Água

Foto de Minnie Sevla

Eu queria...

Eu queria...

Eu queria ser o vento pra tocar de leve em você
O sol radiante, pra te encher de luz e calor
A lua cheia, pra te fazer sonhar
E nas noites frias de inverno te enamorar

Eu queria, juro que queria
Ter o poder de me transformar
Na água que banha o seu corpo
E no verão te refrescar

Ah, como eu queria
Dizer o que manda o meu coração
E o que a minha boca teima em calar
O que os meus olhos não sabem negar

Queria buscar no infinito
Uma estrela, a maior e mais bela
Para ver brotar seu sorriso
E arrancá-lo de vez desta cela

Queria ser o teu sonho
Que o faz navegar nesses mares
Em busca de um amor perdido
Que um dia causou tantos males

Mudaria o final desta história...
Que você insiste em contar
A lembrança desta mulher
Do seu pensamento apagar

Minnie Sevla

Foto de Ge Fazio

Mãe Natureza

Reverencio a Terra que me abriga
Que tal qual a mãe faz em seu útero...
Acolhendo, alimentando as sementes
E formando vidas...

Sou, filha da terra... Sou chão,
Sou rocha e deixo cravado
Em meu peito o amor verde esperança
Das matas que oxigenam o mundo.

Banho-me com águas cristalinas
Puras em gotas ou caindo em cachoeiras e
Que brotam da terra santa
Num pequenino olho d’água.

Cantam os pássaros que em revoada fazem
A sua dança Sobre os campos abertos
A procura da árvore... Do abrigo.
Da seiva que alimenta suas crias.

Reverencio ao homem do campo que acaricia
A terra fazendo brotar o alimento
Que faz saciar a fome, a sede, de um povo que
Por vezes que silencia a defesa da terra.

Reverencio a Terra que me abriga!

Ge Fazio

Foto de Zedio Alvarez

Ah! Meu Sertão

Será que no meu sertão ainda vai chover?
E se a chuva cair, as águas vão rolar?
E a passarada voltará a cantar?
Será que a alegria ainda vai nos conhecer?

“O sertanejo é antes de tudo um forte”
Que a Asa Branca volte a cantar no instante
Queira Deus, ele seja premiado pela sorte
E natureza não volte a brigar como antes

O açude enche de água um coração,
A sede mata a fome da esperança,
A semente da terra germina trazendo o pão,
Nascendo o leite da vaquinha de uma criança.

(Homenagem in memorian, ao amigo poeta Edinaldo Vilar)

Foto de Homem Martinho

Como hoje se comemora o dia mundial da água

À BEIRA DO MAR

Os dois sentados, à beira do mar,
esquecendo tudo que nos rodeia,
escutamos a água a cantar,
cada vez que vem bater na areia.

Adorava contigo estar,
num romance colororido,
sentados à beira do mar,
falando de amor sentido.

Teu corpo gostaria de ter,
poder dar-te amor a valer,
tua saliva saborear.

Dar-te sobremesa de carinhos,
digestivo feito de beijinhos,
sentados à beira do mar.

Francisco Ferreira D'Homem Martinho
2007/03/22

Foto de alEksãdra

Dor n'alma

Quando você vai embora

Nada mais funciona

Nada mais faz sentido

O sol esfriou

O ladrão prende o guarda que me roubou

Tem um muro em volta de mim

Que me sufoca, e não consigo dormir

Quero água, mas o poço secou

Sinto seus lábios, abro os olhos e não te vejo

Só dor na alma, e um desejo

VENTO; diga pra ele voltar

Sem ele não sou ninguém

Não consigo parar de errar

Diz pra ele que uma pessoa só não é feliz

Só dor na alma, e uma cicatriz

O silêncio é muito alto

Tem alguém que chora, eu conheço esse som

Quem chora sou eu

Não ouço o meu riso, pois meu riso você levou

Me tranco no quarto

E você tá lá, na minha cama, nas minhas fotos, no meu travesseiro

Só dor na alma, e o seu cheiro

Vento; diga pra ele voltar

Porque sem ele é só dor,

É dor na'alma

Que não passa

Que parece não acabar.

19/03/2007

Foto de Lou Poulit

Donde Seu Olhar Me Entranha

Donde o seu olhar me entranha

n’alma a sanha de ser mais nobre

e de gastar cada cobre seu

pagando às estrelas lá do céu?

Donde? Ele arremeda um nicho,

espelhado mar de um calmo cais

onde o veleiro sonha com a paz,

repousa as lonas do capricho:

Devoção d’alma cessa jamais.

Donde o olhar sereno esconde

o lapso ingênuo, contundente?

A lápide aceita o nascente,

valente, inerte e soberana

de si, do sol e das estrelas,

de grandeza e miséria humana,

mísera de arroubos, querelas...

Dona das lágrimas de orvalho

deita o olhar, um pálio ao meu pisar,

passar do meu pesar doído,

de lembranças tão vãs vestido.

Donde água doce me oferece,

fadado a possuir carinho

de ondas que me assanham o coração,

ventos se arremessam ao caminho,

mastros, bandeiras e cordames?

Me acossam com fulgores infames,

que emprenham de múltiplas cores

minhas dores de parto, às portas

de íngremes versos, parcas rimas

que julgava, há muito, já mortas!

Como voltasse do vindouro

na mesma trilha em que me embrenho,

sob um poente quente e louro,

prestes a vestir o negrume...

A abraçar seu lume me empenho.

Porque seu olhar permanece

em mim e me vê quando, em prece,

reconstruo n'alma o seu altar.

Porque as dores, quaisquer que sejam,

nunca almejam vencer seu olhar.

Foto de Lou Poulit

Trovão e o Sabiá Sereno

Aos Leitores e Amigos.

Antes de qualquer palavra, quero dizer que será um prazer partilhar com vocês os meus textos e que sou grato ao Poemas de Amor pela confiança que em mim depositaram.

Há alguns anos venho escrevendo contos. Mas vinha fazendo isso como quem armazena sementes, ou seja, sem permitir que elas brotassem antes da hora. Quando esse Site me ofereceu o blog, quis crer que não mais se justificava guardá-los só para mim. Até porque, talvez a partir de agora eu possa ter percepção de como eles tocarão outras subjetividades, diferentes da minha. Alguns serão postados tal como foram criados, enquanto que outros serão adaptados para que se tornem mais congruentes com os objetivos do Site, que não eram prioritários para a formação original da identidade do escritor.

Espero que gostem já desse primeiro conto, pelo menos tanto quanto eu. Mas como não vejo no conjunto deles, ainda, uma maturidade completa, antecipo que conhecer o que despertam nos leitores será motivo de gratidão da minha parte.

Abraços a todos e, desde já, muito obrigado pela gentil acolhida.

LOU POULIT
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Sentada sob alpendre da mansão colonial, sua fortaleza de toda a vida, Sinhá havia se perdido em seus pensamentos. O dia havia se despedido há pouco, na apoteose fugaz de um céu prestante de cores e texturas, que de tudo o que pode tentou fazer para merecer a atenção da moça. Nem a sinfonia da passarada fez efeito. Tudo em vão, restaram as estrelas que nem sequer se aventuravam. A passarada se calou para dar a vez aos grilos, sapos e outros barulhentos notívagos. Sinhá revirava mecanicamente os fartos rendados da saia à sua volta, pois de fato não estava ali.

Então, passos arrastados vindos de dentro precipitaram-na do etéreo, de volta ao corpinho magoado pela posição pouco cômoda. De tão surpresa e assustada, não teve coragem de se virar. E esperou apenas, como seu sangue esperava dentro das veias. Aos poucos uma luz tênue, mas capaz de expulsar soberanamente a escuridão, se aproximou. Depois mais um pouco. A moça temeu que se aproximasse ainda mais e explodiu em gritos nervosos: Saia já daqui! O que quer de mim, demônio? Eu não lhe chamei aqui!

A pouca distância um caboclo mulato de aspecto impressionante, pele muito morena e os olhos claríssimos de uma onça enterrados no rosto embrutecido, como pequenas gemas raras no emboço úmido da terra adubada pelos séculos. O velho Sereno segurava a candeia, tentando compreender, tão próxima, a moça que à distância vira crescer, como flor única naquelas glebas. Durante parcos segundos, Sinhá não conseguiu balbuciar uma palavra. Tentava decifrar como aquela figura estranha havia invadido seu silêncio, que significado poderia ter dentro dele e se seria perigoso para as coisas ricas que guardava em segredo. Porém, achando que o silêncio era ainda mais insuportável, a moça voltou à carga: Quem lhe deu o direito de estar aqui? Ele tentou explicar: Vim só alumiá o negrume da noite pra vosmicê, Sinhazinha... Carecia de se assustá não... Não tenho medo de nada, ela empinou a própria fragilidade. Como poderia temer um empregado dentro da casa do senhor meu pai? Ademais, estava aqui com meus pensamentos...

O homem olhava com segurança os olhos escorridos de lágrimas da moça, cheios de brilhos amarelados pela chama da candeia. Sentia pena dela, mas sabia pelas décadas de convívio que não se devia manifestar piedade para com os senhores. Sereno sabe que está triste, Sinhá. Ma num pode fazê nada não, disse ele abaixando os olhos. Mas como pode saber disso? Não lhe dou esse direito. De onde você saiu?... Ainda com os olhos baixos, ele respondeu: Sempre estive aqui, Sinhazinha. Vim pra essas terras do senhor seu pai na barriga da minha mãe, que se foi embora amarrada naquele pé-de-jurema-branca, bem ali na direção onde a lua vai nascer já. Eu era desse tamaninho, cabia no cesto onde o alazão comia o seu mio. Naquele tempo o capataz era um homenzinho muito do ruim... Ela só queria alimentar a sua cria...

A moça se refez da letargia quando o ouviu falar no alazão, tornando a gritar: Não me fale do meu alazão. Eu amava o Trovão como se fosse uma pessoa! Ninguém montava nele além de mim! E acabaram de trazê-lo num arrasto de pau-de-mangue... Ele estava morto! E eu vou matar quem fez isso com ele... E a chorar convulsivamente ela recostou-se no portal, até sentar-se de novo no degrau do alpendre. Sereno continuou calado, imóvel, com os olhos cravados nas lages do chão. Como se sua alma cansada procurasse uma brecha para um imenso arrependimento.

Tentando descobrir em seu próprio silêncio o que deveria fazer naquela situação triste e constrangedora, o velho caboclo foi lentamente até a arandela pendurar a candeia. Não sabia o que fazer a mais. Durante quase vinte anos quisera ajudá-la em muitas situações de perigo, mas sempre chegava alguém antes. Sereno trabalhara sempre na plantação, às vezes tratando dos cavalos doentes e outras como mateiro. Amava a menina, antecipava os riscos que ela corria, mas haviam outros mais próximos dela. E agora o mesmo sentimento de proteção lhe parecia palpável de tão denso. E ironicamente, embora estivessem ali apenas os dois, simplesmente não sabia o que fazer.

Passados alguns poucos e imensos minutos, a moça quebrou o silêncio, mais calma, porém sem perder a altivez da voz: Como se chama? Sereno, Sinhazinha - disse ele. E porque está aqui, nunca lhe vi dentro de casa?... O velho empurrou a aba do chapéu para trás e coçou a calva rala e branca, como sempre fazia quando se sentia inseguro. Demorou um pouquinho mas respondeu: Eu vim de pés lá de trás da serra dos pastos... O senhor seu pai mandou que me alimentasse e ficasse por aqui até amanhecer. Ela insistiu: Mas por que veio de pés? Ah, Sinhazinha, parei no meio da mata para ouvir o sabiá-da-mata, tava cantando bem em cima de mim. Desde menino adoro os sabiás, num gaio da mangueira, por cima da minha palhoça tem um que fez ninho agora. Quando passo o café da tarde ele tá arrebentando os peitos, de tanto chamá uma fêmea pro seu ninho novinho e arrumadinho. Mas me distraí, meu cavalo assustou-se com a onça e saiu desembestado, nem sei pra onde. Mas vou lá buscar, pro seu pai meu senhor num ficá num prejuízo maió. Não é um bicho caro, é até meio capenga... Mas é um bom companheiro, num sabe? Vendo a perplexidade dela, ele perguntou: Que foi Sinhá, com essa boca aberta, quem nem peixe morto? A moça sussurrou: Onça?... Que onça é essa, Sereno?

O velho respirou profundamente. Não haveria mais de esconder. Ela que soubesse a verdade e que fizesse o que achasse justo. Disse a ela com segurança: a mesma que pegou o Trovão... Aquele sangue todo foi porque quando cheguei ela já tinha garrado no pescoço dele – disse caboclo limpando instintivamente as mãos grosseiras nas calças. A moça mostrou-se inconformada: E você não fez nada para ajudar o coitado? Não tinha uma arma, Sereno? Sinhazinha, ele caiu por cima da bicha, esperneava como um porco endemoninhado... Endemoninhado é você, miserável! Ele era o alazão mais valente que conheci... Só que havia uma onça mordendo o seu pescoço... E um homem medroso e inútil assistindo a sua morte desesperada! Que queria que o Trovão fizesse?... Sereno, se calou constrangido. E ela quis saber mais: E depois, Sereno?... Sinhazinha, num é nada fácil chegar perto de dois bichos grandes e raivosos... E eu só tinha mesmo o meu facão de mato e não queria ferir ainda mais o Trovão. Sim, mas o que você fez? – ela implacável. Eu nada, Sinhazinha, a onça é que resolveu desaparecer. Onça é um bicho covarde. Só pega pelas costas, sangra e espera morrer. Mas se sentindo insegura ela larga e fica de longe só espiando. Esperando a hora de comer sossegada. E o outro, que também é bicho, sabe que vai morrer e que ela vai vir lhe rasgar as tripas. É só uma questão de tempo... O mundo dos bichos é assim mesmo, Sinhá. Ninguém muda não. Vosmicê ta triste e eu também... Mas o Trovão tá não... Só tá esperando os primeiros lampejos do dia, pra correr por essas terras sem fim, pelos campos e pelas matas fechadas, num tem mais nada que lhe impeça... Vai conhecer todos os lugares onde nunca tinha ido, vai beber água do rio grande e vai saltar nas ondas da praia... Enquanto isso nós vai fica aqui chorando de tristeza, porque num pensa que ele ta livre como nunca foi... É que como nós só sente o sentimento da gente, só pensa com a cabeça da gente, então acha que o trovão ta sentindo e pensando a mesma coisa, Sinhazinha... Não tenha raiva não... Que ele não pode aparecer pra vosmicê e lhe contá como que é lá donde ele vem, ele vai ficar triste por causa da sua tristeza...

A moça se esforçava para aceitar aquela sabedoria estranha, que quase desdenhava os seus mais puros sentimentos, todas as coisas que aprendera a sentir. Mas, embora não tivesse coragem de dizê-lo, até que gostava muito de imaginar seu querido Trovão suando da correria que tanto amava, brilhando ao sol e ao luar. Ele amava o vazio dos espaços, os obstáculos que vencia, amava o vento revirando as suas crinas, enchendo-lhe os pulmões no peito enorme e musculoso, e depois expirava com força fazendo seu próprio vento, era quase um deus da natureza... Ah, como ele gostava disso... – dizia a si mesma. Alagada da própria ternura, disse então ao velho: Ele lutou até o último instante não foi, Sereno?

Ele era valente demais, eu o conhecia desde que era um potrinho muito abusado... Sou lhe muito grata, quero que fique, se alimente bem e descanse bastante. E depois vá buscar o pangaré, antes que essa onça o coma, já que não comeu o Trovão, pois que os homens foram buscá-lo antes disso... Sereno sentia-se mais à vontade agora, já sentado também no degrau de baixo. E completou: Vou Sinhazinha, antes de clariá vou atrás dele. E ai dela que se meta... Faça isso por mim, Sereno – ela pediu com raiva.

Não posso prometer, Sinhazinha... Não Sereno, não se arrisque, leve uma arma... E se ela lhe pegar pelo pescoço, como fez com o Trovão?... Vosmicê num fique triste não, Sinhá... Também sou meio bicho, já fiz muita coisa nesse mundo de meu Deus... Já matei oito onças, seu pai meu senhor pode lhe dizer... Uma delas ia morder era o pescoço dele... É que de uns anos pra cá elas estavam sumidas, que os cachorros farejam a catinga delas de longe... Gato tem raiva de cachorro e vice-versa, num sabe?

Eu prometo, Sereno. Vou contar para os meus netinhos essa estória. E vou me lembrar de dizer que você foi um herói, que não pode salvar o Trovão, mas veio de pés buscar homens, para que ele tivesse um enterro digno. Meus netinhos vão aprender a odiar todas as onças, porque essa matou o Trovão... Mas eis que tais palavras indignaram o velho filho-do-mato, e ele quis ser exato: Não, Sinhazinha... Isso não é certo, não é verdade não... Como, Sereno? Se ela não matou o meu alazão, então quem foi?... Fui eu mesmo, Sinhazinha... A moça de um pinote ficou de pé, com o dedo em riste, enfurecida lhe disse: Seu traidor! Vá embora, suma daqui! Nunca mais quero ver sua cara! Não vou lhe perdoar jamais! Vai... Antes que eu grite por alguém para lhe surrar no pé-de-jurema, desgraçado!

Naufragados novamente em profunda tristeza, ambos se foram. Ela para chorar na cama e ele no mato. Mas nenhum dos dois conseguiu dormir. A moça rolou na cama, sobre o lençol úmido das suas lágrimas, até que lhe viessem chamar para o almoço. Não foi. À tarde, na hora da refeição também não quis sair do quarto, deixando a todos apavorados. Seu pai começou a preocupar-se, vendo que as mucamas não paravam de cochichar pelos cantos. Resolveu-se a sacudi-la. Entrou no quarto como um furacão para intimidá-la e foi querendo saber o porque daquele drama. Sabia o porque, também sentia muito pelo alazão, sabia o valor que tinha, mas não queria perder também a filha. Sinhá estava desolada e não apenas pelo seu Trovão. As horas lentas da madrugada lhe convenceram de que havia sido injusta com o Sereno. Estava agora claro que quisera apenas poupar o animal de mais sofrimento. Não podia carregá-lo nas costas e com certeza não quis que o alazão assistisse a desgraçada da onça comer-lhe as carnes ainda vivas. Ela estava soterrada de remorso e com muito jeito fez o velho concordar em mandar buscá-lo. Assim também concordou em levantar-se para se banhar e voltar à vida normalmente.

Alguns dias depois estava novamente sentada no alpendre, mas dessa vez assistiu a obra da natureza que se comprazia em dispor da sua atenção. O dia terminou. Escureceu por completo. Ela se lembrou da noite em que se assustou com Sereno. Dessa vez queria imensamente que ele lhe trouxesse a candeia. Havia preparado algumas palavras para lhe pedir que perdoasse a grosseria. Ninguém lhe dissera uma palavra durante esses dias, tinha a impressão cada vez mais densa de que não lhe queriam falar a respeito. Uma luz veio de dentro, mas pelo andar sem botas não poderia ser Sereno. Era uma mucama, que foi dispensada. Sinhá só queria a luz do velho caboclo, como naquela noite. Agora queria gostar dele, da sua sabedoria e da sua paz. A lua começou a aflorar, derramando seu prateado pelas colinas que pareciam abraçar em segurança a mansão. De repente, algo mexia nas folhas do pé-de-jurema-branca, que pareciam lhe acenar variando o reflexo do luar. Então, para sua imensa surpresa ouviu com nitidez o canto mavioso de um sabiá... Mas como? Sabiá cantando há essa hora? Não pode ser... Não queria aceitar o que seu próprio silêncio lhe dizia, lutava contra com todas as suas forças... Então ouviu de novo, logo ouviu outra vez e de novo tornou a ouvir... As defesas que havia erguido em si própria foram ruindo a cada canto, como se fossem rojões de poderosos canhões. Até que não pode mais sustentar a certeza que preferia. O sabiá só podia estar feliz. Tão feliz que nem se importava com a noite, não queria esperar o amanhecer! Se quisesse vê-lo sempre feliz, devia afastar a tristeza. Libertá-lo do próprio peito para que fosse completamente livre, para que cantasse onde quisesse e quando quisesse. Seu canto não era triste como o de outros, mas vigoroso e doce como o de uma flauta da natureza. A mucama voltou com um semblante pávido, mas quedou-se quando à luz da candeia viu que o de sua Sinhazinha sorria para a lua, já em seu esplendor. A mucama lhe disse: Sinhazinha, o seu pai mandou meu irmão e me primo buscar o Sereno... Mas eles não querem falar, estão com medo. Medo de que? Diga logo... Não fica brava comigo não Sinhazinha... Fala de uma vez, mulher... É que a onça pegou o Sereno também, Sinhazinha...

Completamente perplexa, a mucama ouviu a Sinhá lhe dizer com doçura: Não fique assim tão triste. Há essa hora ele deve estar bem assobiando por aí... Por onde, Sinhazinha?... Pela natureza, pelo céu, pelo rio grande, ou se lavando nas ondas do mar... A pobre mucama não conseguia atinar com aquelas palavras surpreendentes e Sinhá completou: Anda, pode deixar a candeia na arandela e vá pra dentro. Se precisar eu lhe chamo, agora vá. Quando mais tarde seu pai veio lhe buscar para dentro, aliviado pelas falas da mucama, encontrou-a bem disposta, quase feliz para aquelas circunstâncias. Sinhá aproveitara o tempo para fazer uma prece emocionada, repleta de gratidão e amizade, pela alma do velho Sereno. Durante toda vida estivera bem ali e nem o havia notado. Mas havia sido de grande valia justo no momento que mais precisou. Se estava feliz a ponto de assobiar no galho do pé-de-jurema àquelas horas, então deviam estar todos felizes: O Sereno, sua pobre mãe e também o Trovão. Não, não queria mais pensar em tristezas. Foi quando seu orgulhoso pai, sentindo necessidade de participar daquele momento lhe disse: Deixe estar, querida... Aquela maldita onça não irá longe... Eu me encarregarei disso pessoalmente.

Lou Poulit
Direitos Exclusivos do Autor

Foto de Edilayne Campos

Lembranças.

Era uma noite normal, com um luar profundo. O céu sem estrelas denuciava que a chuva estava por vir.
Pensativa, sentei-me num banco qualquer, esperando o tempo passar. Esperando a mágoa diminuir, esperando tudo, menos a sua volta.
Já era tarde quando o primeiro pingo de chuva caiu sobre a minha testa, escorreu pela minha face, rumo a minha barriga. Foi como se você me tocasse outra vez.
Aquela gota de água gelada me dava novas sensações. Me despertava prazeres, que pensei nunca sentir.
Olhando o céu, e mesmo ele estando quase vazio, tive a impressão de que via sua beleza ali refletida.
O vento calmo soprando de forma que me me fazia lembrar a sua vóz em meus ouvidos, declarando seu amor por mim.
Amor esse que se findou quando a ilusão passou, como essa noite, que agora se vai com o nascer do sol.

Foto de fer.car

POESIA É...

Poesia é um grito de esperança na alma
Uma alegria contagiante estampada no olhar
É quando o corpo quer padecer e ao escrever move-se em outra estação
Poesia é uma saudade nunca curada
Um beijo não dado e ansiado
Uma mão a tocar outra mão
Uma alma a completar outra alma
Poesia é o sabor intenso da maça
O calor depois do amargo e do frio
Poesia é avistar o futuro com olhos de criança
Acreditar nas pessoas, e no amor
Poesia é algo que traz em seu contexto o encanto, o brilho e a luz
Uma água cristalina num vasto lago
Um pássaro a voar alto o céu
Poesia é você abrir o coração
Abrir-se aos outros, ser transparente...
Poesia é o carinho, o amor diários
É sonhar
Acima de tudo
Sonhar

Foto de alEksãdra

Vi Tereza

Quando vi Tereza
Percebi que seu corpo deslizava em curvas; perfeito
Percebi também que seu rosto era como de uma criança; Angelical
Quando a vi novamente
Percebi que seus olhos eram claros como a água do mar; brilhavam
Há como eu desejei Tereza...
Seu corpo, seu rosto, seus olhos.
Da terceira vez que vi Tereza, não senti mais nada
Recuperei a razão, prestei mais atenção
Percebi que Tereza não é só corpo
É também emoção
Emoção que não quero sentir.

14/02/2007

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