Indiferentes

Foto de Dennel

Porta do passado

A porta semi-aberta
Esperando a sua entrada
Desde sua partida
Nada mais fiz, senão esperá-la

Não sei se é sonho ou ilusão
Mas fato é que a espero
Que resisto, persisto, insisto
Em crer que irá voltar

Fantasio este momento
Preparo-me para o encontro
Na cama lençóis ligeiramente dobrados
Um cheiro de fragrâncias no ar

Um CD pronto para tocar
Um som para ser emitido
Uma palavra para ser jurada
Ilusões, mente fantasiada

O tempo parou
Apenas o tic-tac do relógio
Alterna-se com o som da minha respiração

O vento balança a porta
Que se entreabre mais e mais
Revelando minha angústia
Meus olhos inquietos a observam
Desolados, frios e indiferentes

Só a saudade não é indiferente
Esta é intensa, crescente
Feito fogo que consome impiedosamente

Num impulso, levanto-me
Ligo a televisão, em intenso volume
O som adentra o quarto
Exorcizando o fantasma do amor

Distraio-me, saio da minha letargia
Percebo que passadas são as horas
Um novo dia então nascera
Fecho a porta do passado

Juraci Rocha da Silva - Copyright (c) 2006 All Rights Reserved

Foto de Minnie Sevla

Mendigo

Vejo o sol que resplandece e
salta das nuvens reverenciando
o dia que nasce com o pulsar da vida,
mesmo que moribunda ainda insiste.

Onde nem a dor é sentida
e todos os sentimentos indiferentes.
Vive dentro de mim um mendigo,
que busca no súbito silêncio a esperança do amor que persiste.

No dia que não tem reprise, na noite interminável,
na cor púrpura de minh’alma que sofre
um vazio imenso, uma camada de ozônio,
que se resume no nada para compor uma canção.

Queria ver seu sorriso, os dentes brancos e bonitos,
pois hoje é dele que preciso, anseio seu toque suave
e a chave inexorável do seu coração
para alojar-me no jardim das tuas emoções.

Arriar minha cabeça em teu peito másculo
Deixar as lágrimas rolarem pela face ainda pálida
Aconchegar-me em teus braços, como ninho
e inebriar-me com tuas palavras cálidas.

Sou mendigo vagando pelo mundo da solidão
Vasculhando o lixo e tentando juntar meus pedaços.
Dormindo nas ruas da amargura, me aquecendo com jornal,
pois o frio que congela meu ser já não causa tanto mal.

Minnie Sevla/Ramgad

Foto de Peter

A indiferença

Como um predador olha a sua presa
Sem qualquer respeito ou despeito
Porque tem preconceito
Olha-o por ser diferente

Como um sindrome
Ou mal formação
Olha-o com maldade

Ninguém sabe qual a sua enfemeridade
Ninguém quer saber a sua situação
É lhes indiferente só por ser diferente
Não merece respeito porque não é como eles
Não merece um olhar digno só porque é diferente

Porque o preconceito fala mais alto
Porque o conceito da vida não tem valor
Porque há a diferença
Porque tem uma cor diferente
Porque tem um estilo diferente
Simplesmente porque é diferente

Tanta indiferença pelo próximo
Como é que o mundo pode ser justo?
Como é que pode haver paz?
Se somos indiferentes aos diferentes
Se não aceitamos todos
Se pomos alguns de parte
Se não tratamos todos por igual

Porque a vida, o conceito humano
Prevalece sobre qualquer preconceito
Sobre qualquer raça ou religião
Porque amar o próximo está no nosso coração
Porque toda a criação está na mão de deus

Todos diferentes todos iguaís

Foto de Zedio Alvarez

Jardineiro dos teus versos

As flores nunca deveriam morrer.
Elas nos acompanham durante toda a nossa vida,
Até a nossa eterna partida.

O vicejar de uma flor é o anúncio de um amor
Acho que está faltando, mais jardineiros.
Para delas cuidarem. Elas amam a gente...
Mas muitos as tratam, indiferentes

Quero ver o teu jardim
Quero ser o teu jardineiro
Para que a cada rima regue
Teu poema por inteiro

Foto de Edson Rodrigues Simões Diefenback

O ato de escrever

A escrita aproxima as pessoas de uma forma quase assustadora.
É como identificar, nos outros, parcelas de nós mesmos.
Ler nas palavras perdidas em blogs, livros, crônicas, as nossas loucuras, os nossos mais inconfessados anseios.
Os laços que se criam entre duas pessoas apaixonadas pela escrita faz com que se apaixonem entre si e, partilhem, silenciosamente, rasgos mentais.
Um espelho por vezes algo grotesco em que vemos o nosso íntimo no íntimo do outro, o nosso sorrir no sorriso do outro.
E a dor na dor do outro.
Duas pessoas que partilham dor nunca mais poderão ser indiferentes aos vultos dos seus corpos.
Quantos desses encontros fugazes com as nossas metades perdidas no mundo, soltas a voar no espaço da criação?
Quantas palavras ficam por ser ditas nessa mútua compreensão amargamente doce.
Quantas sensibilidades iguais, atrações criadas e recriadas nesse espaço-tempo criativo e sensual?
A escrita é espaço de tentação. De tensões que aproximam e a afastam os possuídos.
Só outro possuído para compreender a possessão.
E não é isso que todo o ser humano procura? Compreensão?
Essa identificação serena e ao mesmo tempo revoltada em que queremos ser o alvo do poema, queremos ser o amor e o amado, queremos ser o destinatário dessas palavras, dessas teias invisíveis e, no entanto, tantas vezes palpáveis.
Sim, a escrita, é um ato sensual.
Uma veste que nos torna tão deslumbrantes aos olhos dos outros... dos que nos desnudam devagar, com profundo deleite.
Talvez tudo se resuma a isso... A um amor imenso que nos assoma e nos entrega nas mãos que seguram a caneta. Nos dedos que batem no teclado.
Sendo dos meus leitores, não sou, porém, de ninguém. E isso torna-me muito mais apetecível.
Muito mais... etéreo e majestoso.
Por isso me escondo. Me resguardo. Para que possam sempre sonhar com o deus que gostam de idealizar.
E que, infelizmente, é tão humano. Tão imperfeito e estupidamente humano.
Visto-me de escrita e danço para vós. Desnudam-me devagar e eu deleito-me, num orgasmo literário, numa sensualidade crescente e viciante.
Quando saio do palco volto apenas a ser eu... Coloco suavemente as minhas vestes num armário enorme e suspiro.
Aqui nos bastidores fico sozinho. E mesmo assim cheio de outras personagens que leio e releio pelos dedos dos que amo ler. Inebriado de criatividade.
E amo... amo a escrita... amo os escritores e as suas palavras.
Mesmo quando estou sozinho... E preenchido de ti.

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