A Maldição da Rosa

Foto de patyfragacorreia

Uma lágrima e uma esperança. Abaixei. Peguei a rosa caída em minha fronte, algumas pétalas disseram adeus, outras recusaram-se a partir e continuaram presas ao talo revestido de espinhos.
Feri-me ao segurá-la, uma gotícula de meu sangue manchou o verde daquela que me fez chorar, as lágrimas não fizeram-me triste, a tristeza me invadiu pela causa que as fizeram cair, e assim, tocá-la foi como sentir a leveza do seu toque e a dor da despedida, desejando com a profundidade inalcançável da alma que você voltasse.
Sonhos não são desejos, que definham na menos das dificuldades, resistem ao tempo e às tempestades, prevalecem até que as forças os tornem reais, contudo, nem sempre seguimos o caminho que leva-nos até eles, perdemo-nos um do outro, mas naquele instante você era o meu sonho, e ali pararia o tempo para nunca mais te esquecer.
Ajoelhei-me na areia da Praia Vermelha e disse adeus à rosa, que naquele instante fora levada para algum lugar que as águas se fizessem abrigo.
Encontrar a rosa poderia ser um fato despercebido, mais ume entre tantos acontecimentos simples e imperceptíveis da minha vida, mas por algum motivo resolvi contá-lo a um amigo, que disse-me naturalmente:
_ Então tu também encontrastes uma rosa ontem à noite Paty?
Interrompi minha respiração por alguns segundos, se antes olhava para a cutícula que crescia em minha unha, agora eu o fitava de forma assustada, aspirei o ar profunda e vagarosamente e em seguida indaguei:
_Você está querendo dizer que além de mim, há mais pessoas que encontraram uma rosa por acaso?
_ Sim amiga, anunciaram hoje nas rádios que cerca de cm anos atrás uma série de assassinatos ocorreu por aqui, por coincidência ou não, quem morria tinha alguma relação biológica com quem tinha recebido uma rosa surgida do acaso, o assassino nunca foi pego, e parece que agora a história se repete.
_ Ah Jan! É apenas mais uma lenda urbana, você acredita nessas coisas?
_ Amiga, lenda urbana ou não, tome cuidado, agora deixe-me ir, preciso arquitetar um encontro para hoje à noite.
Após longas horas de conversa com o Jan, fiquei apreensiva quanto aos boatos que estavam rolando pela cidade. Durante dias as pessoas vagavam pelas ruas contando estórias, as igrejas promoviam reuniões religiosas nas casas dos fiéis, padres e pastores pregavam o cristianismo pelas praças, crianças brincavam ingenuamente e adultos se escondiam do desconhecido, jornalistas prostravam-se em vários pontos da cidade com câmeras e gravadores para apurar fatos e curiosidades, os noticiários eram todos sobre o “enigma da rosa”, como passaram a chamar o caso.
Confesso que suas mortes foram registradas no período de um mês, o primeiro cadáver foi encontrado sem a cabeça na trilha da Urca, o segundo era um bebê de cinco meses não identificado, também, sem a região cervical de seu corpo, e com ele uma rosa manchada de sangue.
O Rio de Janeiro estava em pânico, a partir de então eu passei a temer, passei a acreditar que em pouco tempo eu também morreria, ou eu, ou alguém bem próximo por quem eu tivesse um apresso, foi quando resolvi as diferenças entre mim e o Gustavo e ir visitá-lo no leito que o acomodava desde que sofrera um acidente de moto que o deixou em estado vegetativo. Lembrei que na noite em que encontrei a rosa, foi nele que pensei, se de fato as coisas acontecessem de acordo com a lenda, ele voltaria ser o homem que eu conheci, bastava um toque meu, um sinal da cruz feito em sua testa com o dedo perfurado pela rosa e meu maior sonho seria realizado.
Fui ao hospital em que ele se encontrava internado. Quando o vi, as lágrimas não se contiveram, lembrei da nossa música, das risadas involuntárias, dos beijos apaixonados, das brigas desnecessárias, do pão de queijo que não comemos, das noites que não dormimos, dos sonhos que projetamos e dos planos que não concretizamos. Uma lembrança e uma decisão. Ali, ele poderia ser meu para sempre, não importava se não me amava, se me desprezava, não podia expressar suas emoções através do comportamento, mas sua família sofria, seus amigos sentiam falta das brincadeiras, das piadas, da sua voz, eu poderia interferir em seu destino e devolvê-lo a vida que perdeu, mas então eu seria apenas mais uma opção, ele voltaria a ter escolhas, teria vários caminhos novamente, e eu não sei se eu tornaria a fazer parte de sua vida, mas poderíamos renascer, poderíamos nos reencontrar como a lua e o mar, e assim, eu prossegui conforme a lenda da rosa. Fiz o sinal da cruz, minha pequena ferida no dedo mediano começou a se abrir, o sangue começou a se espalhar pelo corpo do meu amor, e nele respeitava cada curva, conhecia cada poro, e eu em um frenesi insano, escutava vozes e um nome : Romain. Não sabia o que ele significava, mas ao mesmo tempo em que a carne doía, minha alma vivia o êxtase, eu sentia prazer. Não havia ninguém no quarto e o ritual após alguns minutos, parecia não ter funcionado.
Voltei para casa frustrada com minha atitude ignorante.
No dia seguinte, ainda pela manhã, recebi uma ligação:
_ Alô.
_ Bom dia, a Paty por favor. _ Disse em tom ríspido uma voz de homem.
_ Pois não. Sou eu, quem está falando?
_ Oi meu amor, não reconheci sua voz, sou eu, Gustavo, ligue só para dizer o quanto te amo.
Uma mistura de medo e felicidade tomou conta de mim, sem querer acreditar falei:
_ Oi meu anjo, não sabe como fico feliz em ouvir sua voz!
_ Ai Paty, até parece que não nos falamos há muito tempo, você está estranha...
Percebi que ele não sabia do que estava acontecendo, comecei a acreditar que a tal lenda da rosa era uma verdade. Resolvi então, não comentar a respeito, meus pensamentos estavam atribulados, de repente senti-me perdida em mim mesma, como se eu estivesse em um mundo que não é meu, em um cenário que nunca existiu.
Encontrei-me novamente com o Jan, em sua profissão de jornalista, talvez pudesse esclarecer melhor a lenda, para que eu pudesse entender a minha vida. Nossa conversa foi impessoal e analógica.
Exatamente há cem anos, um casal jovem e aparentemente saudável, pretendia fazer qualquer coisa para ter herdeiros, pois Romain e Margot estavam unidos há três anos e nunca tiveram filhos. Ambos eram freqüentadores assíduos de uma sociedade religiosa oriunda de Moçambique,a principal concepção dessa sociedade era realizar sonhos independentemente de valores morais e sociais,. Em busca de saciar os mais profundos prazeres provenientes dos eus psicológicos, Romain e Margot, pseudônimos atribuídos a eles pelo fato de utilizarem um dos rituais satânicos mais antigos na históia da feitiçaria, como aconteceu em tempos remotos na cada da marquesa Montespan, Romain e Margot realizaram a missa negra.
O belo corpo de Margot fez-se de altar bem ao meio do Templo, que recebia todos os membros da sociedade e todos os que à feitora do ritual interessavam. Suas belas curvas chamavam mais atenção do que o próprio ritual em si, seus braços estavam estendidos em formato de cruz, sobre sua genitália, acomodava-se um cálice de ouro, que representava a feminilidade, o útero, continha cinzas de um menino morto em chamas, coberto por um pergaminho com o pedido de Margot escrito nele. Mas os ingredientes do ritual não estavam completos.
Para ser mais preciso, a missa negra acontece de forma contrária à missa cristã romana, ela começa pelo final, a cruz é posta ao contrário e as palavras de paz são substituídas por outras de horror.
O sonho do casal seria realizado, após ocorrer o sacrifício de um inocente que deveria ter vínculo biológico com o casal, e assim foi feito. Artur, primo de Romain, teve as veias de seu pescoço cortadas por uma navália, o templo ecoava seus gritos e seu sangue banhava a perfeição do corpo daquela que o recebia, e em seguida, manteve relação sexual volupiosa, nojenta e orgíaca com todos que ali estavam presentes, homens, mulheres, crianças, sem distinção. Em vida ou mesmo na morte, o casal deveria oferecer almas à Satanás, o que se perpetuaria através de uma rosa, que seria entregue a pessoas em seus momentos de fraquezas, sendo incapazes de rejeitar qualquer tipo de proposto para realizar seus desejos. Até os dias atuais, a sociedade continua ativada e seus membros continuam executando os ensinamentos e promessas dos antigos.
A partir de então, percebi que eu tinha sido mais uma vítima da maldição que jazia nos mais fracos, eu sabia que se o meu sonho havia se realizado, alguém deveria pagar por ele, se o Gustavo havia se curado e de nada lembrava, alguém sofreria em nome da minha felicidade. Felicidade roubada, destinos trocados, caminhos opostos.
Aflita, dediquei-me durante dias a encontrar os membros da sociedade que para qualquer pessoa lúcida não existia.
Antes mesmo que eu tivesse a oportunidade de corrigir meus erros e tentar salvar o que ainda poderia ser salvo, eu vi um pedaço de mim morrer, eu senti a dor que o espírito nunca tinha me apresentado, senti a temperatura que queima almas no inferno, eu derramei as lágrimas que o cérebro já não conseguia controlar, eu não era mais dona da situação. Caí com tamanho desespero de querer perder a vida para trazer a de minha filha de volta, que deitada em piscina de sangue, com a cabeça dependurada em uma lança que a atravessava e se prendia à parede daquele lugar maravilhosos, que confundia beleza com dor. Eu vi seus olhos pedindo ajuda, ainda que em silêncio, eu vi seu corpo estremecer na luta pela sobrevivência, ainda que parado, e ali, percebi que às vezes fazemos escolhas de uma vida que não é nossa, de um destino que não nos pertence.
Fui internada em um sanatório, onde permaneço até hoje, poucas pessoas vêm me visitar, não sou louca, mas foi o que acharam quando me encontraram chorando a mote de Samantha no alto de Santa Tereza, foi lá que minha vida acabou. É certo, todo ano na mesma época, pessoas virem me procurar para tentar salvas suas almas porque encontraram uma rosa, sempre lhes dou um pouco de água, pois, desde então eu me dediquei a ganhar almas para o bem, para a dimensão do arquiteto que tudo pode. Gustavo morreu drasticamente dois dias depois, jogou-se de um penhasco.
Eu tenho uma única certeza, que com a força da água benta que dou àqueles que me procuram, que algum dia alguém descobrirá todos os segredos dos “rosários” e uma rosa, a mesma que me feriu, trará boas novas à Terra, exalará perfume bom, mostrará a beleza que as flores invejam e ensinará que o tesouro mais precioso que possuímos não é o que desejamos, mas o que só descobrimos quando perdemos.
O meu tesouro foi a rosa que jamais morrerá. E no alto daquele morro, com vista para o Cristo Redentor, no lugar do sangue nasceu uma rosa, chamada Samantha.
Thetis / Patrícia Fraga / Paty Fraga

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Foto de patyfragacorreia

Agradeço ao site pela atenção, preocupação e cuidado, pois, dentro de pouquíssimo tempo conseguiram reparar a minha senha q havia expirado e eu fiquei sem saber o que fazer, criando outro perfil.
Obrigada a toda equipe, parabéns pelo trabalho!

Paty Fraga

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