Proteção

Foto de Fernanda Queiroz

Meu Papai

Papai.
Hoje comemora teu dia, que são todos os dias que com tua presença mágica preenche meu dia.
Gosto de estar assim diante do computador e deixar minha mente vagar no teu carinho sempre presente, na tua mão grande, morena, que se entrelaçavam as minhas pequeninas, transmitindo proteção.
Sentir meu corpinho de menina aninhado em teus braços em momentos de medo, “como nos dias de fortes tempestades” saudades batalhas ou vitórias, a qual sempre me ensinou que é exatamente o espelho que reflete a imagens de nossos esforços.
Sentir meu corpinho cansado das brincadeiras, do pique esconde, das enormes corridas, onde muitas vezes você me deixou ganhar se enrolando sabiamente em algum obstáculo, deixando o ar de vitória as minhas pequeninas pernas, que sempre o seguiu, desde que Deus honrosamente me deu o privilégio de chamá-lo de papai.
Papai, do jeito que eu queria, sem jamais ser utopia, exemplo gritante em todos os dias.
Coração entregue, no ato e no fato, onde o sentimento foi o laço que gerou harmonia.
Papai, que me ensinou que a coragem, é parte da bagagem que nos leva as metas sonhadas, mesmo que o caminho seja tortuoso ou longo, mas é por onde jogamos sementes, sem nos preocupar com o solo vai ou não germinar, é fazer da vida um eterno semear.
Papai, que me ensinou o ontem eu posso mudar, que o amanhã começa hoje, o depois agora, que o futuro será sempre o presente que cultivei colheitas que eu plantei, no carinho que dei, da mão estendida e destemida, que faz com capacidade, nascer igualdade, berço da humildade, percurso da lealdade, que faz com que eu sinta de verdade, que vale a pena ter existido, que a vida só tem sentido sem o poder ser mantido, mas com amizade e amor distribuído.
Papai, que me mostrou que estar perto é estar dentro, em todos os momentos.
Papai, contigo aprendi, não sei se tudo, quem sabe a metade, que pude fazer florescer, emocionar a colher na semente que em mim germinou, onde uma frase de tua neta é um podium de um troféu dos anos passados ao teu lado.
“O que começa em mim, jamais terá fim”. – Flávia Rocha.
Eu te amo, papai, e o amor que começa em mim, jamais terá fim.

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados.
12/08/07

Foto de Tarcisus

SAUDADE

SAUDADE

É madrugada, penso muito em você.
O mundo parece estar parado, meu coração não.
No céu, a lua paira absoluta
E minha princesa dorme com a proteção dos anjos que pedi ao Senhor

As estrelas brilham e meus olhos fixam no firmamento,
Meu pensamento vai lhe buscar
Em qualquer lugar, a qualquer distância,
Não consigo te tocar, mas sinto seu perfume...

Vôo em pensamentos que me fazem sonhar
E lhe imagino no meu futuro,
O que seria de um homem sem sonhos?
O que seria de meus sonhos sem você?

A solidão me cerca, me aprisiona na sua ausência
Meu coração acelera, mas tudo que consegue
É me trazer lembranças dos nossos momentos
Sinto saudade, penso muito em você.

Foto de angela lugo

Pobre de mim sem ti

Pobre de mim sem ti
Caminhando pelas trilhas da vida
Sem proteção apenas com a desilusão
Que um dia deixou em meu coração
Carrego comigo ainda aquela rosa amarela
Que me deu na despedida e hoje já seca
Sinto-me derrotada pela tua espera
Queria muito ter vencido esta saudade
Que vai esmagando minha alma lentamente
Imaginava-te na minha trajetória
Completando docemente uma vitória
Corri velozmente pela vida para te alcançar
Mas você correu mais que uma lança
E não pude te alcançar apenas de longe olhar
A tua figura que passava rapidamente
Não olhou para o lado nem tampouco para mim
Que ali a teu lado sofria agonizante
Com uma dor na alma que só meu corpo sentia
Olhava com um olhar já quase sem brilho
Queria te sentir ao meu lado sem você lamentar
Apenas queria novamente em teus braços estar
Sentir tua boca selada na minha
Sentir o suor escorrendo em harmonia
E nele me sentir escorregando em pura melodia
Pobre de mim, sem ti me sinto perdida pela vida
Já não sei onde é o caminho para a felicidade
Se pelas escarpas da vida não te encontrar

Foto de Boemio

De quem é a culpa?

O menino tem uma arma na mão
E se encaminha pra frente do portão,
Cada passo seu o aproxima mais e mais
Da tragédia iminente,
Na sala conversa um rapaz
Com olhar intransigente,
Ria, se divertia com aquela situação
E não percebia o perigo, a arma está carregada,
De repente ouve-se um estridente grito
Que emudece todos ao seu redor,
O rapaz cai morto com um suspiro
Preso na garanta cheia de sangue e de suor,
O menino sai tranqüilamente como se não tivesse acontecido
Como se ele não tivesse dado seu primeiro tiro,
Os colegas de turma saem correndo
Em meio ao assassino horrendo
Que sorria feliz, aliviado
Por ter finalmente saciado
A sede do diabo,
Todos estavam com medo mas o que ninguém sabia
Que o pobre rapaz que estava morto
Dias atrás tinha batido no menino que jurou por sua vida
Que ia se vingar por aquele estorvo.
Quem teve a culpa?
Quem atirou ou quem deu a arma?
Quem provocou ou quem soltou a bala?
O pequeno menininho foi pra casa sozinho,
Sua mãe lhe deu carinho e proteção
A policia bateu a porta e disse:
_ “seu filho matou rapaz rico!”
E quisera o levar mas sua corajosa mãe o protegeu,
Então a policia matou os dois pra se defender
Quem tem razão?
A culpa é de quem?

Foto de Nana ´De Má

Sonho de um beijo.

Seus olhos, um clamor um pedido,
O silêncio de uma mensagem entendida,
O encontro, as primeiras sensações,
Seus braços, um escudo de proteção,
Seu calor, minha fuga das dores mundanas,
Seus olhos, um pedido,
Concedo,
Carinhos de mãos em rosto,
O roçar de dedos, sensações, uma aprovação a mais,
A carícia e o roçar da pele macia contra a barba cerrada em simples roçar de rostos.
O encontro dos lábios sedentos, o delicado contado dos seus com os meus, a candura do encontro, o morno de sua saliva em meus lábios, frações eternas de alguns segundos,
Explosões de sentimentos, em ato tão frugal, seu gosto, seu jeito, sua graça, seu aperto, a união que tanto clamamos, um sonho, um beijo, muito mais que um simples desejo, a confirmação do sim, e o banho de paixão de seus olhos em mim, saudade adiantada de algo irreal, momento postergado, mas já apreciado, na espera de ser confirmado,
Um beijo, um encontro, o atrito, meu sonho.
Beijo-te, me beija, te sorvo, me sorva, te queimo, me queimas dois em união, com excedente paixão, transborde em mim toda essa paixão, meus lábios queimam em vontade intensa do primeiro ato.

Foto de Nana ´De Má

Dilúvio

Meus olhos se transformaram em duas cachoeiras de águas mornas e salgadas,
Era tanto o sentir, me sufocava a amargura de te ter feito sofrer tanto,
Às vezes se faz coisas sem razão, porque sou sempre levada pela emoção,
Nem tudo que sai de mim é bom, pois não conheço as artimanhas desse novo companheiro, o amor, fico enlouquecida, e sem razão, só há a emoção,
Quero você para todo o sempre, in finito, in perpetum,
Não consigo admitir você longe de mim, e quando do punhal eu faço uso,
Esqueço-me que ele tem dois gumes, e a ferida mais profunda, acaba sendo em mim,
Muito sem querer, fiquei tão frágil frente a você, sou rosa em ventania, um ninho em tempestade, um cristal em beira de mesa, não pedi pra ser assim, foi assim que me deixou o efeito deste amor, tão sua, tão frágil, tão carente, tão perene, insegura,
Também tem o lado bom, fiquei mais forte frente às intemperanças da vida,
Ganhei mais força de luta, estou mais feroz em minhas conquistas, mas frente a ti,
Sou passarinho caído do ninho, criança de colo sozinha, sou tão frágil e necessitada,
Mas creio em ti, em sua proteção, seu amor é tudo que quero e nada mais, o resto é conseqüência, temos tanto que aprender um com o outro, e viva as desigualdades, te amo mais por elas, que poder é esse que tem sobre mim, que me faz sentir tanto, tudo que esta em torno de mim, me sinto mais viva como se tivesse duas vidas pela frente e a certeza do tempo, acredito tanto em você, creio em nós, e brigo por isso, pois longe de ti, sou leoa, sou astuta e engenhosa, calculo bem meus atos, sou a total tranqüilidade em ação confiante, mas perto, sou só eu, frágil, pequena, louca por seus cuidados, e nestes momentos, sou só sua, sou sua menina, sua flor, sua gatinha, seu passarinho caído, sou o melhor de mim, sou sua pequena, sou seu amor.

Foto de Boemio

A culpa é de quem?

O menino tem uma arma na mão
E se encaminha pra frente do portão,
Cada passo seu o aproxima mais e mais
Da tragédia iminente,
Na sala conversa um rapaz
Com olhar intransigente,
Ria, se divertia com aquela situação
E não percebia o perigo, a arma está carregada,
De repente ouve-se um estridente grito
Que emudece todos ao seu redor,
O rapaz cai morto com um suspiro
Preso na garanta cheia de sangue e de suor,
O menino sai tranqüilamente como se não tivesse acontecido
Como se ele não tivesse dado seu primeiro tiro,
Os colegas de turma saem correndo
Em meio ao assassino horrendo
Que sorria feliz, aliviado
Por ter finalmente saciado
A sede do diabo,
Todos estavam com medo mas o que ninguém sabia
Que o pobre rapaz que estava morto
Dias atrás tinha batido no menino que jurou por sua vida
Que ia se vingar por aquele estorvo.
Quem teve a culpa?
Quem atirou ou quem deu a arma?
Quem provocou ou quem soltou a bala?
O pequeno menininho foi pra casa sozinho,
Sua mãe lhe deu carinho e proteção
A policia bateu a porta e disse:
_ “seu filho matou rapaz rico!”
E quisera o levar mas sua corajosa mãe o protegeu,
Então a policia matou os dois pra se defender
Quem tem razão?
A culpa é de quem?

Foto de joycededé

Meu pedido....Deus!!!!

Meu Deus, eu lhe peço ajuda... Ouça meu pedido... me ouça...
Hoje, aqui, me encontro assim... Perdida, precisando de uma força... sua...
Ter forças para essa batalha que parece não acabar...
Impossível de superar...
Peço sua ajuda... Ouça meu pedido... me ouça...
Batalha difícil... Amor quase impossível...
Esse amor me consome... A cada dia que passa...
Preciso da sua presença... Parece um vicio...
Que esta difícil de largar... Superar...
Peço-lhe ajuda... Ouça meu pedido... me ouça...
Peço a ti que se for para esse amor estar comigo... Que assim seja...
Mais se não for para ser assim... Livra-me dessa dor...
Alivia em meu peito... Faça com que eu encontre alguém...
Gostaria tanto que fosse com ele... Minha vida... os meus dias...
Sempre fosse com ele...
Do meu lado... Sempre... sempre foi assim...
Ajuda-me... Ouça meu pedido... me ouça...
Ilumina a mente dele...
Liberta seu coração...
Livro-o dos problemas...
Mostre-lhe soluções...
Liberte-o... Liberte-o...
Livra-o de seus problemas...
Mostre-lhe soluções...
Proteja-o... Pro favor...
Eu o AMO tanto...
Peço proteção... Para o senhor...
Proteja-nos...
Ilumine-nos...
Ajude-nos...
Me ouça... nos ouça...
Que assim seja...
Deus!!!!!!!!!!!

Foto de Lou Poulit

Trovão e o Sabiá Sereno

Aos Leitores e Amigos.

Antes de qualquer palavra, quero dizer que será um prazer partilhar com vocês os meus textos e que sou grato ao Poemas de Amor pela confiança que em mim depositaram.

Há alguns anos venho escrevendo contos. Mas vinha fazendo isso como quem armazena sementes, ou seja, sem permitir que elas brotassem antes da hora. Quando esse Site me ofereceu o blog, quis crer que não mais se justificava guardá-los só para mim. Até porque, talvez a partir de agora eu possa ter percepção de como eles tocarão outras subjetividades, diferentes da minha. Alguns serão postados tal como foram criados, enquanto que outros serão adaptados para que se tornem mais congruentes com os objetivos do Site, que não eram prioritários para a formação original da identidade do escritor.

Espero que gostem já desse primeiro conto, pelo menos tanto quanto eu. Mas como não vejo no conjunto deles, ainda, uma maturidade completa, antecipo que conhecer o que despertam nos leitores será motivo de gratidão da minha parte.

Abraços a todos e, desde já, muito obrigado pela gentil acolhida.

LOU POULIT
______________________________________________________________

Sentada sob alpendre da mansão colonial, sua fortaleza de toda a vida, Sinhá havia se perdido em seus pensamentos. O dia havia se despedido há pouco, na apoteose fugaz de um céu prestante de cores e texturas, que de tudo o que pode tentou fazer para merecer a atenção da moça. Nem a sinfonia da passarada fez efeito. Tudo em vão, restaram as estrelas que nem sequer se aventuravam. A passarada se calou para dar a vez aos grilos, sapos e outros barulhentos notívagos. Sinhá revirava mecanicamente os fartos rendados da saia à sua volta, pois de fato não estava ali.

Então, passos arrastados vindos de dentro precipitaram-na do etéreo, de volta ao corpinho magoado pela posição pouco cômoda. De tão surpresa e assustada, não teve coragem de se virar. E esperou apenas, como seu sangue esperava dentro das veias. Aos poucos uma luz tênue, mas capaz de expulsar soberanamente a escuridão, se aproximou. Depois mais um pouco. A moça temeu que se aproximasse ainda mais e explodiu em gritos nervosos: Saia já daqui! O que quer de mim, demônio? Eu não lhe chamei aqui!

A pouca distância um caboclo mulato de aspecto impressionante, pele muito morena e os olhos claríssimos de uma onça enterrados no rosto embrutecido, como pequenas gemas raras no emboço úmido da terra adubada pelos séculos. O velho Sereno segurava a candeia, tentando compreender, tão próxima, a moça que à distância vira crescer, como flor única naquelas glebas. Durante parcos segundos, Sinhá não conseguiu balbuciar uma palavra. Tentava decifrar como aquela figura estranha havia invadido seu silêncio, que significado poderia ter dentro dele e se seria perigoso para as coisas ricas que guardava em segredo. Porém, achando que o silêncio era ainda mais insuportável, a moça voltou à carga: Quem lhe deu o direito de estar aqui? Ele tentou explicar: Vim só alumiá o negrume da noite pra vosmicê, Sinhazinha... Carecia de se assustá não... Não tenho medo de nada, ela empinou a própria fragilidade. Como poderia temer um empregado dentro da casa do senhor meu pai? Ademais, estava aqui com meus pensamentos...

O homem olhava com segurança os olhos escorridos de lágrimas da moça, cheios de brilhos amarelados pela chama da candeia. Sentia pena dela, mas sabia pelas décadas de convívio que não se devia manifestar piedade para com os senhores. Sereno sabe que está triste, Sinhá. Ma num pode fazê nada não, disse ele abaixando os olhos. Mas como pode saber disso? Não lhe dou esse direito. De onde você saiu?... Ainda com os olhos baixos, ele respondeu: Sempre estive aqui, Sinhazinha. Vim pra essas terras do senhor seu pai na barriga da minha mãe, que se foi embora amarrada naquele pé-de-jurema-branca, bem ali na direção onde a lua vai nascer já. Eu era desse tamaninho, cabia no cesto onde o alazão comia o seu mio. Naquele tempo o capataz era um homenzinho muito do ruim... Ela só queria alimentar a sua cria...

A moça se refez da letargia quando o ouviu falar no alazão, tornando a gritar: Não me fale do meu alazão. Eu amava o Trovão como se fosse uma pessoa! Ninguém montava nele além de mim! E acabaram de trazê-lo num arrasto de pau-de-mangue... Ele estava morto! E eu vou matar quem fez isso com ele... E a chorar convulsivamente ela recostou-se no portal, até sentar-se de novo no degrau do alpendre. Sereno continuou calado, imóvel, com os olhos cravados nas lages do chão. Como se sua alma cansada procurasse uma brecha para um imenso arrependimento.

Tentando descobrir em seu próprio silêncio o que deveria fazer naquela situação triste e constrangedora, o velho caboclo foi lentamente até a arandela pendurar a candeia. Não sabia o que fazer a mais. Durante quase vinte anos quisera ajudá-la em muitas situações de perigo, mas sempre chegava alguém antes. Sereno trabalhara sempre na plantação, às vezes tratando dos cavalos doentes e outras como mateiro. Amava a menina, antecipava os riscos que ela corria, mas haviam outros mais próximos dela. E agora o mesmo sentimento de proteção lhe parecia palpável de tão denso. E ironicamente, embora estivessem ali apenas os dois, simplesmente não sabia o que fazer.

Passados alguns poucos e imensos minutos, a moça quebrou o silêncio, mais calma, porém sem perder a altivez da voz: Como se chama? Sereno, Sinhazinha - disse ele. E porque está aqui, nunca lhe vi dentro de casa?... O velho empurrou a aba do chapéu para trás e coçou a calva rala e branca, como sempre fazia quando se sentia inseguro. Demorou um pouquinho mas respondeu: Eu vim de pés lá de trás da serra dos pastos... O senhor seu pai mandou que me alimentasse e ficasse por aqui até amanhecer. Ela insistiu: Mas por que veio de pés? Ah, Sinhazinha, parei no meio da mata para ouvir o sabiá-da-mata, tava cantando bem em cima de mim. Desde menino adoro os sabiás, num gaio da mangueira, por cima da minha palhoça tem um que fez ninho agora. Quando passo o café da tarde ele tá arrebentando os peitos, de tanto chamá uma fêmea pro seu ninho novinho e arrumadinho. Mas me distraí, meu cavalo assustou-se com a onça e saiu desembestado, nem sei pra onde. Mas vou lá buscar, pro seu pai meu senhor num ficá num prejuízo maió. Não é um bicho caro, é até meio capenga... Mas é um bom companheiro, num sabe? Vendo a perplexidade dela, ele perguntou: Que foi Sinhá, com essa boca aberta, quem nem peixe morto? A moça sussurrou: Onça?... Que onça é essa, Sereno?

O velho respirou profundamente. Não haveria mais de esconder. Ela que soubesse a verdade e que fizesse o que achasse justo. Disse a ela com segurança: a mesma que pegou o Trovão... Aquele sangue todo foi porque quando cheguei ela já tinha garrado no pescoço dele – disse caboclo limpando instintivamente as mãos grosseiras nas calças. A moça mostrou-se inconformada: E você não fez nada para ajudar o coitado? Não tinha uma arma, Sereno? Sinhazinha, ele caiu por cima da bicha, esperneava como um porco endemoninhado... Endemoninhado é você, miserável! Ele era o alazão mais valente que conheci... Só que havia uma onça mordendo o seu pescoço... E um homem medroso e inútil assistindo a sua morte desesperada! Que queria que o Trovão fizesse?... Sereno, se calou constrangido. E ela quis saber mais: E depois, Sereno?... Sinhazinha, num é nada fácil chegar perto de dois bichos grandes e raivosos... E eu só tinha mesmo o meu facão de mato e não queria ferir ainda mais o Trovão. Sim, mas o que você fez? – ela implacável. Eu nada, Sinhazinha, a onça é que resolveu desaparecer. Onça é um bicho covarde. Só pega pelas costas, sangra e espera morrer. Mas se sentindo insegura ela larga e fica de longe só espiando. Esperando a hora de comer sossegada. E o outro, que também é bicho, sabe que vai morrer e que ela vai vir lhe rasgar as tripas. É só uma questão de tempo... O mundo dos bichos é assim mesmo, Sinhá. Ninguém muda não. Vosmicê ta triste e eu também... Mas o Trovão tá não... Só tá esperando os primeiros lampejos do dia, pra correr por essas terras sem fim, pelos campos e pelas matas fechadas, num tem mais nada que lhe impeça... Vai conhecer todos os lugares onde nunca tinha ido, vai beber água do rio grande e vai saltar nas ondas da praia... Enquanto isso nós vai fica aqui chorando de tristeza, porque num pensa que ele ta livre como nunca foi... É que como nós só sente o sentimento da gente, só pensa com a cabeça da gente, então acha que o trovão ta sentindo e pensando a mesma coisa, Sinhazinha... Não tenha raiva não... Que ele não pode aparecer pra vosmicê e lhe contá como que é lá donde ele vem, ele vai ficar triste por causa da sua tristeza...

A moça se esforçava para aceitar aquela sabedoria estranha, que quase desdenhava os seus mais puros sentimentos, todas as coisas que aprendera a sentir. Mas, embora não tivesse coragem de dizê-lo, até que gostava muito de imaginar seu querido Trovão suando da correria que tanto amava, brilhando ao sol e ao luar. Ele amava o vazio dos espaços, os obstáculos que vencia, amava o vento revirando as suas crinas, enchendo-lhe os pulmões no peito enorme e musculoso, e depois expirava com força fazendo seu próprio vento, era quase um deus da natureza... Ah, como ele gostava disso... – dizia a si mesma. Alagada da própria ternura, disse então ao velho: Ele lutou até o último instante não foi, Sereno?

Ele era valente demais, eu o conhecia desde que era um potrinho muito abusado... Sou lhe muito grata, quero que fique, se alimente bem e descanse bastante. E depois vá buscar o pangaré, antes que essa onça o coma, já que não comeu o Trovão, pois que os homens foram buscá-lo antes disso... Sereno sentia-se mais à vontade agora, já sentado também no degrau de baixo. E completou: Vou Sinhazinha, antes de clariá vou atrás dele. E ai dela que se meta... Faça isso por mim, Sereno – ela pediu com raiva.

Não posso prometer, Sinhazinha... Não Sereno, não se arrisque, leve uma arma... E se ela lhe pegar pelo pescoço, como fez com o Trovão?... Vosmicê num fique triste não, Sinhá... Também sou meio bicho, já fiz muita coisa nesse mundo de meu Deus... Já matei oito onças, seu pai meu senhor pode lhe dizer... Uma delas ia morder era o pescoço dele... É que de uns anos pra cá elas estavam sumidas, que os cachorros farejam a catinga delas de longe... Gato tem raiva de cachorro e vice-versa, num sabe?

Eu prometo, Sereno. Vou contar para os meus netinhos essa estória. E vou me lembrar de dizer que você foi um herói, que não pode salvar o Trovão, mas veio de pés buscar homens, para que ele tivesse um enterro digno. Meus netinhos vão aprender a odiar todas as onças, porque essa matou o Trovão... Mas eis que tais palavras indignaram o velho filho-do-mato, e ele quis ser exato: Não, Sinhazinha... Isso não é certo, não é verdade não... Como, Sereno? Se ela não matou o meu alazão, então quem foi?... Fui eu mesmo, Sinhazinha... A moça de um pinote ficou de pé, com o dedo em riste, enfurecida lhe disse: Seu traidor! Vá embora, suma daqui! Nunca mais quero ver sua cara! Não vou lhe perdoar jamais! Vai... Antes que eu grite por alguém para lhe surrar no pé-de-jurema, desgraçado!

Naufragados novamente em profunda tristeza, ambos se foram. Ela para chorar na cama e ele no mato. Mas nenhum dos dois conseguiu dormir. A moça rolou na cama, sobre o lençol úmido das suas lágrimas, até que lhe viessem chamar para o almoço. Não foi. À tarde, na hora da refeição também não quis sair do quarto, deixando a todos apavorados. Seu pai começou a preocupar-se, vendo que as mucamas não paravam de cochichar pelos cantos. Resolveu-se a sacudi-la. Entrou no quarto como um furacão para intimidá-la e foi querendo saber o porque daquele drama. Sabia o porque, também sentia muito pelo alazão, sabia o valor que tinha, mas não queria perder também a filha. Sinhá estava desolada e não apenas pelo seu Trovão. As horas lentas da madrugada lhe convenceram de que havia sido injusta com o Sereno. Estava agora claro que quisera apenas poupar o animal de mais sofrimento. Não podia carregá-lo nas costas e com certeza não quis que o alazão assistisse a desgraçada da onça comer-lhe as carnes ainda vivas. Ela estava soterrada de remorso e com muito jeito fez o velho concordar em mandar buscá-lo. Assim também concordou em levantar-se para se banhar e voltar à vida normalmente.

Alguns dias depois estava novamente sentada no alpendre, mas dessa vez assistiu a obra da natureza que se comprazia em dispor da sua atenção. O dia terminou. Escureceu por completo. Ela se lembrou da noite em que se assustou com Sereno. Dessa vez queria imensamente que ele lhe trouxesse a candeia. Havia preparado algumas palavras para lhe pedir que perdoasse a grosseria. Ninguém lhe dissera uma palavra durante esses dias, tinha a impressão cada vez mais densa de que não lhe queriam falar a respeito. Uma luz veio de dentro, mas pelo andar sem botas não poderia ser Sereno. Era uma mucama, que foi dispensada. Sinhá só queria a luz do velho caboclo, como naquela noite. Agora queria gostar dele, da sua sabedoria e da sua paz. A lua começou a aflorar, derramando seu prateado pelas colinas que pareciam abraçar em segurança a mansão. De repente, algo mexia nas folhas do pé-de-jurema-branca, que pareciam lhe acenar variando o reflexo do luar. Então, para sua imensa surpresa ouviu com nitidez o canto mavioso de um sabiá... Mas como? Sabiá cantando há essa hora? Não pode ser... Não queria aceitar o que seu próprio silêncio lhe dizia, lutava contra com todas as suas forças... Então ouviu de novo, logo ouviu outra vez e de novo tornou a ouvir... As defesas que havia erguido em si própria foram ruindo a cada canto, como se fossem rojões de poderosos canhões. Até que não pode mais sustentar a certeza que preferia. O sabiá só podia estar feliz. Tão feliz que nem se importava com a noite, não queria esperar o amanhecer! Se quisesse vê-lo sempre feliz, devia afastar a tristeza. Libertá-lo do próprio peito para que fosse completamente livre, para que cantasse onde quisesse e quando quisesse. Seu canto não era triste como o de outros, mas vigoroso e doce como o de uma flauta da natureza. A mucama voltou com um semblante pávido, mas quedou-se quando à luz da candeia viu que o de sua Sinhazinha sorria para a lua, já em seu esplendor. A mucama lhe disse: Sinhazinha, o seu pai mandou meu irmão e me primo buscar o Sereno... Mas eles não querem falar, estão com medo. Medo de que? Diga logo... Não fica brava comigo não Sinhazinha... Fala de uma vez, mulher... É que a onça pegou o Sereno também, Sinhazinha...

Completamente perplexa, a mucama ouviu a Sinhá lhe dizer com doçura: Não fique assim tão triste. Há essa hora ele deve estar bem assobiando por aí... Por onde, Sinhazinha?... Pela natureza, pelo céu, pelo rio grande, ou se lavando nas ondas do mar... A pobre mucama não conseguia atinar com aquelas palavras surpreendentes e Sinhá completou: Anda, pode deixar a candeia na arandela e vá pra dentro. Se precisar eu lhe chamo, agora vá. Quando mais tarde seu pai veio lhe buscar para dentro, aliviado pelas falas da mucama, encontrou-a bem disposta, quase feliz para aquelas circunstâncias. Sinhá aproveitara o tempo para fazer uma prece emocionada, repleta de gratidão e amizade, pela alma do velho Sereno. Durante toda vida estivera bem ali e nem o havia notado. Mas havia sido de grande valia justo no momento que mais precisou. Se estava feliz a ponto de assobiar no galho do pé-de-jurema àquelas horas, então deviam estar todos felizes: O Sereno, sua pobre mãe e também o Trovão. Não, não queria mais pensar em tristezas. Foi quando seu orgulhoso pai, sentindo necessidade de participar daquele momento lhe disse: Deixe estar, querida... Aquela maldita onça não irá longe... Eu me encarregarei disso pessoalmente.

Lou Poulit
Direitos Exclusivos do Autor

Foto de jes

Agradecimento

Agradeço a Deus
pelo brilho dos seus olhos
pela vida ao teu lado
pelo recomeço
pela espera recompensada

Agradeço teus esforços
para fazer-me feliz
fazer-me sorrir
fazer-me sentir

Agradeço pelo amor
pela amizade
pelo crescimento
pelo aprendizado

Agradeço teus carinhos
sua ternura
sua paz compartilhada
sua compreensão

Agradeço as batidas do seu coração descompassado
soando de encontro ao meu
pelas palavras de estímulo
pelo encorajamento

Agradeço pela paciência
pelo respeito
pela confiança
por dedicar seu tempo a mim e aos meus

Agradeço por dar seu coração
pelo carinho e proteção

Agradeço, por que o que mais se quer nesta vida
é exatamente tudo o que você
me proporciona.

Páginas

Subscrever Proteção

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma