2º Concurso Literário de 2007 "o sonho da vida"

Hoje perguntaram-me o que são os nadas da vida, ao qual eu respondi:
«Ontem cheguei a casa, olhei um lado e depois o outro… Vi que ninguém lá estava, e por isso fui fazer o que me apetecia. Brinquei, ri, fiz aquilo para que3 tenho mais jeito, mas como ninguém chegava, adormeci.
- Sonhei com uma praia encantada, um mar calmo, que as vezes do nada se agitava… O céu era azul, lindo, as nuvens lá no alto encarnavam formas, figuras, personagens… umas muito engraçadas, outras por sua vez aterradoras. Além da diferença directa das figuras representadas nas nuvens, estas eram ainda distintas pela cor, dado que umas eram de um branco inqualificável e outras eram negras, de um cinzento misterioso e assustador.
No sonho aparecia também um homem, com um ar aterrorizado, que mirava todas as nuvens, embora só as negras lhe despertassem interesse… o homem tinha um aspecto fora do vulgar, era jovem, mas com um ar acabado, como se a casa ano nosso equivalessem dois para ele… tinha um cabelo comprido, mas bem cuidado, olhos claros e brilhantes, era magro, um homem normal, um homem que na sua pacata vida não conseguia atingir a felicidade desejada, por isso perdera a alegria, a ternura do olhar, e o sorriso dos lábios…
Assustada como estava afastei-me, mas com os gritos que o homem lançava para o céu, acabei por me aproximar, e ouvi-o a rogar pragas pelo seu sofrimento, por o terem abandonado, e que por isso já não sabia o que fazer… com estas palavras levantou-se uma brisa, e o homem começou a andar, arrastando sempre os pés na água e areia que juntas se envolviam nas pequenas ondas que se faziam junto a praia.
O homem permaneceu calado durante cinco minutos enquanto apreciava o mar. No seu pleno ar distraído que aparentava, o homem já no desespero, encontrando um saco começou a tirar pedra a pedra que lá se encontrava, e atirando-as ao mar recitava um dos males da sua vida. Continuei a escutar, e ele dizia que tinha perdido todo o seu dinheiro, o trabalho, os pais, a mulher amada, e que a saúde do seu irmão estava cada vez pior. Não contei todas as pedras que foram lançadas ao mar, mas sei que no fim o homem guardara a ultima pedra que sobrara do saco, sem lhe prestar muita atenção. Logo depois, vi-o a regressar para casa…
Não sei ao certo o que aconteceu, mas passadas umas horas o homem regressava à praia lavado em lágrimas, atirando-se ao mar e perante aquilo senti que tinha de agir… Atirei-me também ao mar, agarrei o homem e puxei-o de novo para a areia. Esperei que ele conseguisse falar, e perguntei-lhe o porquê daquela loucura. Ele olhou para mim, abraçou-me, chorou e depois retirou algo do bolso. Era a pedra que ele tinha guardado.
Fiquei parada a olhar, completamente admirada com o que estava a ver. O homem ao ver-me assim tão pasmada começou então a falar: “ Os problemas têm sempre solução, só é pena nunca a ver-mos, mesmo quando esta nos vem parar as mãos, porque estamos demasiado preocupados com tudo o resto”. O homem já sorria de si próprio e eu mantinha-me calada à espera que ele continuasse.
“ Estava tão desesperado a culpar tudo pelos erros que aconteceram na minha vida, mas afinal eu próprio errei. Atirei ao mar a chave para a salvação do meu irmão. Perdi tudo, as pessoas que amava, trabalho e dinheiro… alem de tudo isso, o meu irmão está no hospital as portas da morte à espera de uma operação importante que tem de ser financiada por mim”.
Perguntei-lhe porque é que ele não procurava emprego, e porque é que ele não pedia um empréstimo, ao qual ele me respondeu.
“Vou morrer, nunca arranjaria dinheiro a tempo.”
Fiquei completamente sem expressão, e na incredibilidade do que ele me tinha dito, perguntei, como, porque, e quando é que isso aconteceria.
O homem respirou fundo, sorriu e disse “ sim, vou morrer, não tenho muito mais que 2 meses de vida, tudo isto por um problema de saúde.”
Deixou de sorrir, mas continuou, “ não me aterroriza saber quando, posso morrer, afinal todos temos um certo tempo para que isso aconteça, o que verdadeiramente me aterroriza é o já não sonhar, porque aproveito simplesmente todos os momentos, e por isso não adianta perder tempo a imaginar, a pensar, vivo e pronto. Não há muito mais que possa fazer, mas com o meu irmão no estado em que está, nem viver podia, aterrorizava-me mais ainda saber que ele ia morrer, e eu não o podia salvar.” E olhando para a pedra que tinha na mão, acrescentou: “ agora posso morrer, porque sei que mesmo que morra, amanha, o meu irmão, vai viver a vida dele e a minha…”
O sorriso voltou, ele abraçou-me novamente, agradeceu, e disse que eu voltaria a ter notícias dele. Levantou-se e foi-se embora.
Comovida, e confusa com tudo aquilo, deitei-me na areia, fechei os olhos e… ACORDEI…
Levantei-me toda apressada, e percebi que devia aproveitar bem a vida, por isso arranjei-me, sai de casa com um grande sorriso na cara, e fui fazer o melhor que podia para ser feliz: Dar amor a quem mais gosta de mim…
Passei por casa de um ou outro amigo, apenas para dizer olá, depois segui para o trabalho do meu pai, com a intenção de fazer as pazes com ele, pois tínhamos tido um pequeno arrufo durante a manha.
De regresso a casa apanhei uma flor, e quando cheguei por fim, fui ter com a minha mãe, que já lá se encontrava e antes de qualquer outra coisa dei-lhe a flor, disse que a amava, e sem esperar por resposta fui para o meu quarto.
Agora eu respondo ao que todos perguntão: “o que é que o homem do sonho guardara no bolso? “ e eu simplesmente digo, que ele tinha deitado ao mar dezenas de diamantes, e ao chegar a casa para o ultimo que tinha guardado distraidamente no bolso, chorou, porque essa distracção poderia tê-lo feito atirar o ultimo diamante, mas em vez disso, fê-lo guardar o diamante para que o irmão fosse salvo com o dinheiro desse mesmo.
E já agora: a vida é um Beijo aqui, ali,
Um olhar perdido no mar, no horizonte,
Um gesto, um carinho,
Uma palavra,
E voltam a perguntar “mas o que é isso tudo comparado com tudo o resto? “
Eu sorrio e digo, “ Nada… são os nadas importantes da vida, sem os quais ninguém poderia viver…”

A.C. *