sabes?

-Não sei o quê? Perguntei como se tivesse chegado de longínquas paragens.

-Que cognome tinha el-rei D. Dinis

-Sei sim minha senhora, era o Lavrador. E antes que perguntassem mais alguma coisa, comecei a desenvolver o tema ainda mais do que seria preciso. Que tinha reestruturado a agricultura, que mandara plantar o pinhal de Leiria e tudo mais que lhe dizia respeito.

-Então se sabes tudo tão bem, porque não respondias?

-Porque não gosto dele.

-E pode-se saber porquê?

Expliquei as minhas razões acima citadas. Gargalhada geral na sala.

- Silêncio se fazem favor, pediu um professor que de imediato me chamou para avaliar os meus conhecimentos de Geografia.

-Ora vamos lá a apontar aqui no Mapa, o rio Douro e seus afluentes.

Depois de satisfeito com as minhas respostas, levou-me ao Mapa cor-de- rosa.

-Agora diz-me: estamos em Mirandela, queremos ir para Luanda, como fazemos?

-Resposta pronta, não podemos.

-Não podemos porquê?

Porque aqui não há mar e tínhamos que ir primeiro para o Porto ou Lisboa.

Novas gargalhadas na sala.

-Silêncio por favor, senão mando evacuar a sala.

-Então explica-me como poderemos ir para Lisboa.

- Com o dedo, lá apontei no Mapa o percurso dos Caminhos – de - Ferro que nos levaria ao cais da Capital para apanhar o barco que nos levaria a Luanda.

-No Mapa cor-de-rosa, também não me saí mal bem como em Ciências Naturais.

-Podes ir para o teu lugar, e fazer o teu trabalho manual.

Ao voltar-me, vi minha mãe ao fundo da sala, sentada numa cadeira. As mãos postas, como se estivesse rezando e com lágrimas que se assemelhavam a pérolas, deslizando pela face, precocemente enrugada devido ás agruras da vida, mais se assemelhava a uma santa de altar. Afinal, ela estivera ali desde o início, enquanto eu cá fora tentava localizá-la.

Como tivesse chegado muito cansada de tanto andar a pé, pedira para a deixarem entrar mais cedo a fim de arranjar lugar sentada. Fiquei feliz por vê-la.

Fui para o meu lugar e peguei na meia de renda de cinco agulhas. Era o meu trabalho manual. A mãe da minha professora é que me ensinara a fazer aqueles arabescos complicados, mas de um efeito espectacular.

Muito embrenhada na minha tarefa sobressaltei-me ao ouvir a voz da Professora encarregada da avaliação dos Trabalhos Manuais.

-Muito bem, mas que meias tão bonitas que estás a fazer.

-A senhora gosta?

-Gosto sim.

-Então quando as acabar, eu mando-lhas.

-Ficaria muito contente.

Nunca cumpri a promessa. Primeiro, porque não sabia a direcção da simpática Professora. Depois, parece-me que nunca cheguei a acabar as meias.

-Acabaram os exames, podem sair:

Um suspiro de alívio percorreu toda a sala. Já no recinto da Escola, encontrei minha mãe que conversava com um senhor, que ao ver-me fez sinal para me aproximar, o que fiz de imediato, embora um pouco intimidada com a elegância e a respeitabilidade que emanava daquela figura, que me parecia austera. Interroguei-o com o olhar.

-Parabéns pelo seu excelente desempenho disse: Acto contínuo, meteu-me na mão cinco escudos que desapareceram para dentro da saquita dos livros em menos tempo que o diabo esfrega um olho.

-Estava aqui a dizer á senhora sua mãe que se fosse um rapaz, eu encarregar-me-ia de lhe custear os estudos. Sendo uma menina, não poderei fazê-lo porque a responsabilidade a longo prazo, seria enorme.

-Obrigada pelo grande favor, disse mordaz, e voltei-lhe as costas com vontade de arrancar-lhe a gravata, que devia ser de seda, e fazer-lha engolir juntamente com o que acabara de dizer.

-Mãe, vamos embora.

-Não sejas mal-educada, vem pedir desculpa ao senhor doutor.

-Desculpa, porquê? De não ter nascido rapaz para lhe fazer a vontade? Sou por acaso culpada de ter nascido rapariga? Sufoquei na alma um grito de raiva e impotência, que as lágrimas não deixavam de todo esconder.

Nunca tinha sido tão humilhada. Primeiro, porque me tratou por senhora e na minha idade, isso era uma ofensa para mim. Depois, parecia que me estava a acusar por eu não ter nascido rapaz. Na boca das ignorantes “comadres”, não era de admirar o dizerem que a um rapaz nada se lhe pega e que nunca aparecia prenho em casa; agora que um senhor doutor pensasse da mesma maneira, era inadmissível.

Posteriormente, vim a saber que o senhor em questão, sendo rico e sua mulher não lhe podendo dar filhos, já havia custeado os estudos a três rapazes de poucos recursos; mas a sua filantropia e altruísmo não se estendia ao sexo feminino.

-Mãe! Vamos embora que se faz tarde e chegamos a casa já de noite.

-Trouxe as minhas socas?

-Eu não! Então não queres os sapatos? Andavas toda encha com eles!

-Pois, mas fizeram-me bolhas e não os aguento. Vou descalça.

-Tu hoje ainda ficas na Pensão que já está paga e amanhã, vais na Camioneta da Carreira até ao entroncamento, que de lá até casa são só três km e o teu irmão estará lá á tua espera. Eu é que me vou já embora a ver se ainda chego a casa antes do anoitecer. Toma lá o dinheiro para a Camioneta; agora perde-o.

Deu-me o dinheiro certo, sem fazer alusão aos cinco escudos que o tal senhor doutor me dera. Se calhar nem os viu, pensei eu.

Ainda ela mal tinha voltado as costas, já os sapatos estavam na saquita misturados com os livros. Descalça, percorri grande parte da Vila embasbacando-me diante das montras. Nunca vira coisas tão bonitas! E depois, a alegria de saber que no dia seguinte ia andar da Camioneta, era o culminar da suprema magia. Eu, como a maior parte das minhas amigas, nunca tinha-mos posto os pés dentro de um carro; quando eu lhes contasse a aventura, iam-se roer de inveja. De repente, ali perto do Mercado, estava na montra de um estabelecimento uma boneca com um vestido quase igual ao meu. Não é que ela parecia que se estava a rir para mim? Os cinco escudos dentro da saquita começaram a pesar como chumbo. Muito hesitante, e olhando para todos os lados, entrei e perguntei o preço.

-Quatro e quinhentos, respondeu a senhora atrás do balcão.

Nem me dei ao trabalho de regatear, depositei o dinheiro no balcão e esperei que a boneca viesse aos meus braços.

-Queres que embrulhe?

-Não é preciso, obrigada. Ia a sair disparada quando a senhora me chamou.

-Toma lá o troco rapariga, olha que a boneca não foge.

Saí dali direita á Pensão que parecia um foguete. Era a minha primeira boneca a sério. Sá as havia tido de trapos, confeccionadas por mim. Não mais a larguei e será escusado acrescentar que dormiu comigo.

Na Camioneta de regresso a casa, mil sensações estranhas me assaltavam. A paisagem vista de cima, parecia irreal. Era a Camioneta que estava sempre parada, ou eram as serras, árvores e casas tudo a andar para trás? Passados os primeiros minutos de novidade embriagadora, voltei a pensar no que a viagem e a boneca me fizera esquecer.

Se fosse rapaz!...Se fosse rapaz!...Se fosse rapaz!...Malditas palavras; haviam-se cravado na minha alma como uma ventosa de onde não conseguia arrancá-las. E eu que ainda fora comprar a boneca com o dinheiro de quem se me estava a tornar odioso. Se a janela estivesse aberta, atirava a boneca por ela fora. Se fosse rapaz!...Se fosse rapaz!...

Comecei a chorar. Ia sentada a meu lado uma Freira que se dirigia ao então asilo para meninas pobres de Pereira, que ficava a um km mais ou menos dos Avidagos que ao ver-me chorar perguntou:

-Tu que tens minha filha? Reprovas-te no exame?

Não Irmã.

-Então, se ficas-te bem e ganhas-te essa boneca tão bonita, porquê essas lágrimas?

Limpei as lágrimas ao lenço de cinco pontas e disse:

-É precisamente por causa da boneca. Estava quase a contar-lhe a verdade, quando “tardiamente” me lembrei do meu egoísmo. Gastei o dinheiro que tinha na compra da boneca e não me lembrei de comprar nada para os meus irmãos e fiz um ar de Madalena arrependida.

-Quantos irmãos tens?

-Cinco, e todos mais novos que eu.

A Freira, meteu a mão numa maleta e deu-me um bom punhado de rebuçados e bombons:

-Toma lá, divide p’los teus irmãos.

-Muito obrigada minha santa. Ela sorriu. Um sorriso tão angélico que não voltei a ver outro igual.

Já a pé, a caminho de casa, parei nas duas capelinhas que ficam de um e outro lado da estrada no cruzamento que vai para Pereira, um km antes dos Avidagos, para com uma pequena oração, agradecer o resultado do exame.

Quando cheguei a casa, estava reunida toda a parentela mais chegada, para me felicitar e participar numa refeição melhorada para a qual tinham sido sacrificadas duas das melhores galinhas.

Passados os primeiros momentos de euforia, a minha mãe começou a relatar toda orgulhosa, as peripécias do exame. Olhem que até os professores estavam admirados com ela. E como todas as mães, até exagerava nos elogios perante as pessoas presentes: quando acabou o exame, até um senhor Doutor, blá, blá, blá

-Era demais. Levantei-me da mesa para não ouvir novamente as palavras que me estigmatizaram ao longo da vida!...Se fosse rapaz!...Se fosse; Outra vez não, por amor de Deus.

Dei a boneca á minha irmã mais nova que delirou com o presente, impondo-lhe como condição, de que nunca brincasse com ela á minha frente senão eu queimava-lha.

Não sei se a minha mãe se apercebeu do meu drama íntimo, quero querer que sim, mas nunca mais tocou no assunto.

Já se passaram muitos anos, mas se Freud ainda vivesse, de certeza que eu desmentiria uma das suas teorias da “Mente”. É que as meninas, segundo ele, não desejam secretamente ser rapazes por no subconsciente terem inveja do pénis, mas sim, por terem inveja da liberdade que os rapazes têm.

Felizmente que as mentalidades no que respeita a sexos opostos está a mudar, ainda que a passo de caracol.

As condições de vida também melhoraram. Os alunos, já não têm que percorrer a pé vários km, sujeitos aos rigores do Inverno ou ao sol escaldante do Verão para irem para a Escola como iam os do Carvalhal, Palorca etc. que por caminhos de cabras faziam diariamente esse percurso para virem para os Avidagos. Segundo as estatísticas, o número de estudantes do sexo feminino, já ultrapassa o masculino. Fico feliz por poderem usufruir de algumas oportunidades que me foram negadas. No entanto, uma pergunta se impõe. Porquê tanto insucesso escolar? O que é que está mal? De quem é a culpa?

Por mais que me esforce, não consigo descortinar respostas adequadas, e julgo que a maioria dos portugueses também não.

Será que fazem falta, umas tantas Donas Ermelindas Rafaéis para se orgulharem de nunca terem um aluno seu reprovado? Que incutia nos alunos o gosto pelos estudos, sacrificando tantas vezes a sua vida pessoal, para se dedicar inteiramente á nobre arte de ensinar? Pode ser uma das causas, mas de certeza que não é a única. Haverá alguém que sem se escudar nos meandros políticos tenha as respostas?

Uma coisa é certa. Há que fazer algo urgentemente para mudar este estado de coisas, nem que para isso se tenham que criar prémios especiais para os mais aplicados.

Se nada for feito, corremos o risco dos homens e mulheres de amanhã, nos acusarem da incúria de hoje.

Graziela Vieira

Abril de 2000

Foto de killas

O CORAÇÃO

Afinal como será o nosso coração,
Para bastar apenas uma pura paixão,
Para ele bater com uma tal amplidão,
Como se tivesse passado um aluvião.

Como uma coisa deveras tão simples,
Pode ter uma tamanha importância,
Por vezes em total discordância,
Com o resto dos seus entes.

Mas é ele que salta e pula,
E mostra o bom caminho,
Nunca se deve estar sozinho,
É essa a eterna fábula.

Só a ti eu quero amar,
Do fundo do coração,
Ouve a sua oração,
Que ele está a implorar.

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"TRILOGIA DA ORAÇÃO"

“TRILOGIA DA ORAÇÃO”
“HARMONIZAÇÃO”
“PAI”

Senhor de todos os exércitos...
Criador de todas as coisas...
Dono incontestável do passado, presente
E futuro...
Que a inteligência que emana do seu cérebro criador...
Seja entronizada em cada célula de cada ser vivente...
Para que seus ensinamentos jamais sejam esquecidos!!!

“TRILOGIA DA ORAÇÃO”
“AMOR AO PROXIMO”
“FILHO”

Jesus, meu irmão, que teu sangue nunca mais seja derramado,
Para nos salvar, pois salvos estaremos em tua Compânia, que o teu sacrifício nunca tenha sido em vão, pois já te sacrificastes por nós, que o teu amor por todos nossos irmãos reacenda a paz na terra!!!

“TRILOGIA DA ORAÇÃO”
“COMPAIXÃO”
“ESPIRITO SANTO”

Passeia entre nós Santo Espírito, derrama dentro de cada coração,
A unção da compaixão, do entender, do compreender e do Compartilhar. Molhe com lagrimas cada face de cada cidadão da,
Imensidão da terra, que o povo chore de amor e de alegria, e nunca mais de tristeza e arrependimento!!!
Una Palestinos a Israelitas, Brancos a Negros, e que todas as diferenças sejam alem coração!!!
Passeia entre nós Santos Espírito.
Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo!!!
Amem!!!
Amem uns aos outros!!!
VIDA LONGA A TODOS!!!

Foto de Dirceu Marcelino

FELIZ PASCOA - Na pessoa de CECI POETA, a quem escrevi agora, em seu comentário homenageio a todos colegas poetas

*
* Homenagem a CECI POETA e a todos os amigos...
*

Representada pela alma das crianças,
Multiplica-se a comemoração,
Enchendo noss'alma de esperança
E fazendo transbordar do coração

A água limpa que em riachos avança
Permitindo a cultura e a devoção,
Sem apagar a chama na andança,
Dessas crianças na busca do pão.

Não do pão esbanjado da comilança,
Mas do "pão sagrado", que em oração,
Devemos comer e refletir que ele amansa

A ira e o olhar desarroado do dragão,
Da maldade, enfurecido, cujas chamas
Apagarão-se com o vinho da redenção...

Foto de ANACAROLINALOIRAMAR

MOSTRE-SE FELIZ...TENTE!

Nem sempre estamos bem, tem dias que acordamos
Zangados com nós mesmos, com o mundo.
Jogamos em alguém sempre a culpa que algo, que nos
Angustia.
Vejamos assim:
Quer ver seu dia ficar belo,
Acorde e de bom dia aos seus céus.
De um bom dia a primeira pessoa que ver,
Logo pela manhã.
De um bom dia ao sol, um bom dia aos pássaros
Atenda ao um telefonema sempre sorrindo
Mesmo que quem esta do outro lado da linha
Não o veja...é sempre bom passar o bom da vida.
E sempre bom estar feliz.
Mesmo que lhe seja duro.
Atrai coisas boas.
Sempre, mostre-se que esta feliz,
Você até atrai pessoas até você.
Por que não existe ,nada mas chato,
Que estar com alguém de mau humor do lado.
Alguém reclamando, se queixando.
De cara feia.Nossa! Acaba com nosso dia!
Se você não consegue se mostrar feliz,
Devido aos seus problemas,pelo menos tente!
Saiba que quanto mais você se entrega ao problema.
Mas ele te persegue.
Quanto estiver triste, respire fundo, de três pulinhos.
E faça uma oração.
Vai ver como seu dia, pelo menos 70% vai ser melhor.
Não sou nenhuma sábia, apenas não permito que
Que as pessoas me vejam de cara feia e mal humorada.
Tento mostrar-me feliz,pelo menos tento! Tente também.
*-* A FLOR DE LIS.

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