Ruas

Foto de MARTE

VIVA O DIA DA LIBERDADE....SEMPRE

MARCHAR PELAS RUAS
COM CRAVOS BEM SEGUROS
AO RITMO DA DEMOCRACIA DO POVO

Num dia assim, milhares de pessoas saíram à rua.
Foi há 33 anos que se fez a revolução.
Depois foi o que se viu, tantos mais ontem
do que hoje andaram pela liberdade de punho
erguido, de voz bem alta e com muitos cravos.
E veio o 1º de Maio, celebrado, e eram todos um só!
Amanhã volta-se a sair à rua para gritar em liberdade,
democracia para o povo.
Empunhando cravos e bandeiras, ao ritmo de
slogans históricos e ao som das músicas e letras
que marcaram a mudança e continuar a
rodear os festejos da efeméride com as gerações
a cruzarem-se avenida abaixo, num testemunho em
larga escala de um cenário a viver de
Norte a Sul do País.
Celebrar as conquistas do 25 de Abril, de
olhos postos no futuro, feito de novos desafios
políticos, económicos, sociais, contra o fascismo
e o racismo.
No dia da liberdade, os motivos e causas
de luta do presente e do amanhã devem-se
fazer passear pelos cartazes de homens
e mulheres, civis e militares, novos e velhos,
que em jeito de protesto renovem os ideais
que deram flor e ditaram o fim da ditadura.
Para lembrar o que muito ainda falta
fazer, 33 anos depois da grande revolução,
que devolveu o poder ao povo, mas cuja
classe dominante continua a exercer o
seu poder e a esquecer os mais desfavorecidos.
Em vésperas do 1º de Maio, a manifestação
promete voltar a sair à rua e ganhar
novo fôlego, o da festa...num grito
de revolta pelo muito que ainda falta fazer.
Façamos juntos um 1º de Maio de Luta!
Basta de Crimes, Exploração e Opressão!
Viva a Luta da Classe Trabalhadora!*
Em todo o mundo, milhões de homens, mulheres
e crianças passam fome e miséria e vivem
nas piores condições.
Quanto mais a riqueza se acumula nas
mãos de poucos, mais o desemprego aumenta por toda
parte, causando a queda dos salários
e a retirada dos direitos dos trabalhadores,
principalmente em países como o Brasil e Potugal.
Indiferente a tudo isso, a burguesia continua
a contar com os favores de seus governos
para seguir acumulando riquezas pela exploração
do trabalho de todos nós.
Como se isso não bastasse, o capitalismo
vem destruindo o ambiente, provocando desastres ecológicos
e o aquecimento global, colocando em risco
a própria sobrevivência da espécie humana .
As guerras imperialistas em nome do lucro
e da ganância e as inúmeras bases militares norte-americanas
em todo o planeta promovem a cultura da violência,
sustentam a indústria armamentista
e assassinam milhões de pessoas.
No Oriente Médio, no resto da Ásia e na América Latina,
as intervenções imperialistas dos EUA levaram e continuam
a levar a inúmeras guerras de ocupação visando
a pilhagem das riquezas, a golpes de Estado, ditaduras
militares e guerras civis a serviço dos interesses
perversos de suas grandes empresas.
Nesse contexto, o governo Bush ainda recebe a colaboração do
governo Lula, que insiste em manter as tropas brasileiras
no Haiti, arriscando a vida de soldados
numa clara demonstração de subserviência aos EUA
e de completo desprezo pela soberania do povo haitiano.
Essa realidade só pode ser modificada pela organização
e luta consciente dos trabalhadores de todo o mundo
para construir uma sociedade em que a riqueza
produzida por nosso trabalho possa estar
a serviço da maioria real da população, os trabalhadores,
os jovens e o povo pobre ?
Uma sociedade socialista.
O 1º de Maio simboliza a luta dos trabalhadores,
que nesse dia saem às ruas em todo o mundo
para manifestar-se contra a violência,
a exploração e a opressão capitalistas.
No Brasil, o governo do PT e seus aliados traíram
a classe trabalhadora para seguir o mesmo caminho
dos governos anteriores: com as mais altas taxas de
juros do mundo, governam para nutrir os privilégios
dos banqueiros, especuladores, latifundiários,
empresários e políticos corruptos;
governam para fazer as reformas neoliberais
que retiram direitos históricos dos trabalhadores
(Reforma da Previdência, Reforma Sindical e Trabalhista,
entre outras);governam para promover o arrocho salarial
e sucatear os serviços públicos;
governam para seguir pagando a dívida fraudulenta aos ricos,
que a nesta altura já abocanham metade do orçamento público
e impedem que o povo brasileiro possa
se beneficiar dos impostos que pagam.
Hoje como ontem, a luta continua sempre...
até à vitória final.
Viva o 1º de Maio em liberdade...sempre
(30/04/2007)

Foto de Lou Poulit

Poulit em Versos

Quando eu era adolescente, meu pai incentivava os filhos a estudarem, para as provas finas, usando uma estratégia muito sedutora: Me diga o que quer ganhar no fim do ano, se for aprovado em lhe dou. Era um tal de estudar como nunca antes. Em certa ocasião meu irmão Aristeu, tratado por Teco, um ano mais novo que eu e hoje arquiteto, pediu um violão, de verdade, e se comprometeu a estudar para passar de ano. O Velho achou que ele poderia ter escolhido uma coisa mais apropriada a um garoto de 12 anos, mas não deixaria de cumprir sua parte no trato. Pois bem, o Teco passou de ano fácil.

Numa noite, chegando das minhas amadas peladas em rua de paralelepípedos, ou das caronas, pendurado nos estribos dos bondes, até hoje tradicionais do bairro Santa Teresa, morro contíguo ao centro do Rio de Janeiro, entrei em casa todo suado e sujo. Eu amava, mas minha mãe detestava isso: Direto pro banho, menino! Não encosta em nada! Como eu adorava esportes. Sentir o corpo suado, o corpo-a-corpo às vezes perigoso das peladas. Gostava de sentir o limite dos músculos, de ser íntimo da dor física controlada. Jogávamos mesmo à noite, a luz tênue dos postes distantes, ainda do tipo incandescente, refletindo nas pedras do calçamento. Que saudade da minha meninice... Bem, então voltando ao violão, entrei em casa e dei de frente com ele em cima da cama do meu irmão.

Fiquei fascinado. Era lindo e novinho em folha, brilhava demais. De boa marca e corpo grande, era até algo desproporcional para meu irmão. O velho não fizera por menos, mas era seu jeito. Era calado, emburrado em casa, gastava dinheiro nas farras, porém nunca foi sovina com os filhos. Não resisti à tentação e peguei o violão para experimentar. O som era bem mais alto do que o dos violões que conhecia, e chamou a atenção do Teco, que logo apareceu. Reconhecendo-me suado, devolvi o instrumento ao seu dono. Afinal de contas, eu também havia passado de ano.

Começaram as aulas de acompanhamento, os primeiros acordes, mas também logo vieram as primeiras bolhas na ponta dos dedos. Meu irmão não superou essa fase e em alguns poucos meses, o violão já havia ganho um lugar escondidinho para ficar, entre o guarda-roupas e a parede, no canto quarto. Ficou ali por vários meses. Um dia, vendo-o ali abandonado, tornei a pegá-lo e me assustei quando ouvi algo cair no chão. Despencado sobre os tacos de madeira clara, estava um livreto que me apressei em pegar do chão. Era um Método Prático Para Violão e Guitarra. Folheando-o compreendi que eram cifras para acompanhamento. Foi um momento mágico. Não pude naquele momento imaginar, que era apenas um pequeno instante, o despertar de um amor que me acompanharia, uma emoção que se repetiria pelo resto da vida.

Lendo o método, exercitando e, principalmente, observando alguns colegas que já sabiam tocar mais que eu, em pouco tempo já sabia o básico de acompanhamento e já me arriscava em solos iniciais. Gostava tanto que suportei as bolhas. Como bom aqüariano, não me contentava em tocar e cantar as músicas da moda. Com pouquíssimo tempo de aprendizado, já fazia minhas primeiras composições, ainda muito simples e com letras ingênuas. Mas era nisso que queria chegar desde o início desse texto: o violão me levou a começar a compor letras. Na escola, minhas notas em Português (na época se dizia Linguagem) eram sempre as mais baixas, detestava. Que ironia, hoje amo escrever.

Embora adolescente, muito novo e sem experiência de vida, quando escrevia letras para as minhas músicas (compunha ambas ao mesmo tempo) tinha a sensação plena de ter domínio sobre o que escrevia. E vivenciava aquelas emoções de verdade, sem tê-las jamais experimentado. Os adultos da família não entendiam bem. Mas nunca me senti inseguro. Era como se eu já soubesse fazer aquilo há muito tempo. Vejam como, com cerca de catorze anos ainda, eu me via “grande”, até pretensioso, nessa letra que pertence à minha primeira composição:

“Vida, vida minha
Não te perdoarei jamais
Por ter levado o molequinho...
Isso não se faz”.

Ora, eu me esqueci de que ainda não era mais que um moleque! Embora já andasse com mania de ralador, não tinha ainda tramas de amor para contar. Mas vejam o tipo de sentimento implícito nessa outra letra, da mesma época ou pouco mais:

“Vou partir
Pra bem longe
Vou-me embora
Deixo aqui meu coração
Minha casa, meu portão.

Ah, se um dia
Eu pudesse voltar
Eu iria ver de novo
Minha terra, meu lugar
E os meus tempos de criança
Poderia recordar”.

Alguns anos depois, pela primeira vez na vida senti a receptividade de pessoas que não eram familiares. Me inscrevi, por exigência de um grupo de amigos, num festival escolar de música. Escolhemos juntos quatro músicas minhas. Aquela que mais gostávamos foi apresentada pelo grupo todo, mas estávamos tremendo demais para tocar e cantar no palco improvisado. Os jurados não ouviram nada e “Santa Terra” foi desclassificada. Vendo minha tristeza, uma jurada, professora de inglês, veio me explicar o critério utilizado diante da dificuldade de julgar. E nesse dia aprendi a amar e odiar os critérios.

Porém, como reaprenderia em muitas outras ocasiões futuras, a tristeza dá sentido à alegria, assim como as sombras à luz. Com as três músicas restantes, que apresentei sozinho, voz e violão, consegui o segundo (Vou Partir), o terceiro e o quinto lugares do festival. Não obtive o primeiro lugar, mas os prêmios foram pagos em dinheiro e voltei pra casa rico, considerando a situação financeira da época. Mais rico do que o vencedor, que tinha uma música belíssima.

Os anos vieram e a vida mudou muitas vezes. Os campeonatos estaduais de vôlei, o trabalho, a faculdade, o casamento e o descasamento, a vida é uma sucessão de sonhos e pesadelos. Mas também uma grande escola e isso se reflete no produto do artista. A poesia seguinte na verdade é letra de uma música, composta no anos noventa. Sempre fui um apaixonado pelas manhãs. Em uma prosa cheguei a afirmar que elas também foram feitas à imagem e semelhança do criador. Tendo que recomeçar minha vida, tornei-me um amante ainda mais apaixonado pelas manhãs, a ponto de amalgamar as minhas amadas e as “Nossas Manhãs”:

“Porque são as manhãs
tão humildes manhãs
Saram o que as noites cortam
Lavam, abortam estrelas vãs
Vem, que me desperta
Essa rosa madura
Sob a renda flerta
Captura o meu instinto, vem
Me joga no orvalho do jardim.

Vem de mim por ruas dormidas
Que dores banidas
Não despertarão tão cedo
E ninguém contará a ninguém
Que ainda tenho medo
Porque são as manhãs
Tão humildes manhãs.

Porque são as manhãs
Tão lúcidas manhãs
No estreito vão da janela
Um corpo que foi meu se esfarela
Num rastro distante
Guardo os pássaros no peito claro
Ardo e perto me declaro amante
Vestindo as chamas
Que restam das velas
Dançando com elas beijo
Beijo e protejo o seu despertar.

São nossas primícias, nossas milícias
Cavalgadas e reconquistas
Quando o sol entrar pelas janelas
Jamais sairá nas revistas
Mas são nossas manhãs
As mais belas manhãs
As mais belas manhãs”.

Não considero que esse texto tenha esgotado o assunto. Gostei da idéia de mostrar poemas e letras de músicas como pedaços pedaçudos de uma sopa auto-biográfica. Creio que aqueles que tenham gostado poderão esperar mais.

Foto de Junior A.

Houve

Há-de ouvir o grito,
Dos desapegados
Talhados, sobre as faces
Enegrecidas, da saudade
Há-de ouvir o grito,
Dos desafortunados
Daqueles que pelas ruas vagam
Num eterno, brando momento
Que parece dor, no silêncio
Gritos d’alma que ressoa
Da goela, sem calma
Ouvi-se de longe
Os passos, do grito
Avulto...
Na estuga, que não cessa
Há-de se ouvir, o grito
E lamentar,
Pelos desapegados
Daqueles,
Que se faz prazer,
Dignar-se,
Não deplorar ...

Foto de Minnie Sevla

Vingança

Vingança

Existe uma dor que grita dentro de mim
É essa sua ausência sem fim
Existe uma dor que está me tirando o sono
É essa sua indiferença me machucando
Tenho vontade chorar, gritar, fugir,
Quem sabe assim você me ouve e volta pra mim
Não adianta me pedir
O que eu não posso cumprir
Pois esquecer você assim
É impossível pra mim
Estou como folha a vagar
Pelas ruas vazias, tristes, antigas
Meu coração a palpitar, está ferido, morrendo
E só você não vê que estou sofrendo
Por causa do seu orgulho me castigando
Por algo que eu nem sei o que é e que está me magoando
Talvez uma palavra dita sem pensar
Ou até mesmo meu amor a te incomodar
Não posso imaginar o que aconteceu
O porquê me esqueceu...
Para navegar n’outros caminhos
Conhecer outras mulheres
Sonhar outros sonhos
Depois sumir
E deixar na saudade quem contigo se iludir
Penso até que foi maldade, foi vingança
De um tempo de criança
Ou de quando adolescente
Que perdeu quem sabe um ente
E travou no coração
Esse tipo de emoção
Arrancou o sentimento
E plantou o sofrimento
E insiste em me dizer
Que é pra eu te esquecer

Minnie Sevla

Foto de Kassyanna

Minha culpa!

Sou extremamente grata a você por tudo que me ensinou...
Por todas as vezes que eu estava triste, e você me alegrou...
Por todas as vezes que a vida me derrubou, e você me ajudou a levantar...
Você sempre me fazia acreditar, que o mundo era bem melhor do que eu pensava...
E quando todos estavam contra mim, você sempre estava do meu lado, não me deixando desanimar e nem desistir dos meus objetivos...
Eu sempre dizia que você, era a luz no meu mundinho de escuridão...
Que você era o meu anjo da guarda, sempre me protegendo...
Eu me sentia protegida ao seu lado...
Eu vivia um sonho ao seu lado...
Mas, um dia o sonho se transformou em pesadelo...
Fui covarde, e acabei desistindo de você, você sempre defendeu o nosso amor contra tudo e contra todos...
E eu fui fraca e acabei fugindo de todos e principalmente de você...
Fui embora e deixei você e o amor que eu dizia sentir por você...
Sofri muito sem a sua presença, as noites eu saia pelas as ruas a sua procura...
Eu sabia que não ia encontrá-la, mas lá no fundo eu gostava de me enganar, pensando que eu pudesse encontrá-la em alguma esquina qualquer...
Os anos se passarão e eu fui caindo na cruel realidade, que você estava muito longe de mim, e que a única culpada disso era eu e a minha covardia...
A cada dia eu tentava matar aos pouco que eu sentia por você...
Acho que o tempo foi o meu melhor aliado...
Hoje já consigo falar de você, sem doer o coração, mas jamais me esquecerei de você...
E sempre serei grata a você por tudo de bom que você me ensinou...

Foto de Lou Poulit

O Caminho é o Mestre.

Precisei viver muito, cair e levantar muitas vezes, para legitimar no meu silêncio a simples impressão de que tudo valeu a pena, por ter aprendido algumas coisas. Há tantos anos que nem me lembro mais quando foi, li sobre o conceito cabalístico de amor. Achei que era uma coisa muito bonita, mas impossível de se conseguir. Parecia um paradoxo existencial insolúvel, porque parece pressupor o sacrifício da individualidade própria e sem ela, ainda que consigamos pisar no horizonte, não poderia haver nisso um mérito nosso, já que não terá sido uma obra nossa. Guardei o conceito com carinho numa das últimas gavetas da alma.

Os anos se sucederam e através deles uma aparentemente infindável sucessão de logros e malogros, que deixavam uma coisa cada vez mais clara e insofismável, na minha alma obstinada e penitente: as melhores coisas que havia conquistado não eram aquelas pelas quais me dispusera a tantos sacrifícios, não eram a montanha, mas sim as que em algum momento me pareceram uma pedra suficientemente firme, para enterrar o cravo e continuar a escalada. E isso foi verdadeiro em literalmente tudo. Sabia exatamente o que queria e, quase sempre, soube encontrar meios de prosseguir. Mas não sabia o mais essencial.

Não sabia que nossas ambições são como uma miragem. Ainda que sejam alcançadas, podem durar bem pouco nas nossas mãos. Mesmo porque logo precisaremos desesperadamente de um novo objetivo, uma nova referência para que possamos canalizar nossa energia. Precisaremos fazer isso, ou teremos a impressão de que todo o universo, em seu legítimo direito de prosseguir, está nos atropelando lenta e minuciosamente. Talvez possamos parar para comemorar uma conquista, ou nenhuma conquista, como fazemos mais freqüentemente, e assim exercer nossa auto-estima, e simplesmente não querer mais nada. Porém não poderemos interromper a sucessividade das coisas, ou a transitoriedade de tudo.

Como não podemos assumir nenhum dos extremos do paradoxo, ou seja, não podemos ser Deus nem tão pouco um inútil grão de areia, a solução está necessariamente no meio do caminho entre um e outro. Não é como encontrar uma agulha no palheiro, ou um determinado grão na praia, é muito mais difícil que isso!

Às vezes, por minha própria experiência, tenho a impressão de que posso propor uma solução: desconcentrar o foco. No entanto, preciso esclarecer uma coisa da maior importância: Quando digo desconcentrar o foco não estou defendo nenhuma abstenção, negligência ou leviandade generalizada, como pode perecer. Mas sim, muito ao contrário, redistribuir o feixe, contemplando mais as pequenas coisas do caminho, que estão sempre tão perto da gente; e nem tanto no horizonte, em cuja distância o foco talvez se perca irremediavelmente.

Isso não é nada fácil, concordo, mas deve ser uma espécie de aliança profícua. Sim, uma aliança porque assim daremos ao universo a oportunidade de participar muito mais proveitosamente das nossas conquistas, de nos oferecer alternativas, enquanto damos a nós mesmos a oportunidade de exercer mais legitimamente o nosso livre-arbítrio. Porém, aqui cabe um alerta: Não se deixe iludir pelo seu conceito vulgar e tão divulgado: O tal livre-arbítrio, instituição criada a partir textos inspirados, não pode ser o direito absurdo de fazermos o que bem entendermos. Crer nisso seria subestimar a inteligência do Grande Legislador, depois de superestimar a nossa. Não é minimamente razoável.

Vejo isso da seguinte maneira: suponhamos que você tenha dito ao seu filhinho amado que parasse a brincadeira para fazer o dever de casa. As crianças nunca têm pressa para aprender. Na verdade, ao fazer seus exercícios, querem mais se livrar da obrigação do que aprender o que os adultos pensam ser necessário. Ora, se você lhe desse dois ou três cascudos mais alguns gritos, certamente ele faria os seus exercícios e alguma coisa sobre a matéria haveria de fixar na mente, além dos cascudos e gritos, claro. Mas tenho a mais cristalina convicção de que você se sentiria um pai/mãe muito melhor, se ele resolvesse fazer o dever e aprender por conta própria! Sem precisar de qualquer penalidade. A evolução dele e a sua satisfação seriam muito mais legítimos e perenes. Pois aí está, para mim, o sentido verdadeiro do livre-arbítrio, dentro dos limites da mente humana. Até onde a criatura e o criador eram uma coisa só, não poderia haver esse mérito. Então, porque resolvemos criar nossos próprios objetivos e expectativas, e engendrar os meios para isso, passamos a precisar dessa instituição. Porque Deus, que não pode ser um pai menor do que eu ou você, prefere não nos arrastar para casa pelos cabelos. Na verdade não se trata de uma liberdade, mas da oportunidade de escolher bem e com responsabilidade.

Então, juntando tudo, creio ter uma boa proposta. É simples e não tem o rigor hermético imposto pelas instituições dogmáticas, que também tendem a priorizar suas próprias necessidades: focamos o horizonte apenas para que tenhamos uma referência de direção; depois criamos focos nas pequenas coisas que estão em nós, à nossa volta, entre nós e na mesma direção que escolhemos. Sem perceber, estaremos abrindo mão de uma parte do nosso ego cabalístico, aquele que quer satisfazer a si próprio, entretanto, também estaremos sintonizando a energia cósmica, que quer satisfazer a toda criatura, humana ou não, que possa escolher, segundo as preferências de cada uma. Além de satisfazer, segundo a Sua preferência, a todas as demais que não podem escolher por si.

A polarização sexual dessa questão é muito bem representada por um mito antigo: Os deuses do Olimpo estavam prestes a se unhar, por não haver consenso sobre quem teria mais prazer no amor, se o homem ou a mulher (uma questão que, hoje, a ciência responderia facilmente). Então Zeus, tido como grande sedutor mas que, provavelmente, era um péssimo amante, mandou chamar um semi-deus, por sua vez tido como apaziguador. Não podendo recusar a missão que lhe fora confiada, este meditou um pouco e depois afirmou categoricamente (sem a tecnologia atual): Quem tem mais prazer no amor é a mulher... Liderado pela extremada deusa Hera, mui traída esposa de Zeus, o bloco dos feministas já estava começando a sua festa. Mas, olhando os olhares inchados de raiva dos machistas, ele completou: ... Mas o homem é quem o provoca. E assim, enquanto o bloco dos machistas fazia a sua festa, a enfurecida Hera cegou o pobre semi-deus. Na tentativa de ajudar os que queiram compreender melhor a inexplicável sabedoria dos antigos, aqui vão versos definitivos de Vinícius de Moraes, da sua “Brusca Poesia da Mulher Amada”:

“...E de outro não seja, pois é ela
A coluna e o gral, a fé e o símbolo, implícita
Na criação. Por isso, seja ela! A ela o canto e a oferenda
O gozo e o privilégio, a taça erguida e o sangue do poeta
Correndo pelas ruas e iluminando as perplexidades.
Eia, a mulher amada! Seja ela o princípio e o fim de todas as coisas.
Poder geral, completo, absoluto à mulher amada!”

O verdadeiro amor só pode ser isso: O sentimento de querer bem e de satisfazer as pessoas/coisas amadas. E para dar certo, basta que aquele que ama seja uma das pessoas amadas. Ponto passivo: não existe uma matemática humana para o amor, essa coisa de determinar de modo fixo um ponto entre os dois extremos. Tudo bem, mas não estaria exatamente nisso o mérito? Veja, essa exatidão fixa, humanamente lógica, redundaria em mais uma estrutura ideológica capaz de engessar a psiqué e atrair o foco para o ego. Ela não é necessária. Mais importa que se exerça a vida, a alma, que se ame e que se cresça. A alma é o maior objetivo, o amor é o meio mais eficiente, e o caminho, quanto mais escuro mais guarda estrelas: É o mestre!

Foto de Lou Poulit

As Nossas Manhãs

Porque são as manhãs
Tão humildes manhãs
Saram o que as noites cortam
Lavam, abortam estrelas vãs
Vem que me desperta
Essa rosa madura
Sob a renda flerta
Captura o meu instinto, vem
Me joga no orvalho do jardim.

Vem de mim por ruas dormidas
Que dores banidas
Não despertarão tão cedo...
E ninguém contará a ninguém
Que ainda tenho medo...
Porque são as manhãs
Tão humildes manhãs.

Porque são a manhãs
Tão lúcidas manhãs
No estreito vão da janela
Um corpo que foi meu se esfarela
Num rastro distante
Guardo os pássaros no peito claro
Ardo... E perto me declaro amante
Vestindo as chamas
Que restam das velas
Dançando com elas, beijo
Beijo e protejo o seu despertar.

Porque são de carícias
As nossas milícias
Cavalgadas e reconquistas
Quando o sol entrar pela janela
Jamais sairá nas revistas...
Mas são nossas manhãs
As mais belas manhãs.

Foto de HELDER-DUARTE

Natal

É Natal... é Natal...
Mais um afinal...
Todos os anos, ele vem.
Este ano, também, o tem.

Alegramo-nos, cantamos e comemoramos
Este evento,
Sempre no mesmo tempo.
Até, às nossas casas e ruas, luz damos.

É Natal, dizemos nós...
É tempo de paz,
Paz, paz, paz...
Para mim e para vós!

E sabem que mais?!...
Até há paz...
De certo modo, os homens, de fazé-la, foram capaz,
Como durante o ano, houve jamais...

Diz-se, que há tanta , felicidade...
E verdade,
Na tua casa e na minha, muita liberdade...
Fraternidade.

Igualdade...
Amizade.
Fidelidade...
E outras tantas, ---ades.

Mas oh filhos de Noé!!!
Oh! Deus meu Senhor!
Oh! Vós lideres da fé!!!...
Tu da igreja, que és pastor!

Vós: Céu, terra e mar!
Oh eu e todos nós e vós!
Também tu amor e amar!
Pais filhos e avós!

Ouvi todos!
Que Natais são estes?
São os verdadeiros?
Ou ao menos, quase perfeitos?

Para que valores, anunciados tais,
Sejam... Reais?
O que é Natal?
Na verdade afinal?!...

Conclui, que não o há, neste existir.
Nesta imensidão, a que denominamos Ser...
Não há o Natal sentir,
O verdadeiro, que deveria haver.

Céus e terra, estais mal,
Desequilibrados, no geral.
Eis que tudo, clama por ele.
Pois, só ordem, há n´ele

O ele é Natal..
Que é Deus, por sinal.
É verdade...
E unidade...

Nosso evento, para real ser,
Tem que ter:
Sentimento de amar...
.... e dar...

É preciso, nascer. ..
Ou de renascer...
De novo vida ter.
Continuar espiritualmente a crescer...

Não sejamos hipocritas.
Dízendo, que o já temos...
Ou que santos somos.
Pois a Deus fechado, temos as do coração portas.

Tudo é falso...
Só ele é o verdadeiro.
O primeiro...
O Omega e o Alfa.

Só quem o é, é Deus...
O «Eu Sou...»...
O Natal de sonhos teus...
Em quem eu, nem sempre estou.

Só teremos Natais eternamente...
Não como os que ainda temos,
No dia, em que haja vida de Deus,
Em coracões nossos, para fazermos, actos seus!!!

Helder Duarte

Foto de Fernando Poeta

Maldade

Ela rondava a solta pela cidade,
Pelas ruas, pelas casas, pelos bares.
Rosnava e ameaçava ao incauto que se aproximava,
Fétida e pútrida assumia mentes vazias.

Enxergava com olhos de cobiça,
Alimentava almas com o desespero da ira.
Unia-se alegre,
A loucura obsessiva,
Buscava a destruição de muitas vidas.

Maldade, prima irmã da miséria.
De teus atos ainda tenho marcas,
Mas saibas que de longe a conheço...

E em meu peito tenho a noção exata,
Que a inveja e mentira que instiga,
Para conseguir tua vitória,
Que o ódio que destila,
Em gotas de aparência nodosa,
Nunca serão suficientes,
Para derrubar a quem entende,
Que por mais que você tente,
Um coração honrado,
A ti não se rende...

Foto de Nina Marina

Em sua busca...

Meus olhos procuram seu olhar
E a saudade já não me deixa
Quero te ter, te encontrar,
Mas orgulho não deixa...
Procuro-te em meus sonhos,
Nas ruas, nas avenidas,
Dentro de mim,
Nas poucas lembranças que ainda me restam...
A alma aos poucos desfalece,
A vida vai morrendo...
Ainda procuro-te...
Procuro-te no tremeluzir das estrelas,
No luminar da lua, no despontar do sol,
Nos apaixonados sentados na praça...
Mas encontro-te em lágrimas,
Que caem por não te encontrar...
Estou aqui ainda...
Procurando-te, esperando-te...
Sonhando...
Pedindo á Deus para você voltar...
As lágrimas calaram-se
Elas são ultrajes diante dessa dor,
Jamais seriam capazes de expressa-la...
Nem o coração compreende mais,
Ainda te procuro...
Ainda chamo em silêncio o teu nome...

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