Ameaça

Foto de Rute Mesquita

As vozes que falam: uma mensagem

Errar, cair, tropeçar, perder, já vivenciei um pouco de tudo… mas também já venci, já fiz a escolha certa mesmo depois de uma escolha errada. Já me levantei e já ganhei. E é por tudo isto que ‘hoje’ seja que problema for, nada me faz desistir, pois ‘hoje’ sou eu, ‘hoje’ sonho, ‘hoje’ tenho objectivos e essencialmente, ‘hoje’ tenho uma vida, uma vida própria e estou feliz.
Gostava muito que todas as pessoas com problemas ou não na vida, soubessem que outro alguém, perto ou longe, que também cai, também erra, também pensa em desistir… Gostava que as pessoas não se achassem únicas… E era tão bom que partilhassem histórias e que assim se ajudassem mutuamente.
Tenho este sonho em mim, o sonho de tentar deixar uma mensagem, não em meu nome mas, em nome de uma pessoa não sábia, mas ignorante, com muito ainda por saber. Em nome de um ser humano, racional e incompleto.
Sinto que esta é a minha missão. Querer ajudar o outro e ser mais feliz pela sua felicidade.
Sei que não sou a única a pensar assim mas, também sei que nós, os que pensamos assim, por vezes somos os mais pisados… de por vezes sermos ingénuos, em nos preocuparmos com os outros e nos sentirmos responsáveis pelos mesmos.
Porém, o pior é que no meio de muitos a pisarem-nos há um que nos quer levantar e às vezes é precisamente a esse alguém que fechamos a nossa mão, é com esse mesmo que somos injustos e muitas vezes sem nos apercebermos de imediato.
Era tudo melhor se o Homem racionasse… se raciocina para o mal, pode faze-lo para o bem… mas, não… fazer o bem exige mais raciocínio, implica ouvir mais o ‘eu’, requer mais de sí e um maior equilíbrio entre o ‘eu’, o ‘outro’ e as ‘leis’… e por isso, o caminho do mal parece o mais fácil, é o mais tentador mas, esquecem-se que não é o correcto e que nunca dará boas colheitas… e é assim… o Homem auto destrói-se e assim diminui a sua qualidade de vida e ameaça a sua existência. Pois a realidade é esta: ‘num Mundo egoísta os egoístas vencem’, muito infelizmente. O Homem deixa de ter valores, olha só ao seu objectivo individual e pisa tudo e todos… e vai acabar como duas crianças que querem o mesmo boneco e cada uma puxa para o seu lado… o boneco irá partir-se e libertar energias.

Foto de Marilene Anacleto

Ave Passageira

*
*
*
*

O canto da ave passageira
Rompe o amanhecer e segue.
Outros sons dão vida à orquestra,
Num ritmo acelerado e breve.

Outros cantos, ouvirem-se fazem,
Mais além do que a vista alcança,
Remete a alma ao paraíso eterno,
Sigo com pássaros na suave dança.

A aragem toca-me a face,
Traz o aroma da liberdade.
Nesse espaço de segurança
Não há hora, manhã ou tarde.

O vento sacode árvores,
Sino dos ventos, em frenesi,
Movimentos e sons espargem,
Mas preciso levantar daqui.

A dança do universo prende-me
Aos cantos, aos sons, à aragem.
Ergo a cabeça , contemplo o brilho
Nas folhas alegres das árvores.

Segue seu ritmo, a dança, no dia,
Que presenteia um arco-íris no oeste.
A ameaça de guerra que paira,
É nada, na luz que a Terra veste.
Tudo é Luz. Neste instante, nada me fere.

Marilene Anacleto

Foto de Nero

CIDADÃOS DO MUNDO

CIDADÃOS DO MUNDO

Em muitos recantos desse mundo afora, milhares de imigrantes (legais ou ilegais) são encarados como uma séria ameaça, aos países que a bem ou mal tiveram que os acolher. Concordo que quando um país sofre sucessivas “invasões” de imigrantes ilegais, isto até certo ponto contribui para a sua desestabilização económica e pode romper com o ordenamento da estrutura do seu tecido social.

Mas também acredito veemente que há outros factores de topo que causam a devastação económica e social sem precedentes. Mas como se diz na gíria “a corda rebenta pelo lado mais fraco”, me parece ser essa razão, para que vários países usem os imigrantes como bode-expiatorio para justificar os seus persistentes problemas socio-económicos.

Quero aqui reiterar que não sou de modo algum apologista da imigração ilegal. Todavia, acho que usar os imigrante ilegais ou legais, como causa fundamental dos problemas sociais e económicos de um país, para alem de ser uma forma de minimizar um problemas com causas profundas, é um gravíssimo contributo para a xenofobia, o racismo, e o preconceito em geral.

Só acho justo que esses imigrantes (homens, mulheres, crianças e idosos) sejam vistos como seres humanos que procuram alcançar seus sonhos de uma vida melhor para si e para seus filhos, não obstante a discriminação de que são vitimas.

Por estes e outros motivos, estes homens e mulheres batalhadores, deveriam e devem ser correctamente considerados de CIDADÃOS DO MUNDO.

NOTA: Precisamos nos lembrar que em muitos países hoje, grande parte da sua população é constituída por imigrantes ou descendentes de imigrantes, como é o caso do Brasil.

Foto de GASÁR POETA

INSENSÍVEL EU SOU?

INSENSÍVEL EU SOU?

Insensível eu sou
Por ser ameaça para aqueles que acomodados no que são,
Não conseguindo ser, não admitem outros serem.
Insensível eu sou
Nas distorções dos meus semelhantes
Em relação ao que eu deveria ser para eles
E o que sou para mim.
Entre tanta pressão do que querem que sejamos
Sem nos perguntarem o que queremos ser,
Temos que, às vezes, nos perguntar quem somos
Para não acabar sendo aquilo que querem que sejamos.
Às vezes, me pergunto: quem sou o que sou?
Aquele que sou ou aquele que acham que sou?
E fico em dúvida se sou eu que sou
Ou se sou o que acham que sou.
Entre tantos sou, continuo me perguntando: quem sou?
Se sou ou se não sou.
Chego à conclusão para mim do que sou e de quem sou
E não do que acham que sou e de quem sou.
Para quem acha que sou o que não sou
Ou não sou o que sou ou até mesmo que sou o que sou,
Fico sendo para a convivência de cada um
O que melhor acharem que sou.
Só quero sempre ter a certeza de quem sou e o que sou:
Sensível eu sou!

Foto de Carmen Vervloet

DILEMAS

Nos tempos de outrora, a liberdade era o melhor presente
e em lembranças de alegria, hoje, a saudade pulsa latente...
Noites enluaradas, cirandas, estrelas e violas
e nos raios do luar qualquer tristeza ia embora.

Branca era a paz, cantávamos no mesmo compasso
e nos acordes da canção solfejávamos nosso destino
envolvíamos o mundo com nossos pequenos braços
e voávamos nos nossos sonhos quais colibris bailarinos

Agora reiterados dilemas, o medo... chora a viola!
Se eu saio sou ave ferida, se fico sou pássaro na gaiola.
Em cada lampejo de liberdade, a lâmina fria ameaça
e entre os dedos do pânico, a vida condenada passa.

Os sonhos desintegrados, plúmbeos, em densa fumaça
e eu suprindo o isolamento busco na internet amigos
ancoro no mundo virtual minha solitária barcaça,
resguardo-me dos achaques eminentes, mas abraço outros perigos...

Dilemas... quantos são os dilemas que a vida moderna trás!
Se eu saio sou ave abatida, se fico sou pálido lilás!
Como viver feliz refém de sangrenta violência,
presa entre quatro paredes,
prestando aos anjos do mal total obediência?

Emudece a poesia nesta gaiola de aço,
sufocada entre tantos dilemas
e afoga-se em lágrimas, nestas linhas molhadas que traço!

Carmen Vervloet
Vitória - ES

Foto de João Felinto Neto

Poesias selecionadas

APELO À MISÉRIA

Quem me dera, miséria,
eu fosse parte
de um baluarte de sonho e de quimera.
Pela boca mantém-se assim o povo,
a lavagem é a comida que a si, dera.
Na vergonha de reconhecer-se porco,
ter o rosto metido na sujeira,
enlameado atrás de uma porteira
seu anseio é mantido na espera.

Quem me dera, miséria,
eu me calasse
e ocultasse o meu rosto na janela.
Meus princípios mantêm-me assim exposto.
Sou mau gosto travado na goela.
Quem engole as palavras que eu digo
traz de volta a vontade de lutar,
elas tocam a ferida no umbigo
que o conformismo já ia cicatrizar.

Quem me dera, miséria,
quem me dera,
que de ti eu pudesse me livrar.

PERSONAGENS INFANTIS

Será que o lobo é tão mal.
O lobo ama também.
Ele protege os filhotes que tem.
Caçar, para ele é natural.

A chapeuzinho, talvez,
quando crescer seja outra.
Se torne uma megera
que não gosta de criança
e perca toda a esperança
de voltar ao que era.

O caçador, o herói tão valente
que salvou a vovozinha,
costuma matar friamente a fêmea,
deixando a cria sozinha.
Ele acabou sendo preso
por caçar ilegalmente.

A vovozinha morreu.
Pois, a idade a levou.
Mas, quantas vezes brigou com a vizinha da frente.
Isso prova que a bondade e a maldade,
na verdade,
são apenas uma história diferente.

O POEMA QUE EU DEIXEI DE ESCREVER

O poema que eu deixei de escrever,
Falaria de você,
De nosso tempo,
De angústia, de tormento,
De alegria e de prazer.
Iria contradizer
Cada palavra
Que as nossas falas
Tinham pouco a dizer.

O poema que eu deixei de escrever,
Seria na verdade,
Uma ameaça.
Calaria minha boca,
Qual mordaça.
Não seria uma desgraça,
Por não ser.
Os meus versos,
Talvez fossem sem querer,
Uma ofensa
A sua crença,
Que eu acreditava
Ter.

O poema que eu deixei de escrever,
Não seria
De valia.
Sem valia,
O deixei de escrever.

SEPULTAMENTO

Os meus olhos pregados
no infinito
como os pregos nas tábuas
cravejados,
e de pontas viradas,
redobrados,
sustentados e fixos
numa curva.
No aconchego da madeira macia,
minhas costas
nos ossos da bacia
consolam meu corpo
tão curvado.
Pelo tempo que tenho acumulado,
a ferrugem do mundo
me comeu,
e a tampa que pregam
me prendeu
para sempre num rito consumado.
Por debaixo da terra
condenado
a ser parte da mesma
e não ser eu.

CANTO DE SEREIA

Como um canto de sereia
de belíssima harmonia,
letra correta, verdadeira poesia
e melodia
que eterniza nossa alma.
Por onde anda
a sereia encantada
nas profundezas desse mar de ignorância?
Letra incorreta com falta de concordância
e melodia
que nos faz perder a calma.
Só na lembrança,
o teu canto nos enleva
na emoção que tua voz nos faz sentir
e na saudade, o nosso coração desperta
pra realidade,
não há nada mais pra ouvir.

PEDESTAL DE BARRO

Revogo silêncio
ante palavra e voz.
Reato os nós
que me prendem ao medo.
Reavivo memórias
em busca de segredos
que já não interessam mais.
Reclamo por paz
em meio a intensa guerra.
Replanto a erva
que não nasce mais.
Relato as dores
de males e fome.
Repito o meu nome,
antes de dormir.
Reato os laços
que me prendem aqui,
ao pedestal de barro.

TORRE DE BABEL

O juiz do supremo,
Jeová,
se irrita e sai do sério,
quando seu filho Jesus
vai à noite, ao cemitério.

No boteco do Davi,
onde quem manda
é o Golias,
não há funda,
quem afunda
na cachaça, é o Isaías.

No salão do senhor Sansão,
quem faz o cabelo
é sua mulher Dalila.

As mulheres de Salomão,
o cafetão lá da vila,
choram e sentem solidão
quando estão de barriga.

Lúcifer anda arrasado,
o seu mundo virou trevas,
por ter visto abraçados,
Adão e a senhora Eva.

Noé, o velho barqueiro,
não gosta de animais.
No entanto, adora um peixe-frito
no barzinho lá do cais.

Essa torre de Babel
é o mundo em que vivemos,
onde não há inocência.
Se algum nome ou fato ofender,
é mera coincidência.

A MULHER DA MINHA VIDA

A mulher da minha vida,
Sempre é lida em meus versos,
De uma forma ou de outra.
É a sua voz que ecoa
Reclamando meu regresso.
É bem mais que uma amante,
Que uma amiga e companheira.
Necessária como a fonte
No deserto de areia.
A mulher da minha vida,
Entre linhas abstratas,
Põe em mim, doces palavras
E expressão de alegria.
A resumo em poesia,
Tal qual em cartas,
A saudade que nos mata
Se envia.
A mulher da minha vida
É a graça
Que um devoto em desgraça,
Alcançaria.

O LABIRINTO

Pelas ruas infinitas,
Não encontro meu destino.
Endereço repentino;
Então, me pára.
Não é nada;
Sigo em frente, o meu caminho.

A mim mesmo, ainda minto:
- Logo chegarei em casa.

Em calçadas,
Eu percorro o labirinto
(Cruzamentos, sinais verdes e paradas).

O suor não pára o tempo;
Lágrimas, enxuga o vento;
E um triste pensamento
Não se afasta.

A cidade, assim, se fecha em semelhança.
A lembrança,
À realidade, não se adapta.
Eu confundo o momento
E me perco no silêncio
De um triste monumento
Que me agrada.

Minha calma é necessária
Para espantar o medo,
Desvendar todo o segredo
Que o labirinto encerra.
Os meus pés seguem por terra,
Minha alma por promessa,
O meu corpo por saudade.
Edifícios, tais quais pedras,
Alicerçam a cidade;
Conduzindo minha mocidade
Eterna,
De encontro ao passado.
Eu me torno um condenado
Num presente adulterado,
Que me enterra.

Observo as vidraças
Das janelas,
Onde o sol ofusca a vista
Com a luz que é minha guia
Na escuridão tardia
Do passado.

Cada praça
Me congraça,
Tal um templo
Erigido como um marco à memória.
Cada uma conta a história
De seu tempo,
De sorriso e sofrimento,
De conquistas e derrotas.

Novamente, me encontro sem saída,
Apesar de tanta via planejada.
Já não reconheço nada
Do que havia,
Já não reconheço nada.

Alimento meu silêncio,
O tempo passa,
Onde pombos batem asas
Sem voar.
Não consigo encontrar
O meu caminho;
O meu ninho
Não encontro em meu lugar.
Continuo a me enganar,
Ainda minto,
Preso a esse labirinto
A me fechar.

À DERIVA

Posso até perder o brilho dos meus olhos,
Mas jamais, deixar de ver tanta tristeza.
No esbanjar de pratos sobre minha mesa,
Vejo a fome refletida nos teus olhos.

O que faço se estou preso ao sistema
Onde a indiferença
Sobrepõe a caridade,
Onde a verdade
É varrida
Pra debaixo da mentira
E onde a vida
É um barco à deriva
Sem ações de piedade?

UM POUCO MAIS

Percebo
A minha vida esvaindo-se entre meus dedos
Em minha mão aberta
A dar adeus ao mundo
Pela janela.
A minha juventude
Em quietude eterna,
Silencia os meus dias.
As velhas alegrias
São lembranças tristes.
Os sonhos não resistem
Aos carinhos da morte.
E que meu sono suporte
Os meus pesadelos,
Já que meus apelos
Ao que me resta de força
Não me sustenta.
Talvez, o mundo não entenda
Esses meus ais.
Não tenho medo de morrer.
Eu só queria era viver
Um pouco mais.

O GRANDE DIA

Ai de nós se não fosse o profeta
Para converter o nosso coração.
Do contrário, Deus feriria a terra
Com terrível maldição.

Com o Senhor não há perdão.
Seu grande e terrível dia
Não será de alegria
E sim de destruição.

O poder de sua mão
É extremamente acintoso.
Deus é um ser ambicioso,
Quer de todos,
Atenção.

Não importa a condição,
Será imposto
Sofrimento e desgosto
Por qualquer contravenção.

Deus não quer nos dá lição,
Quer aniquilar a todos
Pelo caráter odioso
Que passou à criação.

EPITÁFIO XIV

Ela se aproxima
Sorrateira e linda,
Com seu manto escuro,
Sua mão suada.
Não nos pede nada,
Mas nos toma tudo.
Deixa então, de luto,
A pessoa amada.

Ela não se importa
Com aquele que fica.
Pois só se dedica
Ao que se despede.
Sorrateira, impede
Que a gente viva.
E sutil se infiltra
Sob nossa pele.

Ela só se afasta
Quando mata a alma
E deixa o corpo inerte.

ETERNA SOLIDÃO

O que eu tive na vida
Além da data esquecida,
Da dor no peito, contida,
E da perdida ilusão?

O que mantenho na mão,
Já na forma cadavérica,
Senão,
A luta sem trégua
Com os germes que a terra
Colocou em meu caixão?

Os meus feitos,
Foram em vão.
Meus defeitos,
Exaltados.
Não sou de Deus nem do Diabo.
Sou um louco condenado
A eterna solidão.

ESPANTALHO MORIBUNDO

Minha alma sempre está
Num silêncio tão profundo,
Que eu chego a duvidar
Que ainda estou no mundo.

Espantalho moribundo,
Onde a morte vem pousar.
Talvez para lhe falar:
Sinto muito! Sinto muito!

Num milésimo de segundo,
Volta o corpo a respirar.
Espantalho vagabundo,
Fecha os braços para o mar,
Abre os olhos para o mundo.

FRUTO SEM CASCA

Espalhando letras
Sobre velhas páginas,
Semeei palavras
Que insatisfeitas
Deram-me em colheita
Uma grande safra
De um fruto sem casca,
A minha tristeza.

Uma fruta fresca,
Presa pela boca
Em que uma ou outra
Tenta mordiscar,
Murcha sem parar;
Se tornando feia,
Seca na areia
Quando o vento dá.

Versos pelo ar,
Lágrimas e poeira,
Solidão na mesa
Onde o fruto está
Exposto, sem par,
Sem mostrar beleza,
É minha tristeza
A me alimentar.

HOMENS DE FUMAÇA

No arrastar de minhas sandálias
Pela casa,
Tenho as lembranças arranhadas
E esquecidas.
Por onde andam as conversas conduzidas
Pelos homens de fumaça?

Se desfizeram com o tempo,
Nas costas de um tênue vento,
Pela janela escancarada.

O velho barco na distância, ainda aguarda
Pela tripulação dispersa,
Numa espera
Que parece eternizada.

Em meio a tralhas,
Depuseram suas velas.
Em meio a elas,
O seu capitão se apaga.

O FRACASSO

Eu sei que a vida me leva em trapos.
Caldeirões de barro
De bruxos modernos.
Favelas de inferno,
Diversos buracos.

São armas de ferro.
São balas de aço.
Sou eu, o fracasso
De um programa sem sucesso.

Eu sei que a morte me olha de perto;
Que chego a sentir o seu frio abraço.
Eu fumo, eu prego
Minha mão no maço
De notas sem eco.

São barras de ferro.
Algemas de aço.
Eu sei que sou o fracasso
De um programa sem sucesso.

Eu sei que caminham lado a lado,
O errado e o certo,
A ira de Deus
E a fama do diabo,
Senhores e servos,
Patrões e empregados,
Progresso e atraso.

São os mãos-de-ferro
Em torres de aço.
Sendo eu, o fracasso
De um programa sem sucesso.

OLHOS DE AZULÃO

O que busca essa mulher
Pela qual minto,
Senão
A mesma solidão
Que sinto
Quando longe de seus olhos de azulão?

Os mesmos olhos
Que me olham da gaiola
Quando eu abro a porta
E eles vêem a imensidão.

SE FOSSEM SÃOS

A rima
É mera aflição
Dos versos que me espelham
Naquilo que são.

De forma nenhuma dirão
Do que são feitos.

Meus versos
Seriam perfeitos
Se fossem sãos.
Mas nada são,
Senão
Defeitos.

QUANDO CHORO

Onde andam os meus olhos
Quando choro,
Se não consigo encontrar
As minhas lágrimas?
Nas migalhas,
Além de meus remorsos?
Nos meus ossos,
Aquém de minha alma?

A FANTASIA

Amo você
Com o mesmo ardor da juventude,
Na quietude
De minha atual idade.
Amo-a na ausência
Como num dia de saudade,
Detenho-me a cada ínfima lembrança,
Com a mesma paz
Que traz
Aquela esperança
Após uma guerra.
Amo-a em terra
Com a cabeça pelas nuvens.
Amo atitudes
Que jamais seriam minhas,
Como entre linhas,
Leio uma poesia.
Amo como se ama o alvorecer
De cada dia,
Como o sorriso
Na inocente alegria
De um bebê.
E ter você,
Ainda parece utopia.
Mas, quis a vida
Que eu vivesse a fantasia
De meu ser,
Que é para sempre,
Você.

MINHA GERAÇÃO

Essa amargura
Que me faz um homem rude,
É mera atitude
De defesa.
Odeio a pobreza
Que aos pés de Deus se ilude;
Enquanto a juventude,
Nada almeja.
Desprezo a mania de grandeza
Que o rico tem com tudo.
Não sou um carrancudo
Por frieza;
Somente faço uso
Da tristeza
De um sisudo,
Por ser fruto
De uma geração que aceita.

SONETO DA VITRINE
(Sombras & espelhos)

A vidraça estilhaçada,
Não desfaz a minha imagem,
Não subtrai da cidade,
A luz do sol ofuscada.
De pé, fiquei na calçada
Com minha mão estendida.
Exorcizei minha vida
Na pedra que arremessara.
Por um instante, escutara
O som de ossos quebrados
Da montra fragmentada.
Meu corpo feito estilhaços
Que os passantes pisavam
Entre espanto e gargalhadas.

POETAS
(Sombras & espelhos)

São tantos os poetas
Quanto estrelas,
Dispersos em bandeiras
Pelo mundo.
Eternos e profundos
Pelas letras,
Em digressões soberbas,
Em dimensões sem fundo.
São tantos os poetas
Que o planeta,
Em tinta de caneta,
É resumo.
Enorme rascunho
Em línguas estrangeiras.
A tradução perfeita
Das emoções do mundo.

MOSAICO
(Sombras & espelhos)

Em minha mão,
Mil pedaços.
Antigo quadro,
Uma mesa,
Alguém que come calado
Com discrição ou tristeza.
E lado a lado
Na mais extrema destreza,
Enfileirado
Sob a antiga nobreza,
Assenta-se o mosaico.
Sob os meus pés, o passado
Em um quadrado,
Pintado
Nesse retalho do tempo.
Breve momento
Guardado
No mais antigo mosaico
Preso à calçada,
Ao tempo.

SÓ EM TE AMAR
(Sombras & espelhos)

Só em teus lábios,
Eu encontro meus gemidos.
Só em meus gritos,
Eu consigo te encontrar.
Como enganar
A emoção de estar aflito.
Eu te preciso
Como a noite, do luar.
Só em teus passos,
Eu caminho decidido.
Surpreendido,
Tento não justificar.
Sem teus abraços,
Os meus beijos são sofridos
Como os feridos
Que não podem se curar.
Só em te amar
É que eu encontro o sentido
De tudo aquilo
Que consigo imaginar.

NUMERAL UM
(Sombras & espelhos)

Eu atribuo
Minhas palavras ao poeta.
Uma espera
Numa tarde em jejum.
Nós como dois,
Dividimos.
No que dera?
Apenas um.
Eu me situo
Nas medidas de uma régua.
A mais complexa
Ou talvez a mais comum.
Sou menos um,
Minha conta se completa
Com menos um.
Eu me anulo
Numa soma que me zera.
Um dois que nega
A existência de mais um.
Sou incomum,
Tabuada que ainda preza,
Numeral um.

CONTRACEPTIVO
(Tríptico)

Eu não sei se é o desespero
que me leva à loucura
quando o sexo estupra
a minha alma,
ou a calma
que advém do meu tormento
pelo tempo
que passou em minha palma.
Movimento anormal
de penetração moral
em sua saia,
e no cheiro da indecência,
feromônio da ciência
em uma jaula.
Uma fera excitante
que no último instante, ofegante,
cospe a vida
no seu couro de borracha.
Não há luta, nem corrida;
há uma triste despedida
de um suposto vencedor
que foi fruto de um amor
e se enforcou
com a própria cauda.

SONHOS
(Tríptico)

Os meus sonhos
são apenas fragmentos de memória,
pequenos focos de luz
como cristais dispersados
num caleidoscópio de pensamentos,
distorções esdrúxulas da realidade.
Rumores, amores e momentos,
abertos numa gaveta destrancada.
Minhas pálpebras fechadas
num caixão de quase nada.
Um quase definido como os sonhos
que são versos que componho
numa noite agitada.
Movimento involuntário dos meus olhos,
que entre risos, ainda choro
por apenas acreditar sofrer.
Entre cartas mal escritas e seladas,
vem a calma ao chegar o amanhecer.
Vem enfim, o esquecimento
desse quase fingimento
que é sonhar.

EM DEMASIA
(Tríptico)

Eu sou demasiado triste,
pelos versos que componho.
Eu sou demasiado louco,
pelo pouco
que proponho.
Não deveria o mundo ser assim,
em demasia.
Talvez não seja o mundo,
seja enfim,
minha poesia
Demasiada em meu tédio,
sem remédio,
em grafia;
em longas noites mal dormidas;
nos insultos
que eu ouvia.
Não caberia em minha mão,
toda a visão
que em mim cabia.
Eu sou demasiado em tudo,
que ironia,
demasiado em meu luto
por ser fruto
de utopia.
Em demasia são os dias
que me escapam entre os dedos
como uma teia
que é lânguida e esguia.
O mais sublime pensamento
que perde tempo
em demasia.
Demasiado, meu tormento,
pelo tanto
que eu não via.
Demasiadamente eterno,
meu inferno em agonia.
Em demasia sou
quem sou,
um astronauta que acordou
num mundo estranho
em demasia.

DISLATE
(tríptico)

Talvez minhas palavras sejam tolas,
minhas ações, inconseqüentes;
as minhas brincadeiras, ironia;
eu próprio seja falho e negligente.
O meu discurso seja sátira;
minha seriedade, uma piada.
O meu humor seja mau gosto;
o meu dislate, permanente.
Meu riso entre dentes, atimia;
a minha faina seja ociosa;
meu pranto, uma lição jocosa
e o jeito infantil, idiotia.
Talvez a minha vida seja um fracasso;
meus versos, um engodo imoral.
Em epítome, sou um gracejo nefasto.
Meu desejo, um esboço abnormal.

TURGESCÊNCIA
(Sob meus calcanhares)

Eu sinto os teus cabelos
entre meus dedos,
teus lábios comprimidos
ao meu desejo,
o arfar de teu cansaço
entre meus braços
e ouço teus gemidos.
Vejo teus olhos tolhidos
fitar meu medo
de não tê-la satisfeito ainda.
Tenho todos os sentidos
na extensão do meu leito.
E no auge da turgescência,
me torno uma larva imersa
em teus fluidos.

O RAMO
(Sob meus calcanhares)

Onde está minha alma,
que não encontro?
Onde está meu encanto,
minha calma?
São perguntas que faço,
ainda em pranto,
ao meu eu freudiano
que me cala.
Onde está este anjo
que me fala?
Um quebranto
que minha mãe me pôs.
Ouço a antiga canção
que ela compôs
em minha rede embalada.
Vejo um ramo na árvore desfolhada,
resistir ao vento,
envergado.
Nesse instante me sinto
envergonhado
pelo meu triste pranto.
Minhas lágrimas
são simplesmente água
que faz falta ao ramo.

O DIÁLOGO
(Reticências desfeitas)

- Dou-te a palavra
para principiares o diálogo.
- Fico muito grata
por ceder-me o favor.
És muito amável.
Vou falar de amor,
sentimento imensurável
que é tão natural
quanto o desabrochar da flor.
- Já vou interpor.
O que tu estás dizendo?
O amor é um invento
cultural e sem valor.
- Estou espantada.
És um homem insensível.
O amor é indizível.
É nosso maior legado.
- É soma sem resultado.
O amor não é normal.
É estóico, irracional,
nos mantêm aprisionados.
- És um homem insuportável.
Mas o que dizes é refutável.
De que vale a liberdade,
sem motivo para a saudade.
- És uma eterna sonhadora.
De que vale um sentimento
que só nos provoca medo,
fraqueza e sofrimento.
- O amor é imortal.
A mais pura poesia.
Nos fere, é natural.
Mas compensa com alegria.
- É uma simples utopia.
Inconstante, passageiro.
Quem se entrega por inteiro,
viverá em agonia.
- Vou deixar por encerrado
o nosso breve diálogo
em tua cética pessoa.
Mas eu sei
não é à toa
que nós dois somos casados.

ELA
(Quadrilátero)

Ela me leva,
me engana
e ainda me desafia.
Levou meu corpo
para a cama,
enquanto me distraía.
Deu-me o fruto do pecado,
enquanto Eva,
e compensou com redenção,
quando Maria.
Em Joana D'arc
foi Vitória,
também rainha.
Já foi de todos
e só minha.
Ela é pouco e é demais.
Como Helena,
ela foi guerra.
Como Tereza,
ela foi paz.

INDECENTE
(Quadrilátero)

Não sou um cavaleiro imaginário,
apenas um vassalo
que caminha.
Pela realidade,
um escravo
que tem a ilusão
que é livre ainda.
Não sou nenhum beato,
nem um cão.
Eu não uso sermão
e nem batina.
Meu rosto
é palidez,
enquanto expiro.
Meu sexo
sem estilo,
estupidez.

MUNDO FICTÍCIO
(Pax-vóbis)

Uma criança brincava
Com a comida, na mesa.
Corria de pés descalços,
Sem ninguém a seu encalço,
Pela ruazinha estreita.
Não enxergava a sujeira,
No seu mundo fictício,
Do real desconhecido;
Tudo era brincadeira.
Contudo, era tão bonito
Ver o mundo d’aquela maneira:
Sem ter ódio,
Ser ter vício,
Sem sombra de sacrifício,
Sem pecado
E sem tristeza.

SOMBRA DE NANQUIM
(Pax-vóbis)

Que a vida,
Mesmo frágil, continue.
Que perdure
Meu amor, além de mim.
Que não tenham fim,
Meus passos pela rua.
Que dissipe sob a lua,
Minha sombra de nanquim.

A PEQUENA D’ARC
(Olhos de guri)

A guria
não gostava de pia,
de casinha ou fogão.
Para ela,
tudo era opressão.
Ela ouvira
sua mãe reclamar
que a mulher tende a trabalhar
só com água e sabão.
Por que não
brincaria de guerra,
de doutora,
de terra na mão?
A guria,
parecia antever
que seu mundo seria
uma doce ilusão.

A SOMBRA
(Olhos de guri)

Minha sombra
que se perde no escuro,
salta o muro
quando o sol
no céu desponta.
Se arrasta no chão duro,
se encolhe,
se estica,
passa rente a dobradiça
e se perde pela casa.
Mas à noite,
minha sombra cria asa,
voa quando saio a rua.
Pela luz que vem da lua,
minha sombra me abraça.
Me divirto e acho graça
quando atravessa a fogueira.
Minha sombra, não sou eu,
mas é minha companheira.

TAMBÉM SOU
(Letras, ...)

O louco
é apenas mal ouvido.
Seu riso,
tenebrosa gargalhada.
Sua fé,
um constante, eu duvido.
Sua mente,
uma porta escancarada.
Seu pedido de ajuda
é um grito.
Seu gemido incontido,
uma dor.
Seu amor,
um abraço emotivo.
Sem motivo,
eis que louco
também sou.

A GRAÇA
(Letras, ...)

Deus me deu o fardo
para eu achar pesado
o termo ser livre.
Deus me deu o espelho
para ver se aceito
esse meu rosto triste.
Deus me deu o segredo
para pensar, eu mesmo,
o que é ser tolice.
Deus me deu a culpa
para eu pedir desculpa
por qualquer deslize.
Deus me deu a dor
para eu sentir pavor
do seu dedo em riste.
Deus não me deu nada,
eu que faço a graça
crendo que ele existe.

VERSÃO REFRATADA
(Letras, ...)

Quantas vezes eu tive
que mergulhar no sorriso
para fugir do abismo
que é o existencialismo
de mim mesmo.
Quantos pueris desejos
entre prosaicas conversas.
Quando nada interessa,
meu mundo me dá medo.
Eu sou apenas ensejo
que o acaso consagra.
Uma versão refratada
na ilusão do que vejo.
Quando não me percebo,
é sinal de que eu mesmo
sou a soma do nada.

QUEM SOU EU
(De versos, ...)

Sou um jovem ateu
Que entra na igreja
Para tomar cerveja
E beber café.
Desconheço a fé,
Mesmo na ressaca.
Rio quando a graça
É de um milagre
De ser eu, um padre
Que toma conhaque
Num cálice de vinho
E vive sozinho
Pensando que sonha
Em ser um demônio
Que se sente Deus,
Ser o próprio Deus
Se sentindo humano,
Ser um santo insano
A brincar de ateu.

DESESPERANÇA
(De versos, ...)

Quem é essa
Que me tira o sono,
Que arrebata o dono
De uma humilde casa?
Quem é essa
Louca, desvairada,
Que ao seio me prende
Sem saber se sente
A dor que a outro causa?
Lábios que procuram vida
Carne apodrecida
No envelhecimento.
Quem é essa
Que corrói por dentro
Como um veneno
Sem nenhum antídoto?
Eu sou outro,
Sou um homem dito,
Dito morto
Pela agonia.
Quem é essa
Musa e tirania,
Mistura que havia
Desde minha infância?
Quem é essa
Triste companhia?
Talvez seja a morte,
A desesperança.

O MATUTO
(Cálice)

O matuto está triste,
cabisbaixo e pensativo.
Não encontra um só motivo
para saber se existe.
Tal canário sem alpiste,
preso a uma velha gaiola,
vendo longe a aurora,
sem ter ânimo pra cantar.
Com vontade de voar
para longe, ao horizonte;
a saudade o consome
antes mesmo de partir.
O matuto fica ali,
a pensar no que seria
sem a única companhia,
a choupana em que vive.
Tal amor só visto em versos,
o matuto é regresso
de um lugar que não existe.

SEM CONDIÇÃO
(Cálice)

Seus ombros à amostra,
me deixam insinuado.
Seu corpo ainda agora,
me deixa provocado.
Seus seios contornados
pela blusa,
me fazem sinal da curva
do seu corpo ondulado.
Seu jeito comportado
não me mantém à distância.
Na sua tolerância,
encontro o meu pecado.
Seus olhos não perturbam minha paz,
além do mais,
recebem meu recado.
Seu pare, deixa disso, mais cuidado,
só fazem aumentar o meu querer.
A dúvida faz crescer
minha ilusão,
que eu terei nas mãos
a chance de fazê-la entender.
Amar é mais que ter.
É aceitar querer
sem condição.

CONVÉS
(Cálice)

Foste meu caminho sem regresso
em um verso.
Minha poesia mais bonita.
Entre as estrelas,
rabisquei um só desenho,
o seu rosto,
como eu bem queria.
Foste a derradeira flor
perdida no deserto.
Em meu universo,
um farol de guia.
Arrancaste o aviso que dizia:
“Uma saudade”.
O vazio da idade,
preenchias.
Foste o colorido
de uma tela que eu pintava.
A mão que segurava o meu filho.
O espírito de um cético
que chorava.
A paz esperada
por um homem aturdido.
Foste o barco rijo
que sustenta a onda em fúria.
O pescador que nada
à procura de si mesmo.
Para mim,
a mais incrível criatura.
A doce loucura
do desejo.
Foste na verdade,
o meu mundo.
Hoje, na saudade,
apenas és
um velho convés
com o qual afundo.

GRAMATICAL
(Cabaz)

Só em letras imprimo minha alma.
Mais do que texto
sou contexto indecifrável.
Meu sinônimo é antônimo de si mesmo.
Um sujeito indefinido
que é objeto de um erro
gramatical.
Entre modos e tempos,
triste verbo
que ecoa na forma nominal.
Orações que são subordinadas
aos meus vícios de linguagem.
Um início em letras ordenadas
e um fim
numa expressão oral.

AFLORA UM POETA
(Cabaz)

Assim se fez um poeta.
Como talhe na madeira
esculpi minha poesia.
De uma maneira fria
infundi minha alma no papel.
Nas costas de um corcel
cavalguei por entre versos;
muitas vezes sem regresso,
o poema, me tornei.
De um sono despertei
enquanto escrevia,
da caneta então fluía
as idéias que sonhei.
Quem sabe se eu errei?
Foram mais de trinta anos,
foram tantos desenganos
que poeta, me tornei.

INGÊNITO
(Cabaz)

Seguir os passos
a um lugar perdido na distância;
entrar na dança
de um ritual de acasalamento;
sentir nas mãos
o instintivo dom
que vem de dentro;
ouvir o som
de vozes ecoadas;
e nas entonações
das poesias declamadas,
revelar-se poeta.

LIAME
(Cabaz)

Sou livro
intitulado.
Um desabafo.
Sou todo
em parte.
Um lacre violado.
Sou tudo
num nada
dissipado.
És flor
dissecada
na mão aberta
em palma.
És colo e calma
na casa onde cresci;
moeda encontrada
que perdi;
o berço
em que nasceu
minh'alma.

Foto de Dennel

Respondendo a Ricardo Kotscho

Ricardo Kotscho, jornalista mantém uma coluna no Portal IG, chamada Balaio do Kotscho, na sua última postagem evidencia uma preocupação de todos os petistas, os 5% que não aprovam ou discordam do governo Lula, que segundo o colunista entra pesquisa, sai pesquisa, chove, faz sol, sucede-se os dias e eles não mudam de opinião.

O colunista chega a insinuar que “vai investigar para saber quem são, onde vivem, o que fazem o que pensam o contingente de brasileiros minoritários”. Vamos responder a Kotscho. Ele não admite que haja a divergência político partidária, quer colocar a todos nós no seu Balaio, afirmando que isto não é normal que é um fenômeno psíquico. Ele quer que todos se coloque de joelhos frente à santíssima divindade Lula.

O grande Nelson Rodrigues afirmava que “Toda unanimidade é burra”. Kotscho quer que 103% - margem de erro de 3% - aprove o governo Lula, não admite o contraditório. Digo que ainda existe cabeças pensantes neste país, como ele mesmo afirma. Se todos apoiassem o governo Lula, estaríamos num imenso cenário de dementes. Vamos fazer um passeio até as Sagradas Escrituras para lembrar de um caso que tem relação com este.

O profeta Elias viveu num período extremamente crítico, crises sociais, idolatria, inversão de valores, abuso de poder e perseguição eram comuns nos seus dias. Assim ele se apresentou diante de Acabe, rei de Israel, e evidenciou o mal que estava presente, propôs um pacto social que culminou com a morte de todos os profetas de Baal, deus fenício. Ocorre que a rainha Jezabel sabendo disto mandou um aviso a Elias “Assim me façam os deuses, e outro tanto, se de certo amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um deles. I RS 19.2”.

Diante da ameaça da poderosa rainha, Elias foge para salvar sua vida, Deus o encontra numa caverna e lhe pergunta o que está fazendo ali, ao que ele responde todo magoado “Tenho sido muito zeloso pelo SENHOR Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para a tirarem. I Rs 19. 10”.

Depois de ter as forças e a fé renovada, Elias ouve de Deus que ele não era o “Único”, que existia “em Israel sete mil pessoas: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda a boca que não o beijou. I Rs. 19. 18”.

Voltei

Kotscho, nunca havemos de dobrar nossos joelhos diante de tanto autoritarismo, incompetência, cinismo, arrogância e abuso de poder, não somos do seu balaio. Não beijamos a boca que você beija, não comungamos dos seus ideais, como você mesmo afirma. Logo, não precisamos escarrar.

Sim, nós somos do CONTRA. Contra a corrupção, contra os desmandos, contra a política feita para os “companheiros”, contra tudo e todos que tenha aparência, jeito e posicionamento de “Baal”.

Ainda que sejamos apenas 5%, mais ou menos nove milhões de brasileiros, conforme sua declaração somos do universo dos que lêem jornais e tem um entendimento, um posicionamento estrutural e preciso dos rumos que o país trilha. Aqui a diferença, é melhor ter 5% dos que lêem jornal, do que 95% dos que limpam a bunda com ele.

Ainda quer saber quem somos. Somos o povo sofrido que trabalha cinco meses do ano apenas para pagar imposto para que Lula e sua trupe viajem por todo o globo envergonhando nossa nação, cultivando roçado de escândalos.

Somos aqueles que estão nas estatísticas, nas ocorrências policiais figurando como vítimas, enquanto o “Divino” protege e acolhe os Evos Morales, Chavez e outros trastes, rebotalhos humanos, que desgraçam nossa juventude com políticas do “Não sei, não vi, não conheço, não sabia, não existe”.

Somos os que morrem todos os dias nas filas dos hospitais, ou em casa na falta deles. Enquanto se mente descaradamente na TV “A saúde no Brasil está a um passo da perfeição”.

Nem todos gostam de circo, é assim que avaliamos o governo Lula, se não quer que falemos do “inferno” mude-se, pois não mudaremos de opinião, não estamos atrás de bolsas, sejam elas de que tipo for, nem nos encontramos nas esquinas a roubá-las, muito menos enfiamos as mãos nas que são públicas. Digo e repito nem todos os gatos são pardos, razão por que não cabemos no seu balaio.

Concluindo

Conservaremos integra a nossa personalidade, não nos deixando violentar ideologicamente. “O que não provoca minha morte faz com que eu fique mais forte. Friedrich Nietzsche”. Estou cansado dos fúteis, que pensam ser Alguém, e nada mais é que Ninguém, chegando a ser no máximo Qualquer Um.

Foto de Zaruquita

Grito de revolta

Grito de revolta

Eu sou pomba que esvoaça,
Por entre temporais de vida,
As negras nuvens trespassa,
E quase desfalecida,
Sou mensageira que passa,
No mundo despercebida,
Pois não deixam que mais faça,
Por tanta vida perdida,
Quero pôr fim à desgraça,
Para que seja vencida,
Esta tão grande ameaça,
Que traz a gente oprimida,
Mas,digam se há quem faça,
Que ela seja desvanecida,
Eu sou pomba que esvoaça,
Já com uma asa partida,
E sobre mim a ameaça,
De ser p´ra sempre perdida,
Querem pôr-me uma mordaça,
Querem-me presa e vencida,
Querem p´ra minha desgraça,
Pisar-me..tirar-me a vida,
Mas a vontade ultrapassa,
Toda a força já perdida,
Que mesmo sobre ameaça,
Não me darei por vencida,
Pois sei que não há quem faça,
Bem...sem ser retribuída,
Entre nuvens de desgraça,
E quase desfalecida,
Eu sou pomba que esvoaça,
Até ao final da vida...

De Arlete Anjos
14/02/1993

Foto de Sérgio Carapeto

Tenho no meu peito

Tenho no meu peito,
Algo tão inútil e imperfeito,
Que só bate por te amar!

Um amor que para mim é tão cruel,
Como os Deuses a quem fui infiel!

Um amor sem perdão,
Porque não posso controlar o coração!

Essa é a crueldade do destino,
Pelo qual fujo,
E minto,
Tudo aquilo que te digo,
E sinto.

Apesar de te querer e amar,
Os meus sentimentos não consegui controlar,
Ai… se eu pudesse arrancar,
O coração que me bate no peito,
Tudo seria perfeito.

Seria como uma pedra na calçada,
No passeio parada,
Por que passariam despercebida.
Seria nada mais que uma pedra…
Na calçada esquecida.

Mas para minha desgraça,
Devaneio e ameaça,
Tenho no meio peito,
Um coração que bate imperfeito…
Por ti!

Desde o primeiro momento,
Em que te vi,
Como parados no tempo,
(Inesquecível momento)
De loucura em pensamento!

E nesse momento eu me perdi,
E jamais me encontrei,
Só sei que me perdi,
E só me reencontrei em ti,
Apesar de vivo,
Parece que morri!

Amei e sofri,
Pedi e morri,
Naufragado nesse maré verde e agreste,
Que o teu olhar veste.

E os teus cabelos doirados,
Fios de ouro imaculados,
Que os anjos tecem,
Eu amo,
Como as rosas dos jardins de Adónis,
Por quem eu clamo!

E os teus lábios,
Pecados de anjo,
Que eu esbanjo,
Eu amo,
E desejo possuir,
Como o Deus que eu chamo,
E não me consegue ouvir.

Mas a minha maior desgraça,
É pior do que te amar,
É pior do que te querer,
É pior do que te amar,
E não te ter.

É o teu rosto angelical,
Que sem compaixão me atrai e seduz,
Como uma borboleta…
Seduzida pela luz.

Esse rosto que me fere mortalmente,
Com a sua beleza e esplendor,
É simplesmente,
O meu coração que bate por amor!

E o teu corpo,
Que eu desejo possuir,
Como a oiro e diamantes,
É nada mais que pétalas de rosas,
(Desejos tão amantes)
Como pedras preciosas.
Majestosas!

Sopradas pelo vento da manhã,
Que me liberta nesta fria manhã,
Com os seus raios de sol,
Que me aquece nesta noite tão fria,
O teu corpo era o sol que me aquecia!

Foto de Carmen Vervloet

Ira - Da Série Sete Pecados Capitais

Trovão que ressoa e assusta...
Ameaça delicados sentimentos
Leva a contendas injustas
E provoca profundos ressentimentos.

Instiga conflitos irreversíveis
Devasta lírios da paz tão sensíveis!

Carmen Vervloet

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