Blog de Ana Botelho

Foto de Ana Botelho

RETORNO

RETORNO

Após uma longa caminhada
Retorno totalmente extênue...
E aqui, de olhar longínquo
Aguardavas ainda por mim.
Eu, profana, aturdi-me
Brincando com tantos perigos,
Iludi-me entre os sinos,
Sorri para a vã felicidade
E, permaneci soluçante
Entre as fátuas alegrias,
Sepultando em minha vida
As mais cândidas alegrias...
De vestes estranhas e sedenta,
Solitária e de alma vazia
Personificava a própria dor,
Quão pobre eu era!
E, se vislumbrei os campos,
Foi por pensar em ti,
Sorvi doces esperanças
Como fora raro vinho...
E nem por um instante
Te afastaste de mim.
Agora nos pertencem
Os sorrisos, a beleza,
A musicalidade dos versos.
E como prêmio te ofereço
Um composto madrigal,
Na ansiedade da aurora
Desta manhã em festa,
Em cujo alabastro precioso
Esculpido nas vigílias noturnas,
Guardo ainda úmidas de dor
As minhas, só minhas lágrimas.
E, nas mãos,um tanto trêmulas,
Trago madressilvas raras
Colhidas nos nossos jardins
De tão lindos castelos,
Para ornarem pelo eterno
Os nossos, só nossos sonhos...

Foto de Ana Botelho

TORRENTE

TORRENTE

Sem olhar,
Você veio do nada
Sem me tocar,
Parou de pronto.
Meu coração
Bateu mais forte
Quase gelado,
Minhas veias
Cresceram
Dilataram-se
Pelo fluxo
Que o meu sangue
Veloz
Desenhava

Como fora
Um rio
Caudaloso
Que em tempo
De cheias,
Empapuça-se
De águas
Embolam-se
Buscando
Espaços,
Em estreitos
Ou rochas
Em descidas
Sinuosas

Perdida, sem noção
Do tempo
Eu fiquei
Assim, parada
Sentindo
Meus batimentos
Dispararem
De tanta
Emoção
Contida
No peito
Explodindo
Em ondas
Contínuas

Só consegui
Me acalmar
Ao perceber
Que você
Não estava
Mais comigo
Mas veja
O que descobri:
Eu preciso
Perpetuar esta emoção
Que há pouco
Tomou conta
Do meu ser
Por inteiro

Para então
Calibrar
Minhas artérias
Alquebradas
Ressequidas
De amores
Estéreis
Que não rendem
Nada mais
Que dois anos
Ou meses
Ou o tempo
Que dure
Todo o seu engano.

Foto de Ana Botelho

PÃO E VINHO

PÃO E VINHO

( In memorian: Eurípedes (Macedônia), Omar Khayyan e F. Pessoa)

Sem vinho, onde haveria amor...
E quando o inverno nos batesse à porta,
Que ares deveríamos logo assumir,
Recorreríamos aos do Mediterrâneo,
Filtrando o binômio trigo/vinha
E passaríamos as tardes os saboreando.
À noite, quando tudo parecesse dormir,
Ficaríamos inertes até de pensamentos,
Buscando somente uma cristalina taça
E o que houvesse de precioso dentro dela.

Sem pão, qual fibra vibraria em nós...
Tudo fluiria, pegaria o veio do vento
Passaria por entre os dois pólos
Dentre os quais existiriam indiferentes
Apenas os dias, que foi e que virá,
Já que o hoje seria o bastante
E completo para nos embriagar.
A vida pode até ser boa, mas o vinho
Ah, esse sim, é muito, muito melhor
Talvez amanhã a lua nos procure em vão,
Sentemo-nos ao relento, sentindo apenas
O regresso do sol, apagando as estrelas
E desvanecendo as luzes mais soberbas
De tantas salas requintadas, vazias,
Tudo a nos mostrar o curso da vida,
Ou de que deveria ser simples, natural.
Bebamos para nunca nos sentirmos só
E brindemos ao prenúncio de novos amores.

Foto de Ana Botelho

REVELAÇÃO

REVELAÇÃO

Como tudo na vida vale o tempo da dedicação,
E por conta das desmedidas e incontáveis paixões,
Companheiras fiéis dos frágeis e descuidados corações,
Que quase nunca sobrevivem aos reveses do amor,
As poesias brotam incessantemente desde os primórdios,
E provam que não existem palavras certas, bastante capazes
De evitarem que os seus turbilhões deixem de nos aniquilar.
Ainda que estejam esmaecidas pelo correr do tempo,
Revelam a dor da morte de um lindo encantamento,
Restos de projetos de vida desfeitos, os mais preciosos,
Ou belas verdades poéticas que não pertencem a ninguém,
São palavras buriladas e contextuadas sem destino certo
E a cada poeta cabe apenas a dor do seu nascimento.

Para quem não tem rima e gosta de encadear com arte,
Ou o que as entona em lindos sons numa marcha sem fim,
Escrevem como quem tropeçasse em vários traços mágicos,
Mostram logo, de cara, todo o bom compasso e enlaçam,
Repousam no papel a sua cria, que cuidaram noite e dia,
Gastam o seu tempo empenhado em dar-lhes belo trato,
Alimentam-lhe com fascínio e esmero mais que exatos.
Muitas são tecidas pelo criador por horas e horas a fio
Algumas ainda jovens, já florescem, formosas e plenas,
Outras chegam até a fase adulta para se perpetuarem.

O ser poeta é um mergulhador do âmago da vida,
Sem comprometer com isso a sua sobrevivência,
É o lançador destemido das máximas cartadas,
No criar, no sonhar e no se envolver nas essências.

Como que levado num redemoinho incandescente,
Com naturalidade, surge o tal clarão inesgotável,
Que ilumina a alma de cada pensamento mais íntimo,
Rasgando-lhe as vestes e deixando-a devassável.

Ele absorve a magia de todas as fases de luzes da lua,
Buscando em zonas abissais todo o mistério submerso,
Energiza-se no sol, sempre, como um amigo maior,
Pondo isso tudo o que lhe alimenta num só verso.

O poeta como ser é um mago inebriado que inebria,
Cantador de encantos, desencontros e da plenitude da vida,
Busca revelar, em palavras, o semblante do seu semelhante
Que ares demonstra e, logo, os descreve-lhe as desditas.

Como se fora um guru especializado em almas,
Segue a sua sina sem reclamar, porque ama,
Ama o outro como a si mesmo e sabe disso,
Porque perpassa as agonias e delas não reclama.

Especialista, é sábio conhecedor da dor alheia sem fim,
Seja esta colhida tenramente, ou até quando madurar.
Mestre em metáforas, em rimas e métricas, mas me vem à mente:
Nunca vi nesta vida, um poeta "expert" na própria arte de amar...

Foto de Ana Botelho

COMO ESPECTRO

COMO ESPECTRO

Quem terá um amor verdadeiro
Nesta noite de claro luar
Para a mim se apresentar,
Com belos sonhos e saudades
Que ao vento iremos reembalar.
Quem terá um amor doce
Longo, certo e bem possível
De me fazer chorar de rir
De adormecer em meus braços
Sob a luz do meu terno olhar.
Quem terá um agradável amor
Entre o mar e as doces estrelas
Para flutuar sobre as nuvens
Pernoitar e poder despertar,
Levitando, indo e vindo, sem parar
E nunca, por nada, se deixar levar .
Quem será este amor companheiro
Sem dúvidas, nóias e preconceitos
Dos nossos tristes antes e, apenas
Onde morem a verdade e a alegria
Sem nem pensarem na dor.
Ah, se você, por acaso, o conhece
Não demore muito a se mostrar
Se aquiete, venha, tenha medo não
E faça morada perpétua, aqui,
Bem apascentado, feliz e pleno
Bem dentro do meu coração.

Foto de Ana Botelho

RENASCENDO

RENASCENDO

Os exemplos estão por toda parte. A natureza demonstra, a olhos nus, em seus atos mais simples, os processos naturais do universo, a exemplo da ostra que produz a pérola como um produto resultante da sua dor, o mecanismo humano precisa funcionar também como uma rede invisível, mas perfeitamente sensível às mentes do bem, que preocupadas em fazer do mundo um lugar melhor para se viver; mais do que isso até, elas possam buscar motivos para que as outras pessoas participem de movimentos globais pelos direitos humanos, pela minimização das mazelas sociais e que sintam o objetivo maior, ou seja, o prazer da oportunidade de realizar algo por si e pelo outro.

O resultado é sempre saudavelmente viciante, porque quem bebe dessas águas se torna cúmplice e responsável por lágrimas e sorrisos de agradecimentos e felicidades, porque sente no seu coração o segredo de ser ele o maior beneficiário de todo o processo.

Muito mais que cestas-básicas ou cartões de pobreza, o homem precisa que acreditem nele e lhe dêem oportunidades reais de vencer a fome, a doença, o descaso, o preconceito e todo mecanismo caótico oriundo da falta de educação e da recompensa do emprego, direitos que lhe são negados, fazendo dele uma vítima passiva diante do niilismo em que mergulha. A situação chegou a um limite tal, que uma grande maioria se alienou, passando a se destacar em uma posição totalmente antagônica e avessa ao que se espera de um animal social e dotado de razoável inteligência.
A história da humanidade comprova a força sobrenatural que ele tem para renascer das cinzas, o homem precisa reciclar os seus conceitos, investindo na essência dos seus princípios morais como pedra mestra na construção de uma boa família e, conseqüentemente, da sua felicidade, Guerras, grandes desastres ambientais ou tecnológicos nunca foram suficientes para apagar a vontade inabalável de se reerguer e seguir em frente, senhor do seu destino e do seu tempo.
Aqui então, fica o convite :
"Ao se sentir ferido, acusado injustamente, ou ultrajado, você, como um reciclador nato, faça do seu coração uma pérola, jóia preciosa oriunda de feridas cicatrizadas."
E, que seja bendita a sua vitória ao ver os seus filhos independentes, todos iniciados no caminho do Amor, porque viver bem é uma questão de recomeçar a cada dia, reaprender novos sentimentos e buscar dentro de si o houver de melhor."

Ana Botelho, educadora, artesã e poeta.

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QUAL UMA VELHA CANÇÃO

QUAL UMA VELHA CANÇÃO

Quem é você que passeia nos meus sonhos,
Transeunte disperso, nessas estradas virtuais,
Pisando tão forte, como se marcasse o compasso
De uma infindável canção, com seus bemóis colossais.
Que tem você nesses olhos, que me despem,
Quando pousam entre os meus pensamentos
E me levam a cantar no mesmo tom que o seu
Os acordes trazidos pelas ondas dos tempos.
E por que eu sempre volto a essas teias voltar ...
Já sei... é que em êxtase, sinto que a vida se aspira,
E é irremediável a vontade de não mais acordar,
De novo, isenta das alegorias, desprovida de liras.
Fechemos então as janelas da alma para sermos um só,
Deixando que apenas a chuva, lá fora, se lamente
Num tristonho, mas balsamizante noturno de Chopin,
Pois que nesse devaneio viajo...sinto-me muito bem...
Vem o sol, que reluz como se bordasse em ouro
As cortinas do meu quarto, e, desperto ao ver
A minha realidade...nas paredes, os ecos me ensurdecem,
São ainda os seus passos atordoando o meu ser.

Foto de Ana Botelho

COMO TE AMO...

COMO TE AMO...

"Bateu a tal saudade a caminho do mar,
Enxuguei as lágrimas e segui arrepiada...
Tocaste à minha alma e ao meu corpo,
Lugares mágicos onde habitas, repousas
E acendes toda a minha essência,
Onde vibramos, como se fôssemos um só,
Onde moureja o amor sôfrego e saudoso,
Das turbulências e silêncios de nós dois.
Se procuro por mim, não me encontro,
Não importando em que estado eu esteja,
Mas se busco por ti, encontramo-nos
E a duas almas, longamente nos completamos.

Se desvanecida pelo sono, desdobro-me,
E de novo, nos mesclamos entre afagos,
Enquanto nossos corpos se agüentarem amar,
Se em almas nos misturamos tanto, imagine ...
Quando nos encontrarmos verdadeiramente.
Em estando junto aos outros, sinto-me bem,
Mas se estou sozinha, tu bates à minha porta
E eu não me imagino respirar sem o teu cheiro...
Vem um novo dia e já sei o que me espera:
Acordo mais uma vez e sinto a tua energia
Já tentei viver distante disso, juro,
Mas tenho que confessar que te amo,
Amo mais que a mim mesma e, muito,
Muito mais do que já pensei amar."

Foto de Ana Botelho

NATAL PERMANENTE

NATAL PERMANENTE

Que não só a sua noite escura ,
Mas também, que o ano inteiro
Tenham sempre a suave presença
De um anjo cristalino do Natal
E que o seu deserto mais árido
Reverdeça, a cada manhãzinha,
Ao afago tranqüilo do amor,
Numa eterna canção matinal
Mas venho, porém, lhe pedir
Que, ao passar pela Terra, seja
Uma balsamizante essência salutar
Alegrando os corações por igual
E que a solidão quando chegar,
Não se importe muito com ela,
Porque em você sempre estará
O que constrói no seu gesto universal
E que você seja também suave
Como o vento, aliviando agonias,
Que cochicha por entre as árvores
Toda a sua musicalidade habitual.
Sejam em quaisquer momentos,
Desde o seco farfalhar das folhas,
Até o pesado murmurar das ondas
Vencedoras dos recifes em coral,
A fim de que pesos não arrebentem
Os seus frágeis e doridos ombros
Recebendo tão somente aquilo
Que temperar na medida do seu sal,
Durante os atos que você praticar
Porque eles serão o seu eterno cartão
Para se apresentar em qualquer lugar
Como o registro da sua marca individual,
Pois arrastamos o que somos, e, seremos
Com o acúmulo de tudo o que pensarmos,
Fizermos e desejarmos ao outro,
Perene, como um grandioso manancial
Que renasce e cresce a cada instante,
Porque todo o universo se completa
Entre idas e vindas intermináveis
Desse precioso projeto imortal.

Foto de Ana Botelho

O SEU ANJO

O SEU ANJO

Eu juro
Que vi
Chorei
E parti
Veloz
Pela estrada
Que dava
Na via
Do trem
Que trazia
Você
Todo dia
Para eu
Namorar
Sem ninguém
Se intervir
Entre bocas
Que nasceram
Uma para outra
E eu vi
A intrusa
Chegar
E num lampejo
Macular
Os seus lábios
Apressada
E silente
Eu olhava
Nos trilhos
A mágoa
Caída
Nas linhas
Em pares
Levando
Agonias
Para longe
Dali
Lá onde
As dores
Se aquietam
Nos campos
Que nunca
Têm fim
E se ocupam
Em lavagens
De véus
Turvados
De lágrimas
Que voltam
Sorrindo
Na brisa
Dourada
Do dia.
É o seu anjo
Bendito
Que traz
Nas plantinhas
E nas folhas
Sequinhas
Que caem
No chão
O amor
Renovado
Ao seu
Coração.

Ana Botelho.

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