Cães

Foto de Marilene Anacleto

Saudade

Cães ladram ao longe,
Quero-queros assustados,
Coruja a voar aos pios.

Nada meu peito preenche,
Está a saudade implantada.
Quer vencer-me em desafio.

Fecho lentamente os olhos,
Estico-me janela afora,
Encontro-te à beira-rio.

A lua mais se levanta,
Clarão, em cântaros, jorra,
Vejo-te. Olhar no olhar. Sorrio.

Foto de Melquizedeque

Poetiza

Certa lembrança rasgou dentro de mim os meus diários indeléveis
Vi nas ruas o reflexo de cães melancólicos que vagavam em infinita jornada
Fui banhado por ondas catastróficas de águas salgadas, ao sentar na sarjeta de sua rua
Lembrei de tempos passados em que me recolhia no calor de seus seios
E um bilhete rabiscado recebi de um mensageiro indecifrável

Olhei o papel envelhecido pelo tempo, e sua letra ali estava quase recém escrita
A dor da morte em meu peito apertava e aquela lembrança me remoia
Pensar no tempo em que te amava, mesmo um amor não consumado
Refazia minhas fábulas e cada personagem que eu vivia
Sempre herói tu me fizeste ainda que tão fraco e impotente

Aquela manhã jamais esquecerei... Quando acordei com imensuráveis sentimentos
Não havia forma alguma que minha mente entendesse, mas fui tomado de energia
Corri enlouquecido sem saber o rumo que tomara, não parei em nenhuma esquina
Não sei dizer se cheguei dormindo ou acordado, mas vi você na calçada caída
Na frente de sua casa uma multidão lhe rodeava. Fui banido de ver o que ali ocorrera

Eu sabia muito bem do que se tratava. Percebi que seu respirar eu já não mais sentia
Sua ida foi acompanhada de um crepúsculo fulgurante. Minha poetiza havia partido
Sem haver despedida, nem último beijo foi-se para o reduto onde nascem as palavras
Talvez um dia eu me torne eterno como tu, ou eu seja enterrado no olhar daqueles cães
O escuro hoje é meu aposento que resguardo meu lamento junto com a melancolia.

(Melquizedeque de M. Alemão, 26 de maio de 2011)

Foto de Marilene Anacleto

Renascer

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Gaivotas bicam pequenos peixes.
Cães perdidos, lindos, farejam restos
De peixes extintos,
Antes do nascer do sol.

Nuvens incandescidas refletem
Ondas ao longe,
Enquanto as rendas esparsas,
Iluminadas,
Massageiam meus tornozelos.

Pés descalços,
De areia e águas banhados,
Outrora de unhas pintadas,
Hoje respiram aliviados.

Surgem pequenos barcos,
Seguidos por bandos, em alarido,
Enquanto, em terra,
Homens puxam redes,
Carregadas de peixes.

Nuvens espessas fazem chuvisco,
E trazem imenso arco-íris.
Presente dos céus
Deleita minha alma
Vivifica o dia que recebe o sol.

É outono,
Outono ainda quente
Que incomoda,
Mas também alegra muita gente.

Marilene Anacleto

Foto de Allan Sobral

Saberás que...

As vezes o tarde da noite,se mistura com o cansaço do meio do dia, e repousa sobre meu ser a tristeza, as duvidas e incertezas.
Tantos porquês e tantos serás vagueiam minha mente, como cães solitários em busca de sobrevivência. Minha mente rapidamente percorre universos ocultos, em busca de respostas para explicar o que seria deste nobre vagabundo sem sua Flor, pois sei que seu incenso é o ar que respiro, sei que seus braços são como cordas que me entrelaçam e embaraçam, sei também que sua voz em meu ouvido, é como o solo do flautista viajante.
As vezes me pergunto se sem ti viverei, mas só você me faz alcançar o céu, beijar as estrelas, dançar alegria, só você conseguiu esculpir no meu rosto triste um sorriso.
Nossas melodias talvez se desafinem, talvez seus espinhos me farão sangrar, talvez minha espada te machuque, pois sou o lobo solitario que amou uma rosa. E rosas são belas, mas porem machucam.
Gostaria, de que independente das ocorrências da vida, que você lembre todos os dias de sua eterna vida em meu coração que, você é minha Flor, sem seu perfume, não vivo.

Allan Sobral

Foto de Runa

7º Concurso Literário - Ubiquidade

Podias ter vindo hoje,
como quem chega de longe,
rompendo o silêncio da manhã
num voo de velas desfraldadas
ou num canto súbito de rouxinol
anunciando a primavera.

Podias não ter vindo hoje,
perdida numa maré de nevoeiro,
sem encontrar o caminho,
deixando-me preso à margem deserta
de um rio de águas estagnadas
como um barco sem rumo.

Podias ou não ter vindo hoje,
encher meu dia de luz ou sombra,
que não impedirias a noite de cair
nem o vento de bater nas janelas
ou que os cães latissem à lua
incapazes de compreender o futuro.

O que te queria mesmo dizer,
tivesses ou não ter vindo hoje,
é que sempre estarás dentro de mim,
mesmo nos dias em que nunca vens.

Foto de niny

vida simples

"sabe nunca acreditei em príncipes(as) encantados(as) ou na pessoa perfeita, porém sempre desejei encontrar alguém simples, humilde mas com uma alma grandiosa e um coração nobre, alguém q como eu amasse a natureza naum pelo q ela nos da mas sim pelo q ela é, q ao ver um rio naum pensasse soh em diversão mas sim q fechasse os olhos por um momento e escutasse seu lindo som...alguém q naum se irritasse com canto dos pássaros, ao ronronar dos gatos, o latido dos cães...alguém que almejasse ter apenas o básico para viver e mesmo podendo naum se rendesse aos luxos materiais dessa vida, pois td aqui é passageiro, de que vale uma mansão enorme e sombria, cheia de moveis de primeira linha, cristais etc, se dentro dela estiverem habitando pessoas tão frias como suas paredes? Naum seria melhor uma casinha linda bem pequenina de madeira, com dois corações cheios de amor e carinho, q juntos podem esquentar as noites mais frias e encher de alegria cada momento?

enfim pensei q para encontrar tal pessoa teria q nascer de novo e d novo, porém de repente, em um certo dia conheço alguém por acaso e de uma forma diferente, em poucos minutos parece q estou conversando com uma parte de mim q por tempos ficou guardada e agora aflora assim do nada...parece ler meus pensamentos escreve o q eu gostaria de ler e consegue passar p mim o q eu gostaria de passar p ele...enfim essa pessoa é vc, sinto por vc algo inexplicável pois nem ao menos nos vemos, confiamos apenas no q tc um ao outro e msgs, porem acredito em tudo q me disse e se dessa vez eu estiver enganada(o) com toda a experiência q tenho naum vou mais acreditar em ninguém, pois seria perfeito d+ para ser mentira, vc naum é mentira vc é verdade é td q um dia eu sempre quis....

Foto de Arnault L. D.

Lua escura

Volta à esta noite escura,
dá-me tua luz e brancura
Lua, da tua pele clara,
a caricia mais pura.

Torna a este véu, reflora,
dá fim a esta névoa triste,
que em mim a algum tempo mora.
Desde que partiste...

Volta à esta noite escura,
dura até o nascer da aurora.
Ouça, te suplica e chora
minha lágrima mais dura.

Vem com seu beijo frio
gelar ao sangue que estanca
nestas horas de estio.
a razão vem me arranca!

Se não vens, pois, me leva...
Me tome a sanidade,
leva-me a humanidade,
como um animal da treva.

Leve de mim, me rasgue,
rompe-me, como a nuvem
com o seu brilho, esmague
essa cegueira e vem...

Lua, ouve meu uivo,
longo e negro lamento
junto aos cães sarnentos.
Lua, quero ser teu noivo...

Vamos nos casar na aurora,
antes que o sol desponte
e ao raiar à prima hora
perder-se no horizonte.

E assim, distante:
Fim.

Foto de Paulo Gondim

Des(concerto)

DES(CONCERTO)
Paulo Gondim
27/10/2009

Por quem latem tantos cães
Muitos, todos de uma só vez
Repetem-se num mesmo tom
Cada um chorando sua viuvez?

Por que insones as pessoas tristes
Se perdem em si, na contra mão
Dão mil voltas cegas pela cama
Nunca se encontram na sua solidão?

E esses sons da noite aos poucos mudam
Um grito ao longe rompe a escuridão
Confunde-se no tom desse concerto bronco

Como os cães que aos poucos menos uivam
Outros sons insistem refazer esse refrão
Sem tom, sem harmonia, apenas ronco...

Foto de LuizFalcao

"Temos Fome"

Luiz Antônio de Lemos Falcão 20 de julho de 2009

Quanta dor! Quanto lamento!
“Temos fome!... Temos fome!...”

Assentada às calçadas descalça e quase nuas
Gemem encolhidas com as mãos às barrigas
Crianças que não sorriem, não brincam!
“Temos fome!... Temos fome!...”

Chuva fina e constante sobre elas desce,
Deixando as poucas roupas rotas que vestem
Grudadas em frágeis corpos desnutridos,
Voz fraca e tremulante de frio!
“Temos fome!... Temos fome!...”

Olhos grandes, feixe de ossos, cobertos de pele fria e enrugada!
E a mesma voz arrepiada em continuo gemido insiste...
Não cessa o suplício:
“Temos fome!... Temos fome!...”

Nos quintais vizinhos, cães comem filé!
Crianças nas ruas, comem vento e bebem chuva!
Quanta dor! Quanto lamento!
“Temos fome!... Temos fome!...”

Quadro grotesco de infortúnio!
Quem te pintou? Quem teu autor?
Não retratas um só sorriso
Nesta tua tela tão grande e cruel!

Nas mãos das tuas crianças,
Nem carrinho, nem boneca...
...Uma lata de cola!
Solvente das dores dos modelos de tua arte!

Onde estão as faces rosadas?
As dobras das perninhas?
Os pequenos pés que correm,
Divertidos no brincar?

Onde os escondidos,
Que contam até dez antes de procurar?
Onde está a farta mesa do almoço e a do jantar?
E os pais carinhosos ávidos nos afagos?
Onde está o canto de ninar, o angélico sono?

Quadro grotesco de infortúnio!
Quem te pintou?
Quem teu autor que me faz chorar?

Lágrimas de um sentimento incontinente
Deslizam na face, não dá para controlar!
Tanta dor e tanto lamento,
Nesta “Tela” que a vida faz questão de pintar!
“Tenho fome...Tenho fome”...

Foto de cafezambeze

JOÃO PIRISCA E A BONECA LOIRA (POR GRAZIELA VIEIRA)

ESTE É UM CONTO DA MINHA DILETA AMIGA GRAZIELA VIEIRA, QUE RECEBI COM PEDIDO DE DIVULGAÇÃO. NÃO CONCORRE A NADA. MAS SE QUISEREM DAR UM VOTO NELA, ELA VAI FICAR MUITO CONTENTE.

JOÃO PIRISCA E A BONECA LOIRA

Numa pequena cidade nortenha, o João Pirisca contemplava embevecido uma montra profusamente iluminada, onde estavam expostos muitos dos presentes e brinquedos alusivos à quadra festiva que por todo o Portugal se vivia. Com as mãos enfiadas nos bolsos das calças gastas e rotas, parecia alheio ao frio cortante que se fazia sentir.
Os pequenos flocos de neve, quais borboletas brancas que se amontoavam nas ruas, iam engrossando o gigantesco manto branco que tudo cobria. De vez em quando, tirava rapidamente a mão arroxeada do bolso, sacudindo alguns flocos dos cabelos negros, e com a mesma rapidez, tornava a enfiar a mão no bolso, onde tinha uma pontas de cigarros embrulhadas num pedaço de jornal velho, que tinha apanhado no chão do café da esquina.
Os seus olhitos negros e brilhantes, contemplavam uma pequena boneca de cabelos loiros, olhos azuis e um lindo vestido de princesa. Era a coisa mais linda, que os seus dez anos tinham visto.
Do outro bolso, tirou pela milésima vez as parcas moedas que o Ti‑Xico lhe ia dando, de cada vez que ele o ajudava na distribuição dos jornais. Não precisou de o contar... Demais sabia ele que, ainda faltavam 250$00, para chegar ao preço da almejada boneca: ‑ Rai‑de‑Sorte, balbuciava; quase dois meses a calcorrear as ruas da cidade a distribuir jornais nos intervalos da 'scola, ajuntar todos os tostões, e não consegui dinheiro que chegue p'ra comprar aquela maravilha. Tamén, estes gajos dos brinquedos, julgam q'um home não tem mais que fazer ao dinheiro p'ra dar 750 paus por uma boneca que nem vale 300: Rais‑os‑parta. Aproveitam esta altura p'ra incher os bolsos. 'stá decidido; não compro e pronto.
Contudo não arredava pé, como se a boneca lhe implorasse para a tirar dali, pois que a sua linhagem aristocrática, não se sentia bem, no meio de ursos, lobos e cães de peluxe, bem como comboios, tambores, pistolas e tudo o mais que enchia aquela montra, qual paraíso de sonhos infantis.
Pareceu‑lhe que a boneca estava muito triste: Ao pensar nisso, o João fazia um enorme esforço para reter duas lágrimas que teimavam em desprender‑se dos seus olhitos meigos, para dar lugar a outras.
‑ C'um raio, (disse em voz alta), os homes num choram; quero lá saber da tristeza da boneca. Num assomo de coragem, voltou costas à montra com tal rapidez, que esbarrou num senhor já de idade, que sem ele dar por isso, o observava há algum tempo, indo estatelar‑se no chão. Com a mesma rapidez, levantou‑se e desfazendo‑se em desculpas, ia sacudindo a neve que se introduzia nos buracos da camisola velha, enregelando‑lhe mais ainda o magro corpito.
‑ Olha lá ó miúdo, como te chamas?
‑ João Pirisca, senhor André, porquê?
‑ João Pirisca?... Que nome tão esquisito, mas não interessa, chega‑te aqui para debaixo do meu guarda‑chuva, senão molhas ainda mais a camisola.
‑ Não faz mal senhor André, ela já está habituada ao tempo.
‑ Diz‑me cá: o que é que fazias há tanto tempo parado em frente da montra, querias assaltá‑la?
‑ Eu? Cruzes credo senhor André, se a minha mãe soubesse que uma coisa dessas me passava pela cabeça sequer, punha‑me três dias a pão e água, embora em minha casa, pouco mais haja para comer.
‑ Então!, gostavas de ter algum daqueles brinquedos, é isso?
‑ Bem... lá isso era, mas ainda faltam 250$00 p'ra comprar.
‑ Bom, bom; estás com sorte, tenho aqui uns trocos, que devem chegar para o que queres. E deu‑lhe uma nota novinha de 500$00.
‑ 0 João arregalou muito os olhos agora brilhantes de alegria, e fazendo uma vénia de agradecimento, entrou a correr na loja dos brinquedos. Chegou junto do balcão, pôs‑se em bicos de pés para parecer mais alto, e gritou: ‑ quero aquela boneca que está na montra, e faça um bonito embrulho com um laço cor‑de‑rosa.
‑ ó rapaz!, tanto faz ser dessa cor como de outra qualquer, disse o empregado que o atendia.
‑ ómessa, diz o João indignado; um home paga, é p'ra ser bem atendido.
‑ Não querem lá ve ro fedelho, resmungava o empregado, enquanto procurava a fita da cor exigida.
0 senhor André que espiava de longe ficou bastante admirado com a escolha do João, mas não disse nada.
Depois de pagara boneca, meteu‑a debaixo da camisola de encontro ao peito, que arfava de alegria. Depois, encaminhou‑se para o café.
‑ Quero um maço de cigarros daqueles ali. No fim de ele sair, o dono do café disse entre‑dentes: ‑ Estes miúdos d'agora; no meu tempo não era assim. Este, quase não tem que vestir nem que comer, mas ao apanhar dinheiro, veio logo comprar cigarros. Um freguês replicou:
‑ Também no meu tempo, não se vendiam cigarros a crianças, e você vendeu-lhos sem querer saber de onde vinha o dinheiro.
Indiferente ao diálogo que se travava nas suas costas, o João ia a meter os cigarros no bolso, quando notou o pacote das piriscas que lá tinha posto. Hesitou um pouco, abriu o pedaço do jornal velho, e uma a uma, foi deitando as pontas no caixote do lixo. Quando se voltou, deu novamente de caras com o senhor André que lhe perguntou.
‑ Onde moras João?
‑ Eu moro perto da sua casa senhor. A minha, é uma casa muito pequenina, com duas janelas sem vidros que fica ao fundo da rua.
‑ Então é por isso que sabes o meu nome, já que somos vizinhos, vamos andando que se está a fazer noite.
‑ É verdade senhor e a minha mãe ralha‑me se não chego a horas de rezar o Terço.
Enquanto caminhavam juntos, o senhor André perguntou:
- ó João, satisfazes‑me uma curiosidade?
- Tudo o que quiser senhor.
- Porque te chamas João Pirisca?
- Ah... Isso foi alcunha que os miúdos me puseram, por causa de eu andar sempre a apanhar pontas de cigarros.
‑ A tua mãe sabe que tu fumas?
‑ Mas .... mas .... balbuciava o João corando até a raiz dos cabelos; Os cigarros são para o meu avôzinho que não pode trabalhar e vive com a gente, e como o dinheiro é pouco...
‑ Então quer dizer que a boneca!...
‑ É para a minha irmã que tem cinco anos e nunca teve nenhuma. Aqui há tempos a Ritinha, aquela menina que mora na casa grande perto da sua, que tem muitas luzes e parece um palácio com aquelas 'státuas no jardim grande q'até parece gente a sério, q'eu até tinha medo de me perder lá dentro, sabe?
‑ Mas conta lá João, o que é que se passou com a Ritinha?
‑ Ah, pois; ela andava a passear com a criada elevava uma boneca muito linda ao colo; a minha irmã, pediu‑lhe que a deixasse pegar na boneca só um bocadinho, e quando a Ritinha lha estava a passar p'ras mãos, a criada empurrou a minha irmãzinha na pressa de a afastar, como se ela tivesse peste. Eu fiquei com tanta pena dela, que jurei comprar‑lhe uma igual logo que tivesse dinheiro, nem que andasse dois anos a juntá‑lo, mas graças à sua ajuda, ainda lha dou no Natal.
‑ Mas ó João, o Natal já passou. Estamos em véspera de Ano Novo.
‑ Eu sei; mas o Natal em minha casa, festeja‑se no Ano Novo, porque dia de Natal, a minha mãe e o meu avô paterno, fartam‑se de chorar.
‑ Mas porquê?
‑ Porque foi precisamente nesse dia, há quatro anos, que o meu pai nos abandonou fugindo com outra mulher e a minha pobre mãe, farta‑se de trabalhar a dias, para que possamos ter que comer.
Despedíram‑se, pois estavam perto das respectivas moradas.
Depois de agradecer mais uma vez ao seu novo amigo, o João entrou em casa como um furacão chamando alto pela mãe, a fim de lhe contar a boa nova. Esta, levou um dedo aos lábios como que a pedir silêncio. Era a hora de rezar o Terço antes da parca refeição. Naquele humilde lar, rezava‑se agradecendo a Deus a saúde, os poucos alimentos, e rogava‑se pelos doentes e por todos os que não tinham pão nem um tecto para se abrigar., sem esquecer de pedir a paz para todo o mundo.
Parecia ao João, que as orações eram mais demoradas que o costume, tal era a pressa de contar as novidades alegres que trazia, e enquanto o avô se deleitava com um cigarro inteirinho e a irmã embalava nos seus bracitos roliços a sua primeira boneca, de pronto trocada pelo carolo de milho que fazia as mesmas vezes, ouviram‑se duas pancadas na porta. A mãe foi abrir, e dos seus olhos cansados, rolaram duas grossas e escaldantes lágrimas de alegria, ao deparar com um grande cesto cheinho de coisas boas, incluindo uma camisola novinha para o João.
Não foi preciso muito para adivinhar quem era esse estranho Pai Natal que se afastava a passos largos, esquivando‑se a agradecimentos.
A partir daí, acrescentou‑se ao número das orações em família, mais uma pelo senhor André.
GRAZIELA VIEIRA
JUNHO 1995

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