Cabelos

Foto de Arnoldo Pimentel Filho

QUINTO OUTONO

Talvez tenha tido a chance de ser feliz
Mas nunca olhei os cabelos soltos
O mar morto
Os passos lentos

Nunca foram ditas as palavras
Ensaiadas
Nas madrugadas frias
Dos meus pensamentos

Minutos de improviso
Horas de silêncio
Tempos de esquecimento

Anos de procura
Pelas ruas escuras
Pelas casas vazias
Pelos olhares esquecidos

Todos os dias

Foto de Cellyzinha

Como pode fazer isso comigo!

Como pode fazer isso comigo... Como teve coragem de mentir que me amava... Teve a audacia de olhar dentro dos meus olhos para me dizer tamanha mentira... Como pode enganar a quem apenas desejou te amar... Não posso acreditar...que tenha te dado a oportunidade de mais uma vez me ver chorar... Em que momento errei?...eu perguntava...e você nunca respondeu... Ou seu silêncio fui eu quem não entendeu... Enganei a mim própria quando decidi acreditar nas suas falsas verdades... Neste momento não consigo definir exatamente o sentimento que tenho dentro de mim... Não é mais sofrimento...a sensação é que estou morrendo... Amo inexplicavélmente...alguem que por mim nem sei o que sente... Me sinto aguniada...só eu sei o quanto o amo...

E que agora tenho que seguir o caminho da razão...e evitar escutar o coração... Que até o momento só me trouxe tristeza...se você me ama como nunca tive a certeza... Quando briguei...gritei...falei tudo o que pensava... Era porque eu acreditava que por nós dois eu lutava... Então senti que eu lutava sozinha...e percebi era tudo inutil... Me sinto derrotada,me dei por vencida,não sinto mais vontade de lutar... Acabei de perder a guerra...não tenho mais forças...porque cheguei no meu limite.... Pra que lutar por um sentimento que fala sobre duas pessoas...mas apenas uma sente... Pra mim não tem nenhum sentindo... E agora que cai...tenho q me levantar... E quando eu levantar...levantarei muito mais forte... Não mais darei a chance de me magoar...nem serei mais tão sincera quanto aos meu sentimentos... Aos poucos eu irei...para de novo eu não me machucar... E as lagrimas que correm em meus olhos aos poucos vão secar...

A dor que eu sinto esmagar meu coração lentamente vai passar... E os pensamentos as lembranças ficarão guardados no coração e ao passar do tempo eu esquecerei... A ferida com certeza por um longo tempo irá doer magoar...mas eu sou forte e vou superar... Aprendi que até as pessoas que você mais ama, podem um dia te decpcionar...mentir... Embora quem ame de verdade...sabe que mentiras não adianta nada para fazer sorrir...são mentiras Que nem sempre quem mais diz q te ama...é realmente quem te ama... Que se contentar com migalhas de carinho faz mal ao amor próprio... Que o amor damos a quem nos é especial...e se não somos tao especiais como desejamos para aquela pessoa... Temos que ter amor próprio...amor a gente ganha...ninguém precisa mendigar por amor...

Quanto vale essa tristeza...quanto tempo me permitirei sofrer por alguem...que provavelmente neste momento nem lembra que existo... Enquanto você dorme...eu choro...enquanto está com outra...eu penso em você...não consigo conter a dor e as lagrimas... Quando se está triste é quase impossivel pensar... E sei que se eu parar pra pensar...as coisas seguirão...então não vou mais alcançar... Antes de qualquer coisa...pense em você...se pensar nos outros pode se magoar... Nunca esqueça...ninguém perde pra ninguém... Perdemos pra nós mesmos...muito mais quando amamos alguem mais q nós mesmos... Queria ter certeza que por algum instante o fiz feliz... Se soubesse u quanto sentirei a falta do teu beijo,do teu abraço que é o perfeito conjunto do meu corpo... Do carinho nos meus cabelos até das palavras que eram tudo mentira...sentirei falta..Se soubesse que para mim foi muito mais do que imagina...e não apenas uma brincadeira... Pra mim não teria mentido...se apenas um pouco de mim gostasse...me veria chorar mas com a historia verdadeira... Dizem que numa relação um dos dois sempre ama mais... Meu Deus quem derá não fosse eu...

Foto de Ivanifs

Lembranças

Meus cabelos eram curtos
Mais rebeldes que eu mesma Dançava domingo á tarde
O peito já vivia apaixonado
E o medo já me rondava
Mesmo com medo, sorria
Abria o coração pra tudo, pra todos
Era bom ser menina, era bom
Não existe nada mais doce que a lembrança terna da adolescência...

1994

Foto de Ivanifs

Para você

Um dia com garoa, mas era verão...
Aquele dia , numa tarde, um temporal e o medo de te perder
O coração tão apertado, preenchido por seu amor
A vida nos ensinou que amar é preciso e perdoar também

Eu, que muitas vezes sou tão perdida ...
Um dia te conheci no meio da depressão comum, ou melancolia talvez...
E meu olhar modificou, passou a ser teu
Um dia tive a sensação de que nada mais existia, só eu, só você
Numa estrada tão longa, tão branda, tão branca

O tempo nos ensinou... a sorrir, a sofrer,a aprender, aprender mais um pouco,tolerar, esperar, chorar , provar, receber e dar em troca

Um dia te conheci e pensei nunca mais me entregar a ninguém ... que não fosse você
Um dia te conheci com tantos sorrisos
Talvez fosse apenas um caso, o acaso... mas não foi bem assim. Foi muito mais além.
Um dia você disse: - Te amo, eu acreditei, chorei , te amei... mais que tudo, mais que o mundo.

Um dia conheci um menino, de cabelos longos, de mistérios tantos, de lágrimas escondidas, de bondade inesperada, de coração gigante
Um dia tive coragem de ir embora com você e brincar de casinha, como tanto sonhei
A brincaderia se tornou séria, e Deus permitiu essa dádiva...

Um dia depois que te conheci, me achei tão menina, que nem mesmo eu pude evitar esse jeito de te amar
Um dia te conheci, numa noite de primavera, que ficou tão distante, mas ainda estou aqui escrevendo esse poema pra ti, para ti meu amor....

23/02/1994

Foto de almostpure

JACK ESCAPISM

acima de mim só o espelho embaçado.
eu digo que vou subir no próximo vagão de trem que surgir, rasgando o monótono céu azul-prateado.
ele me diz umas frases sem sentido, que talvez mais tarde, lá pela quinta cidade, eu entenderia.
eu queria ter ficado, jantado naquele dia insípido, o frango xadrez com a boa coca-cola - é claro que o fato de eu ter desejado o prato do dia seguinte tinha a ver com você, com sua sagacidade, com sua subversão aos meus dogmas e princípios infundáveis. por que eu adorava o jeito como você me cortava. como você conduzia minhas nóias de outubro á dezembro. de como você me deixava relaxada na poltrona azul-limão da mamãe. eu acendia todo-e quaisquer cigarro, só por que você gostava de me ver acender. só por que me dava uma graça divina. um poder sobrenatural. naquele momento eu era o quadro. eu era a criatura e você o criador. assim como nas nossas horas 'vagas' - doce ilusão do poder - que eu simplismente consentia á você. e você sabia. só por que era tão desejável quanto eu.
na sexta cidade meu peito doía, eu estava com fome, e os escapismos já não me faziam mais efeito...
eu queria ter dito: me pede pra ficar, me pede pra ficar...
eu acho meu orgulho mexe diretamente com meu estômago.
eu vejo pontos de você, picotados em cada cidade que eu passo.
você já teve barba, dread, cabelos avermelhados e mais musculoso.
nenhum tinha sua ira maternal.
ninguém era tão casual quanto você.
eu esperava te ver em cada taça de vinho barato, eu até te via.
imagine você...
você devia ter me impedido, devia ter me boicotado...
mas, talvez nós acabassemos ali.
você me impedindo, eu vazando ódio...
...foi melhor.
guardo você.
seu cigarro é sempre o último, é sempre o mais demorado.
me peça pra voltar, que eu volto.
me peça pra partir daqui, que eu parto...
'Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros
E nada mais'

Foto de Kira

ANJO DO ORIENTE

Quem és tu?

Vens do Oriente,

lanças sua semente…

Danças com teus véus,

dissipas minha dúvida cruel

Incenso de rosas e mel…

Cabelos ao vento.

Rodopias com graça.

A tristeza ameaças.

Quem és tu?

Que ilumina a escuridão,

falas ao meu coração,

advinhas a minha paixão…

Linda!

Danças com a serpente,

teus olhos penetra a mente

e não deixas lugar para quem mente…

Sei quem és tu,

Anjo do Oriente!

Acompanha-me desde sempre,

és minha inspiração.

Defende-me do dragão.

Proteges meu coração…

Quando estou triste…

canta-me uma canção.

Kira, Penha Gonçales


Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons.

Foto de AnjinhaPerez

Por que eu te amo?

Meu amor, se tivesse q explicar por que te amo, todos os cadernos do mundo ñ teriam páginas suficientes para o tanto q teria para dizer, pois vc é tudo pra mim.
Vc á a razão da minha paz e da minha felicidade. O amor é um substantivo abstrato, mas o sentimento q vc desperta em mim é tão real, às vezes, tenho a impressão de q toda a beleza do mundo se materializa no meu coração.
Vc faz com q eu veja tudo de uma maneira mais colorida e otimista, vc me traz o estímulo necessário para enfrentar a vida com alegria e paixão, vc me dá a paz e a tranquilidade necessária para q eu nunca me aflija diante de qualquer dificuldade. Gosto de vc: da sua pele, da sua voz e dos seus cabelos.
Gosto dos seus olhos luminosos, dos seus modos gentis, mas decididos; desta sua especial intuição, q sempre te leva a fazer exatamente aquilo q espero e desejo.
Vc sabe me agradar sem fazer esforço, vc sabe me fazer feliz sem exigir nada em troca, embora eu me reconheça capaz de fazer tudo por vc.
Se "amor" é um substantivo abstrativo, Amar é um verbo intransitivo e, por isso, eu te amo porque te amo. É isso!

Beijo grande.

Foto de AnjinhaPerez

Por que eu te amo?

Meu amor, se tivesse q explicar por que te amo, todos os cadernos do mundo ñ teriam páginas suficientes para o tanto q teria para dizer, pois vc é tudo pra mim.
Vc á a razão da minha paz e da minha felicidade. O amor é um substantivo abstrato, mas o sentimento q vc desperta em mim é tão real, às vezes, tenho a impressão de q toda a beleza do mundo se materializa no meu coração.
Vc faz com q eu veja tudo de uma maneira mais colorida e otimista, vc me traz o estímulo necessário para enfrentar a vida com alegria e paixão, vc me dá a paz e a tranquilidade necessária para q eu nunca me aflija diante de qualquer dificuldade. Gosto de vc: da sua pele, da sua voz e dos seus cabelos.
Gosto dos seus olhos luminosos, dos seus modos gentis, mas decididos; desta sua especial intuição, q sempre te leva a fazer exatamente aquilo q espero e desejo.
Vc sabe me agradar sem fazer esforço, vc sabe me fazer feliz sem exigir nada em troca, embora eu me reconheça capaz de fazer tudo por vc.
Se "amor" é um substantivo abstrativo, Amar é um verbo intransitivo e, por isso, eu te amo porque te amo. É isso!

Beijo grande.

Foto de Artur Alves

Demência Amorosa

Ao render da guarda,
O dia traz aquele amargo de boca, triste
Um resto de tudo resto no fundo do copo,
Que nos sobra para quem sempre a sobra resiste!

Um final de vida, já no começo
Leve os cabelos esbranquiçados na gastura dos tempos,
Uma tristeza moinha como a dor que dele se alimenta
Um final de corpo que cresce com a demência...

A lua contempla-me nesta casa, no fundo da rua,
No fim deste bairro velho e triste,
As lágrimas da chuva tacteando as pedras da calçada,
Como o cego tacteei toda a minha vida...meio perdida,

A idade não nos seca as lágrimas do rosto,
Não nos varre a útopia sórdida dos sonhos impossiveis,
Cresce-nos na incerteza do sofrimento que em nós resiste,
Sentimo-lo sorrindo, porque é nosso, é só nosso e fica!

Tudo se desvanece, tudo é solidão e abandono...
O sofrimento é duro, rigoroso e tem mau feitio,
Mas está presente, nos bons e maus momentos
Uma sombra amiga que nos lembra o que vivemos,
Um passado sombrio para o presente tristemente só!

Somos vencedores da madrugada esquecida,
Porque todos o abandonam, todos o rejeitam,
A curva do sofrimento é longa e triste mas resiste,
E não desvanece como tudo o resto...

tristemente só, Não!
Sofro acompanhado...eu e a minha dor sozinhos, eternamente sós!

Foto de Osmar Fernandes

Aparição do Capeta

Certo dia, noite escura, num terreno baldio, próximo da Igreja Católica, três moleques levados pegaram uma abóbora e fizeram dela uma caveira... Fixaram uma vela acesa em cima de um toco e a puseram por cima. Ficou parecendo o demo, o capeta mesmo!
A missa acabaria às vinte horas. Os fiéis que passariam por ali, a pé, certamente a veria. A caveira ficou num ponto estratégico, bem na esquina.
O pessoal ao sair da missa, ao vê-la, gritou: “Valha-me Deus! Jesus tende piedade! Minha Nossa Senhora da Aparecida! Salve-me Senhor!
Foi gente pra todo lado... Os três capetas caíram na gargalhada... Quando o local esvaziou, saíram da moita e se depararam com um corpo estendido no meio da rua. Joãozinho, o nanico, gritou: “É dona Julieta! Ela tá mortinha da silva! E agora?! Estamos fritos!!!” Pedrinho, o gago, disse: “Vixe, agora lascou tudo!!! Vou deitar o cabelo!!!” Luquinha, o mala, disse-lhes: “Calma aí seus frouxos, ninguém viu a gente! Não vai nos acontecer nada!!! Ela morreu de susto! E daí?!... Vamos tirar a caveira dali e vamos embora.”
Feito leopardos esconderam os apetrechos do Demo e deitaram o cabelo...
Não demorou muito e a polícia chegou ao local. D. Julieta foi levada ao hospital, acordou do susto, foi medicada e falou: “Meu Deus o que era aquilo?! Eu preciso falar com o Padre Bento!... Era o Demo! Valha-me Deus!!!”
O médico e a enfermeira diziam para ela ficar calma porque na idade dela era normal ver coisa que não existe... Deram-lhe um calmante e a fizeram dormir até o dia seguinte.
A notícia ganhou a cidade que Dona Julieta tinha batido as botas... Os três capetas estavam assustados e escondidos nas suas casas.
O pai do Joãozinho disse para esposa: “Bem, Dona Julieta viu o capeta e morreu! Estão falando que o Demo veio buscá-la. Faladeira como é, não duvido nada... Amor, toma cuidado, viu!
- Tá louco, homem, eu não falo da vida de ninguém não!
O marido deu uma risadinha maliciosa e foi trabalhar.
O investigador de polícia fazia uma busca no local do crime e achou um chinelo de tamanho trinta três. Era a pista que tinha em mãos.
Chegou na delegacia e disse ao Delegado:
- Senhor, aqui está à prova do crime!
Dr. Clécio riu, e lhe disse:
- Quer dizer que o capeta esqueceu um chinelo e saiu correndo pro inferno! KAKAKAKAKAKAK (RIU TANTO QUE SE ENGASGOU...). Vá amolar outro, Cido! Tenho mais o que fazer nariz de Pinóquio! Cada uma que me aparece! Você não percebe que essa cidade está de perna pro ar... Se esse povo não melhorar Deus vai aniquilá-la assim como fez a Sodoma e a Gomorra.
O Investigador abaixou a cabeça e saiu chateado e pesou: “Vou pegar o desgraçado que fez isso com a minha avó... Ateu eu não sou não, mas acreditar que isso é obra do Demo já é demais para minha inteligência.”
O Padre Bento assim que soube do acontecido entrou no terreno baldio e fez uma devassa, procurou por todo lado e achou a cabeça de mamão e a vela jogados debaixo dum pé-de-mato, e disse a si: “Eu sabia que não tinha diabo nenhum nessa história! Esse meu povo inventa cada uma! Perdoai-os ó Deus!!!”
Com a notícia da aparição do capeta a Igreja superlotou e o dízimo aumentou sobremaneira e o Padre ficou pensando se dizia ou não, no sermão, sobre a cabeça de mamão... Pensou... E, calou-se.
Os três capetas se reuniram e Luquinha disse:
- A velha não morreu... Com o susto desmaiou. Dona Julieta sairá do hospital hoje à tarde.
Pedrinho, o gaguinho, disse:
- Mas a polícia está investigando. O que nós fizemos é crime. Se a polícia descobrir quem fez isso, a cidade toda ficará sabendo... Nós vamos ser linchados!
Joãozinho, o nanico, disse:
- Eu sou coroinha, vou me confessar com o Padre Bento e vou lhe contar tudo. Se o meu pai souber disso vou levar uma peia, uma surra daquelas de tirar o coro.
Os dois amigos disseram juntos:
- Você não tá nem doido! O Padre nos mata!
Joãozinho:
- Eu tô com medo!
Os três amigos fizeram um pacto: “Nunca contariam sobre a caveira pra ninguém, levariam esse segredo para o túmulo.”
Joãozinho confidenciou: “Perdi um pé do meu chinelo, presente do meu pai, fui na data procurar e não achei. Temos que achar o chinelo logo.”
Os amigos não deram importância nisso e foram embora.
O investigador conhecia todo mundo da cidade, saiu de casa em casa perguntando se aquele chinelo pertencia a alguém daquela residência.
Luquinha ficou com os olhos estatelados ao vê-lo em sua casa perguntando à sua mãe se ela não tinha dado falta de um pé de chinelo.
Luquinha reuniu seu bando imediatamente e disse:
- Vamos roubar aquele pé de chinelo hoje à noite. Cido vai sempre jogar no Tunguete... Vamos aproveitar esse momento e vamos em sua casa buscar o pé de chinelo. Não tem outro jeito. Ou fazemos isso ou esse sujeito vai descobrir tudo.
O Delegado foi à Igreja e logo após a missa disse ao Padre Bento: “Padre o meu investigador tem uma prova cabal do malfeitor... Creio que dentro de poucas horas iremos elucidar o caso.”
- Meu filho, que prova é essa?
- Respeito-lhe demasiadamente Reverendo, mas isso é segredo de Estado, não posso dizer de jeito nenhum.
- Mas meu filho, eu sou o Pároco, pode me falar, vou guardar segredo... Quantas vezes você já se confessou comigo?!
- Padre Bento isso não é um pecado, é segredo profissional.
- Meu filho, eu lhe vi nascer, lhe batizei, lhe crismei, foi meu coroinha... Vai ter coragem de fazer isso comigo? Conta-me logo que prova é essa?!
- Conto não! Não posso!... O senhor pode falar sobre as confissões dos fiéis?
- Claro que não! Você tá doido, perdeu a cabeça. Jamais violarei o segredo do Confessionário. Exerço minha função com a fé em Deus e obedeço piamente com o que preceitua no CANON 1388 (1), que diz: O confessor que viola diretamente o sigilo da confissão incorre um sententiae (automática latae) excomunhão reservada à Sé Apostólica.
- Eu também não posso falar sobre essa prova! Não posso violar a confiança do meu investigador, estaria cometendo um crime.
O Delegado foi embora com a pulga atrás da orelha e pensou: “Por que tanto interesse do Padre nessa prova?!”
Paulinho viu seu filho descalço e lhe disse:
- Joãozinho, cadê seu chinelo? Já lhe dei de presente para não ver você descalço... Não ande descalço menino! Vá calçar o chinelo agora!!!
Joãozinho correu na casa do amigo e lhe pediu o chinelo emprestado, e Carlos lhe disse: “Mas você tem que me devolver logo, senão meu pai me dá uma surra se me ver descalço também.”
Pedrinho era muito religioso e naquele dia às dezessete horas resolveu se confessar com o Padre... Contou tudo e admitiu que estava com medo do investigador descobrir toda a história, porque seu amigo tinha perdido um pé do chinelo que ganhara de presente do pai.
Padre Bento pensou: “Mas Cido é ateu... Tenho que dar um jeito de calar a sua boca...”
O Padre arquitetou um plano e mandou o seu Sacristão chamá-lo, urgentemente... Rubens, o puxa-saco do Padre Bento foi à casa do investigador e disse-lhe:
- Cido, o padre Bento quer vê-lo, agora, já. Ele disse pra você ir lá, correndo, imediatamente, agora mesmo!
- Mas, que diabos o padre quer comigo? Num devo nada para Igreja... Nem em Deus não sei se acredito?!
- Não fala assim não rapaz! Deus é tudo e tudo é amor. O padre não tem diabo nem um. Vai logo e saberá. Quando o padre chama é como se fosse Deus nos chamando, né?!
- Fala pra ele que mais tarde eu passo por lá.
Dona Julieta visita o padre Bento e lhe diz: “Padre, eu nunca vi bicho mais feito no mundo que aquele. Era o Demo, o Demônio em pessoa!... Minha Nossa Senhora da Aparecida! Eu fiquei frente a frente com o Demo, Padre!... Eu já preparei uma novena. Vamos começar amanhã cedo... Padre, eu disse para os que me visitaram no hospital que se o Demo está nos visitando é porque estamos sem fé, é um sinal dos céus. Por isso vamos fazer a novena!”
Aquele acontecimento abalou a cidade. Nas ruas, nos bares, nas casas, nas roças, nas Igrejas, em todo lugar o boato corria solto: “O Demo está fazendo tocaia na nossa cidade!”
O Padre Bento ficou com a consciência pesada e pensou “Será que devo falar sobre essa história hoje na hora do sermão? Será que devo levar o assunto ao Bispo?!”
Dona Julieta foi rezar e depois foi para sua casa...
As Igrejas protestantes começaram a fazer cultos durante o dia todo. Até os ateus temeram... A cidadezinha pacata acordou... Era gente acendendo velas no Cruzeiro do Cemitério... Despachos nas encruzilhadas... Novenas... Enfim, os religiosos se mexeram de forma jamais vista naquele lugar. Em todas as Igrejas as oferendas aumentaram significativamente. O comércio de produtos religiosos vendia como nunca.
A palavra numa das Igrejas Protestantes era brilhante e dizia:

Ezequiel [Capítulo 28:13-18]

Tu estiveste no Éden, jardim de Deus ;cobriste de toda pedra preciosa: A cornalina, o topázio, o ônix, a crisólita, o berilo, o jaspe, a safira, a granada, a esmeralda e o ouro. Em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Eu te coloquei com o querubim da guarda; estiveste sobre o monte santo de Deus; andaste no meio das pedras afogueadas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até o dia em que em ti se achou iniqüidade. Pela abundância do teu comércio o teu coração se encheu de violência, e pecaste; pelo que te lancei, profanado, fora do monte de Deus, e o querubim da guarda te expulsou do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti. Pela multidão das tuas iniqüidades, pela injustiça do teu comércio profanaste os teus santuários; eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu e te tornei em cinza sobre a terra, aos olhos de todos os que te vêem.

Mateus [Capítulo 4:1-11]

Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo. E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome. Chegando, então, o tentador, disse-lhe: Se tu és Filho de Deus manda que estas pedras se tornem em pães. Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus. Então o Diabo o levou à cidade santa, colocou-o sobre o pináculo do templo, e disse-lhe: Se tu és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito; e eles te susterão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. Replicou-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus. Novamente o Diabo o levou a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles; e disse-lhe: Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares. Então lhe ordenou Jesus: Vai-te, Satanás; porque está escrito: Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás. Então o Diabo o deixou; e eis que vieram os anjos e o serviram

E o pastor encerrava seu sermão dizendo: “Na casa do senhor não existe satanás, Xô satanás! xô satanás!”

O Investigador chegou à Casa Paroquial, adentrou, foi imediatamente atendido pelo Padre Bento que o levou ao seu escritório e lhe disse:
- Meu filho, eu lhe peço encarecidamente que pare com a investigação sobre a aparição do Capeta.
- Padre o senhor está me pedindo algo que não posso atender.
- Por que meu filho?
- Padre, eu quero pegar o desgraçado que fez isso com a minha avó. Ela quase bateu as botas... Tenho certeza que não tem nada a ver com coisa doutro mundo. Isso foi coisa de moleque, de vândalo; brincadeira de mau gosto... Se não fizermos alguma coisa para punirmos esse tipo de “brincadeira boba, idiota”, ainda vamos perder um ente querido. O senhor não acha?
- Meu filho, nem tudo parece o que é. Deus tem desígnios que só pertence a Ele. Veja o movimento da nossa cidade!... O povo voltou à igreja, voltou a ter medo dos castigos de Deus. Isso vai fazer a criminalidade zerar. Nunca se viu tanta reza por aqui. O povo voltou a temer a Deus! Os meninos e as meninas voltaram para o catecismo. O fervor da fé voltou a tomar conta da nossa cidade... Nunca vi você na missa. Falam que é ateu... Mas, pare com essa investigação?
- Padre Bento, eu sou agnóstico... Não estou lhe entendo! O que tem a ver uma coisa com a outra?
- Meu filho, eu sei que você é um exímio Investigador de Polícia, mas essa história não pode ir adiante. Pare de investigar... Essa história acabou fazendo um milagre por aqui. O povo voltou a ter Deus no coração. Isso não é bom?
- Padre, eu acho que o senhor está sabendo demais... Já descobriu a verdade?
- Não!!! Vieram me dizer que você anda perguntando nas casas se alguém deu por falta de um pé de chinelo.
- É verdade! Eu achei um pé de chinelo novinho em folha naquele matagal, local do medo. Vi muitos pisados por lá... De pés pequenos... E, cheguei à conclusão que tem mais de um moleque envolvido nessa tramóia. Padre, eu vou achar o criminoso que quase matou minha avó, custe o que custar!
O Padre franziu a testa, várias vezes, e pensou: “Vou ter que falar com o superior desse traste e pedir para que o transfira daqui.”
O Investigador foi embora e não hesitou em dizer para o delegado sobre a sua visita na Casa do Padre:
- Doutor, eu estou vindo da casa do padre...
- Que diabos você estava fazendo na casa do Bento?!
- Eu fui lá porque ele mandou me chamar... Estranhei, mas... O senhor sabe, Padre é Padre, enfim.
- E o que a Igreja queria contigo?
- Só faltou se ajoelhar pra mim Doutor... Implorou para eu parar com as investigações sobre a aparição do capeta.
O Delegado coçou seus poucos cabelos da cabeça e disse: “Aí tem coisa!” E disse ao Cido:
- Você me traga o pé de chinelo e me entrega ainda hoje.
- Doutor ele está aqui na minha mochila, pega!
- Então essa é a prova que temos?... Pois é, a partir de hoje em diante essa investigação é minha. Você está fora desse caso. Vai cuidar de descobrir quem roubou o Jumento do Zé, que ele está me enchendo o saco e até hoje você não descobriu nada.
O Investigador de Polícia sem ter o que dizer, simplesmente obedeceu seu superior e saiu à procura do ladrão do Jumento...
O Doutor Clécio foi ter com o Padre Bento cinco dias depois e disse:
- Padre eu tenho a prova do crime aqui em minhas mãos e já descobri tudo. Vou prender quem fez isso.
- Doutor Delegado o senhor tem o quê em mãos?
- Eu tenho o pé de chinelo.
- Pé de chinelo!!! O que isso tem a ver com a aparição do Capeta?
Padre, isso tem tudo a ver! É a prova que não existe Capeta nenhum, isso provavelmente foi armação de quem não tem o que fazer na vida e fica assustando as pessoas de bem.
- Esse chinelo não prova nada. Qualquer pessoa pode ter ido naquele matagal e o esquecido.
- Será Padre?!
- Claro meu filho!
Padre, o senhor está muito interessado no encerramento dessa investigação, por quê?
- Não meu filho, eu não estou não! Mas, se você pensar bem, depois que viram o Capeta, a cidade melhorou muito. A Igreja não cabe de tanta gente nas missas. Não se falou mais de roubos, mortes, vadiagem, etc. Nunca vendeu tanto produto religioso como agora. Pense no sossego que nossa cidade vive hoje!
- É Padre Bento, pensado por esse lado o senhor está coberto de razão. Minha delegacia está um deserto, nem um B.O, nem de briga de casal. Nunca vi tanta calmaria em nosso Município.
- Então, pra quê elucidar esse episódio? Deixa o povo pensar que o Diabo está de olho bem aberto e bem pertinho de cada um.
- Mas, Padre Bento, o Capeta não anda de olhos arregalados pra todo mundo mesmo, doido para tomar conta da nossa alma?!
- Sim... Mas essa já é outra história...
O Delegado deu o pé de chinelo para o Padre e deu o caso por encerrado.
O Padre chamou Joãozinho e lhe deu o pé de chinelo e lhe disse: “Vê se não o perde mais...”
Os três capetinhas voltaram a participar assiduamente de todas as missas e a ajudar o Padre no catecismo.
Toda vez que o povo fraquejava, desanimava, deixava de ir à missa, a aparição do Capeta era automática.

Osmar Soares Fernandes

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