Abrigo

Foto de Rosamares da Maia

RESSACA

Ressaca
A curva forte e sinuosa do vento
Saudava a saudade no meu corpo.
A força queria faze-me flutuar,
Mas sem qualquer legitimidade.

Quebrou o pudor das minhas saias,
Devassando a minha intimidade.
Nada mais tinha eu para esconder.
Nada havia para perder ou temer.

Mas em fuga corri, busquei abrigo,
Entre as paredes do sétimo andar.
Pelas janelas altas e esvoaçantes,
Divisei a silhueta do vento, o perigo.

Pude ver a vela que teimava no mar,
Presenciei sua força, o tolo destemor,
Levantaram-se ondas em espuma e sal.
Cova cavada na areia da praia.

Beleza destroçada pela tempestade.
Que sepultou a doce e frágil nau,
Junto com os despojos do meu amor.
Que se deitou na areia, só para morrer.

Rosamares da Maia 21/07/2020

Foto de Rosamares da Maia

CRÔNICAS DA SAUDADE – Memoriando

CRÔNICAS DA SAUDADE – Memoriando
O olhar dela vaga perdido no horizonte tentando encontrar na memoria desencorajada os arquivos das lembranças do passado e nelas um rosto amigo. De repente, da nevoa branca, no fundo da sua cabeça, sai correndo um menino assustado, de joelho ralado e sangrando. O menino berra enquanto as lágrimas escorrem da carinha suja.
Chora pedindo abrigo, buscando socorro, mas também com medo do remédio. Grita:
- Não mãe! Mertiolate não!
Ela, meio do bem e meio do mal, presta socorro, mas, também se vinga das artes do menino, exercendo sua cura, meio feitiçaria - amor e castigo.
Novamente a memoria falha. Mais que droga! O olhar passeia por tempos intangíveis. Novamente ele, de capa e espada. Agora é Nacional Kid! Com bronquite e pneumonia. Meu Deus! Quanto trabalho deu este menino.
Confuso e atrapalhado, baixo rendimento escolar, aos saltos e empurrões, salvo de apanhar nas brigas compradas pela irmã, lá foi ele. Finalmente chegou lá, venceu a corrida do jeito que deu, um dia de cada vez. Trabalho, casamento. Quem diria! O menino do "patinete vermelho" virou gente grande, Homem. Gente muito complicada é claro.
A memoria apaga de novo, ou não. Quem sabe agora ela prefira pular certos pedaços da vida? Culpas à parte tinha tentado fazer o seu melhor, era o que podia e sabia fazer, o que tinha a oferecer. Ninguém consegue doar o que não tem.
Afinal de contas, um filho é produto de dois, portanto somente cinquenta por cento das culpas lhe cabiam e pecou sempre pelo excesso, das chineladas, correadas e das palavras. É somente pelo excesso, nunca pela omissão. Esta fazia parte dos outros cinquenta por cento.
Mas por onde andará nestas horas o menino? Não precisará de curativo nos joelhos?
De dentro da bruma densa da memória podia ouvir o silencio. Era tão profundo que doía. Vem sem passos, sem gritos, risos ou lágrimas. Nada!
Traída pelo confuso entendimento, esquecendo os complementos que encadeiam os elos da sua história, tristemente se questiona:
- Será que um dia houve mesmo este menino? Ou será que só imaginou?
Menino, menino, sou eu quem te digo - um dia ela vai se esquecer de você totalmente.
‘ Rosamares da Maia

Foto de Arnault L. D.

Ao velho Johnny

Johnny, meu velho amigo,
o que diria agora?
Me pergunto... e a resposta
é o somar que consigo
das memórias de outrora,
estendidas à mesa posta.

Você foi no tempo embora,
o meu, corre mais um tanto.
Mas, ainda é o meu amigo
que o seu lembrar aflora,
já sem percorrer o pranto,
só saudade de estar contigo.

Meu amigo, velho amigo
foi para mim e ainda o sou,
no porquê se faz lembrar...
Nas venturas que fundo abrigo
na matéria que me formou
e enquanto eu for, irá estar.

Foto de Jardim

eternos dias

foram eternos dias a distanciar nossas vidas.
nossos corpos, separados, recriaram seus instintos,
circunspectos, mesclados a um proscênio fosco
atuamos como se nunca houvéssemos nos encontrado,
nos tocado, nos provado, nos revelado,
determinados, sob um céu ordinário.

foram eternos dias a desamarrar nossos destinos,
a silenciar nossos gritos em nossa cama.
e a cada noite eu os ouvia, nesta cama agora vazia,
nossos fôlegos sob esta mesma lua.
tua saliva e tua secreção a corromper todos os hinos
onde agora só restam demônios.

foram eternos dias apagando nossos nomes,
o céu de tua boca, abrigo do falo insistente,
agora apenas um vácuo inconstante.
tantos foram os nós nunca desfeitos,
éramos anjos tentando saciar nossas fomes,
tentando iludir a dor persistente.

foram eternos dias que escreveram nossa história,
a tua voz persiste ainda na noite escura.
a tua falta ocupa o espaço do ambiente,
doce ausência em minha memória,
amargo sabor neste dia que se inicia.
nossas vitórias, nossas derrotas são um perjúrio.

foram eternos dias que fecharam minhas feridas,
estancaram o sangue à minha revelia
nas avenidas do meu infortúnio,
entre os clamores dos meus dias.
bardo errante sem rumo
imerso em delírios, pecados e loucura.

foram eternos dias a consolidar nossos receios
entre os credos de tua púbis sob esta sombra desnuda
nossa intimidade subverteu nossa lua
renegando a inexistente paz de nossa teia,
do que passou a se chamar presente,
em nossas faces somente a negrura.

Poema do livro Amores Possíveis
A venda em http://sergioprof.wordpress.com
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Foto de carmenpoeta

Voando através da emoção

Que me permita a emoção
levar-me onde impede a razão...
onde os sonhos habitam
e cirandam com a ilusão,
onde as rimas se abrigam
nas asas da imensidão
semeando versos,
preenchendo coração
que vazio de alegria
trafega em desarmonia
desatento à luz do dia
ou ao que nos oferecem as manhãs.

Que me permita a emoção
tirar os meus pés do chão...
transcender-me ao encantamento,
perpetuar cada momento
em que a poesia me der a mão,
ao alcançar os sonhos
os mais ricos e risonhos
e abraçá-los, dar-nos abrigo,
fazê-los caminhar comigo
pra que se dissipe o mal(u)
quando a razão
apontar o mundo real.

Carmen Lúcia

Carmen Lúcia
11/08/2009

Fiz questão de colocar a data em que postei essa poesia "de minha autoria" porque sem querer encontrei aqui um plágio da mesma, fato que me deixou bem triste.Peço que tomem providência e agradeço por isso.

Foto de Arnault L. D.

Em outro lugar

Faça um pouco de quietude
para assentar a areia,
decantar a turbidez d’alma.
Faz calar a dor, e amiúde,
quem sabe a loucura meneia
se houver um pouco de calma...

Fecha os olhos, não mais procure
no turbilhão de luz e fúria,
na ensurdecedora algazarra,
um tal remédio que lhe cure
destas feridas, da algúria,
da cica que a vida amarra.

Meu ar, tão cheio de fumaça;
vento não leva, traz areia...
A vida escorre das metas,
quebra os planos, faz mordaça.
A esperança a pulso ateia;
vem o destino a impor setas.

Sigo, mas numa louca dança;
aos trancos, morro abaixo sigo,
mas a ternura ainda existe,
o sonhar ainda se lança
em asas livres, no abrigo
que guarda a fé que insiste.

Foto de Ivone Boechat

Prioridades

Perfume da manhã,
colorido das flores,
milagre da vida,
principalmente vida;
água cristalina,
multiplicidade de cores,
possibilidade de amores,
chuva chorando neblina,
amor,
principalmente, amor;
céu,
mar,
abrigo,
abraço,
amigo,
principalmente
amigo.

Ivone Boechat

Foto de Ivone Boechat

Círculo vicioso

Círculo vicioso

Ivone Boechat

Um dia, milhões de bebês choraram na liberdade uterina do milagre da vida: nasceram. Não vestiram seus corpos, não lhes calçaram sapatos nem lhes deram o conforto do seio materno, antes da posse do sonho infantil, foram rejeitados, ao rigor do abandono.
Um dia, mãozinhas trêmulas, inseguras, sem afeto, bateram na porta do vizinho, procurando abrigo. Não havia ninguém ali para oferecer afeto nem portas havia na pobreza do lado. O menino escorregou na direção da rua.
Um dia, a criança anêmica foi eleita à marginalidade da escura noite e disputava papelões e pães no lixo do depósito público. Aos tapas, cresceu como grão perdido no vão das pedras, sem a mínima possibilidade de sobreviver: sem teto, sem luz, sem chão.
Um dia, o adolescente esperto teve alucinações de vida e o desejo de conferir a sociedade: candidatou-se à luta amarga do subemprego. Alvejado pela falta de habilitação, foi condenado como vagabundo, recebendo etiqueta oficial de mendigo.
Um dia, o adulto desiludido, amargurado, sem emprego, sem referencial, saiu à procura do amor. No escuro, mas cheio de esperanças, foi colecionando portas fechadas pelo caminho. Sem Deus, sem nome, sem avalista, sem discurso, acreditou no "slogan" das campanhas sociais.
Um dia, o menino mal nascido, mal amado, mal educado, não soube cuidar do filho que nem chegou a ver. Não ouviu seu choro. Imaginou apenas que, após nove meses de duríssima gestação, alguém brotara de um rápido encontro, irresponsável, assustado e vazio que sempre ouviu dizer que se chamava amor.

Foto de Lou Poulit

O Cachorro do Poeta

MEU BICHINHO TÃO QUERIDO
(O Cachorro do Poeta)

Meu bichinho tão querido,
meu confessor predileto,
está dodói e o seu olhar me rasga.

Meu amigo foi ferido
pulando as pontas da cerca
pra me lamber de alegria,
e minha alma agora engasga.

A ele eu digo e ele finge me escutar
com carinha de quem se desculpa:
tudo bem, eu estou aqui contigo.

Mas é mentira. Ele não sabe.
Só eu sei o quanto me pesa
o seu amor incondicional,
que me escolheu por abrigo.

Eu que vivi tanto tempo
nunca aprendi a amar assim,
apesar de aprender tanta palavra.

Meu cachorro era um poeta!
e um anjo iluminado de cruel destino,
pois que uma só palavra sabia.
E por isso agora minha língua trava.

Na sua covinha acolchoada,
no jardim lá do fundo do quintal,
vou escrever em uma tabuleta:

"Aqui jaz o poeta e amigo sonhador,
que escrevia balançando o rabo
num só verso seu maior desvario.
Babava de amor por uma borboleta."

(Passarinho, 2015
Direitos Reservados)

Foto de Fernanda Queiroz

Vim dizer que te amo

Na penumbra de teu quarto
Teu corpo estendido na cama
Desarmado e indefeso
Jaz entre os lençóis amarrotados
De semblante inalterado
Teu rosto amado
Um pouco nublado
Da sombra azulada
Da barba por fazer
De olhos fechado
De riso calado
Teu perfume no ar
Um eterno inebriar
Teus cabelos se espalham
Em contraste ao branco suporte
Que ampara pensamentos
Adormecidos
Ou sonhos vividos
Entregue
Suave
Estás tão perto
Posso estender minhas mãos
E acariciar tua mente
Mais que de repente
Contornar a tua face
Tornear os lábios teus
Afagar os teus cabelos
Percorrer com os dedos meus
Fazer viver a esperança
Que perpetua na lembrança
De teu rosto e o meu
Sussurrar em teu ouvido
Sem dor ou sem gemido
Frases que ocultei
Dizer que me libertei
Das algemas do passado
Que quero viver a teu lado
Que para sempre serei
Mais verdade que sonho
Mais refugio que fuga
Mais abrigo que adeus
Dizer que te amo mil vezes
Olhar nos olhos teus
Mas você está dormindo
Ou é mais um sonho meu?

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

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