Quem sou? Uma louca? Ando de um lado para o outro sem nada a fazer, sem nada perceber…
Só me lembro daquele horrível dia… o dia em que te vi morrer… morrer aos poucos, ouvir as tuas palavras de socorro, e eu pouco podia fazer.
Sim, lembro-me como se fosse hoje!
Era fim da tarde, e tu ias-me levar a casa, ia-mos com aquele olhar que só nós tínhamos, que só tu conseguias provocar, e aquele sorriso único que só tu fazias que eu tivesse.

Saudade

Através de aniversários percebi que o tempo passara, entretanto, os fatos continuavam vivos, meu corpo ainda respondia aos estímulos da primeira paixão.
Repentinamente, fragmentos de uma poesia invadiram meus pensamentos, desviando-os de uma linda valsa para a montagem de um quebra-cabeça.
As peças estavam todas embaralhadas e inúmeros anagramas foram montados, até que a magia de uma palavra fez-me desvendar o enigma: Neruda. Certamente, Neruda não respondia ao que era “sentir que existe o que não existe mais”, porém, em fração de segundos lembrei que o nome da poesia era saudade, escrita pelo “Pablinho”, meu amigo íntimo das horas difíceis.

Pouco se diz ao coração,
quando o primeiro amor aparece.
Deixa-se fluir em emoção,
tão logo o sentimento acontece.

Sente-se um frio na barriga.
Seca, a boca se desperta.
E não para até que consiga,
desvendar sua grande descoberta.

As mãos entregam-se desesperadas,
a um repertório de musicas desconhecidas.
Tentando agradar mas, são tão desafinadas,
não conseguem tocar as suas preferidas.

Mas logo termina a brincadeira.
A alma já não é mais tão pura.
O que se sente é um grande torpor.
Revela-se silenciosa e sorrateira,
a noite, que se faz agora escura,
brindando o seu primeiro grande amor

Até quando... Só Deus saberá
Izaura N. Soares

Esperar...
Até quando?
Quando os meus desenganos se dissiparem?
Quantos enganos o meu coração sofreu em tão poucos dias. Quantas decepções ele acalentou dentro de si por um amor que julgava existir? A descoberta foi cruel, o desdém foi pior ainda!
Até quando você vai fingir que nada aconteceu e que você nunca sentiu nada por mim? Será que tudo foi uma ilusão de um coração apaixonado que perdeu completamente a razão?
Como posso esperar a decisão de um coração que não consegue mais amar?
Oh, triste solidão que se perde no tempo que nem mesmo o próprio tempo não consegue amenizar essa paixão que viveu o pior dos desenganos.

Pequenos arremessos
de vontades
ao colocar
pétalas de flores
no jarro dos prazeres

Penso em portas
a se abrirem
sem o medo
da desternura

Ofuscada pelo breu
das trevas insolúveis

Primeira taça
o amor que tanto
se sonha

Completo
aberto
descoberto

Despido nas pétalas
das flores

autora: Angela Nadjaberg Ceschim Oiticica