Versos dormentes

E tão logo venha a partida deste amor
observarei a gélida beleza da lótus flor
Cansada de estar ereta a olhar o céu
Desiludida ao perceber o que escondes em teu véu
clamarei pela felicidade inocente de outrora
Aonde como turbilhão vinha na aurora
E junto à saudade que de ti tanto sinto
Inebriando minha alma tal como fosse vinho tinto
Espumante como as ondas do mar ao entardecer
A imensidão deste mar se parece com o abismo
Em que se encontra jazido em mim
Desde aquela noite em que tudo parecia breu
Que até deixaria na tristeza morfeu
E lá você entrou na bruma do mar incessante
Deixando meu coração num conflito esmagante
Perdida neste amor que agora vejo

Sombreada à ilusão de meu ardente desejo
O que não passou de uma mera ilusão
E aos poucos foi ferindo o meu coração
Deixando minh’alma na solidão
Eu o tinha, mas não por perto, minha’gonia
Seu pensamento logo se dividia
Entre o amor que outrora nos uniu
E agora em teu ser ao meio se partiu
Estamos aqui neste impasse sem fim

Distante estou eu, e, distante estás de mim
Onde não o quero perder e não o posso ter

Luta infinda que sozinha não posso vencer
Sinto-me como uma condenada à morte

Infeliz destino de quem não tem outra sorte
A guilhotina me aguarda sedenta e decepa

Uma última lágrima a cair que a mão intercepta
Todos os pensamentos que vivem na mente
Já não fazem sentido e me tornam doente

Acabo de morrer para a vida

Deixo-te este poema como minha despedida!