Orvalho

Foto de joão jacinto

Verdejante jardim

No meu verdejante jardim,
descuidadamente abandonado,
crescem em desordem entrelaçados,
arbustos de urze, alfazema e alecrim.
Gladíolos e jarros esmagados,
sob a grandeza de patas de veado,
envolvidos com rebentos de jasmim.
Ervas daninas viçosas de orvalho,
manto de azedas, amarelo limão,
desenho sombreado de um carvalho,
projectado, em movimento lento, no chão.
Buchos não aparados cercam a hortelã,
trinco a maçã caída da fortalecida macieira,
debaixo dela, durmo em silêncio, a tarde inteira,
eternizando o sono quebrado, pelo romper da manhã.

Acácias, orquídeas, manjericão,
por borboletas constantemente beijadas,
sardineiras em vermelho misturadas,
com rosas virgens, ainda em botão,
desfolhadas por barulhento escarevelho,
que procura sobreviver à sua solidão.
Cardos de tristeza envelhecidos,
trevos de quatro folhas perdidos,
entre rastejantes craveiro e chorão.

De pétalas abertas, sorridentes,
brilhando a céu aberto, em cor garrida,
desnudada, aprumada, de corpo inteiro,
ornamentada de beleza de margarida.

Folhas rasgaram-me o caule e abraçaram-me,
impregnando-me a alma de doce cheiro,
preso à terra pela raíz da sua raça,
senti-me estame e em graça,
pelo sabor do seu atractivo e sensual gineceu.
Fecundamo-nos mutuamente,
para parir o fruto da sabedoria consciente,
que dentro do nosso ventre em união cresceu.

Senti a cor do verde, o azul do céu,
o odor da terra e dos medos,
senti a vida, medi o tempo, olhei para o fim,
perdido no caminho que estava traçado dentro de mim.
Dancei aos ventos, bebi da chuva, tremi de frio,
sofri de amor, sangrei de dor, guardei segredos...

No meu jardim pouco cuidado, de natura bravia,
germinaram poucas, mas fecundas margaridas.
Nunca murcharam.

Tenho dentro de mim várias vidas.

O buquê das minhas vidas
é composto por tinta e quatro margaridas.

Foto de betoquintas

Primeira sagração (Sarcanomia)

Chamado
Hino das vestais aos deuses

Acabou a estação de estio,
O gelo derrete,
Vem a névoa e o orvalho.
No solo, as sementes aguardam,
Sobem os vapores,
Juntam-se as nuvens.
Os deuses preparam a chuva,
Venham e propiciem a fertilidade!
Venham sobre nós,
Façam de nossos corpos
O terreno arado e pronto.
Venham em nossos sulcos
E derramem dentro de nós
O néctar vitalizante,
Que despertará as sementes do torpor,
Para que todos aproveitem a safra.
Mostre a divindade pela verga,
Prove a autoridade pela soma.

Vesperal
Hino das vestais aos campineiros

Vinde, obreiros da colheita!
Vede que os deuses não demoram,
Cedo vem as nuvens
E os campos devem estar prontos.

Tragam as enxadas
E firmem os moirões.
Removam as pedras do passado
E as raízes do remorso.

Não podemos atender aos deuses,
Nem honrá-los com nossos serviços
Sem sua vigorosa ajuda.
Abram nossos véus sagrados
E depositem sua força em nosso templo.
Façam com seus corpos musculosos
A sagração de nossos veios,
Amaciem e preparem nossas carnes,
Para receber a dádiva divina.

Ato de labor
Hino dos campesinos às vestais

Formosas damas, eis-nos!
Nunca fugimos às obrigações,
Mal nos chamaste
E nossos membros já atendem.

Somos homens rústicos,
Simples e brutos.
Não possuímos riquezas,
Senão nossas mãos,
Nem temos nobreza,
Senão nosso trabalho.

Ainda assim nos recebe,
O templo sagrado se abre,
Nos revelando segredos e mistérios
Que são negados a reis.

Recompensados com tal honra,
Oferecemos em profusão dessa seiva
Que seus corpos pedem
Em sagrado frenesi.

Monção
Hino dos deuses aos devotos

Eia, fruto de nossos amores!
Nós viemos de longas distâncias,
Escutamos o chamado da carne
E nos preparamos para nutrir este mundo.

Eis a verdade,
O que está embaixo
É igual ao que está em cima.

Benditas são as vestais,
Que com seus véus dançam,
Chamando para si os campesinos,
Para que esta festa na terra
Se reflita no firmamento.

Assim se juntam as nuvens
E nelas derramamos o sagrado néctar.
Enchei os ventres das vestais
Com sua virilidade, campesinos,
Para que, do mesmo modo,
Derramemos a nossa seiva
No ventre da Grande Mãe.

A ninguém seja permitido
Separar e discriminar a vida.
Material e mundana,
É a mesma vida,
Espiritual e sagrada.

Partida
Hino de gratidão dos devotos aos deuses

Grandes e respeitáveis deuses!
Aos que reconhecem a paternidade
E não fogem da responsabilidade,
Nós agradecemos a propiciação!

Manifestada seja a lei,
Amor e irmandade.

Somos espirituais e carnais,
Como vós são carnais e espirituais.

Tal como vieram à Grande Mãe,
Vem os homens às mulheres.

Tal como à dádiva do amor
Não se impõe regra ou forma,
Nos unimos ao festim,
Para que o espirito se torne carne
E a carne desperte sua alma.

Não pode haver separação,
São uma e mesma essência.
Portanto venham em nosso meio
Na próxima temporada,
Enquanto continuamos a seguir
O ciclo sagrado e eterno.

Foto de Emerson Mattos

Trinado

Autor: Emerson
Data: 29/08/05

Canta, canta sabiá
O canto que a força sabia
O canto da letra sábia
Que a sábia sabia
Oh! Trino sabiá

Canta, gorjeia canário
Encanta em frente do orvalho
Canta com força de sabiá
Não sabe se ela te leva até lá

E triste é o pássaro
Que não quer trinar
Não quer gorjear
E não quer cantar
Só pensa em voar
Para o lado de lá

O canto encanta
Aquele que sabe escutar
Aquele que canta
Não quer mais voar

O pombo vai arrolar
A ave vai pipilar
O canto é cortesia
Preenche o dia
E a noite vazia

Coruja, pombo, sabiá
Há todas aves que há
Que a profecia sabia
Sem elas não passa o dia
Que perde a sua magia

Foto de Paulo Gondim

Tua voz

Tua voz
Paulo Gondim
01.08.2006

Tua voz me acalma
Como a brisa da manhã que traz o dia
E espera o sol numa gota de orvalho
Que faz a natureza em harmonia

Tua voz me dá esperança
Como um sorriso de criança
Que não cobra nada
Não exige nada
Apenas sorri

Tua voz me alegra
E até me imagino vaidoso
Crente, desenvolto, corajoso
Remendando os fracassos
Redescobrindo a fé
E até arrisco um sorriso!

Tua voz me ilumina
Mesmo carregada de mágoa
(Sinto nas entrelinhas)
Quando aos poucos desabafa
E pouco a pouco expõe
E desfia teu rosário de dúvidas
De desilusões, de perdas
Em busca de pequena desculpa
Que procuras esconder
E não sabe como pedi-la

Tua voz me cala
E fico inerte, no raro momento
Em que resolves falar
E fala... E fala... E fala
Sem querer parar
Faz rodeios, fala de tudo
Apenas fala
Enquanto escuto e espero
O que queiras realmente falar-me

Mas, não fala...

Foto de sonhos1803

Querer

Queria ser como uma borboleta,
A testar seus olhos,
A voar,
Brindando, com cores,
A sua vida sem calor,
Perfumar tuas noites,
Com o cheiro do amor,
Preencher teus braços,
Com meu corpo,
Beijar a tua pele,
Na altura de teu peito,
Estreitar um jeito,
De beijar,
Abrir uma janela,
Para entrar o orvalho da madrugada,
Tirar tua pose,
Com um riso,
Voar para teus braços,
Como um refugio a tempestade de desejo,
Consumir-te a cada beijo,
Travando uma dança, com minha voz na tua garganta,
Teu gosto morno,
A enlouquecer meu corpo,
Voar, passear minhas mãos, conhecendo a maciez da tua pele,
Fugir como que a repelir,
Fingir adormecer,
Estender minhas asas,
Como fios de cabelo no teu travesseiro,
Dança de pernas, atadas no teu corpo,
A expelir o que me deixa louca,
Acalmando, essa mania de viver.

Foto de sonhos1803

Sonhos

Quero acordar,
Ver que meu olhar encontra o teu,
Que com o sol nasce uma chance,
Como uma planta exótica,
Teimo em crer,
A rezar pelos cantos,
Como um pássaro sem canto,
A observar,
A chorar,
Sem ter um lugar,
Perdi,
Meu coração,
O sentido da razão,
A confiança,
A aliança da amizade,
O carinho com sinceridade,
Fiquei, como uma ave,
Sem vontade de voar,
A esperar por um milagre,
Mais uma arvore cai,
Como um corpo,
De anjos mortos,
A uivar,
Em um pedido de socorre que se esconde,
No escuro de meus olhos,
Na ternura em meio ao ódio,
Queria não sentir sangrar,
A traição,
Que atravessou meu coração,
Queria ver a luz do dia,
A banhar meu corpo,
A esquentar meu rosto gelado,
De lacrimas que o orvalho de mentiras congelou,
Queria não ser o carvalho,
Que cai,
Sob o solo,
Um corpo, sem cor,
Um morto,
A pedir,
Que tragas minha alma,
Sobre a vida,
Como um anjo,
A apagar essa sombra de mentiras e maldade,
Anjo, meio demônio,
Espero te ver em meus sonhos.

Foto de isaboo

***A Magia do amanhecer***

Amanhece....
Este cheiro da terra orvalhada
de folhas molhada, se espalha pelo ar
invade a minha alma,
me atiça os sentindos
aguçando os meus desejos,
que vibram, clamam
ah....este cheiro suave, que embala os momentos
acaricia a alma, renova e nos dá alento
faz bater mais forte, o coração no peito
faz sonhar com o amor, em carícias no leito
ah...este cheiro gostoso, que a brisa traz faceira...
que embriaga e seduz, nos transforma inteira
delicada flangrância, sensação envolvente
que suavisa e enternece a gente....
ah...este aroma eloqüente...que mexe e remexe
com os nosso sentidos.
inundando os nossos corpos, de desejos incontidos
de deliciosas emoções,inexplicaveis sensações
expondo as nossas fantasias, num prazer extasiante..
lá fora, o sol se ergue exuberante!!!
secando cada folha molhada, cada gota de orvalho encontrada
e aqui dentro, sua boca passeia voraz,
pelo meu corpo..que numa entrega, de delicioso prazer.
se deixa saborear....

© copyright by
R.Sandra G.LisboaAll rights reserved

Foto de Pianista ao Luar

A flor sorri

A flor se curva ao vento
E eu a teu encanto
O orvalho molha a flor
Como o suor do nosso amor

Quero tocar teu mundo ou você
Como o refrão do Djavan.
Bebo doses do teu olhar
Licor azul da cor do mar

O papel absorveu todo amor
Um brinde que meus lábios nele deixou
Um mágico sorriso eu levei
O maior encanto que seu rosto me deu.

Caminhando pelo jardim
Vejo a flor sorri
Lembrei do teu sorriso
Um tesouro oculto no teu rosto.

Foto de Paulo Gondim

O mensageiro

O mensageiro
Paulo Gondim
04.05.2006 (29min)

Quando acordares amanhã
Receberás um beijo meu
Trazido por um colibri
Que passou por aqui
E se fez mensageiro

Quando abrires a janela
Pensarás em mim
E ficarás horas a ver o céu
A contar as nuvens
Imaginando estrelas
Que brilharam no anoitecer

E verás as rosas frescas no orvalho
Que brilham para ti, no amanhecer
Ouvirás o canto dos pássaros
O pega-pega dos pardais
Te festejando na janela

E olhararás no céu, entre as folhas
Das árvores que cercam teu jardim
E verás aquele mesmo beija-flor
Voando entre flor e flor
Esperando a resposta que terás para mim

Foto de paulobocaslobito

Oceano Atlântico

Vénus alada
Seios azuis
Opalinas
Num espelho convexo
Que o orvalho
Escorre na noite
Entre os lábios da aurora.

Música de silêncio
Espaço na luz do equilibrio
Áspero, ascético, granítico
Cometa de pálpebras cerradas.

Sombras sobre um colóquio
Anjos no fundo do mar...
... Da eternidade.

Tentáculos, pólipos
Que asseguram
Na salgada cela
De "rotoras" anémonas
Sobre os agéis e sinuosos raios
Que a luz transforma
Em amor infinito...
E no meu corpo
Se fazem em calmaria...

De repente, de repente...
Pranto.

De repente, de repente...
O espanto!

De repente a bruma,
Meu amigo próximo
Na vida uma aventura,
Que a paixão degolou
Em espuma...
Desfazendo-se na última chama:
... O esquecimento.

Paulo Martins

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