Caro

Foto de Salome

O Poeta

.
.
.
.

Hoje, depois de tantos dias e momentos,
Lindo e sensível poeta repleto de magia,
Vi através dum sonho seus lindos versos
E sua mão escrevendo mais uma poesia.

Sabe que sinto saudades desses poemas
Que sempre souberam tanto me captivar
E me levaram a amar, a sentir e a viajar
No confim de labirintos e sonhos sem fim

Nunca cheguei a lhe falar e a confessar,
Mas você foi a inspiração que me levou
A ter a força e a liberdade de escrever,
Doce poeta que hoje só posso agradecer

Na verdade, sinto falta dos seus escritos
Que transcendiam emoções nuas e cruas,
Rótulos dos ventos, transições de ciclos,
Realidade que me inspirou à sensibilidade

Você me abriu a porta da fiél inspiração,
Entre os seus labirintos e suas maresias,
Você me levou a escrever em alucinação,
Tinta derramada que hoje virou poesia...

Caro poeta, ainda sinto a sua presença,
E ainda recordo seus versos e, o penso,
Sentimentos diversos, eterna lembrança
Que hoje ainda inspira e é pleno silêncio

*****************************************************

"Esta é uma dedicatória a um maravilhoso poeta que tive o prazer de conhecer aqui no site dos poemas mas que infelizmente já não se encontra para nos homenagear com seus sublimes escritos... O poeta que me inspirou a escrever e que sempre com suas palavras, me deu a coragem de escrever mais, não somente sobre sentimentos e sobre o amor mas tambem sobre as desigualdades deste mundo, soltando a minha alma a expôr a ilusão que por vezes não vemos por sermos demasiados cegos ou não termos a coragem de ver e de falar... Obrigado!"

Salomé (copyrights/Aug.2008 to KM)

Foto de Sonia Delsin

A FORÇA DA NATUREZA

A FORÇA DA NATUREZA

Os mais velhos sempre me disseram uma frase que hoje me voltou nítida à memória. Que ninguém pode com a força da natureza. Minha avozinha me mostrava o fogo e falava: Quem o domina? Os elementos têm poder. Não brinque com fogo.
Meu pai me ensinou a amar e a respeitar a natureza. Quantas vezes assistimos juntos temporais acompanhados de raios, de trovões. Quantos estragos vimos juntos e quanto falamos a respeito.
Quem consegue segurar com as mãos a água? Um bem tão caro, mas que pode nos tirar a vida; tão benéfico e tão traiçoeiro tantas vezes.
Eu que quase morri afogada aos doze anos sei bem como é. Eu queria me segurar, me dependurar em alguma coisa e esta coisa simplesmente não existia dentro daquele rio. Não era a hora de minha morte, porque meu irmão que sabia nadar me retirou de lá quase sem vida. Depois aprendi a nadar, mas junto com a natação aprendi algo muito importante, a respeitar a água.
Ontem tivemos aqui em minha cidade uma chuva repentina e acompanhada de forte vento. Um vendaval.
Eu e meu filho ficamos olhando as antenas que balançavam e nosso pé de acerola que tombava todo.
Por sorte os galhos são bem flexíveis e tombam, mas não quebram facilmente.
Está tão bonito este nosso arbusto e eu não queria vê-lo por nada deste mundo ao chão caído.
Pois bem, vou adentrar agora no que me levou a escrever esta crônica. Quando cheguei hoje no local aonde estudo a primeira coisa que vi pelo portão entreaberto foi que uma de nossas belíssimas árvores, uma cuja sombra tantas vezes praticamos tai-chi ao ar livre, estava tombada. Os galhos retorcidos...
Pareceu-me que um gigante andou por lá ontem. Torcendo galhos como educadores maus torcem braços de aprendizes.
Foi esta a minha sensação, mas não acredito que a natureza venha se vingar em cima de belas criações como aquela árvore tão linda. A idéia me passou e o motivo nem sei. Também nem sabia se devia citar aqui isto, mas citei e está citado.
No chão estava o filhote de João-de-barro e os pais aflitos revoavam por lá.
É duro descrever a cena. Nos ponteiros da bela árvore algumas flores azuladas permaneciam lindas como ela se ainda estivesse de pé.
Senti vontade de chorar. A dor daqueles pobres passarinhos que tantas vezes vimos carregando material pra fabricar o ninho chegava a doer no meu peito.
Ficávamos admirando, conversando sob a árvore e os dois tão empenhados em construir a casa.
Olhando-os revoando conseguia trazer de volta os dias que os via trabalhando na construção do ninho, a alegria deles.
Uma cerca de segurança foi colocada, pois uma das outras árvores estava com o caule totalmente trincado e perigava cair.
Fui triste para a sala de aula, porque deixamos no pátio aquela árvore tombada. Fiquei imaginando se vão cortar as que ficaram de pé, porque me parece que apesar de imensas, elas são frágeis. Ou o vento foi tão forte?
Acredito que exista sim uma fragilidade naquelas árvores, mas são idéias minhas. Não conversei a respeito com nenhum entendido. E também não sei como encontrarei tudo lá amanhã.
Não teremos mais aquelas sombras tão aconchegantes? Será muito desolador encontrar aquele local vazio.
Mas se elas podem colocar as vidas das pessoas em risco...
Algo a pensar, realmente.
Bem, quem pode com a força da natureza? Algumas vezes vemos um céu tão azul, tão quieto. E de repente algumas nuvens se formam, chega um vento e o que parecia que ia durar eternamente se acaba.
Eu tinha que contar. Eram simples e lindas árvores, mas fazem parte do meu dia-a-dia. Ajudam a enfeitar o tempo que passo lá; pela beleza; pela sombra; pelos pássaros que nela se abrigam; pelas parasitas grudadas nos caules.
Senti vontade de chorar...senti vontade de contar e contei.

Foto de CarmenCecilia

P/EDU/MEU COLEGA VETERINÁRIO/CARMEN CECILIA

CarmenCecilia

Caro colega!

Muito comovente essa tua passagem com a Natalie e o Elvis...
São esses momentos que passamos que são gratificantes para nosso trabalho...
Trazer de volta a vida um animalzinho com riscos de vida...
Ver o sorriso de volta no rosto de uma criança...
Enfim isso transcende qualquer esforço e horas sem sono etc...

Hoje passei por uma experiencia similar...

Atendi uma cachorra viralata muito linda e que necessitava de uma cesariana seguida de uma ovariohisterectomia..., pois os fetos já estavam mortos e a muito necessitando de uma intervenção cirúrgica...

Enfim larguei tudo que estava fazendo em casa e lá fui dar o melhor de mim para Pretinha que já estava entrando em toxemia.

O quadro clínico era lastimável, e ela com teus olhos suplicantes parecia me dizer " Cuida de mim",...

Fiz uma epidural com lidocaina para diminuir a dose de anestesia geral... e assim evitar mais riscos...

Enfim depois de 2horas de uma cirurgia complicada pelo quadro clinico.
Pretinha parecia reagiar bem...Fiquei com ela até que ela retornasse e agora no inicio da noite tive noticias de que esta passando bem

Cada vez que casos como esse ocorrem é um grande bálsamo para mim...
Salvar uma vida...Que benção!

Não moro em um centro grande como tu e aqui na minha região de Bauru a Araçatuba é região endêmica de leishmaniose...e muitos animais vem a óbito por essa grave zoonose como deves saber..., seja pela doença ou pela legislação ultrapassada em vigor...

Também trabalho com laboratório de analises clínicas onde fiz extensão na Unesp em Jaboticabal, e sou formada na UEL em Londrina

Então como vejo os índices cada vez mais crescentes dessa doença..., bate o desânimo e fatos como o de hoje a tarde nos incentivam a continuar...

Também procuro um bálsamo na poesia...e em fazer vídeos pois tento esquecer assim a carnificina que se transformou nossa região...

Enfim obrigada por contar tua história o que me encorajou a contar a minha...

Espero que o pessoal aqui presente me perdoe também por minhas ausencias que estão ligadas a profissão e outras mazelas de ordem pessoal...

Beijos e muito prazer em te conhecer

Carmen Cecilia

PS: DEIXO AQUI PRA TI UM VÍDEO QUE FIZ SOBRE NOSSO GRANDE AMIGO O CÃO...

CHAMA-SE FIDELIDADE CANINA...ESPERO QUE GOSTE

FIDELIDADE CANINA!

Quando me levanto...
Já vem ao meu encontro..
Brinca comigo...Faz festa...
E me beija na testa!

E me diz: Bom Dia!

Vou para o trabalho
A rotina me embaralha
Venho para o almoço...
Lá vem ela em alvoroço..

E me diz: Boa Tarde!

Volto para o trampo..
Alguns contratempos
Mas agradeço o labor
Chego e é só amor...

E me diz; Boa noite!

Estou cansada...
O corpo suado..
Ela espera do meu lado
Pra irmos passear...

E me diz: Obrigada!

Vamos pra casa esbaforidas
De tanta corrida...
Tomamos um banho...
E jantamos. Ela ração eu lasanha

Vou para o quarto...
Ela se comporta
Mas não se contem...
E logo vem arranhar minha porta!

E me diz:
Fica comigo!

Vem sorrateira, brejeira...
À beira da cama ligeira!
Espera-me adormecer...
Vela meu sono pra outro dia amanhecer..

E dizer: Bom dia!!!!!!!!!!!!

Carmen Cecília

Foto de Wilson Madrid

LUA AZULADA

*
*
*
*

LUA AZULADA

Estrelas, via láctea, lua e sol,
beija-flor, sabiá, rouxinol e bem-te-vi,
rosa, orquídea, tulipa e girassol,
ouro, diamante, esmeralda e rubi...

Paro,
olho,
penso,
reflito,
medito,
entendo,
e me surpreendo...

Como pude perder tempo com tantas coisas banais,
se o que me encanta mesmo são sempre as flores astrais?
Como pude me deixar iludir por tanta pedra falsa e bijuteria,
se só o que me enriquece mesmo são as jóias preciosas da sabedoria?

Como pude ouvir tantos cantos rudimentares, desafinados e tão artificiais,
se os que me encantam são os dos pássaros e das sinfonias angelicais?
Como pude me entreter com faíscas de pensamentos tão iguais,
se o que me fascina são os raios solares das idéias geniais?

Então eu compreendo o vazio existencial
da minha inspiração vital até para o varal
das lágrimas que secam no meu quintal...

Como poderia rimar rancor com amor?
Como poderia rimar bisonho com sonho?
Como poderia rimar hipocrisia com fantasia?
Como poderia rimar tanta monotonia com poesia?

E, finalmente,
porque esta poesia,
que eu tanto queria,
chega assim tão de repente?

Elementar meu caro Wilson...

Mesmo que não tenham rimas,
os astros e as estrelas são as mesmas,
os pássaros coloridos e cantadores também,
as flores sempre voltam nesta mais linda estação,
e os rubis adocicados da romã frutificam a cada manhã...

O que era verde passou, amadureceu e o tempo o amareleceu,
o rio do destino correu e junto ao mar se engrandeceu,
a lua minguante cresceu, ficou nova e voltou cheia,
e a esperada bailarina cigana que saltou dela,
não veio de vermelho nem como cinderela,
veio de azul celeste e como sereia...

Então agora é o tempo de um novo caminhar,
viajar, mergulhar, nadar, flutuar,
rimar o mar com amar,
a lua azular
e voar...

Wilson Madrid o Poeta Azul

Foto de SailingNoir

Rosto húmido .

Humedecendo o meu rosto , através de lágrimas sofridas ; lágrimas provindas da saudade ; da vontade ; da involuntariedade , por iniciativa própria , de renegar ; do desejo ; da não resistência ; enfim ... Elas vêm de todo o lado .

Olhando a tua face , fotografada , me remordo os lábios pra não gritar , apago o fogo branco que por mim percorre para não ir a teu encontro ... Agarrada a uma almofada me sinto só , cada vez mais só . Ausência da tua paixão no peito causa um dano irreparável : Vazio ...

O Vazio que preenche e me vai preenchendo cada vez mais , vai matando cada anti - corpo que preservo dentro de mim , anti - corpo esse que uso para te afastar da minha memória ... É isso que tenho de ti , memórias ...

As memórias são boas para quem é feliz ,não para quem sofre por ausência da felicidade . Felicidade essa possível mas rejeitada por estupidezes que não queres admitir ... A palavra de outrém por vezes é bem mais importante que o sentimento , não é ? Enganas'te ...

Palavras não duram pra sempre , meu caro amigo , Sentimentos Verdadeiros sim , esses duram "eternamente" .

Deixo apenas uma mensagem : Não destruam a vossa Felicidade por boatos de outrém . A Felicidade Real está dentro de vocés , dentro do vosso Coração .
Acreditem em vocés próprios e nas vossas capacidades .

Felicidades .
SailingNoir

Foto de Joaninhavoa

UM BURRO CARO

*
UM BURRO CARO
*

UM BURRO BOM
E BARATO É CARO?

(DIGA SE SIM OU NÃO
E JUSTIFIQUE...)
*If you want!

JoaninhaVoa,
In "Brincadeirinhas..."
(07 de Junho de 2008)

Foto de carlos alberto soares

MEU DESEJO

SE HOJE EU PUDESSE O QUE QUISESSE,
TERIA DÚVIDAS, NO QUE DEVERIA ESCOLHER,
E ENQUANTO PENSO, MEU CORPO SE ESTREMECE,
RELEMBRANDO VOCÊ.

E TUDO QUE DESEJO,
DO ABRAÇO MAIS AMIGO,
AO BEIJO MAIS ARDENTE,
DO PRESENTE MAIS CARO
AO MAIS COMOVENTE.

PENSO E FAÇO,
DIRECIONADO A VOCÊ,
AS VEZES ME EMBARÇO
E TENTO ESQUECER.

MAS QUANDO SEU SORRISO SERENO,
VISITA SEUS LÁBIOS,
SINTO QUE O PARAÍSO É PLENO.

NESTE INSTANTE O PECADO É PERDOADO,
NÃO HÁ MAIS CERTO OU ERRADO,
TUDO ESTÁ DO MESMO LADO.

VOCÊ ME QUER POR PERTO,
EU TE BUSCO MAIS AINDA,
MEU DESEJO É DESCOBERTO,
NA SUA CARÊNCIA QUE NÃO FINDA.

VIVER ASSIM É O QUERO,
MINHA VIDA É UM MISTÉRIO,
SER FELIZ O QUE ESPERO,
TE DESEJAR UM CASO SÉRIO.

Foto de Salome

Resposta aos Comentários de "Ausência"

.
.
.
.
... Em primeiro gostaria de agradecer a todos pelos seus commentários que li e reli e não esperava, nem esses versos e poemas (Hilde, Walter/Moreno e Carmen) que deixaram aqui, poemas que guardarei com muito carinho...

Eu não vou responder individualmente porque seria repetir vez após vez o que tenho a escrever... na verdade eu fiquei sopreendida e ao mesmo tempo emocionada com todos os commentários, fiquei sem palavras... especialmente essas pessoas que tive a oportunidade de conhecer ao longo desses meses aqui e que ganharam minha apreciação e carinho por seus trabalhos que sempre têm o dom de me emocionar e agora mesmo o fazem com suas carinhosas palavras... A minha ausência se deve ao que se deve... mas ultimamente por eu estar demasiado ocupada e não ter muito tempo.

Depois de ler todos vocês mas especialmente você meu caro Edson que me matou de vez com seu contrato... você me fez lembrar que nem sempre podemos deixar a covardia da pobreza de espírito nos fazer recuar e desparecer... prometo não ir de vez mas tambem não ficarei de vez... quando tiver um momento, tentarei entrar para postar meus escritos e matar as saudades que com certeza sentirei de vocês...

Meu carinho e amizade para com todos. Obrigado... Salomé (KM)

Foto de Sonia Delsin

NEM MAR, NEM CÉU

NEM MAR, NEM CÉU

Nuvens negras cobrem o sol que tu buscavas
Nem mar, nem céu...
Quebrado o cristal mais caro
O bem tão raro
Se explica um fato?
Se queima a casa por causa de um rato?
Nem mar, nem céu
Pensamento ao léu
Quem imaginava mel se estanca em fel
Embaixo da casca, lá no fundo do cerne um verme
A corroer os dias
Adeus a todas as alegrias
Se inventa, tenta
Fantasias

Foto de Lou Poulit

A MONTANHA E O PINTASSILGO (CONTO)

A MONTANHA E O PINTASSILGO
(Parte 4)

A se catar, como passara a fazer diariamente durante os últimos anos, a montanha se surpreendeu com algo estranho, entre ramos franzinos de um jovem arvoredo. Já havia visto coisa parecida e sabia não ser nada que a natureza produza de boa vontade. Logo a brisa trouxe um cheiro desagradável e ameaçador de fumaça, e tudo então ficou claro. Aquilo era uma gaiola, dentro havia um pássaro aprisionado e do lado de fora uma rede. O pássaro preso cantaria o seu canto, isso provocaria outro pássaro da mesma espécie, que viria reclamar seu direito aquele território e pronto, ficaria também este aprisionado para o resto da vida. Só pode ser coisa de gente ― asseverou a si mesma ― em nenhum lugar do mundo a natureza é tão cruel por tanto tempo. Embora possa parecer também cruel, o fardo do Criador é leve e o seu jugo é brando. A alguns metros para baixo dois homens, um maduro e outro bem jovem, fumavam os seus cigarros de palha, e riam, sabia Deus do que, tentando não fazer barulho.

Indignada pelo uso das suas encostas para tais fins, ela pôs-se a matutar numa forma de fazê-los correr de ladeira abaixo. Depois, em um segundo passo, encontraria um jeito de libertar o bichinho, de quem já se compadecia por demais. Até porque, ele parecia um pouco com o seu querido pintassilgo. A montanha começou então a produzir uma série de truques, como fogos-fátuos e sismos comedidos, pequenos segredos de uma velha montanha que, entretanto, não surtiram o efeito desejado e ainda assustaram a bicharada. Impaciente, a montanha batucava numa laje com as pontas dos dedos, usando para isso a queda d’água de uma tímida cascatinha que havia por perto, quando o pássaro da gaiola começou a piar a cada vez com mais disposição. Era um indício certo de que logo ele estaria cantando a todo peito. Necessário se fazia que agisse mais rapidamente, o que, para uma montanha milenar, não é lá uma coisa das mais fáceis e cômodas, a se fazer naturalmente.

Como os homens se mostravam inabaláveis, talvez insensatos por sequer imaginar o imenso poder de uma montanha, pensando bem, por demais burros simplesmente, ela optou por tentar impedir que o passarinho desse vazão aos seus impulsos canoros. Para isso, ela se aproveitou de um ventinho e se aproximou do arvoredo dissimuladamente. Chegou-se bem pertinho e, respirando antes profundamente, entrou na gaiola. Todavia, tamanho foi o seu susto, que saltou do ventinho e recolheu-se nas suas profundezas. E lá perambulou durante algum tempo. Aquilo tudo mais lhe parecia uma peça do destino. Vagou por entre as suas lembranças sem fim, relaxou nas suas profundas escuridões, onde os sóis jamais chegaram, e banhou-se nos seus refrescantes lençóis subterrâneos. Reconheceu por fim, que poderia estar fugindo da verdade, e isso é algo que uma boa montanha jamais deve fazer. As montanhas são sábias e fortes. Vivem muito e é justo que o sejam. Não conhecer uma determinada verdade pode ser um direito, mas tentar impedir a sua revelação é uma idiotice, uma fragilidade. A mentira ou a ilusão podem ser mais agradáveis à razão em certos momentos, no entanto corrompem os sentidos de ser e existir. Estava tentando criar uma certa realidade paralela e perdendo com isso um tempo muito precioso, que talvez custasse caro a outros pássaros.

Outra vez tomou-se de ânimo e voltou à gaiola. E lá, todas as suas parcas esperanças se dissolveram, à luz claríssima do sol que já se erguera todo acima do horizonte. Não podia mais negar, era mesmo o seu pintassilgo e, misteriosamente, cantava como um menino. Mas que ironia cruel! Teria que tentar interromper a sua inspiração, depois de tanto tempo lamentando a sua ausência. E nem tinha naquele momento mais tempo para as suas reflexões, pois um outro pintassilgo, pleno dos arroubos naturais da sua evidente juventude, já cantava e fazia manobras rasantes cada vez mais próximas à rede, com intuito de intimidar o outro, um velho inconveniente e abusado, um intruso, imperdoável. Embora não pudesse concordar inteiramente, a montanha percebia os pensamentos e a determinação do jovem, corajoso e afoito como todos os jovens. Mas a Providência concede maior proteção a eles, e ela estava ali para exercer esse papel. Ao antecipar que no próximo rasante ele ficaria preso na rede, numa atitude exageradamente emotiva para uma montanha, ela pressionou suas entranhas com tanta força, que os gases subterrâneos liberados provocaram uma ventania súbita e empoeirada. Correndo para encontrar um abrigo, os homens se afastaram, sem se dar conta de que o ramo não suportara o peso e a gaiola havia caído na relva.

Os segundos tornaram-se angustiadas eternidades. Ela viu os ventos se enfraquecerem até pararem por completo. A gaiola tinha uma pequena porta corrediça que com o tombo se abrira, os homens voltariam para buscá-la a qualquer instante, porém desgraçado era o desespero da montanha, porque o pintassilgo não encontrava a saída. Pulava pra lá e pra cá, estranhava os poleiros que estavam então na vertical, pendurava-se nas varetas de cabeça para baixo, porém nada de sair. Enfim, o mais jovem dos homens chegou a tempo de fechar a portinhola, satisfeito por ver o bichinho ainda do lado de dentro, e voltar ao encontro do mais velho. E a cascatinha afinou-se mais ainda, como o choro triste da montanha, perdeu a ansiedade.

(Segue)

Páginas

Subscrever Caro

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma