DUAS METADES
Pensando em minha vida
Perguntei ao coração
Se existe uma saída
Ele disse: “não sei não!”
“O seu caso está perdido
Acontece com quem ama
Vi a flecha do cupido
Logo vais estar de cama”.
Insisti inconformado
Eu não quero mais sofrer
Nem ficar apaixonado
O melhor é esquecer.
O coração gritou de dor
Outra flecha, bem certeira
O caso é grave, é amor
E vai durar a vida inteira.
Desisti de argumentar
E procurei um hospital
O negócio é operar
Extrair de mim o mal.
Fui levado à cirurgia
Logo abriram o meu peito
Sem usar anestesia
O doutor disse: “não tem jeito”.
E com preocupação
Explicou bem devagar
“Só tem meio coração
Vi um caso similar”.
Eu fiz cara de assustado
Como pode isso ser?
Se não posso ser curado
Comprem flores: vou morrer.
Só tem uma solução
Mas talvez já seja tarde
Ache outro coração
Que só tenha a metade.
Explicou que mês passado
Uma moça machucada
Deu entrada no P.S.
E acabou desenganada
Com olhar meio descrente
Já mandou me apressar
Porque a moça está doente
E não tinha a quem amar.
Sem remédio a receitar
Explicou com precisão
“Peça a ela pra te dar
O seu meio coração”.
“Quando os dois se encontrarem
Ambos vão sobreviver
Foram feitos um pro outro
Separados vão morrer.”
Procurei a tal da moça
Que me olhou desconfiada
E pediu sem cerimônia
Que queria ser amada.
Precisei de um momento
Pra entender toda a verdade
Eu estava incompleto
Sem viver felicidade.
Quando ela disser “sim”
Passará toda essa dor
Viverei com ela em mim
E lhe darei o meu amor.