Poemas

Foto de joão jacinto

Conteúdos de amar

Procurei no tempo,
a vontade para amar-me.
Nunca encontrei horas,
nem dias disponíveis.
Vivo multiplicado
de insatisfação,
cedendo à exigência,
de quem frustrado,
ama a minha obediência,
o meu perturbado silêncio
e castigo o impulso do não.
Viciado no prazer dos outros,
sou o enforcado,
estrangulado de anulação...
Ou o ramo da virtude,
que se quebra
com a obesa dor
e caia a liberdade
de quem me queira bem,
de quem me oriente,
no caminho não periférico,
do meu amor.

Não há formas de ser,
mas conteúdos de amar.

Foto de joão jacinto

Não saber ser de mim

Procuro matar as saudades,
sem descanso que viva.
Não sei preencher-me
do vazio que de ti sobrou.
Varro da memória o longe,
o querer não entender
o não saber ser de mim,
no sonho que enriqueceu de nós.
Acho na ilusão,
o esconderijo para o sofrimento
e tardam as palavras...
Continuo preso na esquina do só,
ouço as passadas do teu caminho
e percorro entristecido
o labirinto construído de medos,
sem abrir as janelas ao sossego.
Julgo a pretensão da culpa
do desejo de partilha,
em detrimento
do teu defensivo orgulho.

Aguardo que me descubras,
sem olhar o movimento do relógio.

Foto de joão jacinto

Chuva

Dia de chuva,
alma triste e molhada,
são rios de rua,
cúpula de mágoa rasgada.
O Sol trocou-se de núvem,
tão cedo entardeceu,
são cheias de ninguém,
enxurradas do eu.
Trovoadas de espanto,
vendavais do meu degredo,
na tempestade desse meu canto
soam os trovões do medo.
Sonhos ansiosos de bonança,
em arrepios de solidão,
acendalham-se de esperança,
lareiras de multidão.
De arco-íris se alterou
o confuso azul do céu,
a vida depressa enxurrou
e o meu dilúvio morreu.

Foto de joão jacinto

Retalho de gente

Sinto-me retalho de gente,
objecto desvalorizado,
chuva batida a vento,
tecto sem telhado,
palavra não dita,
forno que não esquenta,
voz que não grita,
boato que se inventa,
gota no charco,
árvore já morta,
violino sem arco,
quinta sem horta,
pele mal amada,
espectáculo sem artísta,
qualidade não controlada,
palhaço malabarista,
tv a preto e branco,
relógio sem ponteiros,
pirata manco,
tiros não certeiros,
corno manso,
intriga mal parida,
mudo ganso,
sapato de alma partida,
cadelabro sem velas,
dia, de noite apagado,
ombreiras sem janelas,
nevoeiro cerrado,
bosta de besta,
cão rafeiro,
verga entrelaçada de cesta,
pantomineiro,
mosca sem asas,
copo sem bebida,
rua sem casas,
beco sem saída.

Foto de joão jacinto

Presente

Vendes-te ao desafio,
dos teus instintos
e vazios desejos,
como se nada,
de mais possante
e sublime
existisse em ti.
Tens medo
das verdades
da face interior,
da tua "persona".
Optas,
por viver
resguardado,
na sombra
e numa trama
de silêncios
e pausas...
Finges a perfeição,
quando se deve ser
humano.
O caminho
é desbravado
em cada passada,
na tranquilidade
de cada momento,
erecto,
atento.
Por vezes,
deixa-se para trás,
demasiado rápido,
o presente,
sem questionar,
a sua preciosa riqueza.

Foto de joão jacinto

Fuga

Foste um rio correndo,
pelo vale dos meus sentidos,
tocando e preenchendo
as minhas margens,
arrastando na corrente,
as minhas mágoas,
onde matava a minha sede,
no leito maior da tua essência.
Rodeado pelo horizonte
da tua forma,
sentia a brisa quente,
de quem expira com ternura,
sopro que deslizava na minha pele,
num deleitavel e breve encontro.

Eras o Sol do meio-dia,
brilhando por cima da minha vida.

Não sei porque fugi,
procurando na sombra a protecção,
refugiando-me alucinado,
no crepúsculo da tarde,
esquecido e perdido de ti.
Acabei por morrer,
na noite mais longa de escuridão,
porque nunca mais voltou
a ser dia dentro de mim.

Foto de joão jacinto

Cicatrizes

Vejo a face marcada e dura da tua dor,
ouço os uivos repetitivos da tua raiva,
sinto o desespero amargo dos teus sentidos
e dói-me o negro acutilante das verdades,
que carregas como culpas,
dos valores calcinados,
corrompidos de eternos ódios e rancores.
Presa fácil de ingenuidade,
das desconfianças e credos,
fechada no labirinto das paredes,
cobertas de antigo e de medos,
numa teia emaranhada de incompreensão,
cimentada de fraquezas e vícios,
na recusa de rasgar uma fresta
e de contemplar-se em admiração,
desnudada de complexos e mitos,
na corrente de mãos dadas com o mundo.
Destruído pelo conflito de ser vencido,
apaixonado, sem amor,
temendo receber o que não sabe oferendar.
Moribundo no vazio do sossego,
em prolongados silêncios,
exercitando o conformismo da solidão,
em sofrimento preocupado.
Mensageiro na riqueza
alucinada dos vocábulos,
do desentendimento confuso e perplexo
dos indecifráveis códigos,
da simbologia da existência.
Dói-me o paradoxo do belo e da tristeza,
do propotente e da vítima,
de ter de sofrer contigo, ser-me cruel.
A minha superficialidade é fuga
ao pesadelo do realismo ofensivo,
que me circunda e me hostiliza.
A consciência do tempo
e da verdade dos instintos,
é a grande cruz que nos pesa na alma,
o pecado da sobrevivência.
Arquitectamos esquemas defensivos
às nossas inseguranças
e retroactivos à criatividade frustrada dos sonhos.

Se pretendo magoar-te,
sou eu que fico ferido.

Dói-me ver-te com tantas cicatrizes.

Foto de joão jacinto

Resplandescente

Hoje, foste a alvorada
mais resplandescente,
que despertou
os meus sentidos.
A tranquilidade,
que animou
em vontade,
a minha a alma,
já apagada,
de tantas derrotas
e desilusões.
Estou orgulhoso de ti.
Gosto tanto do teu sorriso,
aberto para o mundo e feliz,
agarrando vida,
na riqueza da expressão.
És ainda mais bonito,
um arco-íris que sobressai,
do meu enublado cinzento,
em feixe de ternurenta paixão.

Foto de joão jacinto

Pausa

Esta é uma pausa triste.
É um silêncio, que incomoda,
a qualquer momento.
É o desepero,
pela imaturidade
da compreensão.
É o não conter o impulso
da racionalidade.
É uma morte,
indesejada.
É o continuar
a amar-te e a sofrer,
mesmo sem nada.
É uma noite,
escura de tudo,
em profunda solidão,
na saudade
de ser dia, ontem.

Tenho tanta pena de nós.

Foto de joão jacinto

Verdejante jardim

No meu verdejante jardim,
descuidadamente abandonado,
crescem em desordem entrelaçados,
arbustos de urze, alfazema e alecrim.
Gladíolos e jarros esmagados,
sob a grandeza de patas de veado,
envolvidos com rebentos de jasmim.
Ervas daninas viçosas de orvalho,
manto de azedas, amarelo limão,
desenho sombreado de um carvalho,
projectado, em movimento lento, no chão.
Buchos não aparados cercam a hortelã,
trinco a maçã caída da fortalecida macieira,
debaixo dela, durmo em silêncio, a tarde inteira,
eternizando o sono quebrado, pelo romper da manhã.

Acácias, orquídeas, manjericão,
por borboletas constantemente beijadas,
sardineiras em vermelho misturadas,
com rosas virgens, ainda em botão,
desfolhadas por barulhento escarevelho,
que procura sobreviver à sua solidão.
Cardos de tristeza envelhecidos,
trevos de quatro folhas perdidos,
entre rastejantes craveiro e chorão.

De pétalas abertas, sorridentes,
brilhando a céu aberto, em cor garrida,
desnudada, aprumada, de corpo inteiro,
ornamentada de beleza de margarida.

Folhas rasgaram-me o caule e abraçaram-me,
impregnando-me a alma de doce cheiro,
preso à terra pela raíz da sua raça,
senti-me estame e em graça,
pelo sabor do seu atractivo e sensual gineceu.
Fecundamo-nos mutuamente,
para parir o fruto da sabedoria consciente,
que dentro do nosso ventre em união cresceu.

Senti a cor do verde, o azul do céu,
o odor da terra e dos medos,
senti a vida, medi o tempo, olhei para o fim,
perdido no caminho que estava traçado dentro de mim.
Dancei aos ventos, bebi da chuva, tremi de frio,
sofri de amor, sangrei de dor, guardei segredos...

No meu jardim pouco cuidado, de natura bravia,
germinaram poucas, mas fecundas margaridas.
Nunca murcharam.

Tenho dentro de mim várias vidas.

O buquê das minhas vidas
é composto por tinta e quatro margaridas.

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