Calçada

Foto de Sonia Delsin

COVARDIA?

COVARDIA?

Me disseste.
Pra mim já é tão tarde.
Tão tarde.
Não ouso voar.
Minhas asas podem arrebentar.
Estão frágeis e podem envergar.
Disseste.
Contigo eu poderia partir.
Descobrir um outro existir.
Mas temo esta empreitada.
Fico a te olhar na calçada.
Vais tão faceira.
Iluminas a rua inteira.
Fico te admirando.
Contigo sonhando.
Pra mim é muito tarde.
Não me chames de covarde.

Foto de manancial

...tu

O outono chegou,
trouxe o vento,
frio, forte, vazio
levou o meu sol
as minhas frias
pétalas caíram,sós,
vagueando pelo ar
saudosas de calor
ansiosas por te amar.

O equinócio trouxe paz
calma e serenidade
guardou as memorias
mas não disse a verdade
puro, mas desprovido
triste, só, mas vivo
indagava uma razão
para aquela lúgubre dor
será que morreu meu amor?

Erradamente vagueie
eclipsando o sentir
o pensar tomou conta
do devaneio coração.
Não, não morreu meu amor
morreu parte de mim,
é essa a insondável dor

Cientemente indiferente
caminhei insípido
pelos dias cinzentos
desvanecido entre a turba
sem paladar, provei
o amargo vazio, frio
irrequietamente quieto
vivamente morto...

Absorto subsisti
limitado ao pensamento
subitamente te vi
colorindo a calçada
impelido a sentir
gritei silenciosamente
olhaste-me, bela e pura
deste-me atenção,
senti de novo sangue
correndo no meu coração

O outono deu lugar ao verão
quente, cheio, aconchegado
sinto-me forte.
És o meu norte,
e o meu sul,
És ouro sobre azul

Foto de Sonia Delsin

SEUS FANTASMAS

SEUS FANTASMAS
(para uma amiga)

Eles chegam quando a noite se faz mais calada.
É triste a madrugada.
Durante o dia ela sorri.
Disfarça.
Não que seja uma dissimulada.
Mas finge ser feliz na sua estrada.
Como ser feliz com tantas perdas?
O que lhe sobrou?
O silêncio, o vazio.
A cama está gelada.
Ela vai até a janela e olha a calçada.
Tantos sonhos!
Tantos.
Os sorrisos chegam.
Primeiro da filha amada.
Também seu amado vem chegando.
Parece que vai lhe abraçando.
Depois chega a serviçal.
Igual a ela ninguém faz o serviço da casa igual.
Chega o filho ausente.
Ele está ausente, mas é presente.
E a netinha.
Então ela consegue retribuir o sorriso para seus fantasmas.
Alguma coisa lhe sobrou do mundo que desmoronou.

sonia delsin

Foto de lialins

Esperança

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
Vive uma louca chamada Esperança
E ela pensa que quando todas as sirenas
Todas as buzinas
Todos os reco-recos tocarem
Atira-se
E
— ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
— Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
— O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA.

Mário Quintana
Texto extraído do livro
"Nova Antologia Poética",
Editora Globo - São Paulo,
1998, pág. 118

Lialins eterna apaixonada
pela vida

Foto de Sonia Delsin

CAMINHO DE ESTRELAS

CAMINHO DE ESTRELAS

Os olhos presos.
Completamente presos às estrelas.
Eu ali parada.
Na calçada.
Os braços soltos, jogados em volta do corpo.
Corpo ainda bonito.
O rosto pro céu voltado.
Lembranças do passado?
Um longo caminho a percorrer.
O caminho das estrelas.
Já não vivo mais a sofrer.
Vivo do que os dias me oferecem.
E as noites.
Uma linda lua e milhares de estrelas.
Sou feliz com o que a vida me oferece.
Meu olhar já é uma prece.
De agradecimento.
Foi assim que superei o sofrimento.

Foto de Sonia Delsin

HOMENS. TOMEM CUIDADO!

HOMENS. TOMEM CUIDADO!

O nosso planeta está sendo tão maltratado.
Tão maltratado que regiões antes bonitas hoje parecem jardins abandonados.
Tudo secando, morrendo.
Será a humanidade não vai acordar?
Os rios poluídos estão a chorar.
O mar... até o mar chora em regiões que a poluição faz estragos irreversíveis.
Morrem aos poucos lindas cachoeiras, florestas inteiras.
Será que toda esta beleza que vemos se transformará num estéril deserto?
O destino da terra é incerto.
O superaquecimento do planeta é um fato e parece que estamos ignorando.
Vamos poluindo, deixando.
Deixando que outros tomem providências.
Ignoramos as evidências.
Estamos sendo omissos? Estamos preocupados?
Nossos filhos, netos terão o quê pra desfrutar?
Eu me preocupo e tento ajudar. Se cada um de nós fizer o mínimo neste sentido já será uma grande ajuda. Que tal dar um final correto ao óleo da fritura? Que tal reciclar? É uma forma de ajudar.
Podemos plantar uma árvore, podemos varrer a calçada.
Ajudamos assim, fazendo quase nada.

Foto de pttuii

Escarreta

O homem da barba que quase existiu acordou. De uma espreguiçadela abraçou as únicas quatro paredes pequenas que aguentavam levar com lamentos insuportáveis, incontrolavelmente tristes. Estavam pintadas de um azul ocre, desmaiado por rituais de querelas emocionais com riachos de tinto estragado.
A parcela de religião fundada em mini-obrigações morais tinha a forma habitual:
- o crucifixo que ganhou por piedade do dono da tasca da esquina pendia, prestes a uma queda fatal.
Uma camisa de xadrez difícil de definir, amargamente pousada em cima de calças de sarja rasgadas nos joelhos, concretizavam o guarda roupa necessário para o dia. A cadeira torta, a única herança de duas pessoas que fizeram o desfavor de cagar o mundo com uma bosta de duas pernas e dois braços, suportava um peso ridiculamente difícil de definir.
Quatro passos tortos, inevitáveis num rumo de auto-destruição anunciada, e um rio de substância amarelecida e odorenta a descer pelo cano abaixo.
Comichão na alma, socorre-se de três ou quatro experiências de humidificação de um rosto disforme.
Fica uma barba. Comichão no lóbulo direito. Puxar a escarreta que exige liberdade. O pregão da varina alimenta desejo de fuga. Esganiça tranquilidades. Mata bem fazeres de uma alma moribunda.
Dois segundos entre fechar último botão de camisa, e rodar maçaneta acobreada da porta para o universo. Um baque suave, e o violento estupro de raios de sol cada vez mais arroxeados. Num sentido de morte lenta e agoniante. Tonto e periclitante confronto com dois vãos de escadas, e novo contacto com uma maçaneta acobreada. Serão rios de luz assassina que banharão o homem da barba que quase existiu.
Quase que se afoga, para nunca mais voltar, mas não... Acode-o um suave roçar de pele de gato no tornozelo. Nova escarreta que se emancipa na calçada da viela. Antro de desgaste emocional, a taberna da esquina. Faz calor. Mas uma coisa suave, que aquece os pêlos da alma moribunda.
Dois arrastados da vida miram uma bola vermelha, que parece lutar para não ficar sem o que a agarra à gravidade. Contacto com uma folha de papel amarelecida. Coisa inútil, chamada calendário. Parece ser 25. Mês quatro. Ano mil, que já passou dos novecentos, e mais setenta e quatro.
Resume tudo o que escrevi. Para deixar em aberto o que ficou por dizer. Não é muito. Mas talvez possa ser. Depende dos olhos que estão por trás dos olhos de quem interpreta.

Foto de sidcleyjr

Benção de Cristo

Ô meu lábaro do imenso azul
A Paz dês de tempos superpostos
Agradeço-o por acender a vela do poeta
Que feliz chora de emoção
Aprendendo o controle
Aprendiz de louvores
Meu deus...
Sempre na esperança estou
Atrevimento ao conselho de tua palavra
Que cala a maquina e a ciência ao perpetuar na inocência.
O alívio pela segurança
Coração é a mente do corpo que aperreia a alma
O Atrevido palpitante
Que se rende o magistério do amor,
O necessário modelo de tua existência.
Andas nas palafitas e nos palácios
E acima de incompreensões daquelas
Que chove para limpar o recado humano.
Es o palor dos céus
Que estende vossa presença
Na modesta calçada de meu coração.

Macro ®

Foto de Sirlei Passolongo

Sonhos de uma estrela

A noite cai silenciosa
as luzes se acendem
cidade afora...
Ela vem apressada
na penumbra,
vestida de mistérios
e minúcias
beleza que encanta,
deslumbra...

O rosto rosado do blush
salto alto valorizando
o vestido curto,
em seus lábios
caliente batom rubro

Ela segue seu rumo
noite adentro,
vez por outra
desequilibra
no salto,
mas um sorriso disfarça
seus desaprumos...
Na rua vai deixando
seu perfume...

Uma calçada numa esquina
movimentada,
as luzes das casas
já se apagaram;
mas entre os carros
que passam,
ela surge...

Não demora
uma proposta,
um convite
e lá vai ela
sorrindo
vender amor,
mas por dentro
ela cala triste.

Sonhava ser capa de revista.

(Sirlei L. Passolongo)

Direitos Reservados a Autora

Foto de pttuii

Cidade de mel

O arbusto da mendicidade reflecte dois pedaços daquela cidade injusta. Nasceu de triângulos medianos, que discordam do egoísmo. Gritam até insultos a quem passa, sem olhar para o rio invisível que atravessa a vida dos sem nome. Os que ataviam as personalidades, só para não se desgostarem no exíguo espaço que têm para desenhar projectos. É um arbusto que pede para o observarem, acariciando sentidos que nunca se descobrem nas ardósias das escolas tradicionalistas. Voam pássaros porque as pessoas querem ser deixadas em paz. O arbusto ganha raízes, e pergunta-nos. Pergunta-te: o que queres ser na vida? Respirares, vale a pena quando no ar se desenham principios de armagedão?
Tanto lhe faz que respondas. O magma vai continuar a ceder, as raízes gorjeiam por mais espaço. A cidade desvanece-se, enquanto sobrevaloriza pedaços de optimismo de que ninguém sabe bem o que fazer.
Continuam a desfiar-se passadas despreocupadas. Se o dia agora morresse, o arbusto da mendicidade sobreviveria. Expor-se-iam mesas de iguarias bélicas, com armas de repetição congeladas a pedir só um calor de criança. O zé comum, de dois dias e um segundo de felicidade, responderia com um editorial de boçalidades. Porque viver não é espezinhar pedras da calçada. Viver é fazer mal para fazer bem. Respirar são vaginas de mulher intocada, quando a morte vem e lhe pede companhia. Fazer bem é, porventura, regar o arbusto da mendicidade. Esperar que o sol se materialize na esquina mais sombria desta cidade de putas que são freiras do vício gasto.....

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