A poesia inunda-me as veias e os poros, mas nada sai, as letras não se conjugam, as frases não se formam...A língua do que sinto não é a mesma do que a que falo...nunca foi, nem há-de ser...tento passar o coração para o papel, como outrora o fiz, como tantas vezes o fiz, mas hoje não consigo.
Há um enorme buraco, um precípício, negro e obscuro...a tinta dilui-se no papel, as formas desvanecem-se e ficam apenas manchas...manchas insípidas que se atravessam umas às outras...
Sinto explodir-me por dentro de tantas palavras que gritam e se atropelam mutuamente sem nada dizer...elas pulam dentro de mim, numa frenética desorientação procuram uma saída, rasgando-me a pele...sangro...vermelho vivo...
Hoje não há poema, apenas sangue, vermelho vivo...e gritos mudos...