Mortos

Foto de Rute Mesquita

Pérola

Pérola
que me encadeias o olhar.
Degola
o meu ser ao dedos estalar.

Num brilho ofuscante
cortas o meu trilho
num respirar sufocante.

Num tocar que me paralisa
o sangue que escorre.
És um brilhar, que me estiliza
cada dia que corre.

Desfilas
num andar sedutor
compilas
fazes-nos banhadas de amor.
Sorris-me num jeito atrevido
e encostas-te a meu peito
num olhar destemido.

e 'Aconteceu'
um amor verdadeiro,
num querer rasteiro.
Amanheceu,
naquele corpo faminto
uma admiração
um sentimento sem mito
sentido de alma e coração.

Sorriram-se os corpos
escondiam-se os olhares
no romper da noite.
Acabaram assim mortos
de suares
sem algum coite.

Foto de Amy Cris

Frases

Tudo pertence ao acaso, passe a rezar a ele ao invés de fazer pedidos a algo inexistente.

Me acostumei com a dor, mas não com este mundo.

Ser feliz com o que? Meus motivos para estar morta?

O inferno é a terra e o céu, ilusão.

Deixemos aos mortos a imortalidade da paz e aos vivos, a esperança de um dia encontrá-la.

Foto de João Victor Tavares Sampaio

Canto Inglês

Desfalece
Desce à mansão dos mortos
O último dos portos

Pelo amor que se carece
Usou o muito do talento
Um bem desatento

Morreu como algo que se esquece
Que rende à tantos depois de ti
Ao custo de si

Nesse filme revisitado
Sem o por quê do causar
Foi-se em contemporizar
Em luto anunciado

Foto de João Victor Tavares Sampaio

O Orfanato

- O Orfanato

No orfanato
Toda linhagem de enjeitado
Toma a forma de legião

Todo o povo da região
Passa-nos com o ego apontado
Acusando nossa rejeição

E a sombra que aqui relato
Desnuda a treva em ebulição
Sonho irrealizado

Presente desembrulhado
Futuro em suspensão
A humilhação em seu recato
Frio, destrato

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O Sol é falso, losango angular.

Umas poucas crianças cantam.

Outras tantas crianças gritam.

A volta da escola é lenta e singular,
Pois não há ninguém há esperar.

O vento espalhar seu vento, e a folhagem.

Uma nuvem nos faz pajem.

Nosso ritmo é policial e folhetinesco.

Reside o medo do grotesco.

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Os moleques do orfanato são feios e não têm receio em admiti-lo, já que no verso de sua condição morava o adverso, o ridículo dos corações partidos, a brevidade de sua relevância.

Um deles riu-se automaticamente:
- Somos completos desgraçados!

Esta frase correu sem gírias ou incorreções.

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Os moleques
Sabendo serem desgarrados
Destravavam seus breques
Em serem desencontrados

Faltava-lhes o saber da identidade
Descobri-se em um passado plausível
Ver-se na evolução da mocidade
Em um lar compreensível

Mas não lhes foi dada explicação
Nem sentido da clemência
Nem pedido, nem razão
Para sua permanência

Viviam por viver
Por invencionice
Viviam por nascer
Sem que alguém os permitisse

Abandonados
No porão de um orfanato
Sendo assim desfigurados
No humano e seu retrato

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Os moleques eram órfãos
E eu estava no meio deles sem me envergonhar!
Minha vida é curta
Dura, diante dos comerciais contrários!
Meu cárcere é espesso, grosseiro, não derrete nem sob mil graus!
Subo mil degraus e não encontro o final da escada
E a realidade é tão séria como o circo ao incêndio dos palhaços,
Pois nem meu hip-hop consola mais a sombra da minha insignificância
E nem toda a ostentação suporta o peso da veracidade

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O mundo me usa
Ao agrado parnasiano
E me recusa
O verso camoniano
Não tenho honra nem musa
Não tenho templo nem plano
A vida é pouca e Severina
Louca e madrasta carnificina

Solidão
No meu retiro na multidão

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Somos uma falange
Outrora negada pelo sistema
Zunido como abelhas de um enxame
Invadindo os isolamentos propositais;
Nação sem cara
Homericamente mostrando seu rosto
Olhando a palidez da polidez
Sendo enfim mortos de fome.

Sendo enfim cheios de vida!
O braço que nos impede a pedir banha-nos com seu sangue;
Nós somos encharcados
Havendo assim a benção que ignoraram em prestar
A afirmativa de um futuro inevitável;
Matamos e nutrimos
O pavor que nos atira para a vida;
Somos assim não só uma falange como uma visão intransponível.

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Em esperar ter condições
Só restaria estacionar
Ao choro das lamentações

E logo quando o meu lugar
For definido às lotações
Na margem sem quem se importar

Ou mantenho insurreições
Ou vou me colocar
Abaixo das aspirações

Se calar minhas intenções
Alguém vai me sacanear
E se buscar santas missões
Cair no desenganar

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Estamos descontrolados!

- Foi ele, tia, eu vi!
- Não, eu não fiz nada!

- Cala a boca molecada!
Ou vai entrar na porrada
Cambada de desajustados!

Nem suas mães os quiseram
Desde o dia que vieram
E ainda bem que não nasci
No mesmo mal em que estiveram

Enquanto existir distração
Restrito será seu contato:
Problemas não chamam a atenção
Ao veio da escuridão
Silêncio do assassinato

Eu me calo e penso então
Em como o mundo é ingrato
Por sobras ajoelhadas
Firmo-me em concubinato
Em estruturas niveladas
Para minha exploração

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A noite chega aos esquecidos
E com ela sonhos contidos
De um sono forçado

Sinto-me encarcerado
No meu instinto debelado
Pelo pânico dos inibidos

E os olhares entristecidos
Cerram-se em luto fechado
Da morte sem celibato

Estamos envelhecidos
Tão jovens e tão cansados
Estamos aprisionados
Na cela de um orfanato

Foto de betimartins

Da Guerra ao amor

Um idiota, um dia cobiçou uma grande e poderosa montanha
O que ele tinha já não lhe chegava, queria apenas mais
Esperto enviou os serviçais e eles roubaram a montanha
Da terra dos filhos do amor, a terra dos irmãos de Jesus

Então o, idiotia se sentiu gente importante e gente feliz
Porque não? Agora é conquistar mais e mais e ainda mais
Envia ainda mais serviçais ao engano e ganha, como ganha!
Mas aquele idiota morre, e vai ter com S. Pedro, no outro lado...

O S. Pedro apenas perguntou onde ele acharia que iria ficar?
Ele achou que o paraíso era o seu lugar eterno e seu descanso
S. Pedro, sorriu, discordou e falou que o paraíso era chato
Melhor era o inferno, sempre ele teria algo a conquistar

Confuso o idiota aceitou e o que ele correu das armas
Onde ele tinha que ficar em destroços da eternidade
E a feiúra do lugar? O forte cheiro nauseabundo a carne
Dizia o S Pedro:- È o teu churrasco meu filho... Calma!

Chorando o senhor todo poderoso, o perfeito idiota feliz
Ajoelhou-se e pediu perdão, S. Pedro recusou e mostrou-lhe
Os filhos do amor mortos, as mães sem filhos e os sem maridos
Os velhinhos corando e se consumindo na triste recordação...

Arrependido o idiota lembra-se de sua família, dos seus filhos
Sua esposa bem vestida e muito bonita voltou a casar e agora é feliz
Casou com um simples soldado, que sabe ser o marido, pai dos seus filhos
Afinal a guerra perdeu a graça e o amor trouxe de novo o manto da paz...

Foto de Nailde Barreto

"Êxtase de Liberdade"

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****Nailde Barreto (02/06/2011)

Êxtase de liberdade.

O ato cauteloso remete-nos ao êxito. Nem sempre.
No entanto, podemos sentir a ação silenciosa, inodora, incolor, invisível, cuja dimensão é intangível desse tal amor que chega e compromete e, descomporta o comportado.
Afinal, por que vivemos como marionetes diante das preliminares do amor?
Coisa plausível. Gostamos de amar e sofrer ou mais sofrer do que amar? E, por que passamos a vida entre amores e desamores?
Então, isso é moda ou é loucura?
Sei o que você pensa e o que sentiu quando toquei você. Êxtase de liberdade. Atitude equivocada.
Ainda assim, os neurônios não afetados pelo ardor do momento, ajudaram-me a observar a ligeira frieza remetida do seu olhar, enquanto brincava de prostituir os sentimentos...
E agora, você acha que será o mesmo depois de um tempo fora da lei?
Isso é radical, mas, no fundo somos hipócritas o bastante para fingir que um nunca existiu na vida do outro. Então, ironicamente, somos mortos-vivos, afinal, fomos enterrados com direito a velório dramático.
Por fim, cá estamos, cada um no seu próprio passado, que sufoca e mata um pouco de nós a cada dia. Desse modo, seja feita a vossa vontade, insensata majestade, em seu discurso bonito, para a propícia, amizade!
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Foto de Marilene Anacleto

Homoafetivos. Polêmica.

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Sem com o amor se importar,
Corações feitos de neve,
Encobrem crimes e maldades,
Sem que o olhar se eleve.

Maltratar animais é crime.
É crime derrubar árvores.
E, para os homossexuais,
Sem lei, só as almas de aço.

São eles, menos que um animal?
Ou menores que uma planta?
Onde anda o amor dos cristãos,
Que em todo tempo se ora e se canta?

E se tivermos algum filho
Com esse “tal terceiro sexo”?
Iremos também excluí-lo,
E então fechar os braços,
Para tantas pessoas abertos?

O que diria Jesus Cristo
Ao ver tamanho anoitecer?
Para os corações em gelo,
Respeito, agora necessita de lei?

Mortos ou marginalizados
Professores, arquitetos, poetas,
Excluí-los seria missão
Dos verdadeiros profetas?

Marilene Anacleto

Foto de betimartins

O fantasma do hospital pediátrico.

O fantasma do hospital pediátrico.

Era noite o João piorou, o seu câncer alastrava e seu tempo de vida era diminuto o seu caso já era bastante mais avançado, as dores eram muitas e precisava ser de novo medicado. Seus pais, o senhor Alfredo e dona Isabel pegaram no João e arrancaram com ele para o hospital, o seu medico já estava esperando ele, recomendou que fosse melhor internar e vigiar de mais perto.
João fez cara feia, era um menino lindo de olhos verdes, cabeça sem cabelo, mas um sorriso iluminado e franco, era bastante positivo e conformado com a sua doença, às vezes era ele que tranqüilizava a sua mãe. Mala já no carro e foram para hospital oncologia de Lisboa, lá tinham tudo, uma sala, repleta com novidades, desde PC, jogos, livros e até palhaços e pessoas muito simpáticas.
Faziam um bom trabalho, de convívio e auxilio, todos eram simpáticos e o João achou que isso até ia ajudar sua mãe a superar o que vinha ai. Ele sabia que tinha pouco tempo, seu amigo invisível já tinha falado a ele que se preparasse, apenas esperava por ele para fazer a passagem.
Logo lá chegaram, o medico medicou o João e mandou fazer mais uns exames para diagnosticar melhor o estado do João, ele já estava tendo falência de órgãos, seu caso estava mesmo muito mau.
João não era parvo ele lia os olhares das pessoas e sabia o que eles pensavam, sorria e apenas se conformava. Seu quarto era grande, tinha uma cama para sua mãe ficar ou seu pai, olhava para tudo com admiração, mas era muito equipado com maquinas, nada faltava ali. As dores aumentavam à medida que a morfina já não fazia efeito, ele já ficava muito cansado, ele tinha um dom que via o que outros não viam, ele conseguia comunicar com os mortos.
A noite veio e sua mãe adormeceu cansada, ele pode conversar com seu amigo invisível, queria contar as novidades, estranhamente ele o chamou, mas ele não apareceu, nada, estava assustado ele o ajudava a superar o tempo e as dores. A noite já ia alta, eram cerca de três horas da manhã e escutou um riso assustador e um gemido de uma menina, aterrorizada, dizendo:
- Deixa-me, por favor, não faças isso.
Desatando aos gritos, como ela gritava, ele não sabia como fazer, não podia sequer sair da sua cama com os tubos que ligaram nele. Fechou os olhos e pensou no seu amigo com força e pediu a Deus que enviasse seu amigo. Nada, absolutamente nada, que iria ser dele se aquela coisa o atacasse, ele chorou, teve medo, nunca tinha medo, mas naquele exato momento um arrepio atravessou a espinha.
A noite avançava, o silêncio imperava pelo hospital, não se escutava nada e de repente, ele escuta um arrastar de passos, pesados, um cheiro nauseabundo, para exatamente a na sua porta do quarto, o frio percorre seu corpo, queria gritar, não conseguia, a voz sumiu e ficou quieto e dando a impressão que estava a dormir.
A porta abriu-se, entra um palhaço, de aspecto horrendo, mal cheiroso, seus dentes estavam podres e seus olhos esvaiam sangue. Era horrendo, ele caminha em direção de sua cama, rindo de forma assustadora, rindo ele dizia:
- Este aqui vai ser meu, eu o vou levar comigo.
Rindo e maquiavélico, ele saiu do quarto, dando o menino como alma ganha no seu assombroso mundo. Logo ele escutou a voz da menina, chorando e gritando, estava gelado e sem saber o que devia fazer também que ele poderia fazer? Nada estava preso na cama.
A porta se abre de novo e entra uma enfermeira simpática, outra dose para ele ficar sem dor e adormecer, totalmente cansado e sem forças ele adormece.
Entra a luz pela janela do seu quarto, escutando os carrinhos de comida pelo corredor, agitação, vozes, agitação e vida. Satisfeito ele fica agradecido por ser dia, certamente aquela coisa horrenda não o vai chatear, se seu amigo aparecesse logo ele saberia o que fazer.
Na sala estava uma menina linda ainda muito pequenina, teria ai cerca de quatro anos, escutou pela sua voz que era a menina que chorava e gritava. Ela sorriu para o João, nisto ela modificou o seu rosto, ficou pálida, João olhou para onde ela estava a olhar, viu o palhaço horrendo acenando com a sua mão, cheia de sangue. Ele olhou para o João e desatou a rir assustadoramente. Jessica era o nome da menina, desatou a chorar.
- Eu não quero estar aqui, deixa-me ir para casa mama, por favor.
Desolada a mãe ficava sem saber o que fazer ela também estava muito mal já não agüentava mais nenhuma sessão de quimioterapia, já não havia mais nada a fazer, apenas esperar que ela não sofra muito.
João sabia que era naquela noite que algo muito ruim ai acontecer, ele sentia dentro de si, a noite logo veio, sua mãe não parava de chorar, o coração do João estava fraco, os rins quase nem mais funcionavam, os pulmões estavam também falhando, se dessem mais morfina, ele certamente teria falência cardíaca. O câncer ósseo espalhou-se rapidamente pelo seu corpo, a noite estava ficando mais silenciosa, seu amigo nada, sem sombra dele, se ao menos ele aparecesse, poderia o ajudar á Jessica.
Todos dormiam, estava um silêncio pesado, mortal, o ar estava sufocante, o medo invadia seu corpo, de repente escutasse um grito, um grito desesperante, volta o silêncio, que mata. Choros e correria, uma movimentação descomunal, escuta um medico falando no corredor:
- A Jessica, foi forte, apenas não compreendo, ela estava a começar responder ao tratamento e foi-se de repente, estranho.
Desolado ele fica com medo, foi o palhaço e agora sou eu. Olha para sua mãe e afaga seus cabelos, que estava dormindo aninhada em sua cama, ela sorriu dormindo, ele pensa quantas saudades eu vou ter dela e do meu pai.
Um lagrima cai pelo seu rosto, soava a despedida, lembrou as coisas boas e lindas que viveram, com os seus pais, logo tudo ia terminar.
Tudo voltou acalmar, ele queria dormir, mas não conseguia, logo voltou a escutar os passos assustadores, a porta se abre e ele decide não ter medo e lutar contra o palhaço, olhos esvaindo de sangue, voz tenebrosa, o cheiro nauseabundo era tudo o que ele conseguia sentir.
Ele enfrenta o palhaço tenta sugar a sua alma, o menino se defende fazendo uma oração que seu amigo ensinou algo acontece, o palhaço se esfuma e desfaz. Sumiu por completo e estranhamente, ele vê uma luz incrível, dela sai um anjo lindo, era seu amigo invisível, felizes eles, se abraçam e o anjo amigo fala para ele:
- João, tu mereces uma oportunidade, pois superaste a tua doença, foste gentil com os teus pais, foste valente e acreditaste no nosso Pai.
Sorrindo e suas mãos rodeadas de uma luz, uma linda luz verde clara que ele coloca no seu corpo e todo ele começa a vibrar e bilhar como uma magia, uma coisa de anjos mesmo.
Cansado e agradecido ele adormece, logo sua mãe o acorda para ser visto pelo medico, espanto o João estava com os batimentos cardíacos normais. Espantados fizeram exames e verificaram que ele estava curado, completamente curado.
João curou-se e o fantasma tira almas tinha desaparecido de vez, já não voltava para assustar as criancinhas e as levar para a escuridão

Foto de Marilene Anacleto

Borboleta

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Vem, querida!
Faz-me ser a tua flor,
Banha-me com tua cor,
Tira-me essas mazelas.
Não são minhas e insistem
Em tornar-me muito triste
Nesta rica primavera.

Pulula em minhas pétalas,
Acorda os sentidos mortos.
Se for mesmo necessário,
Faz-me desatar em choro,
Que lave e purifique-me o corpo.

Traga-me cirandas aladas,
E pipocas cor-de-rosa,
E passeios de mãos dadas
E as antigas danças de roda.

Semeie em mim novos sonhos,
Ou acorde-me os antigos
Espraiados sobre as flores,
Cristalizados nas ondas,
Desenhados em róseas nuvens.

Que as cores da primavera,
Trazidas por ti agora,
Sobreponham o inverno
De minha alma nessa hora.
Ajude-me a esquecer o agora.

Marilene Anacleto

Foto de Joaninhavoa

Embalos...

*
... embalos
*

Vamos partilhar desenganos
d`aqueles mortos os vivos
alinham-se nas águas do Tejo
eu embalo, nós embalamos

Sai hífen de ligação
nos embalos que nos dão
não queremos mais enganos
desejamos dar as mãos

A minha estende-se por fim
criando um casulo dobrado
à muito tempo esmerado

E a roda continua a girar
e o círculo a se apertar
como nas ondas do Rio

a bailar...

Joaninhavoa
(helenafarias)
01/05/2011

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