Dez

Foto de Mitchell Pinheiro

COM É BOM

Como é bom ouvir sua voz mesmo sem assunto para conversar
Como é bom te reencontrar, mesmo após dez minutos do último encontro.
Sorrir junto de um beijo atrapalhado
Confidenciar sem medo as mais profundas intimidades
Despedir-se e voltar em seguida para mais alguns beijos antes da partida
Brigar com o tempo velho inimigo dos nossos encontros
Deitar no sofá e viajar em maravilhosas lembranças de nós dois
Como é bom concentrar o pensamento em você e esquecer do mundo
A expectativa a cada toque do telefone vislumbrando ser você
Passear sobre nossas fotografias e pensar no quão sou felizardo
Seu olhar, seus abraços, seus beijos,...você
Como é bom se entregar ao coração
E saber que a protagonista de minhas mais belas lembranças
Caminha junto comigo na construção do mais belo futuro.
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Foto de Ana Botelho

AMIGO É MESMO PARA SEMPRE

AMIGO É MESMO PARA SEMPRE...
Passar a infância no interior do Estado do Rio de Janeiro, com vida pacata, bucólica, como tantas outras crianças, que ali puderam conhecer a simplicidade e aprender o amar a essência que existe em cada ser humano, fez, definitivamente, a diferença para mim.
Quando chegava a época da adolescência, tínhamos que estudar das formas mais estranhas possíveis, ou saíamos para longe, em casas de parentes e amigos, ou ficávamos em sistema interno, em instituições particulares para jovens. E foi lá, justamente às margens do rio Paraíba do Sul,que conheci alguém muito especial, com uma gama de características incomuns, que vieram de encontro às minhas. Tornamo-nos grandes cúmplices em assuntos relacionados a poesias, músicas e a tantas outras afinidades, que só mesmo quem conseguiu se harmonizar com a natureza rústica e intocada, poderá entender o que preencheu cada minuto dos anos que lá estivemos. Uma lástima não termos guardado tantos poemas e registros que fizemos de situações inusitadas e muitas vezes até cômicas, ou trágicas...
À tardinha, quando ficávamos, as minhas amigas e eu, no pátio do referido internato, chovia aviõezinhos e outras dobraduras, com recadinhos carinhosos, através do gradil de madeira, que cercava o nosso espaço físico. Eram poemas lindos e bem trabalhados, que voavam do Clube de Futebol, onde os atletas da cidade treinavam( acho que até muito mais vezes que realmente necessitavam...rsrsrs). Aos fundos do internato, ficava a tal estrada fluvial cheia de corredeiras, que o meu especial a conhecia em suas detalhadas curvas, de tanto ir e vir entre remos e nados.
Chegara a época do vestibular, nos separamos... Os anos se passaram e cada um seguiu o seu curso natural, assim como as águas do velho Paraíba, que a tudo assistiram, mas foi observando o curso do rio, suas voltas , as pedras e as quedas, que aprendemos ver em nossa vida, para que servem e como elas nos colocam, a cada momento, diante dos nossos afins.
Como é bom ter isso tudo na lembrança e sentir agora as mesmas emoções, tal qual aconteceram.
Sempre apareciam notícias ou comentários saudosos e conjecturávamos onde estaria cada um morando e se ocupando do quê.
Os filhos nos chegaram e o tempo, senhor implacável e poderoso transformador da vida, atingiu a muitos com os seus sacodes, testes e até resgates desafiadores. E mais uma década se passou...Eu, a essa altura, já me encontrava cuidando sozinha de três filhos, que tinham entre seis e dez anos de idade, quando numa linda manhã de sol, o interfone tocou e o porteiro anunciou o nome do meu amigo tão lembrado em minhas constantes horas de poesias e divagações...cujo arquivo mental veio à tona imediatamente, era aquele companheiro do passado, que com um calhambeque ou uma vespa, percorria toda a distância entre as nossas cidadezinhas em estradas de terra, para nos vermos nos finais-de-semana, ou para passarmos as tardes e as domingueiras no clube onde nos dias que não tinham "feira", era um cinema de piso em declive, terrível para dançar, mas que achávamos tudo de bom (afinal, era aquele o nosso mundo e que mundo maravilhoso...) Respondi ao porteiro , entre palpitações e descompassos respiratíorios, que ele subisse, momentos preciosos esses... Estávamos de saída para a praia e ele achou ótima a idéia, só que não havia sequer uma sunga de adulto em minha casa. Brinquei, oferecendo uma das peças dos meus biquinis e foi com uma naturalidade ímpar que ele aceitou e se pôs a escolher ... Fui cuidar dos meus filhos e o deixei à vontade. Ao chegarmos à prainha de Itaquatiara em Niterói, nos acomodamos , cadeiras, cangas, brinquedos, foi quando ele tirou a roupa , fez alguns alongamentos e partiu correndo na areia com as tirinhas laterais se agitando ao vento ( só faltaram as bolinhas amarelinhas...rsrsrs).
-Olhem só, dizia eu aos meus filhos naquele instante, esse é um amigo de alma pura, tanto, que nem está aí para o que possam pensar ou falar dele com essa roupa esquisita, se dedicou à psiquiatria por entender a vida sob a ótica do amor.
Rimos muito e ele, definitivamente, caiu nas graças dos meninos também.
Hoje, como se tivéssemos planejado, moramos no mesmo balneário, num remanso onde a natureza, sempre presente, nos brinda a todo instante com uma vida iluminada. Ele é um respeitado profissional e excelente escritor e eu uma sonhadora incorrigível, entre os meus poemas, pinturas e leituras sem fim, mas conservamos ainda os traços que nos uniram: os versos e os "causos" do cotidiano. Quando nos encontramos, rimos muito ao falarmos do passado. Valeu à pena tudo o que aconteceu...
E ao ouvir, em qualquer ocasião, citações como " de médico , poeta e louco todo o mundo tem um pouco", imediatamente, a minha mente passa a caricaturá-lo como agora faço, aqui, em palavras de carinho a você, Zeus, meu doce amigo e parceiro pela eternidade...

Foto de Dirceu Marcelino

O MAR - Meu salvamento - DUETO - VANESSA BRANDÃO e DIRCEU

(Vanessa Brandão )
Em um lado deserto
Daquela linda praia.
Sentada na areia,
Admirando o mar,
Avistei alguém dentro dele.
Que tentava sair,
Mais não conseguia
O mar que antes estava com as ondas tênuas
De repente se tornou agressivo.

Ao olhar bem percebi que era um lindo homem
Tentei pedir ajuda
Mais não havia ninguém
Fiquei sem saber o que fazer
E mesmo que eu quisesse
Não poderia salvá-lo
Pois não sabia nadar.

Me vi enloquecida
Pois queria muito ajudar
E nesta hora lembrei
Que existia em mim
Uma força muito poderosa
A fé em Deus.

E foi nela que me apeguei
Para retirar o homem do mar
Aquele homem que estava desesperado
E que aos poucos perdia as suas forças.
Percebi que as correntes marinhas,
Formavam um círculo na baía,
E com os braços fui indicando
E ele foi nadando,
De acordo com aquela orientação.
Foi da praia se aproximando
Até que no local em que as ondas se quebram
Seu corpo já entregue foi levado
Por uma das grandes ondas

Que o jogou na areia

Justamente aonde eu me encontrava
Olhei pra baixo e lá estava ele
Aos meus pés desmaiado...
Mas vivo...

(DIRCEU)

Poderá parecer mentira,
Um sonho de pescador
Ou delírio de um caipira.

Mas, foi realidade
Eras ainda uma menina,
Mas alguém como tu
Vi sentada na areia da praia,
Observando o mar de longe.
Estendi a minha esteira
Na areia.

Queria chamar-lhe atenção:
Fiz algumas flexões,
Olhei-a mas ela não me via.
Não deu bola.

Adentrei na água,
Passei os arrebentos das ondas,
Mergulhei.

Virei-me ná água
Não sei mais se ela me via
E aos poucos fui adentrando
Mar adentro.
Sempre eu fazia isso
Ia até o farol.

Mil metros, para um jovem
Na época era pouco.
Mas naquele dia,
Não percebera por encanto
Que o mar estava tenebroso
E fui adentrando,
Adentrando...

De repente
Vi que tinha passado o farol,
Era hora de retornar,
Desvirei-me do nado de costas,
E dei algumas braçadas.

De três ou quatro,
Avançaria dois metros,
Mas naquele instante recuei um metro.
Mais quatro ou cinco braçadas,
Avancei meio metro.

Ah! Já fiquei desesperado.
Olhei ao ser erguido por uma onda
Para a praia e vi ao longe só aquela morena.

Não podia gritar,
Nem adiantaria
O marulho do mar era intenso
E então fiz alguns gestos,
No padrão do S.O.S.

Noutro levantar das ondas
Vi que ela desesperada
Levantou-se da areia
E virava a cabeça para todo lado,
Talvez, pedindo ajuda,
Foi quando percebi.

Ela me fazia sinais,
Com os braços,
Em círculos
E comecei
Então,
A obedecê-los,
Seguia a corrente d’águas,
Que eu não podia vê-las
Tantas eram as fortes ondas.

Mas, com certeza, ela as via de longe
E assim, confiei nela,
E atendendo suas indicações,
Comecei a avançar,
Dois metros,
Em forma de um semi-círculo,
Dez metros,
No sentido dos ponteiros do relógio,
Cinqúenta metros,
E via a medida que avançava
Em cada onda que me erguia,
Que ela me seguia,
Andando pela praia.

Passei o farol,
E sempre em círculo,
Seguindo suas indicações
Fui avançando,
Quinhentos metros
E, já podia ver
Que para trás o farol foi ficando
E fui avançando,
Novecentos metros,
Até quando
Sentia
As ondas me elevando,
E quando passavam
Meus pés ia roçando
A areia do fundo,
E não sei quantos metros
Faltavam.
Mas já era praia
E continuei,
Remando...
Não sei
E
Só acordei,
Recobrei os sentidos
Quando a minha frente vi duas pernas
D’uma linda morena e
Ela me olhava
Sorrindo.
Vivi.
E vi que ela caminhou vários quilometros
Pela areia da praia
E foi assim que me salvou.

Se não fosse ela,
Não estaria agora aqui poetando

Por isso te peço, continues,
A vida é assim...

Até hoje agradeço a Deus!

NB. Ontem indicastes o caminho,
Hoje poderei indicar o teu
E, aqui temos muitos amigos,
Vamos nos encontrar
Na Escolinha da Fernanda. Uai!

Foto de Docesam

GRANDES SIGNIFICADOS...

Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança
para acontecer de novo e não consegue.

Lembrança é quando, mesmo sem autorização,
seu pensamento reapresenta um capítulo.

Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer “eu deixo” é pouco.

Pouco é menos da metade.

Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.

Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.

Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.

Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.

Preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu
sair de seu pensamento.

Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer
mas acha que devia querer outra coisa.

Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.

Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.

Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme
que pode ser que nem exista.

Renúncia é um não que não queria ser ele.

Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.

Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.

Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.

Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.

Ansiedade é quando sempre faltam 5 minutos para o que quer que seja.

Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada em especial.

Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.

Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.

Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.

Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.

Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é Fevereiro…

Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.

Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.

Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.

Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.

Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente,
mas, geralmente, não podia.

Perdão é quando o Natal acontece em outra ápoca do ano.

Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.

Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.

Desatino é um desataque de prudência.

Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.

Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.

Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo
e assume o mandato.

Emoção é um tango que ainda não foi feito.

Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.

Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.

Desejo é uma boca com sede.

Paixão é quando apesar da palavra “perigo” o desejo chega e entra.

Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não.
Amor é um exagero… também não. É um “desadoro”… Uma batelada?
Um exame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero,
um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação,
esse negócio de amor não sei explicar nao ....

Foto de Civana

Rosa dos Ventos

Dez passos acima e chegarei ao sonho,
Norte querido, amado, desejado,
sonhado, sonhado...
Sai do mapa e me abraça!

Dez passos abaixo e chegarei a realidade,
Sul sonhado, desejado, querido,
amado, amado...
Mapeou meu corpo e acorrentou!

Dez passos para ambos os lados e chegarei à luz,
Leste a Oeste fraternalmente amado,
Deixou trilhas em minha alma!

Sou a Rosa dos Ventos desorientada,
Sem rumo, sem direção, solta ao vento...
Ventos?! Levem-me ao caminho tão esperado!

(Civana)

Foto de Maria Goreti

A HISTÓRIA DE ANA E JOAQUIM – UM CONTO DE NATAL.

Chamavam-no “Lobo Mau”. Era sisudo, magro, alto, olhos negros e grandes, nariz adunco, cabelos e barba desgrenhados, unhas grandes e sujas. Gostava da solidão e tinha como único companheiro um cão imundo a quem chamavam “o Pulguento”. Ninguém sabia, ao certo, onde morava. Sabia-se apenas que ele gostava de andar à noitinha, sob o clarão da lua.

Ana, uma pobre viúva, e sua filha Maria não o conheciam, mas tinham muito medo das estórias que contavam a respeito daquele homem.

Num belo dia de sol, estava Ana a lavar roupas à beira do riacho. Maria brincava com sua boneca. Eis que, de repente, ouviu-se um estrondo. O céu encobriu-se de nuvens escuras. O dia, antes claro, tornou-se negro como a noite. Raios cortavam o céu. Ana tomou Maria pela mão e correu em direção à sua casa. Maria, no entanto, fazia força para o lado oposto. Queria resgatar a boneca que ficara no chão. Tanto forçou que se soltou da mão de Ana e foi arrastada pela enxurrada para dentro do riacho. Desesperada, Ana lança-se nas águas na vã esperança de salvar a filha. Seu vestido ficara preso a um galho de árvore e ela escapara, milagrosamente, da fúria das águas. Desolada, decidiu voltar para casa, mas antes parou na igreja. Ajoelhou-se e implorou a Deus que lhe tirasse a vida, já que não teria coragem de fazê-lo, por si. Vencida pelo cansaço adormeceu e só acordou ao amanhecer. Ana olhou em derredor e viu a imagem do Cristo pregado na cruz. Logo abaixo, ao pé do altar, estava montado um presépio. Observou a representação da Sagrada Família: Maria, José e o Menino Jesus. Pensou na família que um dia tivera e que não mais existia. Olhou para o Menino no presépio e depois tornou a olhar para o Cristo crucificado. Pensou no sofrimento de Maria, Mãe de Jesus, ao ver seu filho na cruz. Ana pediu perdão a Deus e prometeu não mais chorar. Ela não estava triste, sentia-se morta. Sim, morta em vida.

Voltou à beira do riacho. Não encontrou a filha, mas a boneca estava lá, coberta de lama. Ana desenterrou-a, tomou-a em suas mãos e ali mesmo, no riacho, lavou-a. Depois seguiu para casa com a boneca na mão. Haveria de guardá-la para sempre como lembrança de sua pequena Maria.

Ao chegar em casa Ana encontrou a porta entreaberta. Na sala, deitado sobre o tapete, havia um cão. Sentado no sofá um homem magro, alto, olhos negros e grandes, nariz adunco, cabelos e barba longos e lisos, unhas grandes. Ana assustou-se, afinal, quem era aquele homem sentado no sofá de sua sala? Como ele conseguira entrar ali?

Era um homem sério, porém simpático e falante. Foi logo se apresentando.

- Bom dia, dona Ana! Chamo-me Joaquim, mas as pessoas chamam-me “Lobo Mau”. Mas não tema. Sou apenas um homem solitário. Sou viúvo. Minha mulher, com quem tive dois filhos, Clara e Francisco, morreu há dez anos e os meninos... Seus olhos encheram-se de lágrimas. Este cão é o meu único amigo.

Ana, muito abatida, limitou-se a ouvir o que aquele homem dizia. Ele prosseguiu:

- Há muito tempo venho observando a senhora e o zelo com que cuida de sua menina.

Ao ouvir falar na filha, os olhos de Ana encheram-se de lágrimas. Lembrou-se da promessa que fizera antes de sair da igreja e não chorou; apenas abraçou a boneca com força. Joaquim continuou seu discurso:

- Ontem eu estava escondido observando-as perto do riacho, quando começou o temporal. Presenciei o ocorrido. Vi quando a senhora atirou-se na água, mas eu estava do outro lado, distante demais para detê-la. Também não sei se conseguiria. Pude sentir a presença divina naquele galho de árvore na beira do riacho. Quis segui-la, mas seria mais um a nadar contra a correnteza. Assim que cessou a tempestade vim para cá, porém não a encontrei. Queria lhe dizer o quanto estou orgulhoso da senhora e trazer-lhe o meu presente de Natal!

Ana ergueu os olhos e comentou:

- Prometi ao Senhor, meu Deus, não mais chorar. Mas o Natal... Não sei... Não gosto do Natal. Por duas vezes passei pela mesma situação. Por duas vezes perdi pessoas amadas, nesta mesma data.

Joaquim retrucou:

- Senhora, a menina está viva! Ela está lá dentro, no quarto. Estava muito assustada. Só há pouco consegui fazê-la dormir. Ela é o presente que lhe trago no dia de hoje.

Ana correu para o quarto, ajoelhou-se aos pés da cama de Maria, pôs-se em oração. Agradeceu a Deus aquele milagre de Natal. Colocou a boneca ao lado de sua filhinha e voltou para a sala. O homem não estava mais lá.

Um carro parou na porta da casa de Ana. Marta, sua irmã, chegou acompanhada de um jovem casal – Clara e Francisco, de quinze e treze anos, respectivamente. Alheios ao acontecido na véspera, traziam presentes e alguns pratos prontos para a ceia.

Ana saiu para recebê-los e viu o homem se afastando. Chamou-o pelo nome.

- Joaquim, espera. Venha cear conosco esta noite. Dá-nos mais esta alegria.

Joaquim não respondeu e se foi.

Quando veio a noite o céu estava estrelado, a lua brilhava como nunca!
Ana, Marta, Clara e Francisco foram à igreja. Ao retornarem a porta estava entreaberta. No sofá da sala um homem alto, magro, olhos negros e grandes, nariz adunco, sorridente, cabelos curtos e barba bem feita, unhas aparadas e limpas. Não gostava da solidão e trazia consigo um companheiro - um cão branquinho, limpo, chamado Noel.
Antes que Ana pudesse dizer alguma coisa ele disse:

- Aceitei o convite e vim participar da ceia e comemorar o Natal em família. Há muitos anos não sei o que é ter família.

Com os olhos marejados, Joaquim começou a contar a sua história.

- Eram 23 de dezembro. Minha mulher e eu saímos para comprar brinquedos para colocarmos aos pés da árvore de Natal. As crianças ficaram em casa. Ao voltarmos não as encontramos. Buscamos por todos os lugares. Passados dois dias meu cachorro encontrou suas roupinhas à beira do riacho. Minha mulher ficou doente. Morreu de paixão. A partir do acontecido, volto ao riacho diariamente para rezar por minhas crianças. Ontem, mais um 23 de dezembro, vi sua menina cair no riacho e, logo depois, a senhora. Fiquei desesperado. Mais uma vez meu “Pulguento” estava lá. E foi com sua ajuda que consegui tirar sua filhinha da água e trazê-la para cá.

Clara e Francisco se olharam, olharam para Marta e para Ana. Deram-se as mãos enquanto observavam o desconhecido.

- Joaquim, ouça, disse-lhe Ana. Há dez anos, meu marido e eu estávamos sentados à beira do riacho. Eu estava grávida de Maria. Eu estava com os pés dentro d’água e ele estava deitado com a cabeça em meu colo. De repente ouvimos um barulho, seguido de outro. Meu marido levantou-se e viu duas crianças sendo levadas pela correnteza. Ele conseguiu salvá-las, mas não conseguiu salvar a si. Entrei em estado de choque. Fiquei sabendo, mais tarde, do que havia acontecido por intermédio de minha irmã, que mora na cidade. Foi ela quem cuidou das crianças. Não sabíamos quem eram, nem quem eram os seus pais.

Aproximando-se, apresentou Marta e os dois jovens a Joaquim.

- Joaquim! Esta é Marta, minha irmã. Estes, Clara e Francisco.

Ana e Joaquim olharam-se profundamente. Não havia mais nada a ser dito. Seus olhos brilhavam de surpresa e contentamento.

Maria brincava com sua boneca e com seu novo amiguinho Noel. E todos cantaram a canção “Noite Feliz”, tendo como orquestra o som do riacho e o canto dos grilos e sapos.

Joaquim, Ana e Maria formaram uma nova família. Clara e Francisco voltaram com Marta para cidade por causa dos estudos, mas sempre que podiam vinham visitar o pai.
Joaquim reconquistara sua fama de homem de bem.

O povo da região nunca mais ouviu falar do “Lobo Mau” e do seu cachorro “Pulguento”.

Autor: Maria Goreti Rocha
Vila Velha/ES – 23/12/07

Foto de Maria Goreti

É NATAL

É NATAL

É Natal!
Sinos dobram na Catedral!
O coral entoa o “GLÓRIA”.

Lembro-me do dia do meu casamento.
Um verdadeiro conto de fadas!
A limusine me esperava na porta da igreja.
Meu vestido branco, cuja blusa de renda guipure fora ricamente rebordada com pérolas e pedras semi-preciosas, tinha saia farta, em shantung de seda pura e detalhes em palha de seda plissada. Atrás, um grande laço de cetim arrematava a cintura. Na cabeça, o longo véu descia em forma de cascata e percorria toda a extensão do corredor da Catedral.
A tiara em pedras semi-preciosas era digna de uma princesa!
Meu noivo, de fraque, mais parecia um lorde inglês!
A igreja lindamente decorada! Lírios, jasmins e ramos de alfazema davam um quê de tranqüilidade, ao mesmo tempo purificavam e perfumavam o ambiente.
A cerimônia foi realizada ao som de orquestra e coro. Ah! A Ave Maria!
No salão de festas tudo era perfeito!
A mesa com o bolo decorado, recheado de nozes e baba-de-moça e, sobre ele, um casal de pombinhos com as alianças nos bicos. As lembranças eram miniaturas do bolo. Que delícia estavam os bombons, os quindins, as trufas, os bem-casados, os macarrones, as balas de alfenins!
No jantar, os garçons serviram do scargot ao faisão, mas também havia um filé de salmão, para aqueles convidados que jamais ousam provar novos sabores.

É Natal!
Os sinos voltam a badalar na Catedral.
O coral entoa “AVE MARIA”.

Ontem foi o meu aniversário, por isto estou muito feliz!
A decoração estava uma beleza! Muitas flores, balões de gás e luzes coloridas.
O bolo sobre a mesa era de brigadeiro e os doces, compotas das mais variadas – jenipapo, jaca, laranja-da-terra, limão, figos, pêssegos, goiabas, mamão com coco, abóbora...
Muitas frutas frescas também compuseram a mesa.
O cheirinho de churrasco invadira o ambiente. Caipirinha e cervejinha gelada para refrescar.
Os convidados chegavam trazendo lindos e valiosos presentes. O DJ era animadíssimo e a festa rolou até altas horas.
Optei por um churrasco para recordar os meus tempos de menina humilde.

É Natal!
Os sinos dobram pela terceira vez.
O coral entoa “NOITE SANTA”.

Na semana que vem será a vez de comemorarmos o aniversário do meu marido. Para tal mandamos matar um novilho, três borregos, dois leitões, dez galinhas e um cabrito. Encomendamos alguns barris de chopp, vinhos e refrigerantes. Contratamos uma banda para tocar. Decidimos fazer a festa na nossa fazenda. Uma comemoração simples, apenas para os amigos mais íntimos.

É Natal!
Na Catedral, o padre espera os fiéis para a tradicional Missa do Galo.
O Coral canta “NOITE FELIZ”.

Desta vez não iremos comemorar.
Sou do tempo em que o Natal era comemorado com Missa do Galo, ceia e sapatinhos nas janelas para esperar o Papai Noel. Armávamos o presépio, junto com papai e mamãe e montávamos nossa árvore, com bolas e lâmpadas coloridas, piscas-piscas e direito à neve de algodão.
Hoje o velho barbudo trocou o gorro pelo boné, o trenó pela motocicleta e não traz mais presentes para as criancinhas... Hoje ele rouba os presentes delas e, se não se cuidar, acaba sendo assaltado.
Fizemos um balanço das notícias do ano. Violência em todos os lugares, acidentes de aviões e trânsito, mulheres prostituídas, crianças abandonadas, balas perdidas, seqüestros, famílias desfeitas, incêndios, terremotos, enchentes, nevascas, aquecimento global, balas perdidas, jovens drogados, políticos corruptos, doenças, falsos médicos, fome... E ainda tem gente que sai alheia a tudo, a gastar com presentes caríssimos, roupas e comidas para festejar o Natal!
Sejamos solidários com nossos irmãos carentes. Com tanta miséria, não dá pra pensar em gastar com festas. Tudo isto é muito triste!
Presentes...!
Meu marido acaba de me presentear com um enorme diamante!

É Natal!
A missa do galo está terminando. Agora não é mais à meia-noite. Começa mais cedo por uma questão de segurança(?).
O coral canta “ENTÃO É NATAL”.

Semana que vem é réveillon e vamos comemorar a entrada do novo ano em casa de amigos, quando aproveitaremos para combinar as nossas férias. Ainda não sabemos para onde iremos.
Logo chegará o Carnaval! Já mandei desenhar minha fantasia e também a do meu marido e das crianças. Vai nos custar uma pequena fortuna, mas iremos arrasar no desfile de fantasias! Meu marido e eu competiremos na categoria luxo e as crianças na categoria originalidade.

É Natal!
A Missa do Galo terminou.
Enquanto os poucos fiéis se retiram da igreja...
O coral canta “PARA NÃO SER TRISTE”.

É... Hoje é Natal!
Não iremos festejar.
Depois, festejar para quê? O quê?
Ouvi dizer que é aniversário de um “tal” Jesus.
Por acaso, você sabe quem é?

©Maria Goreti Rocha
Vila Velha/ES - 22/12/07
.......

DESEJO A TODOS UM FELIZ NATAL E UM ANO NOVO DE MUITAS ALEGRIAS, NA PAZ DE CRISTO!

Maria Goreti.

Foto de Edson Milton Ribeiro Paes

"CONVERSANDO COM O ESPELHO"

CONVERSANDO COM O ESPELHO

Relacionando-me comercialmente com inúmeros empresários, comecei a notar a peculiaridade de alguns que me motivaram a escrever estas dez observações.
Você precisa conversar com o espelho quando:
1- Quando exige de seu parceiro comercial aquilo que não esta disposto a retribuir.
2- Quando insiste em pagar parcelado e com atrazo mas torce o nariz quando fazem o mesmo.
3- Quando usa dois critérios diferentes, um para pagar e outro para receber.
4- Quando a comissão que quer pagar é sempre menor a que quer receber.
5- Quando você acha que seu tempo sempre é mais precioso do que o dos outros.
6- Quando faz quem te procura esperar, mas detesta que façam o mesmo contigo.
7- Quando pede descontos impraticáveis, mas não aceita baixar um centavos os seus produtos.
8- Quando abomina que ganhem dinheiro com seus produtos.
9- Quando acha que para cumprir com seus compromissos, outras pessoas devem deixar de cumprir com os seus.
10- E para terminar, Quando você acha que é mais importante que os outros.

Esta cheio de empresários politicamente e financeiramente corretos, que andam de cabeça e nariz em pé, mas seus colaboradores, fornecedores e concorrentes amargam os prejuízos de sua megalomania, são os famosos mendigos elitizados, passam a sacolinha o tempo todo, todos tem que entender seus momentos, prorrogam vencimentos de duplicatas não pagam juros, usam de todos artifícios tidos como legais, mas que são imorais e causam prejuízos com quem se relacionam, não existe dignidade em seu alfabeto, roem a corda no menor sinal de que algo não vai dar certo, palavra para esta classe não existe, normalmente seus cadastros são impecáveis, mas quem trabalha para eles ou fornece mercadorias ou serviços vez ou outra estão nos serviços de créditos, pois estes sim honram, com os prejuízos e colocam seus nomes a disposição dos órgãos competentes.

Espero que estas observações não sirvam para muita gente, mas com certeza para alguns poucos que conheço cai como uma luva.

Foto de Sonia Delsin

LONGO CAMINHO

LONGO CAMINHO

Se eu pensasse sete vezes, sete vezes sete.
Se eu contasse até dez.
Recomeçasse.
Recontasse.
Entrei num impasse.
Me vi virando barcas.
Esvaziando rios.
Me vi espancando sebes.
Vento errante da madrugada.
Me vi espaço, estrelas, lua...
Me vi nua.
Me vi a correr na rua...
Me vi a entrar num bar.
Me vi a beber sem parar...
Me vi despencar.
Tudo num imaginar.
Era a vontade que eu tinha de ver o mundo acabar.
Mas o sol surpreendeu meu olhar.
Passei a enxergar.
Outros olhos sempre podemos ganhar.
A dor da desilusão não era maior que todo o meu amar.
Um amar a vida que me deu forças para continuar.

Foto de Civana

Série Meus Ídolos: Tente Outra Vez

Mais um dos meus ídolos que fiz questão de homenagear. Dessa vez utilizei títulos de músicas do saudoso Raul Seixas.

Tente Outra Vez

"Como vovó já dizia", "coisas do coração" são eternas,
Podemos amar de várias maneiras,
Mas um "coração noturno" sempre buscará por sua "lua cheia".
Pode até pensar que "eu nasci há dez mil anos atrás",
Ou que sou "maluco beleza" por pensar assim,
Mas prefiro acreditar no amor, do que no "ouro de tolo".
Estarei sempre nessa "metamorfose ambulante",
Onde "Gita" me dará forças,
Dizendo "Tente outra vez" !
E finalmente ficarei "So glad you're mine"!

(Civana)

OBS: Vejam a versão original com música no blog http://civana.spaceblog.com.br/85084/Tente-Outra-Vez/

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