Deserto

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Pequeno Ditador

Era uma era, onde não havia vez. Nesse tempo vivia um pequeno ditador, cujo nome só podia ser entendido na sua própria língua, e esse pequeno ditador massacrava seu povo, e esse pequeno ditador promovia orgias com as riquezas acumuladas por meio da sua opressão. Num lugar esquecido pelo resto do mundo, ele, figura exótica, de nada lembrava as caricaturas chaplinianas do cinema ocidental. Era o fragelo da era, há meio século no poder. Quase um imortal.

Mas acontece que ele não era imortal. Certo dia, após uma entrevista para uma televisão estrangeira, o pequeno ditador teve de esperar a chegada de seu motorista oficial. Logo ele, o pequeno ditador, tendo que esperar! Não costumava ter um minuto de sossego, com bajuladores indo e vindo. Mandou todos para longe da sua presença e, aborrecido, pôs-se à meditar solitariamente na solidão de seu poder.

Teve a idéia de rezar. Não soube bem explicar à si mesmo a causa. Não precisava de mais nada. Viu-se na obrigação de orar por proteção divina, mas com tantos seguranças, e um exército à disposição, não tinha tanto o que pedir. No seu país era mais poderoso que Deus. Sua palavra era o que apontava a salvação e determinava a morte.

Mas, que poder era esse, poder de bombardear a própria pátria; de destruir sonhos de mães, filhos, irmãos; de arrasar um deserto, vejam só, um deserto, tornar a vida impossível num lugar que já é árido; prender aqueles que tanto sofrem pela liberdade, ao ponto de viver num lugar onde ninguém mais poderia para preservá-la.

O Pequeno Ditador, como um Narciso que lambe a própria imagem, curvou-se hipócritamente diante de seu superior imediato, e implorou brandamente a piedade de seu universo. Por um momento se envergonhou. Por um momento foi humano, em se titubear. Por um momento acreditou que o mundo é bom, mas as pessoas são egoístas e o estragam por besteiras. Um instante que revelou toda a sua vida.

Mas foi somente um instante. Alguém bate forte à porta. Será o motorista? Tomara? Ou não, será o inesperado, pedindo a passagem do imponderado...?

Nesses tempos nada é tão improvável.

Foto de raziasantos

Solidão!

A solidão me consome.
Sou apenas uma flor
Perdendo sua força...
Meus dias são vazios.
As noites intermináveis.
O tempo parou, mas minha força levou!
Como um papel levado pelo vento,
Assim sou eu na tempestade do meu interior.
Minha solidão é como um disparo na escuridão.
Em busca dos sonhos encontrei desilusão.
Em noites de festas sou uma sombra.
No imenso deserto da solidão jamais me despeço.
Solidão agora e sempre, solidão apenas solidão.

Foto de fisko

Santo Dia

Enquanto me desfazes no cinzeiro do teu ser,
Eu acordo, lavo a cara, olho-me ao espelho e saio.
No caminho da minha vida,
Deixo cair uma lágrima,
Suave, fresca e sincera.

Queria sentir-te enquanto dormias.
Queria saber destinguir-te por entre a mágoa e a dor.

Hoje sou só eu.
Sem fábulas espantosas como outrora.
Com uma mente brilhante presa a uma alma estragada,
Deitada num qualquer cinzeiro público.
Esquecida, estropiada e novamente esquecida.

Sou um homem que chora baixinho.
Sou um sentimento disperso.
Sou uma caixa de música bonita oferecida no dia dos namorados.
Sou uma data qualquer.
Sou o mundo todo e, por isso, não sou nada.

A minha dor é desprezível
Como um produto caríssimo no supermercado.
A minha dor é melancólica
Como uma canção de Yann Tiersen num deserto.
A minha dor é velha
Como o vinho que o meu pai guardava em casa.

Faço parte de tudo o que ouves.
Faço parte de tudo o que sentes.
Faço parte de tudo o que dizes
Sem pertencer a nada mais que aquilo que é meu,
E por isso não faço parte de nada teu.

Sinto-me tão baixo que até toda esta escrita me mete tédio,
Escrita que deveria fazer-me bem, não espelhar o tédio desta situação.
Sinto-me como um copo partido,
Caído num qualquer mata-sede,
Caído pelas tuas mãos.

Hoje trago o tédio no bolso da camisa que me ofereceste
E vou matando-o como um cigarro.
Vou fumando-o.
Fumando-o e desfazendo-o no mesmo cinzeiro público,
Onde despejaste o meu ser e todas as palmas que te dava.
Vou fumando-o enquanto houver para fumar
Ou enquanto o divino me der vida para continuar a fazê-lo.

Vou fazendo isto tudo com um toque pessoal.

Amanhã acordo, lavo a cara, olho-me ao espelho e saio.
E continuarei a fazer o mesmo, todos os dias.


Porque não sei fazer outra coisa
E sinto-te demasiado para conseguir deixar de te sentir.

“Respondi às perguntas e às dúvidas com o tempo, ninguém me explicou o que passei, ninguém percebeu, acho, tenho a certeza que o meu pai ainda espera que um dia chegue a casa com uma mulher como tu pela mão, numa obrigação de filho, obediente, como quando lhe mostrava os deveres da escola depois de jantar.” (…)

Foto de Allan Sobral

A lenda do Amor

Prestem atenção, pois é provável que esta será a única vez em que ouvirão esta lenda, pois houve um decreto divino, proibindo a sua propagação.
Aconteceu em uma terra longínqua, mas muito parecida com a terra em que vivemos, em um tempo onde as horas não eram contadas, as noites eram mais longas e os dias eram sombrios, onde as pessoas eram feitas por sentimentos, na maior parte tristes ou covardes. Reinava sobre o mundo uma guerra inexplicável, guerra esta que já perdurava por tanto tempo, que as pessoas nem lembravam por que começaram, mais a febre por riqueza era tanta, que suas almas já eram cegas.
Deuses já não eram lembrados, e a fé era quase que inexistente. Mas no mais alto ponto escondido ponto do céu, porem o mais belo jardim, habitava o Criador, mais conhecido como Deus, que observava com grande dor, sua criação mais preciosa se destruir freneticamente, sem motivo algum, pois as mortes já eram incontroláveis, e os que ainda viviam possuíam almas mortas.
Então o Pai se levantou do trono para criar algo que compensasse sua dor, foi até o jardim, e buscou das mais puras e verdadeiras essências a inspiração. E como bom artista criou mais uma obra, mais essa era diferente, era uma flor, pétalas de ouro, raiz de cristal, seu caule era diamante, sua folhagem era alegria, seu perfume era pureza. O céu havia parado, pois era raro ver o Criador inspirado, os anjos já sentiam no ar a emoção de um artista, mas o céu inteiro se calou quando o Pai regou aquela flor, e como bom poeta ao concluir sua obra, a banhou com suas divinas lagrimas, e a batizou com o nome de Amor, e decretou que qualquer que o tivesse seria feliz, eternamente Feliz.
Mas a terra era impura e os homens gananciosos, e não mereciam o Amor, Com voz mansa, mandou que chamassem Igório, o pássaro do canto mais bonito, e do vou mais ligeiro, E ordenou que Igório teria a missão de esconder o Amor, onde jamais fosse destruído.
Imediatamente voou o pássaro, em busca do lugar perfeito para guardar o Amor, passou pelas terras tristes, pelos mares revoltos, pelos campos mais ermos, voou o deserto mais seco, mas cansado não encontrava. Sempre acompanhado do seu amigo vento, que curioso perguntava sempre:
- Igório, porque voaste tanto? O que tu procuraste? Já não ouvimos mais os seu canto.
Cansado o pássaro deixou escapar, que carregava, o Amor, algo desconhecido, mas que era o segredo para que todos os reais desejos se cumprissem, a chave para a paz, ou talvez até mesmo trazer o fim da guerra.
O vento implorou para que o pássaro o permitisse tocar o amor, ou ao menos ver, mas o pássaro não permitiu. O vento permaneceu curioso mais não se contentou.
Ao anoitecer, o vento deixou com que a noticia se espalhasse entre os ventos do Norte, Sul, Leste e Oeste. Os quais contaram para as estrelas, que não ocultaram o segredo para a Lua, Lua esta que ao beijar o Sol na hora pontual de nascer mais uma manhã, também contou ao astro Rei, o Sol por sua vez, não temeu em espalhar para todos os que o viam, que Igório carregava o segredo da paz, e da suprema felicidade.
Toda a natureza e toda a triste humanidade imediatamente começaram a buscar o Amor, sem nunca o terem tocado ou se quer visto, mas sabiam que o pássaro do canto mais belo era quem carregava o amor.
O arcanjo amigo de Igório, sabendo que todos o cassavam, imediatamente recomendou a Igório que se escondesse.
O pássaro apavorado seguiu as recomendações do amigo, e escondeu-se a traz de uma arvore seca, que ficava na beira do Lago das Lagrimas, ficou lá por horas e horas, até que algo lhe incomodou, era um choro tristonho e distante, o pássaro curioso foi verificar o que lhe incomodara, e observou que na outra beira do lago, havia um menino que chorava bastante, Igório que era o dono do canto mais belo, decidiu cantar para tentar acalmar aquele menino. Igório foi cantando, cantando, até que o menino se acalmou, e encantado admirava o canto, e ainda com os olhos brilhando pelas lagrimas, deixou manar em seu rosto, um sorriso belo e sincero.
Naquele momento, o pássaro descobriu o lugar perfeito para guardar o Amor; dento do coração daquele menino, onde ninguém o tocaria, viria, e muito menos o destruiria, e se multiplicaria através da pureza de um sorriso, ou a ingenuidade em um abraço.
Então Igório voou em direção aos sonhos, com uma lagrima que brilhava em seu olho, lagrima até então desconhecida, foi a primeira lagrima de alegria.
E até hoje o Amor vem se propagando, com sorrisos puros, abraços, beijos, piedade, compaixão ou qualquer gesto de carinho.
E os homens continuam guerreado, invejando, destruindo e chorando, em busca da suprema felicidade, sem entender que o segredo da paz, e da felicidade, está enraizado dentro do próprio coração.

Allan Sobral

Foto de Marilene Anacleto

Diamante Azul

O clepsidra explodiu
O escuro clareou
Do profundo sono me acordou.

Sonhava com o deserto
Iluminado pelo ouro solar

De repente a ventania
Meu barco pôs-se a singrar

Diamante azul sagrado
Veio comigo estar

No real e nos meus sonhos
Diamante azul, meu amado

Transforma o mundo enfadonho
E se põe feliz ao meu lado

Diamante azul sagrado
Une o presente ao passado.

Marilene Anacleto

Foto de Diario de uma bruxa

Vida em preto e branco "Cadê as Cores"

As cores estão por toda parte
Porque não posso vê-las

O verde da mata
O azul do céu
As cores das casas
Esculpidas com pincel

A imensidão do mar
Pintado no painel
As belas cores dos cavalos
Do carrossel

Não vejo cores
Apenas o preto no horizonte
E o branco no papel

Estou presa em um filme mudo
Bem antigo
Sem cores, até Chaplin passou por mim
Com sua roupa preta e seu rosto branco
Ai meu Deus tire-me daqui
Deste sufoco

Aqui esta deserto
Morri e não fui pro céu
Não há cores na esquina
Nem na subida do painel

Uma caixa antiga
Por favor, alguém
Traga cores, de vida a esta tela
Traga-me de volta pro céu

Poema as Bruxas

Foto de jessebarbosadeoliveira27

PAISAGEM EXANGUE

Tudo é breu:
O cotidiano
Transmuda-se na chuva ácida
Que pulveriza por completo
Sonhos forjados por aço, diamantes e ferro.

Tudo é bruma que cega:
A esperança fica estéril
Ao perder a sua centelha eterna
Para o alucinógeno e deletério
Oxigênio da guerra.

O caminho
São zilhões de labirintos prenhes de maledicência:
Neles, o imensurável deserto
Nos espreita: sedento por nossa alma,
Verve e consciência.

Queria ser um parlapatão ou um espantalho
Para que me mantivesse indiferente ao teatro.
No entanto a redoma de mim se despoja,
Deixando a minha retina ser ferida
Pela tétrica realidade belicosa.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

Foto de Carmen Lúcia

Barco perdido

Barco à deriva
perdido no mar
nômade a vagar...
cedendo à tentação
sem direção
na imensidão
da noite furtiva...
atrás da cortina
ilusória
transitória
inglória
da ambição...
maquiando o prata
ocultando o breu...
Mar dos hebreus
que não se abriu
ao que descreu ...
Caminho deserto
incerto
solidão
exaustão
ilusão
contraditória...
Vil trajetória
denegrindo a história...

Onde aportar?
E ancorar desatino?
Barco perdido
parco destino...

Melhor naufragar.

(Carmen Lúcia)

Foto de raziasantos

Tudo é Possível ao que crer.

Quando cansada de navegar no mar da vida, solitária e sem rumo.
Deixei de sonhar, de acreditar no impossível.
Depois de navegar por mares, tempestuosos.
Atravessei desertos, e montanhas.
Passei por vales da dor, e atormentada pela saudade de minha própria vida.
Resolvi morar entre as rochas ali me reencontrei com Deus meu salvador.
Alcei a voz pelo deserto e clamei em alta voz.
Acordei do pesadelo e voltei a sonhar.

Descobri que o pesadelo acaba ao acordarmos, mas os sonhos renascem a cada amanhecer.
Então votei á viver, e creditar que tudo é possível...
Quando se crê num Deus poderoso e fiel.

Foto de Amandynnnha

A Insatisfação e o Amigo Verdadeiro

Um certo dia caminhava pelas veredas da vida um jovem muito descontento e insatisfeito com a vida que vivia e com o único amigo que tinha. No decorrer do caminho encontrou-se com um sábio, tremendo e com muita timidez, perguntou-lhe:
_Senhor, o que tenho que fazer para encontrar um amigo verdadeiro?
O sabio intrigado com essa pergunta exclama: _Filho, e esse jovem que está com você? Por acaso não é seu amigo?
O jovem gaguejando tenta se explicar: _ sim, que...q..quero dizer não...por favor senhor, me diga aonde posso encontra-lo!!!
_Ta bom...falou o sábio, para encontrar-lo terá que subir mais além dessa montanha( indicando-a com os seus dedos), terá que enfrentar o calor intenso, o frio congelante, sem mensionar as fortes tempestades no final de todas as tardes...
O jovem sem esperar que o sábio terminasse de falar, com muito entusiasmo altera sua voz e fala: _Obrigado senhor!!! agora mesmo eu vou!!!
O que ainda não tinha percebido o jovem é que o amigo ,rechaçado por ele, lhe acompanhou.
Ainda no começo dessa grande aventura pela montanha, veio sobre eles uma forte tempestade, mas o amigo recolhendo cada folha que trazia o vento, improvisou um pequeno guarda-chuva para proteger o jovem.
Na metade do caminho, o calor era tão intenso que causava neles um profunda desidratação,mais o amigo mais uma vez ajuda ao jovem com as últimas gotas de água que tinha em sua vasilha.
Quando faltava pouco para o destino tão esperado, um frio congelante não os permitiam caminhar.O jovem não se aguentando de frio, observa que o amigo demora em ajudá-lo, depois de longos minutos de espera, com muita ira e com voz imperativa grita ao amigo: _ Você não está vendo que estou morrendo de frio? Não vai vir me ajudar?
O amigo quase morrendo e sem forças para falar,com as últimas forças do seu corpo, se disfaz do único casaco que tinha e veste ao jovem,que nem se quer lhe agradece.
Agora o frio já se havia passado, o jovem havia chegado no seu tão esperado destino, cheio de felicidade começa gritar pelo amigo tão esperado, que simplesmente não lhe responde.
Decepcionado, ferido , com a roupa rasgada e sem forças, encontra-se com o sábio e desabafa:
_Senhor eu fiz tudo quanto o senhor me mandou fazer, não desisti em nenhum momento e tudo que consegui para a minha vida foi graves feridas e dores em todo corpo!!! O senhor me mentiu?
O sábio, olhando dentro dos olhos do jovem, lhe pergunta: _ Quando você enfrentou a forte tempestade, quem te ajudou?, e quando você sofreu o calor do deserto e teve sede, quem te deu de beber?...Ah! filho...o amigo verdadeiro sempre esteve ao seu lado e você nunca o percebeu, nunca o valorizou, você desaproveitou a oportunidade de conhecê-lo, você nem percebeu que o corpo do seu único amigo não pode enfrentar o frio congelante daquela noite, que à tua ingrata petição, te sedeu o seu único abrigo...Tudo o que você precisava estava em suas mãos...que pena que agora já é tarde demais para reconhecer!!!

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