O ignorante e o civilizado. Quem será quem?

- Amigo do campo, para que pescar de vara? tempo perde muito, peixe pega pouco, é esforço que não para. Trago aqui uns explosivos pra garantir sua alegria, terás mais tempo disponível e fartura de pescaria.
- Cumpadi civilizado, brigado pela preocurpação! Mas esse rio abençoado, mata a sede do meu gado, ajuda as famia do sertão. E tem muito tempo que nos serve pro mói de nossa precarção. Não quero água que animá não bebe, que nem na sua civilização, sem pureza, sem pescado, é muita tristeza um rio estragado.
- Amigo do campo, para que trabalhar tanto e viver sem qualidade? Vem pra vida na cidade e traz tua família para civilização. Aqui terás trabalho de verdade e muitos recursos para tua expansão.
- Muito grato meu cumpadi, mas daqui saiu não. Minha famia é muito unida, sempre mesa reunida, trabaiando com alegria e sem preocuparção. Todo mundo serve o outro com bondade no coração. Onde tu mora não tem famia, não tem bença do fio nem da fia. Sai de manhã deixa drumindo, chega de noite quase não vê acordado. São criado mais pelo mundo pro mói dos pai ta sempre ocupado. Cada quá tem seu carro, cada quá vê televisão no seu quarto. Cadê a união da famia? Sê pai né só da cria. Já nois aqui na roça andamo junto de carroça. Fazemo tudo reunido sem tristeza, união que é uma beleza. Os minino respeita os mais veio, o povo é trabaiador e sério.
- Mas meu amigo do campo vem ver como o mundo é extenso, deixa esse isolamento. Vem provar vida de fato, sai do meio desse mato. Vem gozar da modernidade e vem morar na minha cidade.
- Brigado cumpadi, mas deixa eu cá no meu sussego. To custumado a vivê sem medo, sem violência e sem poluição. Eu sei que na cidade tem muita modernidade e também tem muito homi bão. Mas também tem muita mardade, muita farta de verdade no coração. Eu aqui no meu cantinho, ouço o canto dos passarinho e não baruio de caminhão. Todo mundo se cumprimenta, não passa oiando pro chão. Respiro purinho o ar, não sujeira e poluição. Como das pranta que eu prantá e não essas coisa cheia de modificação.
- Pensando bem meu amigo, essa minha vida urbana está cada dia mais insana. Tanta violência, tanto stress, a cada ano envelheço dez. Tanta correria, tanta competição, tanto consumismo, tanta poluição. Vivendo mais para trabalhar e dando pouca assistência familiar.Necessito de um descarrego, apenas por um momento, gozar do sossego. Estou precisando ouvir os passarinhos, tens espaço em teu cantinho?