Telefone

Foto de Passaro ferido

Meu garoto..

Vem para mim..
Meu menino crescido..
Meu garoto carente..

Venha para meu abraço..
Meu aconchego..
Vem pra mim agora..
mas venha sem demora..

Pode vir sem medo..
Tenho beijos para te dar..
Tenho tempo para te amar..
Não me deixe te esperando..
Meu corpo esta te chamando..
Ardendo de paixão ..
Telefone tirei do gancho..
Desliguei o celular..
Para nada atrapalhar...
Nosso momento de amar.
.Meu garoto de jeito maroto.
Olhar atrevido..
Me ame agora..
Nesse momento..
Meu corpo agonia ..
Seus toques constates..
Me faça ser tua..
Matando sua fome..
Meu menino crescido..
Disfarçado de homem...
Faça comigo,
Aquilo que quiser..
Sou sua menina..]
Disfarçada de mulher...

Marcia

Foto de Allan Dayvidson

ROMANCE

"Escrevo sobre coisas que estão direta ou indiretamente ligadas a mim. Diferente de outros poemas, este não está diretamente ligado a uma experiência específica em minha vida. Ele está longe de ser o melhor que já escrevi, mas tem seu significado para mim. É uma pequena história onde reveso entre os personagens, suas aflições e seus sentimentos. Cada um deles me remete a uma ou mais experiências da minha vida. É só uma história... Mas poderia ser a história de qualquer um..."

ROMANCE
-Allan Dayvidson-

Ela não era só uma garota naquela cidade,
ele não era só um cara naquele trem.
Quando olhos deles se cruzaram não enxergaram mais ninguém.
“Talvez seja cedo, mas quando poderia vê-la de novo?”
“Não sei...
talvez se você se atrevesse a pedir meu telefone, seu bobo!”
E ele procurou desesperadamente por uma caneta
antes que perdesse a chance para aquele romance,

E eles desceram na estação.
Ela pegou um táxi de volta a sua vida.
Ele pegou o ônibus errado e foi parar num lugar sem saída...
“Ah! Os olhos dela...”

Depois de um dia de trabalho,
ela achou que não pensaria mais naquilo,
mas pensou,
e pensou que talvez devesse ter um fim de noite mais tranqüilo
para colocar a cabeça no lugar e voltar a pensar,
mas ela só pensou...
“Se estivesse mesmo interessado já teria ligado,
mas ele é um dos poucos
para quem não dei meu número de telefone errado...
Tomara que ligue logo!”

“Oi, eu estou ligando porque, desde aquele dia,
não parei de pensar se a gente poderia sair qualquer dia.
Isso se você não estiver pensando em fazer outra coisa
mais divertida com alguém mais legal”

E ela gaguejou:
“Não...
não estou pensando em nada mais.
E penso que sair seria bem legal”

Você pode voar alto, ir e vir na vida,
pode passar a eternidade com medo da próxima ferida,
mas aqueles dois radiantes conversando naquele bar
não têm muitas escolhas além de se apaixonar.

Ela disse: “Por quem?”
Ele respondeu: “Você.”
E ela disse: “Mesmo que um dia acabe?”
E ele respondeu: “Você!”

E você pode voar alto, ir e vir na vida,
pode passar a eternidade com medo da próxima ferida,
mas olhando aqueles dois, consegue perceber
que não há lugar ali para você.

Não há lugar para você...

Ela diz: “Muito prazer!
Ele sempre fala muito sobre você!”

E você diz: “Oi...”

(Fim...)

Foto de Marilene Anacleto

Saí da Rotina

Doença na família
Há anos entristece
E desanima

O pai partiu
Cercado de anjos
Com a triste doença
O cunhado ainda luta
Mas todos sabemos
Que morre lentamente

Vez ou outra
O telefone
Uma mala
Uma viagem
Saio da rotina
É a crise
Internação
Em Santa Catarina

Noites de hospital
Horário de visitas
Tentamos animar-nos
Depois passa
Só fica o cansaço

Amados amigos,
Grata por permitirem
Este meu desabafo.
Que Deus os ilumine
E permita que vos chegue
Um buquê perfumado
Com flores e um abraço.

Foto de Marilene Anacleto

Será Que Ele Volta?

Quando entro em minha sala
É como se descesse um véu
Ainda bem que eu tenho
A minha janela do céu.

Quietinha no meu canto
A ninguém preciso ouvir.
O que mais desejo agora
É dali não mais sair.

Mas, toca o telefone.
Eu o atendo cordialmente
Embora esteja, no momento,
Só com o corpo presente.

Quando o amado se vai,
Eu, da alma, sou ausente
Nem um fato interessante
Por estes dias me prende.

Volto a olhar a janela.
Prende-me o azul-verde do morro
Alguém chega à minha porta
E eu quero pedir socorro.

Quando será que ele volta
Para tirar-me esse véu?
Quando sentirei de novo
Minha sala como um céu?

Foto de Danyy Amor Paixao

Voce...

Hoje queria falar de um antigo amor que tenho em meu coraçao. Pra quem criei esse blog. Nos falamos muito ,dividimos tudo, mas nao nos vimos, esperamos o melhor momento e ele nao chegou. Começamos a conversar em 2009, nos falavamos todos os dia, eramos felizes, muitas pessoas nos criticavao pela distancia, mas nao nos enportavamos brigavamos mas estavamos sempre juntos , mesmo que distantes. Fui mas feliz do que em um relacionamento normal, desses que se conhece se toca ou se beijam etc... E eu sempre tive um relacionamento, e entao queriamos nos conhecer e ficar juntos, e nao so nos conhecer era forte era lindo. Ele me dizia que nao podia apenas me conhecer, que tinhamos que ficar juntos de uma vez, era loucura para o mundo real, mas nao para quem amava e ama com eu. Em 2010 as coisas foram ficando mais dificeis , a distancia talvez pesace, mas era tudo nao sei. E entao ate que pedi pra alguem ligar pra mim e fingir que queria conhecer, e ele se interessou e isso me deixou magoada de+. Mas ele soube o que fiz e brigamos feio, e o ofendi muito mas ele nao disse nada que me ofendesse, mas me pediu p eu esquece-lo. Com toda dor em meu coraçao, tentei a como eu tentei.Mas mau sabia que vc estava fazendo o msm comigo. Uma pessoa tc comigo e insistia muito pra me conhecer, e me mandava mensagens lindissimas, e sempre me dizia que queria me conhecer , e em um belo dia, resolvi usar essas mensagens pra disabafar minhs tristezas, e mandei algumas para meu grande amor, e como ele nao havia dito nada continuei mandando, todos os dias, assim dizia pra ele como era enorme minha saudade, e minha tristeza por nao telo junto a mim mesmo que sempre distante. Ate que em uma noite um numero restrito me ligou, e era ele, entao eu disse estou tao feliz por me ligar e ele tirou sarro por eu esta tc com o amigo dele, ele estava furioso comigo, e no final me disse nao me mande mais mensagens pois minha namoradinha viu e nao gostou.Na quele momento procurei o chao e nao achei, me fiz de forte o bastante apenas pra dizer, espero que vc seja muito felis, por que eu te amo, ele disse sei. e entao simplesmente , eu deixei minha vida p la, posso dizer que por dois meses eu vejetei, mas um belo dia, alguem me liga ele, e entao me perguntou como eu estava me deu uma vontade enorme de dizer estou morta por dentro, mas nao disse e entao conversamos um pouco, perguntei de seu namoro ele me disse que estava bem,eu me senti pior ainda, eu o desejei apenas pra mim eu o amo muito. e assim nos falavamos as vezes e em nossos momento sozinhos juravamos amor , paixao, mas e como se nao ouvesse mais tempo, mesmo aassim tentei ele tbm, e uma coisa muito engraçada e talvez pra uns muito bonito, mesmo tendo nossos realionamento, todas passagens de ano ficavamos juntos no telefone e juravamos amor eterno. Mas numca mais conseguimos recuperar nossas conversas e preoculpaçoes um com o outro como eramos, mas mesmo assim tentamos, ate que essa semana em umas de nossas conversas, ele me pediu pra que eu voltasse a te ligar todos os dias, pra que juntos ficassemos e entao eu comecei mas ele nem me atendia,tentei um, doi, tres no terceiro dia mandei uma mensagen pedindo por Deus que nao me ligace mais, que me esquecesse em seus momentos de solidao, e que eu faria o mesmo e hj faz apenas dois dias, estou muito mau, mas sei que vai passar pois essa e a lei da vida,mas digo do fundo do meu coraçao que jamais sentirei nada parecido, que numca mais vou te esquecer, mesmo que eu viva mais 50,60,70anos jamais momentos os quais so vc me fez sentir, um dia acordei e senti que vc precisava de mim e entao te liguei e realmente vc estava esperando por isso, as vezes e como se sentisse seu coraçao me chamando, muitos dizem que sou loka, ja que numca te vi nem te toquei, e verdade mas o respeito e carinho com o qual demos um ao outro nao foi preciso te conher , Apezar de tudo , so quero do fundo do meu coraçao que vc seja a pessoa mais felis do mundo pois so assim serei tbm, eu sei que hj nao estou muito bem mas vou fica pra poder te ver um dia felis. Eu te disse varias vezes que so de ver suas ligaçoes mesmo que nao atendendo, eu tinha o dia mais felis do mundo e vc sorriu, mas e verdade era so olhar pro telefone e ver que vc havia pensado em mim nossa me sentia a mulher mais felis do mundo. mas nao posso fazer de vc minha felicidade, na logica esta errado, mas no momento estou triste sem vc. apaser de nao termos ficados em carne mas te senti todas as vezes, te amo. sempre. Felicidadse meu amor sempre beijos de quem vai te amar sempre!!

Foto de JrBelo

AMAR SEM ENTENDER de JrBelo

AMAR SEM ENTENDER

Eu amo uma mulher que não liga pra mim,
Que desliga o telefone na minha cara
E que me deixa falando sozinho quando insisto.

Eu amo uma mulher que me despreza na frente dos outros,
Que quando me vê baixa a cabeça
E pede pelos amigos que eu a esqueça de uma vez.

Eu amo uma mulher que não sabe o que quer,
Que às vezes está feliz conversando com as amigas
E outras vezes se sente triste quando fica sozinha.

Eu amo uma mulher que já tem alguém do seu lado,
Que lhe faz tudo e parece estar bem apaixonado,
Que lhe da presentes e a leva ao cinema todos os sábados.

Mas enfim, se tem uma coisa que aprendemos nos beijos que damos
É que não conseguimos escolher de quem gostar,
A gente simplesmente gosta.
E é por isso que geralmente damos amor sem receber,
Talvez estejamos aqui pra amar sem entender...
Pois a mulher que amo não me entende.

Foto de Edson Cumbane

MILAGRE DO AMOR

A beira da morte eu surgi:
Ela olhou-me fixamente,
Um sorriso de mim emergi:
Porém foi melancolicamente.
Ela sorriu outrossim para mim:
E questionou: o que aconteceu?
E eu disse: Estava eu na rua
Pensando em ti loucamente
Um florista por mim passou
Não hesitei e as flores comprei...
E dentro de mim imaginei
Como receberias estas flores
Que com amor comprei
Esqueci dores e disabores
Naquele preciso momento...
Repentinamente um estrondo:
Era um tiro...
Um bala perdida
Que me atingiu...
Por isso, amor:
Eu sangro agora,
A bala me atingiu
No ventre... é só sangue!
Mas se eu morrer:
Morro feliz!
Porque nunca havia eu:
Te oferecido um ramo de rosas!
E eis-me aqui com as rosas...
Aceite meu amor:
É de coração!
E depois disso:
Perdi a voz!
Pois, as dores eram fortes!
Ela não disse nada com palavras,
Pois, o meu amor, ela, é muda!
Apenas fez-me um gesto dizendo:
Que me ama! E desenhou um coração
No ar com os dedos... ambulância...
Não pôde chamar ao telefone
Pois, é muda!
Eu sangrando
Ela sorriu chorando
Eu desfalecendo
Quase que morrendo
Ela beijou-me!
Eu apaguei-me, desmaiado!
E acordei num leito do Hospital
Claro, ela ao meu lado:
Sorrindo para mim novamente,
E com um gesto disse:
Eu te amo! E disse:
Não te podia deixar morrer:
Meu amor!
Não sei como ela fez
Não sei o que ela fez
Só sei que:
Um beijo dela me fez
Adormecer...
E o amor dela:
Me fez voltar a viver!
Eu amo essa mulher!

Foto de Barzissima

Atualizações

Curitiba, 26 de julho de 2011.

Mais de 1 ano sem atualizações... Bom antes de tudo meu ultimo romance (ou melhor o penultimo), o ultimo anotado aqui com o cara do interior... deu pra tras... em maio de 2010 ele resolveu vir morar perto de mim, não junto, mas bem perto de mim... O namoro no inicio estava legal, mas não demorou nada para quebrar o encanto... ele muito possessivo, chato, grudento... e pior... meio tarado... essas e outras fizeram com que eu desanimasse quanto a ele... em setembro de 2010 reencontrei pelo orkut um namoradinho de adolescencia, que foi bem especial para mim... pronto, foi o motivo suficiente para eu terminar o namoro e no mesmo mes iniciar outro romance agora com essa pessoa... Em setembro mesmo eu dei uma de doida e fui ate a casa dele, em FB... fazia bem uns 10 anos que não o via, passei um fds la com ele e depois disso, nos envolvemos muito rapidamente... ele querido demais, ficamos varias vezes falando no celular noite a dentro, ate 4, 5 da manha, por varios dias seguidos... no mes seguinte foi a vez dele vir me ver e dai sim assumimos nosso namoro pra minha familia... em novembro, no feriado de finados eu fui pra casa dele de novo, dessa vez com meus filhos, e com a irma dele tambem, que é afilhada da minha mãe... nesse lado foi legal, porque a minha mãe é comadre da mae dele, nos damos todos muito bem... a irma dele, a Eli, é minha grande amiga, foi minha maninha no passado, na realidade devemos nosso encontro a ela, pois meu maior sonho sempre foi reve-la, o que realizei em outubro deste ano...
Bom enfim, namoramos e em janeiro deste ano ele veio morar comigo na minha casa... morando junto é que passamos a conhecer a pessoa né... logo percebi nele alguns disturbios, tipo assim, muito apego a coisas, muito MEU, MINHA.. e eu que não sou assim, estranhei muito... fora o ciumes do meu ex marido... muito... ele fez que fez minha cabeça e em abril de 2011 comprei uma casa para moramos juntos... na realidade sempre quis comprar uma coisa minha, mas fazia 1 ano so que tinha reformado a casa atras da minha mãe, estava tranquila...não precisava ter feito isso... bom, mas minha casa é linda, adoro ela, mas me sinto meio sozinha agora né...
Então, de abril ate hoje, julho, ele ja saiu de casa uma vez, e agora esses dias, saiu definitivamente...
O motivo foi esse genio dele, dificilimo, pessoa tipo ruim, briguenta, que paga pra brigar por tudo... e mentiras, e vicio... ele fumava desde novo e tinha me prometido parar, pois eu tenho horror a cigarro... ok... vivemos esse tempo com ele fingindo que me enganava e eu fingindo que acreditava nele... obvio que não durou... tem coisas que eu não aceito e ponto. Mentir discaradamente... isso é coisa de gente 2 caras.., e fora que ele tem algum problema na parte de estatus social... a todo tempo, em brigas, me dizia que eu riquinha, cheia de querer... não é bem assim, a coisa é que dediquei aos estudos, ao meu trabalho, onde ja vai fazer 10 anos que estou nele... e isso me rendeu boas coisas... me mantenho de forma independente, tenho meu carro, agora minha casa... as coisas estão meio apertadas, mas logo se assentam... mas devo tudo ao meu esforço e as pessoas que me apoiaram tambem, claro...

Bom, mas o motivo principal de eu reabrir esse blog... adivinhem???? Meu verdadeiro amor, aquele de 1999, de 12 anos atras.... eu ja havia conversado com ele pelo celular este ano, ele resolveu se mexer rsrs e me procurou, mas não foi nada adiante... até hoje nunca mais o vi de perto...
Porem, ontem, 26 de julho de 2011 eu liguei pra cunhada dele, minha amiga da faculdade, deixei meu telefone, e ela rapida, ja passou a ele que me ligou ontem mesmo a noite... conversamos quase 2 horas no telefone...
Ele é muito querido, mudou bastante pelo que vi, esta separado FINALMENTE, esta morando com a mãe dele bem pertinho aqui de mim... ele me fez muito bem, me deixou feliz, me fez esquecer o outro, que embora não senta amor por ele, a gente sente falta da pessoa, devido ao costume né...
Gente e milagres acontecem::: ele me disse que parou de fumar ja faz 2 anos (isso me aliviou muito)... que vai em igrejas agora... (que mudança!!!)... ele me trata como se eu fosse um tesouro.... me disse que vamos nos ver sabado agora.. gente quantas vezes ja escrevi aqui que ia ve-lo e no fim nada deu certo?? vou esperar dessa vez, antes de criar muitas expectativas....
a analise mais critica que eu posso fazer sobre isso, com esse turbilhão na minha vida, em menos de 5 dias, é que se eu não resolver essa situação com ele eu nunca vou ser feliz com ninguem, porque embora eu tente me enganar, tente pensar que esse amor morreu, eu sei que o verdadeiro amor nunca morre, ele pode estar adormecido, mas morrer jamais... e se eu analisar friamente, eu nunca amei mesmo outra pessoa, de verdade... devido a facilidade que tive de meter o pé em tudo, sem dó...
agora ele... os sentimentos em mim, se confundem agora... pois antes, meu amor por ele era muito puro e inocente... Hoje, não tenho mais nada de pura e inocente... agora existem outros lados da moeda, em que temos que nos dar bem tambem,... senão não adiante... quimica sabe... isso so vou saber ao ve-lo pessoalmente... affe...
Bom, logo depois do encontro eu aviso porque esse encontro deve ser comemorado... pois ele é esperado ha pelo menos 10 anos....

Foto de von buchman

Eterna saudades de você minha gostosa paixão...

Hoje lembrei-me de você...
Senti uma saudade que ardeu
e doeu muito no meu peito...
Aquela saudade que me tirou do sério...

Ah, que saudades tenho do teu olhar,
que vai lá dentro do meu ser
levando-me a te fantasiar...

Fascina-me fitar o teu olhar...
Sentir o teu cheiro de felina
que me leva a sonhar...
E por que não dizer
saudades da tua voz sedosa
tão gostosa como o amar...

Das nossas conversas intermináveis na internet,
ou dos toques do telefone para eu retornar...
Do sussurrar no meu ouvido
para ninguém escutar....

E quando tu me ligas
e ficas calada no telefone,
sei que estás a me desejar
e ficas fantasiando meu corpo
no teu pensar...

Tenho saudades até de um beijo
que nunca te dei...
Saudades das tuas mensagens,
mui bem escritas,
onde vejo teu amor e teu desejar...

Queria muito poder roubar-te um beijo
e me deliciar do gosto de mel
dos teus lábios molhados cheios de paixão...

Ah ! Que saudades de teu olhar,
que vai lá dentro do meu ser
e levando-me loucamente a te desejar...

Mui linda e bela mulher
que tanto amo,
sonho,
e vivo a desejar...

Loira fatal ...
De mui lindos olhos amendoados,
com aquele seu olhar safado
que sempre me convida a te amar...

Tenho saudades de ti
minha eterna paixão...
Deste teu mui sincero e puro sorriso
Que leva-me a delirar..

Meu eterno amor...
Minha vida ....
Meu mais doce,
gostoso e atrevido desejar...
Por isto nunca vou deixar de te amar....

TE AMO... TE AMO.... TE AMO... TE AMO...

TENHAS MEU MAIS PURO CARINHO
MEU ETERNO ADMIRAR...
E O MEU MAIS OUSADO DESEJAR...
BJS MUI DELICADOS
E MIMOS DE ETERNA PAIXÃO,
NESTE LINDO E PURO CORAÇÃO...

http//www.www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=23468
http//www.poemas-de-amor.net/blogues/von_buchman
http//www.youtube.com/results?search_type=&search_query=von+buchman&aq=f
http//www.youtube.com/results?search_type=&search_query=video+poemas+dos+tes+delirios&aq=f
http://brasilpoesias.ning.com/profile/Vonbuchman
VON BUCHMAN...

von buchman

Foto de Ozeias

Indesejada

Vou começar por onde a minha história deveria ter terminado. Se a nossa vida realmente é escrita por algum deus, este não quis me dar o ponto final naquele momento. Ainda faltavam papéis, linhas tortas e muita tinta no tinteiro.
Sempre achei que a história de ver a vida diante de seus olhos, antes de sua tragédia, fosse coisa de filme. Mas naquele momento, enquanto aquela carreta se aproximava desgovernada e impiedosamente do meu veículo, pude me ver ainda menino de cócoras olhando para o meu cachorrinho de estimação, as pipas perdidas que caiam mansas e tortuosas pelo céu enquanto eu e meus amigos corríamos e pulávamos os muros dos quintais para pegá-las; depois vi o sorriso de Isabel, que me olhava timidamente no pátio da escola, depois o beijo, o arroz caindo sobre nós sob aplausos e gargalhadas, o seu corpo despido...
– Seu marido teve muita sorte. É a primeira vez que direi isso, mas foi justamente a imprudência que salvou a vida dele. Pouco depois da batida, o carro pegou fogo. Se ele tivesse usado o cinto de segurança, não teria sido arremessado para fora do veículo e... Bem, ele teve muita sorte. Comparado ao que poderia ter acontecido, seu marido está bem. Um braço quebrado, três dentes perdidos, alguns hematomas e arranhões.
– Quanto tempo ele ficará internado?- Ouvi Isabel perguntar. Sua voz soava preocupada, trêmula.
– Três ou quatro dias. Precisamos realizar alguns exames para nos certificarmos de que seu marido realmente não sofreu nada grave. Os pré-exames apontaram nada, mas preciso ter a mais absoluta certeza, pois algumas lesões apenas aparecem horas ou até mesmo dias depois do acidente. Esqueci de mencionar a forte pancada que seu marido sofreu na região da cabeça. Oito pontos.
Senti a mão de Isabel apertando a minha.
– E como está o outro motorista?
– Infelizmente, morto. Mas a causa da morte não foi este acidente, foi outro. A família já foi notificada do ocorrido.
– A morte veio buscar um e aproveitou a viagem para carregar o meu marido com ela.
O médico riu, embora a voz de Isabel tivesse soado solene. Aquele devia ser daqueles que encaravam o fim da vida como um simples fim de ciclo vital, deixando de lado o ar poético da criatura encapuzada e sua enorme e inseparável foice. Ainda assim, tomei simpatia por ele. Diferente dos outros, tinha uma voz amigável, como se minha esposa fosse uma conhecida, deixando de lado aquele ar áspero e autoritário.
– Então neste momento ela está irada. Bom, a senhora...
– Você, por favor.
– Você- Disse enfático, como se a ênfase estivesse se desculpando por ele- me dê licença, pois agora preciso olhar outros pacientes. Depois volto, e se precisar de alguma coisa é só usar o telefone.
- Antes, posso te fazer uma pergunta? É que o senhor...
– Você.
Isabel riu, desculpando-se.
– Você acredita em Deus?
Houve uma pausa. Senti-me tentado a abrir os olhos, mas decidi permanecer na falsa inconsciência. Pude ouvir as folhas das árvores lá fora se agitarem seguido de uma tímida trovoada.
– Já vi coisas que as pessoas consideram como um milagre creditado a Deus ou a algum santo- Disse o médico, agora sério- mas também vi coisas horríveis, difíceis até para mim que tenho experiência. Isso me faz perguntar onde está Deus, seu amor, sua clemência. Se ele ama todos da mesma maneira, por que uns recebem o milagre e outros não? Uma vez, uma criança com câncer morreu segurando a minha mão enquanto um estuprador sobreviveu a dezoito tiros. Há tantos motivos para sua crença quanto para a descrença.
Isabel permaneceu calada. Se bem a conhecia, ela estava olhando para o chão, movendo os lábios como se estivesse reproduzindo as palavras do médico, reflexiva. Ouvi a porta se fechar, depois eu pude ouvir o que pareceu ser a chuva, que foi ficando cada vez mais distante. Então adormeci.
Abri meus olhos. O quarto estava vazio, frio e escuro. Chovia com tanta braveza que pareciam cair pedras ao invés de gotas. Tentei me sentar, mas não tinha força, como se meu corpo pesasse uma tonelada.
– Cadê a enfermeira?
Como se ela estivesse esperando eu chamá-la, a porta se abriu. Mas não era nenhuma daquelas moças vestidas de branco com seus decotes propositais. Aquela era maior, e vestia um enorme capuz negro. Ao invés de uma bandeja, trazia consigo uma foice, que quase tocava o teto. Ao passar sob o ventilador, sua foice tocou a hélice que soltou algumas fagulhas parando de girar sob um incômodo barulho de metal em atrito.
– Merda! – Assustou-se a figura, pulando para trás. Não pude conter o meu riso. – Do que você está rindo?
A ponta da foice agora roçava o meu nariz. A lâmina era fétida e fria. Trêmulo de medo, olhei para ela. A princípio o seu rosto era um borrão negro, mas logo foi tomando forma. Os olhos eram grandes, vermelhos, e me olhavam com fúria; sua boca era miúda e arroxeada; o nariz era tão minúsculo que eu mal podia vê-lo. A morte era extremamente magra e feia. Não fosse aquele volumoso capuz que dava volume à sua pessoa e aquela foice ameaçadora, eu teria sentido pena. Sentia-me nauseado por aquele cheiro podre que invadia o quarto.
– Me desculpe. ENFERMEIRA! – Gritei. A morte gargalhou, mas de sua boca pareciam sair mais de um som, como se uma multidão gargalhasse.
– Pensou mesmo que ia escapar de mim? Tudo bem, você não é o único. Sempre repito essas sete palavras para outros tolos, seja em francês, grego, inglês, russo, indígena. Pode me dizer a vantagem de sobreviver quando você sabe que é só uma questão de tempo? Você vê o corpo em um caixão e pensa “coitado”, como se somente ele fosse o único ser mortal, deixando de lado a ideia de que um dia você também estará na mesma situação.
– Prefiro morrer a ficar velho e feio como você!
– Sou feia, mas sou eterna e invencível!- Bradou ofendida- A vida é linda, mas de nada serve toda a sua beleza. Ela não é eterna, muito menos invencível. E é a mim que vocês recorrem na dor quando a vida prova por si só que a beleza não é o suficiente, quando a dor, a solidão, a loucura os assolam. Veja.
A morte apontou para a ponta do cabo de sua foice. De lá saia um fino fio de fumaça que em direção à porta. Com seu enorme e esquelético indicador, ela puxou para si a fumaça. Apoiou o cabo no chão e então começou a puxar o fio. Então comecei a ouvir gritos, lamentos e choros. De repente surgiu um senhor, cabisbaixo, preso ao fio por uma algema. Depois um menino, que lançava seu olhar curioso para a morte.
– O que é isso?
– As duas últimas almas que recolhi. Um velho conformado e uma criança. Aposto que você está sentindo pena do garoto, mas não se esqueça que ele um dia seria um velho e que esse velho já foi uma criança. Não vê? A vida é ilusão, apenas uma aparência.
Olhei novamente para o menino que mantinha agora um olhar de fascínio para a morte.
– O que ele está vendo?
– Um palhaço. Nossa conversa chega aos ouvidos dele como uma história, a sua preferida em vida.
– Mas então você só é feia para mim porque apenas eu a vejo assim?
– Sou feia e velha para você fisicamente, e feia e velha para o mundo filosoficamente.
– E este velho?
– Não consegue me olhar por vergonha. Precisamos ir.
Ela caminhou em minha direção. Em pânico, tentei me debater, mas estava eu ainda permanecia pesado. Tentei gritar, mas as gargalhadas da morte abafaram o meu grito.
Acordei com a trovoada e o coração ribombando. Isabel, que lia uma revista ao meu lado, guardou-a e sorriu para mim.
– Que susto! – Disse-me beijando a bochecha.
Ainda assustado, sentia o alívio que me invadia ao perceber que o encontro com a morte fora apenas um pesadelo. Toda aquela conversa com a morte, aquela sua imagem feia, aqueles sons perturbadores, aquelas duas almas presas ao fio pertenciam à minha mente.
Sentir os lábios de Isabel me trouxe novamente à vida. Ainda com o corpo dolorido e com o braço esquerdo quebrado, consegui puxá-la para junto de mim. Queria prová-la, senti-la novamente, pois queria provar mais uma vez o gosto da vida. E era bom.
Terminado os exames, voltei para casa. Como se o céu estivesse sendo gentil comigo, Guandu estava nublado e frio. Em frente ao portão de casa, uma faixa dizia: BEM VINDO DE VOLTA. Assim que pus meus pés na varanda, uma onda de aplausos e assovios quebrou o silêncio. Rostos familiares foram emergindo da casa e do quintal, sorridentes.
- Não foi dessa vez, hã? – Disse-me Eustáquio com leves tapinhas nas costas- Você, hein?
Depois vieram outros. Eu estava feliz por rever aqueles meus amigos, mas uma pequena ponta de tristeza havia crescido em mim. Enquanto os observava comendo o bolo, conversando, rindo, lembrava da morte e suas palavras em meu sonho. Por mais que a situação tivesse sido apenas uma imaginação minha, aquelas palavras não deixavam de ser uma verdade. Naquele momento estávamos comemorando o fato de eu ter sobrevivido ao acidente, mas no fim eu morreria, bem como todos os que estavam ali. Ninguém parecia ter noção daquilo, ou então não se importavam.
– Está bem, amor?
– Sim.
Isabel estava mais linda do que de costume naquele dia. Olhava-me com ternura a mais. Seus lábios ágeis e sorridentes pareciam esconder alguma coisa dos outros, que era só pra mim. Eram quase sete da noite quando os últimos amigos presentes se despediram de nós. Éramos apenas nós dois novamente. Então seus olhos e lábios se confessaram. Seu vestido azul caiu, deixando-a apenas de lingerie vermelha.
– Agora sou eu quem vai cuidar de você.
Fizemos amor na varanda, no quarto e na sala.
Quanto ao meu carro, era óbvio que eu estava um pouco ressentido. Não pelo prejuízo, pois havia o seguro, mas é que aquele meu veículo tinha um valor que se compreendia além do material. Por exemplo, foi nele que eu conheci a maravilha do sexo oral ao som de Jimi Hendrix. Ali conheci também pela primeira vez a textura da boceta umedecida pelo tesão que eu proporcionava a ela.
Discretamente, limpei o canto do olho onde uma lágrima teimava em escapulir. Estava diante do meu carro. Não era mais azul. A parte dianteira estava irreconhecível. Vendo-o ali é que tive noção da minha “sorte”. É entre aspas mesmo. Para mim, a sorte não é você não escapar de um acidente ileso, ou com vida, sorte é você não se envolver em nenhum acidente.
– É difícil. A gente trabalha pra ter as coisas da gente. Às vezes o carro é o meio de a gente conseguir o sustento da família.
– É.
– Mas graças a Deus que você tá vivo, não é?
Seu hálito fedia a cachaça. Seus cabelos grandes, brancos e encardidos esvoaçavam com o vento quente. Com uma mão engraxada protegendo o olho do sol, olhou para o céu.
– Acho que amanhã chove. Pode olhar aí despreocupado, tá? Precisando é só chamar. Juca!
Pensei que algum rapaz fosse aparecer, mas logo vi um cachorro da raça vira lata, acinzentado, surgir na porta de sua oficina. Com o rabo eufórico, seguiu o seu dono.
Aproximei-me do meu carro, toquei o metal distorcido.
– É isso aí, companheiro.
Dei meia volta e saí dali.
– Ó o picoléééé! – Gritou um moleque descendo o morro com seu carrinho. Para proteger a cabeça, usava um boné que estampava um vereador acenando com o dedo polegar e um sorriso amarelado; sua camisa excessivamente grande da seleção brasileira terminava pouco acima do joelho. Os picolés não eram muito bons, mas as pessoas compravam para ajudá-lo. Seu pai era aleijado, mas conseguia alguns trocados anunciando ofertas em portas de lojas e farmácias. Sua mãe falecera de dengue quando ele tinha ainda cinco anos de idade.
– Me vê um de milho verde. – Pedi enquanto caminhava em sua direção. Ele parou, abriu a tampa do carrinho e começou a remexer sua mão à procura do picolé.
– O último – Estendeu-me o picolé com um sorriso no rosto. Depois ficou sério novamente– Você não é o moço que bateu de carro vindo de Colatina?
– Foi.
Mostrei-lhe meu braço engessado. O menino assentiu, fechou tampou novamente o carrinho e estendeu sua mãe.
– Cinqüenta centavos.
Retirei do bolso uma nota amassada de dois reais e disse-lhe para ficar com o troco. Olhou para a nota, depois para mim.
– Obrigado, moço – Pegou o seu carrinho e continuou a andar, olhando-me novamente com um sorriso no rosto que parecia agradecer mais uma vez. – Ó o picolééé!
Cheguei em casa e encontrei Isabel adormecida no sofá. Sua cabeça repousava sobre as mãos em concha e suas pernas estavam encolhidas. Lembrava uma menina que, depois de fazer muita arte, decide descansar um pouco no sofá da avó. O aparelho de som estava ligado em volume ambiente e tocava La mer. Estava ouvindo o cd de clássicos franceses que eu havia comprado para ela numa loja de CDs certa vez em São Paulo.
Criada com a avó, que havia passado grande parte da vida na França, Isabel tomou gosto pela música francesa. Morria de tesão quando ela cantarolava pela casa suas músicas preferidas, fazendo aqueles biquinhos franceses.
Despertou sorrindo para mim. Fui até ela, beijei-lhe e perguntei se queria tomar um banho comigo. Ela aceitou de prontidão, pois estava sentindo muito calor. Aumentou o volume do som e fomos para o banheiro.
Nem aquela água fresca conseguia apagar aquele fogo que nos envolvia naquele momento. Como se já não bastasse o sol, nos incendiamos. Minha boca indecisa não sabia se beijava o seu corpo ou se o mordia. Sua mão percorria pelo meu corpo me ensaboando com delicadeza enquanto nos beijávamos. O sabonete escapuliu de sua mão.
- Pega. -Ordenei.
Ela abaixou-se lentamente enquanto eu observava o seu gesto gracioso esperando o momento certo. Então me apoderei de seu corpo.
Quase tudo foi ficando normal como antes. Meu dentista me devolveu os dentes que faltavam, as pequenas dores que ainda assombravam o meu corpo haviam desaparecido quase que por completo, e retirei os pontos de minha cabeça. Faltava apenas o gesso, mas ainda não era tempo. Tinha que ficar mais uma ou duas semanas com o braço engessado.
Como ainda estava impossibilitado de voltar ao meu trabalho, passava a maior parte do tempo em casa. Já estava sentindo falta das máquinas de escrever do cartório. Algumas vezes, sentado no sofá imaginando formas nas manchas do azulejo, tinha a impressão de ouvir as teclas das máquinas. Já estava começando a ficar chateado com toda aquela ociosidade. Não, não estava enjoado de ficar o dia todo com Isabel, jamais. É que também queria sentir novamente aquela vontade de voltar para casa e tê-la de volta para mim. Fazia falta a falta dela.
- Que você acha de um bolo de banana?- Indagou-me Isabel, fechando o livro e olhando para mim com um sorriso de quem acaba de ter uma grande ideia. E de fato era. A tarde estava nublada e fria. Dias assim sempre me deixavam com mais fome do que de costume.
Outro detalhe em Isabel que me deixava excitado era o seu quadril em movimento enquanto ela batia os ovos para o bolo. Por muitas vezes no banheiro fantasiei aquela imagem. Observando-a do sofá, tive uma ideia: iria realizar minha fantasia.
Levantei-me e caminhei em sua direção lentamente. Agarrei-a por trás.
- Ai, que susto.
Beijei-lhe o pescoço, apertei sua cintura e deslizei com minha mão por sua coxa. Rindo, pediu que a deixasse fazer o bolo, mas havia dito por dizer. Estava tão derretida quanto a manteiga caseira sobre a pia. Minha mão encontrou a sua boceta, que já estava molhada. O ritmo da colher diminuiu, mas logo aumentou novamente. O som da colher de pau batendo na bacia de plástico misturado ao gemido de Isabel estava me deixando tão excitado que eu corria o risco de a qualquer momento explodir em gozo. De repente a velocidade da batida aumentou tanto que parecia ser uma batedeira a executar o serviço ao invés de Isabel. Seus gemidos estavam aumentando. Podia senti-la tremendo de prazer, até que por fim ela não agüentou. Empurrou a bacia, largou a colher, soltou um grito orgástico e ergueu-se na ponta dos pés, caindo de costas para mim, que sorria satisfeito com a cueca molhada.
Embora estivesse fazendo frio, ambos estávamos suados. Era como se a casa tivesse aumentado quarenta graus. Isabel ainda não havia conseguido se recompor, tendo ainda leves espasmos.
- Vá tomar um banho e me deixe terminar esse bolo, homem de Deus!- Expulsou-me Isabel em meio ao riso.
- Não quer vir comigo?
- Não- Voltou-se para a bacia, dando um longo suspiro.
Apesar dos quatro anos de casados e do sexo abundante, não tínhamos nenhum fruto gerado. Também nunca chegamos a ter uma discussão sobre filhos. Para nós, estava bom do jeito que estava. Algumas pessoas, quase todas, têm a mania de achar que filho é a obrigação de um casal. Mas, tanto para mim quanto para Isabel, a obrigação de um casal é nada mais do que o amor e o prazer. Não usávamos camisinha, portanto, se por acaso uma criança fosse gerada ela seria aceita.
Finalmente o bolo havia assado. O cheiro fez com que eu despertasse do meu cochilo quase que instantaneamente. Da cozinha, ela olhava para mim sorridente. Retribuí o sorriso, mas dessa vez com um misto de decepção. É que durante esse breve sono eu vislumbrei um bebê em nossa sala. Enquanto espalhava os brinquedos no tapete, olhava para Isabel, que tirava do forno o bolo. Era tomado por uma sensação boa, calorosa, de gozo. Quando despertei e não notei aquela pequena figura ali, foi estranhamente triste.
- Tive um sonho diferente, hoje.
- Como foi?
- Nós tínhamos um bebê. Ele estava ali no tapete brincando enquanto você assava o bolo. Estranho, é que mesmo não sabendo como é ser pai, senti falta.
Minha confissão pegou Isabel de surpresa. Pude ver nos olhos dela uma faísca de tristeza. Sorri para ela, que olhou para o tapete.
- Às vezes também vejo bebês pela casa, durante o sono. Quando vejo alguma grávida exibindo sua barriga, fico imaginando quando for a minha vez, se ela chegar.
Ficamos em silêncio por um tempo. Ambos mantínhamos os olhos no tapete, absortos em nossos anseios ocultos. Percebi nos olhos de Isabel as lágrimas se formando. Seus lábios que há pouco jaziam imóveis agora tremiam vacilantes. Em quatro anos aquela foi a primeira vez que vi a vi chorar de aparente tristeza. Talvez fosse hora de compreender que um filho era algo além de uma obrigação, como uma unificação de dois amantes; um ser sagrado. Não ter filho é uma ferida que, quando não tocada, é indolor. Naquele momento estávamos sentindo, e era ruim. Eu queria dizer alguma coisa para confortá-la, mas havia um nó em minha garganta. Sentia que, se começasse a falar, também choraria. Decidi permanecer em silêncio, até que por fim ela voltou a falar.
- Não somos culpados de nada. – Forçou-me um sorriso, servindo-nos de mais bolo.
Voltamos ao nosso silêncio reflexivo. Mastigávamos mecanicamente. Nosso café já estava morno. Havíamos nos esquecido que dias nublados e frios tinham melancolia também.
- Podemos ir ao médico e ver se há um problema em nós- Sugeri.
- Vamos deixar assim. Se tiver que vir, virá. A ciência pode dar esperança, mas também pode arrancá-la.
- Do que está falando?
- Sabe a Madalena? O médico disse que ela não podia ter filhos, nem com os mais modernos tratamentos. Sabe o que é uma mulher que sonha ter um filho ouvir isso do médico?
Assenti com a cabeça, mas no fundo eu não sabia como era. Há sensações e sentimentos intrínsecos aos gêneros. Por exemplo, um chute no saco. Uma mulher nunca vai saber como é a dor. Talvez aquela notícia que Madalena recebera fosse um chute no saco da esperança. Isabel queria conviver com a incerteza da esperança de ter um filho. A angústia de uma espera esperançada era muito menor do que a certeza de que o que se anseia nunca virá.
O resto do dia foi silencioso. A noite chegou depressa, mas o sono não. Os grilos no quintal, os latidos dos cães vadios, os passos lerdos dos velhos crentes, o motor da geladeira ecoava pelo nosso quarto. Levantei-me, fui para o quintal, acendi meu cigarro. Olhei para o céu que já não estava mais nublado bem no instante em que uma estrela cadente riscou o negro. Sorri, pois havia me lembrado da infância quando estrelas cadentes, quando vistas e não alarmadas, davam sorte. Ou que contar estrelas dava verruga. Mas o que custava um pedido? Então pedi à estrela um filho. Quem sabe Deus, se ele existisse mesmo, não ficaria sensibilizado e nos desse um filho?
- Pensei que tivesse largado o cigarro- Surpreendeu-me Isabel, sentando-se ao meu lado, tomando o cigarro da minha boca e dando um trago. Abracei-a.
- As pessoas falam que o cigarro mata. Sabe de uma coisa? Um dos poucos luxos dado ao homem é poder escolher a forma como vai morrer. Se eu quero morrer porque fumei muito, ótimo.
Isabel gargalhou, aquecendo-me. Um vento gélido fez com que o cabelo dela roçasse em minha nuca. O cheiro de cigarro misturado ao de xampu era uma combinação interessante. E lá estávamos nós dois no quintal, conversando banalidades, rindo um do outro, contando estrelas, fumando o terceiro cigarro como se aquele dia houvesse começado naquela noite.
Finalmente chegara o dia de arrancar o gesso. Pedi ao médico que me desse de recordação, pois nele havia marcas de batom de cores variadas que Isabel deixara. Por mais que Isabel teimasse em me levar a Colatina em sua Brasília azul que herdara de sua avó, preferi ir de ônibus. Há tempos sentia vontade de me sentar em meio a estranhos com seus rostos e cheiros distintos. Gostava de ver os velhos cochilando, ouvir as conversas na tentativa de captar sentido nas histórias que se entrelaçavam. Mas naquele dia apenas uma pessoa falava. De pé, olhando para todos com severidade, sacudindo a bíblia enfaticamente acompanhando as palavras, uma mulher pregava para todos nós.
- O senhor, nosso salvador, está chegando. E vocês pensam que ele veio buscar pessoas pecadoras como vocês? Não! Ele quer pessoas de bem, que dedicaram suas vidas a ele. Vagabundos, prostitutas, viciados, adúlteros e assassinos não terão lugar no reino de Deus.
Enquanto ela falava, algumas crianças olhavam para elas com ar de medo. Outros olhavam pela janela as vacas subindo os morros, pastando. Uma senhora gorda na poltrona ao lado olhava para ela com cumplicidade, concordando com a cabeça em cada palavra da mulher. Seus olhos intimidadores iam de um passageiro ao outro, até que, percebendo que eu a encarava, eles pararam em mim.
- A morte é o preço que paga o pecador! Deus vê tudo o que você faz aqui e anota tudo em seu caderno para que no dia do juízo ele possa te julgar.
Desviei meus olhos para a janela. Tornei a olhar para ela, que ainda me encarava. Pigarreei, levantei-me e fui ao banheiro. Seus olhos me seguiram, seu tom de voz aumentou.
- Os pecadores pensam que podem se esconder de Deus, mas aos olhos dele nada escapa! Eu estou aqui a pedido dele, pois ele me deu a missão de avisar a sua chegada. Sou fiel a ele, pois sei que sua promessa se cumprirá. DEUS É FIEL!
- E feliz é a esposa dele!- Gritou um garoto.
- Menino! – Advertiu sua mãe, ou tia. Pude ouvir as gargalhadas e não me contive. Dei a descarga e saí, vendo que a mulher havia se sentado, cálida.
- Você teve uma boa enfermeira- Brincou o médico, enquanto tirava de meu braço o gesso. Disse-me depois que eu poderia sentir uma dificuldade em esticar o braço, mas que logo, logo ele voltaria a ter a sua flexibilidade natural.
Já na rodoviária de Guandu, uma cigana me abortou.
- Homem bonito, de bom coração, é amado e invejado. Por um real te falo o nome das amadas e outras coisas que a sua mão mostrar.
Como havia justamente uma moeda de um real em meu bolso, tirei-a e entreguei à cigana, dizendo-lhe que não era preciso ler a minha mão, pois sabia bem o nome da minha amada.
- Não estou mendigando, não, moço. Não posso aceitar a moeda se o moço não me deixar ler a mão. Moço acredita que a mão da gente traz a nossa história?
- Não.
- Então moço não perde nada se me deixar ler. Vejo que tempo pro senhor não é preocupação no momento.
Olhei em volta, mas a rodoviária já estava deserta, salvo um vira lata magricela que se abrigava sob um banco de cimento. Coloquei minha sacola no chão e estendi-lhe a mão.
- Moço tem tanta linha na mão! Essa linha aqui, ó, diz que sua felicidade ainda não é completa. Hum, essa linha está em branco, então quer dizer que moço não tem filho, ainda. Ainda, porque vejo a aproximação dessa outra. Moço tem vontade de filho?
- Até que tenho.
- Pois moço terá. - Olhou-me com um sorriso, depois voltou para a minha mão, voltando ao seu ar de concentração, como se realmente houvesse alguma coisa em minha mão- É tanta coisa escrita e falha nessa sua mão! Tem uma linha falhando... Moço passou por uma situação difícil? Perda na família, acidente ou alguma coisa assim? Seja o que for, foi algo que te afetou diretamente.
Olhei para ela com certo ar de incredulidade. Mas ainda não me convencia. Qualquer um que morasse em Baixo Guandu ou estivesse por lá nos últimos tempos saberia do meu acidente. As notícias por lá corriam rápido.
- Qual o seu nome?- Perguntei-lhe, interrompendo-a. Ela me olhou, sorriu mais uma vez e fez um gesto para que eu me sentasse ao banco.
- Moço precisa saber que não sou de dizer meu nome assim para os estranhos.
- Perguntar seu nome é tão indecente quanto pedir para ler a minha mão.
A cigana gargalhou batendo as mãos, fazendo com que o cachorro sob nós se assustasse, saindo ao galope para a rua.
- Moço de língua afiada. Já, já, vou dizer, assim que eu terminar sua mão. Moço me interrompeu numa linha muito importante. Deixe-me ver. Moço ama a esposa?
- Sim.
- Moço também é muito amado pela mulher. Mas isso o moço já sabe, não é?
Assenti com a cabeça, rindo para ela.
- Mas o moço vai ter que se preparar. Está vendo aqui, ó?- Indicou-me a cigana uma linha quase imperceptível. – É a linha da paixão.
Paixão? Ri mais uma vez diante do absurdo. A cigana estava indo muito bem em seu número de adivinho, mas envolver paixão foi um erro que a maioria dos ciganos comete. Sempre paixão, dinheiro e rosas vermelhas. Reparei que ela havia se calado. Olhei para ela, que olhava fixamente para a minha mão. Sua boca avermelhada jazia entreaberta, sua respiração quase que havia cessado. Tentei fazer um movimento para retirar minha mão, mas ela a segurava com força.
- O que há de errado?
A cigana parecia não me ouvir. Fiz um pouco mais de força, fazendo com que ela despertasse. Lentamente suas mãos se afrouxaram, deixando a minha livre. Seus olhos fixos encontraram os meus, que a olhavam curiosos. Senti um leve arrepio na nuca.
- Chavela.
- O quê?
- É o meu nome- Disse a cigana, levantando-se. Seu rosto assumia um ar preocupado.
- A leitura acaba em paixão?
- Algumas coisas estão confusas. Melhor moço ter cuidado.
- Acidente?- Sorri-lhe, como se tivesse contado uma piada.
- Tem muita coisa que moço desconhece nessa vida. Hoje é moço quem ri, amanhã é o destino. Mas não sei se moço acredita nessas coisas.
A cigana virou as costas. Antes do terceiro passo, virou-se para mim.
- Coloque um copo com água debaixo da lua no seu terreiro e beba da água ao meio dia. É bom pro moço.
Seja lá o que for que a cigana tenha visto, não parecia ser bom. Repreendi-me por estar preocupado com aquilo. Não acreditava naquelas coisas, havia feito por distração. No fim era tudo a mesma coisa. Até que para um real, a cigana havia feito muita coisa: entretenimento e receita para simpatia.
Cheguei em casa ávido por um banho. O dia estava muito quente. Chamei por Isabel, que não respondeu. Então reparei na geladeira um bilhete.
Fui á casa da Ana. Fiz suco de acerola.
Beijo, Isa.
Ana era uma grande amiga nossa. Foi ela quem nos apresentou, ainda no colegial. Morava no centro da cidade, e era casada com o dono do supermercado. As pessoas na cidade diziam que o casamento era por interesse, pois o homem era desprovido de beleza. Baixo, calvo e barrigudo. Já Ana era linda. Tinha longos cabelos ruivos, era alta e de corpo invejável. Eu me masturbei pensando nela por muito tempo até a chegada de Isabel. Com a morte do marido, Ana se casou com um entregador do mercado. Com esse casamento, as pessoas diziam que o casamento fora arquitetado por Ana e pelo pobre rapaz, que nada tinha a ver com o destino infeliz do falecido.
Sabia que as visitas de Isabel à casa de Ana eram longas. As duas sempre saiam para assistir a algum filme no cinema, ou preparavam algum bolo ou coisa parecida. Tomei o meu banho, servi-me de um pouco de suco, peguei um pedaço que ainda restava do bolo, liguei o som, deitei no sofá e adormeci.
Estava no ônibus. Não havia ninguém ali exceto a cigana, que me olhava com um olhar intimidador, que me pareceu familiar. Trajando seu longo vestido vermelho, segurava uma grande bíblia. Esbravejava coisas que eu não podia compreender. Tentei me levantar, mas não conseguia. Embora o ônibus estivesse parado na estrada, podia senti-lo sacolejar. Uma vaca que pastava defecou. Mas ao invés de sua bola de fezes esverdeada cair, caiu um bebê. Olhei novamente para a cigana, cujo vestido agora começava a se incendiar. Tentei alertá-la, mas não conseguia movimentar minha boca. O fogo de seu vestido correu pelo chão do ônibus, subindo pelas poltronas em direção ao teto. Meus pés começaram a queimar, mas não podia fugir. A cigana estava derretendo como se fosse feita de parafina. Reparei que meus pés também derretiam. O líquido denso que outrora fora a mulher começou a rastejar pelo chão incendiado em minha direção, envolvendo-se em meu braço, transformando-se em gesso. De repente, o ônibus começou a derreter. Todo o veículo havia derretido, exceto a parte onde eu estava. Agora podia ver a estrada, onde uma enorme carreta surgiu em minha direção, desgovernado. No carona, um homem que parecia ser o motorista agonizava. Ao volante, sorridente, a criatura encapuzada me encarava. A ponta da foice saltava da janela. Desesperado, levantei-me. Mas meus pés estavam tão moles que afundaram no chão carbonizado do ônibus.
Acordei no chão da sala, com a mão na testa.
- Mal tirou o gesso do braço e já quer colocar de novo?
Levantei-me enquanto Isabel retirava do congelador a forma de gelo. Embolou alguns cubos no pano de prato e os trouxe, agachando-se diante de mim, que havia me sentando no sofá, com a mão na testa.
- Caramba.
- Deixa eu ver.
Afastou minha mão, colocando o pano com o gelo no local. Massageou-o por uns minutos, dando leves sopros no galo que havia crescido em minha testa. Reparei que sua boca formava um bico trêmulo, como se já não mais agüentasse segurar o riso que teimava em sair. Então ela vacilou, soltando a gargalhada. Também ri dando um leve tapa em sua testa.
- Acho melhor a gente fazer um plano de saúde. – Brinquei. Isabel concordou ainda aos gargalhos.
Vi que ainda não havia anoitecido, e que nem passavam das cinco e meia. Estava molhado de suor, então decidi tomar um banho. Do banheiro podia ouvir os meninos lá fora brincarem de pique bandeira. Quando era menino, também brinquei naquela rua. Morrer era uma coisa que só acontecia à gente grande. E não éramos gente grande, por isso corríamos, ríamos como se a vida fosse uma eterna brincadeira. Lá estava eu, ouvindo o passado, absorto no presente perturbador. Aquele segundo pesadelo, bem como o acidente, me lembrava mais uma vez que eu não era imortal.
Para quebrar o silêncio que se instalava durante o jantar, perguntei a Isabel como estava Ana. Respondeu-me que Ana estava bem, e que ela viajaria com o marido para o Rio de Janeiro na semana que vem. Ficariam por lá durante um mês inteiro hospedados na casa de praia de um primo.
- Ela chamou a gente pra ir junto.
Parei de mastigar por um momento. A ideia era interessante, e eu tinha férias a serem tiradas. Por um raio de segundo, minha boca se abriu para dizer que havia adorado a ideia, e que ela fizesse as malas. Mas estava precisando trabalhar, ocupar minha cabeça. Disse-lhe que, se quisesse, ela poderia ir. Isabel discordou, disse que também não estava muito a fim de ir, e que até havia recusado o convite na mesma hora. Insisti que ela fosse viajar com a amiga um pouco.
- Você não duraria duas semanas.
Rimos. Ela consultou o relógio, levantou-se da mesa e foi para o quintal, deixando o prato ainda na metade. Voltou com um copo de água na mão, colocando-o sobre a mesa.
- O que é isso?
- Simpatia. - Respondeu-me, virando copo o copo de uma vez. – Receita que uma cigana me deu hoje. Pediu para ler minha mão por um real.
- Você aceitou?
Isabel deu de ombros, voltando ao seu prato.
- Apesar de eu não acreditar muito nessas coisas, aceitei a ideia.
- E o que ela disse?
- Que “moça” vai ter um filho, que marido de “ moça” ama ela, que minha mão tinha muitas linhas, essas coisas. No fim, disse para eu ter mais cuidado com meu marido, e que eu colocasse um copo de água sob o sol ao meio dia, e que depois o retirasse à meia noite e bebesse a água. Mais cedo, quando você caiu do sofá, lembrei da cigana.
Pensei em dizer a Isabel que uma cigana, provavelmente a mesma, havia me abordado hoje, e que havia me dito quase que as mesmas coisas. Mas preferi assentir sorridente, como se estivesse achando graça de tudo aquilo.
Terminamos o jantar em silêncio. Como havia tirado um longo cochilo naquela tarde, não estava com sono. Já Isabel, com a cabeça recostada em minha coxa, bocejava incessantemente diante da televisão. Logo adormeceu, enquanto eu, olhando para a TV, ruminava a história que ela havia me contado. Por coincidência ou não, uma cigana havia abordado nós dois no mesmo dia, dizendo quase que as mesmas coisas. Depois a mulher disse para Isabel tomar cuidado com “o seu marido”. O que ela quis dizer com isso? Eu estaria prestes a me apaixonar por outra mulher, o que era impossível, ou eu novamente corria um risco de morte? “Deixe de bobeira”, pensei, “ você nunca acreditou nessas coisas, não vai ser agora que você vai acreditar”. Desliguei a TV, acordei Isabel e fomos nos deitar.
- Desse jeito que vamos ter filho?- Sussurrei beijando-lhe o pescoço. Ela retribuiu, puxando minha bermuda.
Acordei com uma batida na janela. Abri-a e dei com os meninos lá fora, olhando para mim, de ombros erguidos, como se estivessem com medo. Vi então a bola sobre a grama, encostada no nosso muro gradeado.
- Podem pegar a bola- Disse a eles, que logo relaxaram, agradecendo e se desculpando. Fechei a janela e fui para a cozinha. Eram dez e meia da manhã.
- Bom dia, dorminhoco. Você ouviu a pancada na janela?
Disse-lhe que eram os meninos brincando lá fora, e que, sem querer, haviam acertado a janela com uma bola. Era sábado, dia em que a rua se infestava de crianças. Nada mais natural do que algazarra e coisas voando pela sua janela.
Propus a Isabel que saíssemos à noite. Poderíamos comer uma pizza, assistir a um filme ou alguma coisa assim. Isabel aprovou a ideia com um largo sorriso no rosto. Passamos o resto do dia na sala. Eu, lendo um romance; Isabel, pensativa com a tampa da caneta na boca a espera de uma luz para completar a cruzadinha. Para quebrar o silêncio incômodo, Isabel havia ligado o toca discos que pertencera à sua avó. Como era de esperar, o disco era de uma cantora francesa que, segundo Isabel, era um dos maiores ícones do cenário musical da França, e até do mundo. Dentre todas as cantoras que Isabel me apresentara, aquela era a minha preferida.
Padam... Padam... Padam...
Fomos ao cinema, mas largamos o filme na metade. A história não era muito boa, mas desistimos ao ver que o que jorrava do pescoço do personagem mais parecia suco de morango do que sangue. Enquanto saíamos da nossa fileira para ir embora, passei por uma mulher que me olhava com um meio sorriso. Seu olhar soava maldoso. Antes de sair, olhei novamente para ela, que ainda me encarava. Moveu os lábios num gesto que interpretei como um beijo.
Do cinema fomos a uma pizzaria, onde encontramos com outro casal amigo nosso. Juntamos nossas mesas e comemoramos a descoberta de que eles seriam pais. No caminho de volta, Isabel não falou nada. Respeitei o seu silêncio abraçando-a. Compreendia o seu ressentimento. Assim que chegamos em casa, Isabel foi para o quarto. Pensei tivesse ido se deitar e chorar até adormecer. Demorei um pouco para entrar, mas assim que entrei, ela avançou em minha direção. Puxou minha camisa com força, fazendo com que alguns botões caíssem no chão. Não sabia se aquele ato era o desespero de ter um filho ou se ela realmente estava com vontade de transar comigo.
Domingo, como quase sempre são os domingos, foi um dia enfadonho. Para piorar, havia a ânsia pelo próximo dia onde eu finalmente voltaria a trabalhar. Isabel me pediu que comprasse o frango assado. Na volta, dobrando a esquina da Dez de Abril, dei de cara com o carro da funerária, seguido de outros carros lentos, e pessoas com seus pesares. Uma senhora passou de mãos dadas com um garoto, que me olhava com seus olhos que pareciam me perguntar por que eu também não os seguia. Tropeçou mas mal teve tempo de cair, pois a senhora, provavelmente sua avó, já o havia erguido pelo braço. Sempre achei que domingo fosse um dia para morrer. Durante a volta, fiquei imaginando o cortejo seguindo o meu caixão.
Acordei com o despertador e Isabel puxando o cobertor. Levantei da cama quase que no mesmo instante, ansioso. Até havia sonhado com meus dedos ágeis sobre as teclas da máquina de escrever, que produziam sonoros claps. Mal tomei café, despedindo-me de Isabel com um beijo. Peguei sua Brasília emprestada e fui trabalhar.
Fui recebido com aplausos calorosos. Mariana, nossa rechonchuda e simpática ajudante, surgiu de trás da cabine com um pequeno bolo com meu nome em glacê vermelho. Não esperava toda aquela agitação pela minha volta. Agradeci a todos pela surpresa, dizendo que estava feliz em poder voltar trabalhar com meus colegas e amigos.
Foi logo que me sentei em minha cadeira que a vi entrar. Tinha longos cabelos cacheados e louros. Seu vestido era de excessivo decote, e seus lábios eram carnudos e avermelhados. Andava como se estivesse em um concurso de beleza. Era alta, mas apenas sob o efeito das plataformas de seu sapato. Então reconheci aquela figura graciosa que acabara de se sentar diante de mim, desejando-me bom dia com sua voz mansa e hálito bom. Ela era a mulher que me olhava no cinema. Havia até me esquecido dela e de seu gesto com os lábios, que me pareceram um beijo.
- Bom dia. – Respondi por fim, pigarreando, olhando para a minha máquina de escrever.
- Gostaria de fazer uma certidão de óbito.
O falecido era um senhor de setenta e cinco anos, vítima de uma pneumonia. Era o seu único tio, e ela, sua única sobrinha que havia vindo de Santa Tereza para cuidar dele. Lágrimas correram de seus olhos. Ela sorriu para mim, desculpando-se. Disse-lhe que não havia por que se desculpar, e ela, sorrindo-me mais uma vez, disse que eu era gentil.
Assim que ela saiu, pensei comigo se ela realmente havia olhado para mim e me mando um beijo ou se aquilo não passou de uma impressão. Era meiga, de ar inocente. Era sensual, hipnotizava com os olhos, mas parecia não ter consciência do seu poder de sedução.
Era hora do almoço, e eu seguia para casa. Passei em frente à praça, e lá estava a sensual figura desfilando. Vi que de sua bolsa uma pequena agenda caiu. Como ninguém pareceu notar o acontecido, encostei a Brasília. Peguei sua agenda e corri para alcançá-la.
- Oi. – Sorriu-me.
- Sua agenda.
- Ah, obrigada. Ando tão distraída...
Esticou o braço para pegar sua agenda, tocando rapidamente a minha mão. Estava excitado.
- Tudo bem. Acontece. – Disse, enxugando minha mão suada na calça.
Ia me retirando, quando ela me perguntou se eu estava indo almoçar. Respondi que sim, e então ela me perguntou se eu não gostaria de almoçar com ela.
- Deixei na panela de pressão uma carne com batata. Já deve estar pronta.
Não sabia ao certo se deveria aceitar. Certamente Isabel estava me esperando para almoçar em casa com algum prato especial para comemorar a minha volta. Mas aquela criatura encantadora ali me encantou de tal maneira que acabei aceitando. A casa onde seu tio morava era logo na esquina.
Além de tudo era boa cozinheira. Acabei repetindo a carne, o que ela tomou como elogio. Durante o almoço, contou-me que o velho falecido era o seu único parente vivo. Mais uma vez chorou, então afaguei suas mãos para confortá-la. Esse gesto fez com que ela me olhasse surpresa. Desculpei-me, mas então ela sorriu dizendo que quem deveria se desculpar era ela por estar se lamentando para um convidado em plena hora de almoço.
Quando saí, ela me disse que prepararia outro prato ainda melhor se eu prometesse almoçar com ela no dia seguinte. Prometi que voltaria sem nem pensar.
- Eva. - Estendeu-me a mão. Cumprimentei-a, dizendo o meu. Atravessei a rua em direção à praça. Entrei na Brasília e voltei para o trabalho.
Quando cheguei em casa, Isabel me esperava no portão. Parecia estar mais ansiosa do que brava. Veio ao meu encontro, abraçando-me. Disse que havia me esperado para almoçar em casa, e que havia feito uma carne cozida na panela de pressão. Depois me encheu de perguntas, que respondi brevemente. Na janta, comi da carne cozida que não era tão boa quanto a que eu havia comido mais cedo. Antes de dormir, lembrei da cigana que havia profetizado uma paixão. Eva, só podia ser. Até então, nunca havia olhado para outras mulheres com aquele olhar desejoso. Adormeci, pela primeira vez, desejando outra mulher.
No outro dia, cheguei ao trabalho pensando logo no horário de almoço. Como havia dito a Isabel, o serviço estava com alguns assuntos pendentes e eu deveria resolvê-los naquele mesmo dia, ficando no serviço direto, comendo alguma coisa lá mesmo. Ela propôs levar o almoço, mas disse que não precisa se preocupar. Relutante, Isabel concordou.
Meio dia, já estava na Brasília seguindo para o meu encontro com Eva. Enquanto dirigia, imaginava minhas mãos deslizando por suas coxas, seus lábios carnudos chupando o meu pau, que depois penetraria sua boceta de pelos louros. Estacionei a Brasília em frente à praça. Sentada no banco, olhando para mim, Chavela, a cigana, fez sinal. Ignorei-a, indo em direção à casa.
- É ela! É ela, moço. A paixão e o perigo. Destino vai rir, moço!- Gritava-me a cigana.
Algumas pessoas assistiam à cena, curiosas.
- Maluca. – Disse, enquanto abria ao portão da casa.
Eva me esperava sorridente, ainda com um avental. Ao ouvir a gritaria que a cigana arrumava lá fora, perguntou-me o que era. Disse-lhe que era uma cigana maluca que estava me perseguindo. Reparei que não havia nenhuma panela sobre o fogão, nem sobre a mesa.
- O prato de hoje é frio. – Explicou-me, apontando o dedo para a geladeira. – Pode pegar para mim enquanto me troco?
A energia caiu. Ouvi um rosnado e pensei que fosse o cachorro do velho que eu não havia notado no dia anterior. Abri a porta da geladeira ouvindo o barulho de vidro se quebrando.
- Filha da Puta!- Xinguei, dirigindo-me para fora. Tive a impressão de sentir um cheiro de gás. Do lado de fora, com uma pedra na mão e o dedo no relógio, a cigana me encarava.
- Sua louca!- Avancei em sua direção. Antes que eu pudesse tocá-la, ela ativou novamente a energia do relógio.
- NÃO!- Foi a última coisa que ouvi de Eva antes da casa explodir, produzindo um barulho ensurdecedor. Caí no chão, ferido por alguns estilhaços. Chavela também rolava no chão, ferida. As pessoas corriam para ver a cena, assustadas.
- Era ela, a Indesejada. – Contou-me a cigana, diante de mim no leito do hospital. – Não aceitou te perder da outra vez. Mas agora ela sabe que não é a sua hora. Não agora.
Acordei e vi Isabel ao meu lado, sentada, com a mão acariciando a barriga, como faziam as grávidas.
O jornal do dia seguinte trazia a matéria sobre uma casa que havia explodido pouco depois da morte de seu proprietário, ferindo duas pessoas que passavam no local. No cartório, Jairo afirmava que nenhuma mulher com a aparência que eu descrevia apareceu por lá na segunda feira, e que a certidão de óbito do tal falecido já havia sido feito por um sobrinho, que havia morrido há dois dias.

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