A árvore do Augusto e a minha

Foto de Sérgio Campanha

A Árvore da Serra

_ As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh’alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

Augusto dos Anjos

Conheci o poema “A árvore da serra” de Augusto dos Anjos no site “Jornal de Poesia” do poeta, amigo e editor Soares Feitosa. Poderia tê-lo lido antes se fosse eu culto leitor de poesia. Quando uso a palavra culto, a uso no sentido de abrangência do termo, pois, li, pouco, dos poemas dos autores do gênero, sabendo porém, que ao se falar de Augusto dos Anjos, se fala de um dos ícones do simbolismo brasileiro.
Certa vez, fui elogiado por uma bibliotecária que deu vivas ao meu trabalho enaltecendo um poema intitulado “No universo da mulher” de estirpe e alma simbolistas. Isto ocorreu nos meus idos “vinte”. Hoje já não escrevo daquela maneira e contudo, fui pesquisar poetas simbolistas quando me deparei com o grande nome de Augusto dos Anjos. Sua história relacionada a uma árvore, bem cabe a um grande amor; o leitor não terá dúvidas disto. O poema é todo simbolista, desde a linguagem à sua construção; desde os artifícios metafóricos ao seu espírito. É metafórico em todos os seus versos: “Não mate a mulher, pai, para que eu viva” ou, “o moço triste se abraçou com o corpo”, __ é como você teria que ler.
Nada de ecologia relacionada aos seus versos, o poema faz alusão ecológica a um tema e discorre sobre o amor a uma árvore, da qual, história igual, existe:

A árvore gigante

Há muitos anos que ela está aqui:
colossal, bela, altiva e intacta, resiste.
Na primavera floresce, no verão se alteia.
No outono e no inverno ela persiste.

A árvore não dá frutos: dá belezas.
Faz um “arco do triunfo” sobre a rua.
Para a esquina, ela norteia a minha casa,
E cobre a via apagando a luz da lua.

Vão cortá-la: está doente, condenada.
Embelezou a rua pelos anos em que existe
Mas não pode falar nada: ela é inanimada.

Testemunhas vão dizer no dia de amanhã:
__ Aquela grande árvore gigante foi cortada!.
Eu direi: __ Não merecia a rua a imaculada.

Sérgio Campanha

Mas a minha história de árvore não é só minha: é de toda uma vizinhança. Sou apenas o repórter das coisas e das gentes dentro do meu ofício devocional: a poesia.
Moro quase em frente a uma árvore gigantesca, grande, mas, “o gigantesca”, é pelo tamanho da rua propriamente, que para seu porte, é pequena.
Ela se entorta da calçada para a rua embicando-se para uma esquina da qual minha casa é próxima, do outro lado da rua para o meu, aonde à direita esta a esquina e curiosamente, por ser grande, serve de guarda sol para todo o espaço transitável por veículos desta via, formando um grande arco __”o arco do triunfo”, que se eleva arredondadamente sobre a rua, atravessando-a por cima, cortando-a na forma de um imenso toldo natural...e que eu gosto muito assim como minha filha também. Ela é poesia, posso ver assim. Ela é rica por ter muitos galhos principais, fortes e para todos os lados. Cresceu torta, embicada para a esquina o que por uma lógica, deveria ter todos os seus braços de sustentação também voltados para a esquina; mas não. Alguns destes braços principais voltam-se para o lado, para traz e para frente, sombreando também a minha casa levemente. Ela é muito bela para a rua...ela embeleza e enriquece a rua...porém, faz muita sujeira feito uma criança porca e será cortada! Cortada pela prefeitura. Minha mulher adora a idéia...vai trabalhar menos na limpeza da sujeira que ela produz...eu próprio reconheço o tamanho da sujeira que ela produz e ajudo a limpar...e o poema que eu não conhecia, lhe cabe como uma saia justa. Confesso ter um sentimento por ela.
A quem adore a árvore que foi plantada a 39 anos atrás por um vizinho – Joaquim, pai de Jerson, morador da rua, que defende sua estada ali para todo o sempre. Mas o comprador da casa de Joaquim __ já falecido, chamou a Prefeitura que avaliou a árvore como doente e apta a cair e porisso, causar acidentes, inclusive à minha casa. Não é um assunto polêmico por aqui mas já deu muita conversa e há vizinhos contra e a favor de tal derrubada. Depois de morar 10 anos nesta rua, sinto pela árvore que é estupenda mas, hoje, não sou contra nem a favor. Já fui contra a sua derrubada mas, entendo que ela é um pouco demais para este logradouro e está doente. Sinto o assunto mais ou menos como um ato de eutanásia e aí está a delicadeza do problema. Estando ela doente ou não, aqueles que não tem consciência do valor da natureza, sempre desejaram o seu corte ou até, que ela não existisse ali. Se não tenho tido real consciência deste valor (e acho que tenho), tenho em exagero consciência do valor embelezativo que ela proporciona e portanto, poético; aquele valor que precisamos reconhecer, pois, a árvore, dá aos nossos olhos um sabor paisagístico a uma rua muito simples.
Curioso... Salve, ecologicamente ou não, Augusto dos Anjos. Salve, o valor transcendente da poesia!

Sérgio Campanha

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