Tema Livre: Entre o Céu e a Terra

Foto de Paty Fraga

Em cada parte do submundo, existe um segredo, o escuro revela-se frio e indiferente, escondendo um grande mistério por trás de luzes e canções que não deixam a cidade dormir, livrando a todos de agudos gritos de dor e tormento, que vêm do inferno.
Aprendi que a vida é um jogo, a morte é apenas um iten do tabuleiro que percorremos, devemos estar sempre preparados para ela, e não nos deixarmos enganar com as maravilhas do mundo, pois, tudo na vida tem sua outra face.
As belas cidades não passam de meros cenários, ninguém sabe o que se passa nos bastidores, somos todos, filhos do pecado.
Entre o céu e a Terra existem muito mais fatores implícitos do que pensamos.
Era noite, e eu estava na janela de um hotel no meio do nada, parecia que havia silêncio, mas não o havia, os pingos de chuva caindo sobre o chão formavam uma linda canção, os motores dos carros “rangendo”... Não. Não eram motores de carros, era uma porta bem próxima que se abria lentamente. Escutei um som de passos ligeiros e firmes vem vagamente, que a cada segundo iam ficando mais perto, mais perto, mais perto...
...até que me distraí ao ver um espetáculo de horror, naquele exato momento da janela do meu quarto.
Inúmeras pessoas vestindo longas capas pretas, que cobriam da cabeça aos pés, logo me arrepiei, e pude perceber que carregavam algo de madeira, um caixote talvez. Alguns minutos depois, pude ver com precisão o que carregavam com expressão pálida e de forma hipnótica, era um caixão, seis ou oito indivíduos o seguravam e outros milhares acompanhavam aflitos a passeata.
Sem que eu percebesse comecei a chorar, uma tristeza profunda assolou meu coração, pus-me a imaginar o sofrimento da família que acabara de perder um membro importante, com seu mesmo sangue e sobrenome, que habitava algum lugar daquele mundinho perdido, tão pacato, que mal havia uma pequena igrejinha caindo aos pedaços, uma escola e um teatro depedrado, derramando lágrimas de sangue. Mas quando menos esperei, ouvi aquela multidão cultuando alguma santidade ou realizando algum ritual, não sei ao certo, só sei que falavam uma língua estranha. Uma energia negativa emanava naquele lugar, havia alguém bem ao longe, que traduzia o que aquele emaranhado de gente repetia com convicção, escutei nada mais parecido com: “Venero a noite, cultuo a morte, quero sentir o prazer e o amargo sabor de ver a cidade temer o mal, quando a Terra estremecer”, e foi aí que percebi que não era um simples enterro.
Estava sozinha, fechei os olhos e comecei a orar.
O silêncio finalmente reinou e a paz veio de encontro a esse, quando de repente, o barulho dos passos voltou a perturbar meu silêncio e aquele povo lá fora ainda não desaparecera, fiquei confusa e assustada, não sabia se me prevenia dos passos ou prestava atenção naquelas vozes fúnebres. Meu coração disparou, voltei a olhar pela janela, o caixão estava aberto e havia uma bela moça lá dentro. Coitada! Eu pensei.Tão linda! Tão Jovem!
Reparei em cada detalhe da sua matéria, tinha os olhos azuis, os cabelos ruivos, talvez fossem loiros ou castanhos, não deu para ver direito, o reflexo da luz impedia uma visão mais exata, a pele clara e o rosto marcado, era um símbolo, não, era uma marca indefinida, tinha a cor avermelhada, parecia sangue, não sei bem.
Em questão de segundos, me dei conta...
_ Meu Deus! _ eu gritei aflita e amedrontada.
_ Sou eu!
Arregalei os olhos, fiquei trêmula, desnorteada, uma sensação de terror tomou conta do meu ser, queria ir embora dali imediatamente, estava pálida, queria respirar fundo, sair correndo, mas meus pés não se mexiam e meu corpo não respondia, de maneira alguma consegui sair do lugar.
Os passos ainda me perseguiam, resolvi então, virar meu corpo contra a janela e deitar, até que amanhecesse, mas quando virei, deparei-me bruscamente com um homem alto, vestia um roupão negro, como os que estavam lá na rua e tinha o rosto deformado. Eu congelei, olhava bem dentro de seus olhos e tremia, até que pude ver o brilho de uma lâmina, quando senti uma dor profunda, como se todos os tecidos do meu corpo tivessem se abrindo, e foi aí que percebi que ele havia encravado aquela faca em meu braço. Repentinamente, tudo foi ficando nebuloso, eu fui ficando fraca, fraca, fraca...
Aaaaahhhhhhh!!! Levantei meu tronco ligeiramente da cama, estava suando frio e com a respiração ofegante, olhei para os lados, abaixei a cabeça, fechei os olhos e passei a mão esquerda na testa, que descia lentamente pela lateral do meu rosto e repuxava a pele, deixando-a vermelha.
_ Ufa! Foi apenas um sonho!
Assustei-me com meu próprio grito, sentei-me, e percebi que estava bufando, olhei novamente para todos os lados e não vi ninguém, todavia, a cama estava ensopada de san-gue, algo de estranho realmente acontecera na noite passada.
Meus pensamentos estavam atribulados, eu lembrava de tudo tão claramente, que parecia ainda estar acontecendo, mas resolvi esquecer, meu estômago já estava implorando por comida, eu decidi que envolveria meu braço com atadura e desci para o restaurante do Hotel Atlas. Todos olhavam para mim, talvez fosse porque estivesse estampado em meu rosto toda a aflição da noite anterior.
Quando sentei para deliciar-me com todas aquelas guloseimas que me serviram, avistei na beira da piscina, uma bela escultura de cabelos lisos e negros, cortados de forma arredondada na altura do queixo, e pele branca como a neve.
Dos seus olhos só pude ver um brilho intenso que reluzia o ambiente, fiquei fasci-nada, não consegui desviar o olhar.
_ Quem será este homem deslumbrante? O que faz aqui, neste lugar esquecido?
Três dias se passaram, e eu não parava de pensar naquele homem, estava disposta a conversar com ele, precisava desabafar, precisava de um amigo e companheiro, pois, todas as noites eu ouvia gritos e choros de crianças, como se fossem vozes vindas do além.
Eu não podia sair daquele hotel, era o único na cidade, e eu precisava desvendar um enigma, já que só desvendando-o eu deixaria de ter fortes dores de cabeça e as coisas co-meçariam a dar certo. Minha missão era descobrir quem fui na vida passada. Um mago havia me dado essa tarefa, e disse que para a missão ser bem sucedida, deveria ser cumpri-da da forma mais natural possível.
_ Enquanto você continuar fugindo do seu próprio eu da vida passada, jamais en-contrará a felicidade, mas deve-se conhecer aos poucos e da forma mais natural. Vá até uma cidadezinha escondida, chamada Atlanvile, lá você desvendará todos os mistérios e terminará de viver o que deixastes para trás há milhões e milhões de anos.
O dia de falar com aquele homem chegou, mas como eu iria me aproximar dele?
Resolvi saber um pouco sobre ele antes de chamar sua atenção, fui até a recepção, mas tudo que consegui a seu respeito, foi que ele estava na cidade há pouco tempo, mas não estava com malas o suficiente no dia em que chegou, sinal de que não havia procurado Atlanvile para habitar e que todos os dias durante a manhã, ele dava voltas e voltas na piscina, observando o céu e a água.
Caminhei até ele, uma força maior me dominou e todas as palavras se calaram, foi uma espécie de transe que jamais vivi, olhei-o nos olhos e suspirava de emoção, perplexa, perguntei se ficava ali todos os dias apreciando sua própria beleza, e ainda fui irônica comparando-o com Narciso. O príncipe encantado apenas sorriu.
Sem tempo a perder, fui à biblioteca da cidade para pesquisar sobre a história daquele local, chegando lá, encontrei um senhor muito simpática de barbas grandes e cabelos encaracolados na altura dos ombros, fora bastante atencioso e logo ofereceu-se para ajudar, falando com uma voz serena, melodiosa:
_ Olá minha jovem, em que posso ajudá-la?
_ Eu estou à procura de documentos.
_ Receio que tenha vindo aqui a mando de jornalistas, pois, nunca a vi na cidade.
_ Fique tranqüilo, não sou do ramo jornalístico, o que procuro é muito pessoal.
_ Pessoal?! _ indagou aquele brando senhor, com um suave ar de espanto.
_ Mais ou menos, na verdade quero pesquisar sobre a história desta cidade, quem foram seus habitantes... enfim, essas coisas, quero algo que revele quem foram... foram... meus pais.
_ Bem, como ainda não me apresentei, sou o senhor Avelard, e se tiver tempo, conto-te agora o que precisas saber.
_ Claro que tenho tempo, é minha meta conhecer o histórico de Atlanvile, não saio desta cidade enquanto não descobrir os mistérios que giram em torno deste local.
Com muita paciência, o senhor Avelard relatou que Atlanvile foi uma cidade de refúgio para bruxos e feiticeiros, na época em que nobres cavalheiros lutavam com suas armaduras e espadas. Alguns feiticeiros eram iniciados na magia negra, portanto, eram e-xonerados da sociedade dos bruxos, fugindo para Atlanvile e criando uma sociedade restrita e oculta, até que um dia foram descobertos, uns foram aprisionados e morreram de pragas ou fome, outros foram queimados na maior praça de Atlanvile, que ganhou o pseudônimo de Praça da Morte.
Confesso que fiquei assustada, não esperava uma história desse tipo, pensava que Atlanvile fora uma cidade de refúgio para negros, mas fiquei muito grata, pelo tempo àque-le senhor, que dedicou parte de seu tempo a mim. Eu senti uma imensurável vontade de contar o que descobri ao meu “príncipe encantado” que não revelou seu nome.
De volta ao Hotel Atlas, procurei o príncipe por todas as partes e não o encontrei, mas uma mulher de cabelos muito bem penteados e roupas finíssimas, abordou-me no res-taurante do hotel:
_ Boa noite senhorita, eu sou a prefeita de Atlanvile, e vim aqui para avisá-la que é terminantemente proibida a entrada de pessoas na biblioteca, enquanto a mesma estiver em reformas.
Sem entender absolutamente nada, perguntei-lhe:
_ Por que está me dizendo que a biblioteca está em reforma? Não foi isso que pude constatar.
Em poucas palavras rudes, a prefeita falou:
_ Acho que não falei grego, a biblioteca está fechada para obras, e caso eu saiba que a senhorita pôs os pés lá novamente, eu não responderei pelos meus atos.
_ Mas... mas isso não é possível, eu estou sem entender nada, eu estive lá hoje, en-trei, não estou maluca, até fui atendida por um velho senhor, de barbas grandes, o senhor Avelard.
_ Olha aqui mocinha, pára de brincar com assunto sério, você nunca me verá sair da minha cidade para pregar peças na sua. O senhor Antenor Avelard morreu há 200 anos, 2 anos após ter fundado a biblioteca de Atlanvile.
Engoli em seco, arregalei os olhos, respirei fundo , não sabia o que pensar, estava tudo muito confuso, a cada dia, eu me surpreendia com aquela cidadezinha.
_ Meu Deus! O que será de mim se continuar aqui? O que a cartomante quis dizer com “terminará de viver o que deixou para trás”? Isso tudo me assusta.
Fui para a cama, porém, não consegui dormir, lembro-me que tinha medo de ir até a janela, mas eu precisava de ar puro, refletir sobre o dia que eu tivera e que me deixou ator-doada. Ao abrir a janela, uma corrente de ar muito fria entrou em meu quarto, e a mesma sensação que senti no primeiro dia, senti naquele exato momento, olhei para meu braço e fiquei aliviada ao perceber que estava cicatrizando. Olhei através da janela e não vi nada, apenas um gato de olhos vivos, que me enxergara ao longe, quando novamente eu escutei passos de alguém se aproximando do meu quarto ligeiramente, eram passos rígidos, mais parecia botas, que fizeram minhas pernas tremerem e meu coração acelerar. Assustei-me quando ouvi o som da porta se abrir, eu me desesperei e comecei a gritar de olhos fechados me debatendo contra o corpo que me segurava com firmeza.
_ Socorro! Socorro! Socorro! Alguém me ajude por favor!!!!!!!!!!!!!!!!
Gritei durante alguns segundos, até que uma voz começou a retrucar algumas pala-vras em um dos meus ouvidos e uma mão a afagar meus cabelos.
_ Calma... calma... Acalme-se, relaxe, fique quieta.
Eu ouvia vagamente o soprar daquela voz de homem, que aos poucos foi me acalmando.
Gradativamente fui me recuperando do choque, e quando me dei conta, todo o hotel estava em meu quarto ou em sua volta, procurando saber o que estava acontecendo, e que o homem o qual eu chorei de medo, era o “Narciso da piscina”.
A senhorita Clor, a prefeita da cidade, morava no hotel onde eu estava hospedada, fitava-me seriamente, com ar de superioridade, dando a entender que eu queria chamar a atenção de todos.Falou rigorosamente:
_ Sua louca! Nós nunca tivemos problemas com turistas, foi só você surgir que Atlanvile não é mais a mesma, se você aprontar mais alguma, serei obrigada a convidá-la se retirar da cidade.
Pus-me a chorar desesperadamente, mas Davi me confortou, passamos a noite juntos e foi maravilhoso, conversamos durante horas, ele me disse que tinha um segredo a ser revelado, mas que eu só iria saber no momento certo, fiquei a pensar que tipo de homem era aquele que me acalmava, que me fazia feliz, me alucinava e fazia eu viajar junto aos meus pensamentos itinerantes.
_ Eu também tenho um segredo . Disse a ele.
_ Pode me revelar?
_ Não. Ainda não, pois, é um enigma, eu também não sei o que devo guardar como segredo, só sei que o tenho, e talvez seja você.
Aquele momento foi mágico, nos beijamos pela primeira vez.
Dia após dia e nada. Davi e eu não éramos namorados, mas também não éramos reres amigos, todavia, estávamos muito distantes, eu não o via há uns quatro dias, nos co-municávamos através de telefonemas.
Certa noite, quando o céu precisava ser pintado com estrelas, encoberto de nuvens negras e pesadas, fui até o porão do hotel, com a finalidade de encontrar mais pistas sobre a cidade, livros, relíquias, sei lá, qualquer coisa que me ajudasse a descobrir o que eu procu-rava. Eu não sabia o que o destino havia me reservado, estava apaixonada e não podia ter o homem dos meus sonhos e procurava por uma coisa que nem eu mesma sabia o que era.
O porão era escuro e úmido,estava cheio de teias de aranha, muitos ratos... era um local macabro. Eu estava muito dispersa, e de repente eu fui atacada bruscamente pelas costas, e só pude sentir um líquido quente escorrendo sobre meu corpo, não sabia o que era.
Em minha mente, várias cenas se passaram, pensei em todos os momentos bons que passei ao lado do Davi, não sabia ao certo o que estava acontecendo, só sei que naquele instante eu descobri o que precisava saber para desvendar todos os mistérios, mas minha vista foi ficando embaçada e fosca, até que não resisti e caí desacordada no chão.
Quando acordei, estava na cama de um hospital, abri os olhos lentamente, quase não tinha força para me mexer ou falar, senti como se o fim estivesse próximo. Avistei no meio do quarto, uma sombra, era homem... era o Davi, isso me tranqüilizou mais, eu não estava sozinha, ele estava ali, para me proteger. Quando o Davi percebeu que eu tinha aberto os olhos, justificou a minha inércia na cama daquele hospital.
_Você foi vítima de tentativa de homicídio, mas não se preocupe, já estamos cuidando de tudo.
Uma voz dentro de mim que não queria calar, insistia para que eu revelasse o meu segredo, como se eu não fosse ter esta oportunidade outra vez, então respirei fundo e falei com a respiração ofegante e com a voz quase imperceptível:
_ Davi, eu sei quem me atacou.
_ Como assim? Você foi atacada pelas costas, e segundo os policiais, não tem pos-sibilidades de você ter visto o homissida.
_ Eu não vi Davi, mas sei quem foi.
_ O quê? Você tem inimigos?
_ Sim, tenho.
_ Quem são? Eu posso saber? Por que nunca me contastes nada?
_ Porque nem eu sabia que em uma cidade desconhecida, o desconhecido quisesse saciar o desejo de fúria contra mim.
_ Não estou entendendo._ Disse o Davi, com uma expressão de quem está muito assustado.
_ Os espíritos Davi. Eles são meus inimigos, quiseram se vingar de mim. Na vida passada, eu fui uma bruxa, uma feiticeira iniciada na magia negra e fui queimada em praça pública, agora os espíritos querem se vingar porque na vida atual, eu escolhi encarnar como uma pessoa boa, como uma forma de evoluir espiritualmente, uma ambição que todos os espíritos têm. Acredite em mim, é a mais pura verdade, eu preciso de ajuda...
A cada minuto eu ia ficando mais fraca.
_ Eu acredito em você, pois, o meu segredo também é inexplicável.
_ E qual é o seu segredo?
_ Eu vou te contar.
_ Espera um pouco, antes que você me conte, quero que me explique porque não se entregou por completo à nossa paixão.
_ Muitas vezes, precisamos abrir mão do que desejamos porque não está escrito nas estrelas.
Pi! Pi! Pi! Pi! Pi! Pi! Pi!Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
De repente o aparelho que media a pulsação do meu coração disparou e meus olhos se fecharam.
Davi derramou algumas lágrimas em silêncio e beijou minha testa dizendo:
_ Um dia você saberá qual é o meu segredo.
Aquele rosto lindo à minha fronte, sumiu repentinamente e avistei uma luz forte que impedia o trabalho da minha visão, percebi dentro de segundos, que temos pouquíssimo tempo para cumprir uma missão, e quando a cumprimos, não há mais nada para fazer na Terra, por isso, devemos aproveitar cada momento, cada dia, cada segundo, como se não houvesse um próximo dia, pois, nunca sabemos qual é e quando nossa missão chega ao fim.
Finalmente, eu compreendi o que o Davi falou sobre as estrelas, e percebi que a missão dele não era amar uma mulher como qualquer outro homem, ele era um anjo.
...E após ter vivido o que eu deixei para trás, hoje estou aqui, fronte a uma psicografista, revelando meus mais profundos segredos.

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O site merece todos os elogios possíveis e imagináveis, obrigada pela atenção e profissionalismo, vocês me ajudaram bastante!

Paty Fraga

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