Qualidade

Foto de joão jacinto

Retalho de gente

Sinto-me retalho de gente,
objecto desvalorizado,
chuva batida a vento,
tecto sem telhado,
palavra não dita,
forno que não esquenta,
voz que não grita,
boato que se inventa,
gota no charco,
árvore já morta,
violino sem arco,
quinta sem horta,
pele mal amada,
espectáculo sem artísta,
qualidade não controlada,
palhaço malabarista,
tv a preto e branco,
relógio sem ponteiros,
pirata manco,
tiros não certeiros,
corno manso,
intriga mal parida,
mudo ganso,
sapato de alma partida,
cadelabro sem velas,
dia, de noite apagado,
ombreiras sem janelas,
nevoeiro cerrado,
bosta de besta,
cão rafeiro,
verga entrelaçada de cesta,
pantomineiro,
mosca sem asas,
copo sem bebida,
rua sem casas,
beco sem saída.

Foto de joão jacinto

Mortais pecados

Olho-me ao espelho, debruado de talha,
luminosamente esculpida, dourada
e pergunto-me ao espanto das respostas,
na assumida personagem de rainha má,
quem sou, para o que dou, quem me dá.
Miro-me na volumetria das imagens,
cobertas de peles enrugadas,
vincadamente marcadas,
por exageros expressivos,
de choros entre risos,
plantados nos ansiosos ritmos do tempo.
Profundos e negros pontos,
poros de milimétricos diâmetros,
sombras cinzentas, castanhos pelos,
brancas perdidas entre cabelos,
perfil de perfeita raiz de gregos,
boca carnuda, gretada de secura,
sedenta de saudosos e sugados beijos
de línguas entrelaçadas,
lambidelas bem salivadas.

Olho fixado no meu próprio olhar,
de cor baça tristeza,
desfocando a máscara, de pálido cansaço
e não resisto ao embaraço de narciso;
sou o Deus que procurei e amei,
em cumprimento do milagre
ou o mal que de tanto me obrigrar, reneguei?
Sou o miraculoso encantador a quem me dei
ou a raposa velha, vaidosa, vestida de egoísta,
com estola de alva ovelha, falsa de altruísta?

No meu lamento, a amargura porque matei;
sangrando a vítima, trucidei-a em ranger de molares,
saboreei nas gustativas variados paladares,
viciadas no prazer da gula do instintivo porco omnívoro.

Rezo baixinho, cantarolando, beatas ladainhas
de pecador que se rouba e se perdoa,
a cem anos de encarceramento.

No aliciamento cobiçante de coxas,
pertença de quem constantemente
me enfrenta, competindo nas mesmas forças,
traindo-me na existência do meu possuir,
viradas as costas, acabamos sempre por fingir.
Entendo velhos e sábios ditados,
não os querendo surdir em consciência.
Penso de mim, a importância de mais,
que outros possam entender,
sendo comuns mortais,
minha é a inteligente
certeza do enganar e vencer.

Sadicamente bofeteio
rechonchunda face de idealista tímido,
de quem acredita e se deixa humilhar,
dá-me a outra, para também a avermelhar.

Vendo-me a infinitas e elegantes riquezas,
de luxúrias terrenas, orgias, bacantes incestuosas,
sedas, glamour, jóias preciosas,
etiquetas de marca,
marcantemente conotadas
que pavoneiam a intensa profundidade da alma.
Salvas rebuscadas, brilhantes de pesada prata,
riscadas de branco e fino pó.
Prostitui-me ao preço da mais valia,
me excita de travesti Madalena,
ter um guru para me defumar, benzer e perdoar,
sem que me caía uma pedra na cauda.

Adoro o teatro espectacular,
encenado e ensaiado em vida,
mas faço sempre de pobre amador,
sendo um resistente actor.
Escancaro a garganta para trautear,
sem saber solfejar.
Gargarejo a seiva da videira,
que me escorre pelo escapismo do meu engano,
querendo audaciosamente brilhar,
descontrolando o encarrilhar,
do instrumento das cordas da glote,
com a do instrumento pulmunar
e desafino o doce e melódico hino.

Sou no vedetismo a mediocridade,
que se desfaz com o tempo,
até ser capaz de timbrar,
sem ser pateado.

Acelero nas viagens
que caminham até mim,
fujo do lento e travo de mais.
Curvas perigosas, apertadas,
que adrenalinam a fronteira do abismo.
Fumo, bebo a mais
e converso temas banais,
por entre ondas móveis,
que me encurtam a pomposa solidão,
nada é em vão.

Tenho na dicção um tom vibrado e estudado,
de dizer bem as palavras que sinto,
mas premeditadamente minto
e digo com propósito sempre errado.
Sou mal educado, demasiado carente,
enfadonho, que ressona e grunha durante o sono.
Tenho sempre o apreçado intuito do saber,
do querer arrogantemente chamar atenção,
por me achar condignamente o melhor, um senhor,
sem noção do que é a razão e o ridículo.
Digo não, quando deveria pronunciar sim.
Teimosamente rancoroso, tolo,
alucinado, perverso, mal humorado,
vejo em tudo a maldade do pecado.
Digo não, quando deveria embelezar a afirmação.

Minto, digo e desfaço-me de propósito em negação.

Mas fiz a gloriosa descoberta do meu crescer,
tenho uma virtuosa e única qualidade;
alguém paciente gosta muito de mim.

Obrigado!

Tenho de descansar.

Foto de TrabisDeMentia

Poema chato

Tem poema chato
Que fala e não diz nada
A pessoa começa a ler
E vê-se logo que não tem jeito nenhum
Está mal estruturado
E é chato
E depois a pessoa se farta de ler
Cansa logo ao principio
Pois não tem jeito nenhum e não diz nada também
E se prestarmos atenção ele nem rima
E mesmo quando rima é uma rima sem clima
Que tá sempre em cima da rima de cima
Que quer rimar e rimar
E é tão chata que faz chatear
De tão chata que é
È mesmo! Tem poema assim sim
Dando em cima de mim se repetindo
Poema chato assim não dá pra ler até ao fim
E pior é quando tem erro otorgáfico
Erro otorgáfico e fica se repetindo
Coisa chata
Aí a gente dá um fora nele e passa para outro
Outro poema
Um poema melhor estruturado
Que esteja um pouco melhor rimado
Que não seja tão pesado
Mas que ainda assim será desajeitado
Pois tem vezes que é forçado
E os tempos não batem certo
E o que ele quer dizer é incerto
E tudo o que diz fica aberto
E para rimar ele diz "decerto"
E para finalizar o esquema
Ele muda de tema
E passa o dilema
Para um outro poema
Um poema que
Embora não diga nada
Já diz algo a muita gente
Sua rima é acertada
Sua estrutura coerente
Mas deixai ele crescer
Em tamanho e qualidade
E aos seus olhos irão ver
Um poema de verdade
Ele vai ganhando uma postura
Que encanta quem o lê
Ganha logo uma doçura
Vá-se lá saber porquê
E de repente se sustem
Olhem olhem que lá vem
Shhh...
O poema se solta
Desamarra os seus cabelos
Olhai! Vê-de que belos!
Que singelos!
Que bom que é lê-los!
Eles escorrem para papel
Como a tinta de um pincel
Escorre para a tela
E lá vai ela
Livre encantada e bela
Despreocupada!
Pintando a aguarela
Com mãos de fada!

Foto de Edson Rodrigues Simões Diefenback

Partida de um amor

Quando o amor resolve partir
Geralmente ele não sabe pra onde ir
Ele também nunca deixa um recado
E segue por aí arrasado
Quando ele decide que chegou a sua hora
Não existe nenhuma história
Que consiga prendê-lo
Nenhuma lembrança que possa detê-lo
Nada que o faça ficar
Quando acontece do amor acabar
Não nos avisa se depois vai voltar
Não nos confidencia se vai reviver
Quando ele termina, só nos faz sofrer
Quando o amor desliza por entre os dedos
Cheio de medos
E não ouve os nossos apelos
É sinal que ele se atropelou
Se partiu e se quebrou
Quando o amor vai embora
Deixa uma chaga aberta no peito
Uma esperança de vê-lo refeito
E quando ele foge pra lugares distantes
Quando se perde por entre momentos intrigantes
Por entre frases decepcionantes
É sinal que ele ficou fraco
Que virou um farrapo
Amor de verdade tem que ter qualidade
Equilíbrio e quantidade
Tem que ter sinceridade
Pode ser passivo de estragos, mas com consertos
Pode esmorecer, mas tem que saber sobreviver
Quando o amor realmente vai embora
E com ele carrega um peso dos ombros
E consegue logo remover os escombros
É porque ele definitivamente acabou
Mas quando o amor vai embora
Alguma cicatriz ele deixou
Algum arrependimento
Alguma dor
Algum lamento
E aí vem o tempo...
O grande companheiro
E faz parecer que nada foi verdadeiro
Cada dia que passa
Cada ano que se vai
Carrega todas as lembranças
Carrega as tristezas e as desconfianças
....e aí... tropeça-se em outro amor
Esquece que já se viveu tanta dor
Quando um amor vai embora
Significa que chegou a hora
De apagar o passado
Olhar pro lado...e recomeçar
Quem sabe um novo amor encontrar.

Foto de Edson Rodrigues Simões Diefenback

Felicidade Verdadeira

Somos constantemente massacrados
Entre trancos e barrancos
Pela mídia
E no que cremos interiormente

Vemos comerciais na TV
Ouvimos anúncios no rádio
Nos dando a falsa crença
De que valemos o que temos
E não o que somos

Em meio a este caos
Acabamos a acreditar que a felicidade
Mora do lado de fora
Distante de nós,
Seja num carro importado,
Num celular moderno e de ultima qualidade
Numa mansão ou numa conta abastada

Com isto nos esquecemos
Que a felicidade permeia o nosso interior
Não somos o que temos
Não precisamos fazer propagandas
Demonstrando apenas um ego-atrofiado
Pelo orgulho e pela vaidade

Não te menosprezes
E nem te sintas inferior a ninguém
Lembre-se das palavras de Jesus
Que nos disse
“Onde está a tua mente, ai também estará o teu coração”

Lembre-se meu irmão
Que és filho de Deus
E tens dentro de ti o maior tesouro de todos
A centelha divina!

Caminha abençoando a todos
Sabendo que és templo de Deus.
Abençoa tudo o que tens
Pois tudo é fruto do teu suor

E acima de tudo
Nunca te compares a ninguém
Tu és um universo único
E cada qual esta num nível de consciência

No seu processo evolutivo
A felicidade está ai,
Bem perto de ti
Por isto abra as portas do teu coração
Lembrando que a maior riqueza
É a tua ação.
Édson Rodrigues Simões Diefenback

Foto de Siamesa

Relacionar-se

Relacionar-se significa ter analogia, ligar-se, travar conhecimentos, contactar-se.
Mas, também significa trocar experiências, respeitar-se e respeitar.
Relacionar Lembra alguma coisa como
" acionar ", agir, dar impulso, estimular...
Um relacionamento a dois deve ser assim. No amor tem que ser assim. Na amizade é preciso que seja assim,
sexualmente é vital que assim o seja.
Conectar alguma coisa à outra é criar uma corrente, uma corda com vários nós, nós que não desatam jamais,
porque relacionam-se entre si, estão seguros, firmes, bem atados.
Relacionamentos são únicos e indestrutíveis, quando bem estruturados, mas raros.
Acionar a empatia, o respeito mútuo, a amizade real, a cumplicidade , o prazer total e o amor , que nasce deste relacionar-se,
porém, muitas vezes, nos parece utópico, mas ainda cremos neles,
ainda achamos que podem acontecer. Eles existem dentro de cada um de nós, aguardando outras conexões.
Difícil é perceber que esta ou aquela conexão nos cria uma conexão perfeita ou um relacionamento ideal.
Ideal ? Com medo de ser tão otimista, digamos que possa ser, talvez, um relacionamento real,
coisa que poucas vezes encontramos hoje em dia ...
Durante várias vezes ao dia, desconectamos, e como toda coisa desconexa, perdemos a comunicação e a sintonia.
Pena ... concluímos que relacionamentos reais são, infelizmente, muito raros.
Mas, ainda capazes de existir. Façamos conexões, relacionamentos.
Desconexões são momentos não vividos, amores sofridos, amizades esquecidas, que podem por segundos, minutos que sejam, perderem-se com o tempo.
Relacionar-se implica , também, a escutarmos mais e a nutrirmos, silenciosamente as pessoas, as situações e não só falarmos,
sem pensar, o que poderemos nos arrepender amargamente em futuro bem próximo.
Relacionar-se é receptividade, que acolhe, absorve e que nos faz seguir, muito mais do que tomar a dianteira.
Relacionar-se é tomar uma atitude participativa e deixarmos que outros participem, adicionando valor e qualidade de consciência ao meio em que vivemos.
Relacionar-se é amar e deixar amar. É reconhecer e afirmar, positivamente, o valor das nossas capacidades e as dos outros,
reconhecermos os processos de crescimentos interiores e decidirmos aplicá-los
para criar recursos e situações nos quais todos são estimulados a crescer , naturalmente, na melhor coisa do mundo
que é relacionar-se, conectar-se, ter e dar acesso a sentimentos verdadeiros, mesmo que estes não sejam impecáveis ou prazerosos.
Relacionar-se é : " conectar nossa atenção para o que é de maior relevância no momento presente e não
desperdiçarmos energias com distrações desnecessárias.
A conexão com a qualidade essencial de cada pessoa ou ser da natureza, cria um elo vibrante e significativo e a comunicação se estabelece sem esforço. "

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