Ninguém

Foto de annytha

O GRANDE CIRCO

O GRANDE CIRCO passou, deixando para trás uma grande multidão de sonhos e fantasias, falsas alegrias, pessoas vazias, que estiveram ali, talvez numa tentativa de encontrar algo que pudesse preencher os seus vazios, e por isso gritavam todos com uma só voz, os nomes de duas personagens, que pra mim, não passam de desconhecidas, mas penso que devem ser os protagonistas do GRANDE CIRCO – “ VIVA ZÉ PEREIRA, VIVA JUVENAL...” e prosseguem nesse ritmo alucinantes, em busca dos sonhos que, possivelmente nunca se realizarão, pois, O GRANDE CIRCO, nada tem a oferecer, a não ser meras ilusões.
Colombinas, trocaram suas vestes de seda e babados, pelo semi-nu! Pra que tanta roupa?
Pierrôs, não são mais apaixonados, e já não têm mais olhares tristes e nem pingos de lágrimas escorrendo pelo seu rosto, “ que por causa de uma colombina acabava chorando!” Hoje, eles, preferem disputar com as mulheres, por isso, se travesti iguais a elas..., E assim, todos passam quatro dias caminhando e dando vivas aos tais Zé Pereira e Juvenal...
As chuvas de confetes, foram trocadas pela chuva de latinhas, copos e garrafas descartáveis (ainda bem que são descartáveis). Ninguém se incomoda com isso; todos cantam, riem e gritam freneticamente, num jogo de empurra-empurra...
Serpentinas, já não são usadas para laçar algum apaixonado!
Ninguém liga pro cansaço...
Enfim, chegam ao fim da linha, sem se importarem com a exaustão.
Todos com suas diversas fantasias multicores, que, na quarta-feira “ingrata” (até hoje ainda não conseguí descobrir por que essa quarta-feira é “ingrata" e os deixa contrariados)perderão seus encantos e as suas cores, deixando apenas grandes lacunas... Agora, já cansados e sem forças, e com olhares tristes, acompanham o GRANDE CIRCO que vai deixando as ruas para ir embora. Mãos acenam, dando adeus ao GRANDE CIRCO que está partindo, deixando apenas, angústia e solidão, porque era pura fantasia!
Hoje passei pelas ruas vazias e sujas, com um odor horrível, um misto de bebidas alcoólicas e cigarros! De longe, vi que alguém estava sentado numa calçada, com o olhar perdido e triste, talvez, fazendo um balanço dos quatro dias de euforia. Quem sabe, estivesse pensando aliviado, que não é e nunca foi “ladrão de mulher” e com o seu rosto quase sem pintura, dava pra ver que seu semblante estava triste e chorava, porque nem mulher ele tinha mais, pois o GRANDE CIRCO a levou, deixando-o só e desolado! Coitado do palhaço que já fez rir a tanta gente e agora, com o coração dilacerado, estava ali a pensar que O GRANDE CIRCO, não tinha picadeiro nem trapézio, só malabarista, e ele, mesmo sendo palhaço, fazia também malabaris, foi ai então, que caiu na realidade!
E assim, mesmo em meio a tantos sonhos perdidos, fantasias destruídas, falsas alegrias, desilusão e cansaço, todos aguardam com muita ansiedade, a volta do GRANDE CIRCO, que chegará com muito mais ilusões, sonhos e fantasias, pra oferecer aos foliões!

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Foto de fisko

Deixa lá...

Naquele fim de tarde éramos eu e tu, personagens centrais de um embrulho 8mm desconfiados das suas cenas finais… abraçados ao relento de um pôr-do-sol às 17:00h, frio e repleto de timidez que se desvanece como que um fumo de um cigarro. Eu tinha ido recarregar um vício de bolso, o mesmo que me unia, a cada dia, à tua presença transparente e omnipotente por me saudares dia e noite, por daquela forma prestares cuidados pontuais, como mais ninguém, porque ninguém se importara com a falta da minha presença como tu. Ainda me lembro da roupa que usara na altura: o cachecol ainda o uso por vezes; a camisola ofereci-a à minha irmã – olha, ainda anteontem, dia 20, usou-a e eu recordei até o cheiro do teu cabelo naquela pequena lembrança – lembro-me até do calçado: sapatilhas brancas largas, daquelas que servem pouco para jogar à bola; as calças, dei-as entretanto no meio da nossa história, a um instituto qualquer de caridade por já não me servirem, já no fim do nosso primeiro round. E olha, foi assim que começou e eu lembro-me.
Estava eu na aula de geometria, já mais recentemente, e, mais uma vez, agarrei aquele vício de bolso que nos unia em presenças transparentes; olhei e tinha uma mensagem: “Amor, saí da aula. Vou ao centro comercial trocar umas coisas e depois apanho o autocarro para tua casa”. Faço agora um fast forward à memória e vejo-me a chegar a casa… estavas já tu a caminho e eu, entretanto, agarrei a fome e dei-lhe um prato de massa com carne, aquecido no micro-ondas por pouco tempo… tu chegas, abraças-me e beijas-me a face e os lábios. Usufruo de mais um genial fast forward para chegar ao quarto. “Olha vês, fui eu que pintei” e contemplavas o azul das paredes de marfim da minha morada. Usaste uma camisola roxa, com um lenço castanho e um casaco de lã quentinho, castanho claro. O soutien era preto, com linhas demarcadas pretas, sem qualquer ornamento complexo, justamente preto e só isso, embalando os teus seios únicos e macios, janela de um prazer que se sentia até nas pontas dos pés, máquina de movimento que me acompanhou por dois anos.
Acordas sempre com uma fome de mundo, com doses repentinas de libido masculino, vingando-te no pequeno-almoço, dilacerando pedaços de pão com manteiga e café. Lembro-me que me irrita a tua boa disposição matinal, enquanto eu, do outro lado do concelho, rasgo-me apenas mais um bocado de mim próprio por não ser mais treta nenhuma, por já não me colocares do outro lado da balança do teu ser. A tua refeição, colorida e delicada… enquanto me voltavas a chatear pela merda do colesterol, abrindo mãos ao chocolate que guardas na gaveta da cozinha, colocando a compota de morango nas torradas do lanche, bebendo sumos plásticos em conversas igualmente plásticas sobre planos para a noite de sexta-feira. E eu ali, sentado no sofá da sala, perdendo tempo a ver filmes estúpidos e sem nexo nenhum enquanto tu, com frases repetidas na cabeça como “amor, gosto muito de ti e quero-te aos Domingos” – “amor, dá-me a tua vida sempre” – “amor, não dá mais porque não consigo mais pôr-te na minha vida” e nada isto te tirar o sono a meio da noite, como a mim. Enquanto estudo para os exames da faculdade num qualquer café da avenida, constantemente mais importado em ver se apareces do que propriamente com o estudo, acomodas-te a um rapaz diferente, a um rapaz que não eu, a um rapaz repentino e quase em fase mixada de pessoas entre eu, tu e ele. Que raio…

Naquela noite, depois dos nossos corpos se saciarem, depois de toda a loucura de um sentimento exposto em duas horas de prazer, pediste-me para ficar ali a vida toda.

Passei o resto da noite a magicar entre ter-te e perder-te novamente, dois pratos de uma balança que tende ceder para o lado que menos desejo.
É forte demais tudo isto para se comover e, logo peguei numa folha de papel, seria nesta onde me iria despedir. Sem força, sem coragem, com todas aquelas coisas do politicamente correcto e clichés e envergaduras, sem vergonha, com plano de fundo todos os “não tarda vais encontrar uma pessoa que te faça feliz, vais ver”, “mereces mais que uma carcaça velha” e até mesmo um “não és tu, sou eu”… as razões eram todas e nenhuma. Já fui, em tempos, pragmático com estas coisas. Tu é que és mais “há que desaparecer, não arrastar”, “sofre-se o que tem que se sofrer e passa-se para outra”. Não se gosta por obrigação, amor…
Arranquei a tampa da caneta de tinta azul, mal sabia que iria tempos depois arrancar o que sinto por ti, sem qualquer medo nem enredo, tornar-me-ia mais homem justo à merda que o mundo me tem dado. Aliás, ao que o teu mundo me tem dado… ligo a máquina do café gostoso e barato, tiro um café e sento-o ao meu lado, por cima da mesa que aguentava o peso das palavras que eu ia explodindo numa página em branco. Vou escrevendo o teu nome... quão me arrepia escrever o teu nome, pintura em palavras de uma paisagem mista, ora tristonha, ora humorística… O fôlego vai-se perdendo aos poucos ornamentos que vou dando á folha… Hesitação? Dúvidas?... e logo consigo louvar-me de letras justapostas, precisamente justas ao fado que quiseste assumir à nossa história. Estou tão acarinhado pela folha, agora rabiscada e inútil a qualquer Fernando Pessoa, que quase deambulo, acompanhando apenas a existência do meu tempo e do tic-tac do meu relógio de pulso. Não me esqueço dos “caramba amor”, verso mais sublime a um expulsar más vibrações causadas por ti. Lembro-me do jardim onde trocávamos corpos celestes, carícias, toques pessoais e lhes atribuíamos o nome “prazer/amor”. Estou confuso e longe do mundo, fechando-me apenas na folha rabiscada com uma frase marcante no começo “Querida XXXXXX,”… e abraço agora o café, já frio, e bebo-o e sinto-o alterar-me estados interiores. Lembro-me de um “NÃO!” a caminho da tijoleira, onde a chávena já estaria estilhaçada…
Levantei-me algum tempo depois. Foste tu que me encontraste ali espatifado, a contemplar o tecto que não pintei, contemplando-o de olhos cintilantes… na carta que ainda estava por cima da mesa leste:

“Querida XXXXXX, tens sido o melhor que alguma vez tive. Os tempos que passamos juntos são os que etiqueto “úteis”, por sentir que não dou valor ao que tenho quando partes. Nunca consegui viver para ninguém senão para ti. Todas as outras são desnecessárias, produtos escusados e de nenhum interesse. Ainda quero mesmo que me abraces aos Domingos, dias úteis, feriados e dias inventados no nosso calendário. M…”

Quis o meu fado que aquele "M" permanecesse isolado, sem o "as" que o completaria... e quis uma coincidência que o dia seguinte fosse 24 de Março... e eis como uma carta de despedida, que sem o "Mas", se transformou ali, para mim e para sempre, numa carta precisamente um mês após me teres sacrificado todo aquele sentimento nosso.
Ela nunca me esqueceu... não voltou a namorar como fizemos... e ainda hoje, quando ouço os seus passos aproximarem-se do meu eterno palácio de papel onde me vem chorar, ainda que morto, o meu coração sangra de dor...

Foto de Danilo Matos

Pensamento motriz

Uma tristeza sem precedentes mostra-se ativa na profundeza do meu ser.
Vozes vindas do além, quase que inaudíveis, ecoa constantemente calando a minha voz.
Interrogações sufocam-me constantemente, são dúvidas vociferando, causando um som insuportável nos meus tímpanos.
Quem sou? Por que sou?
Responder... Quem poderá?
Horas mostro-me forte, suportando todas as afrontas que a vida me propõe, mas não sou de ferro nem muito menos super-herói.
Quando não suporto mais, abro a boca e levanto meus ouvidos, com intrepidez vocifero: - Oh! vida minha, o que tu tens comigo? Por que me silencia quando estou convicto do que quero? Será que serei sempre escravo seu? Responda-me, pois, meu coração está ávido por respostas.
De repente, ouço um burburinho...
Meu coração palpita em uma velocidade desordenada, causando-me falta de ar.
Lanço-me ao chão e tento ouvir o que a vida quer falar:
-Oh! vivente insensato até quando me interrogará com suas perguntas vazias?
Não sabes que vives em uma escola? Não percebeste que o erro de ontem te fortaleceu para o agora? Até quando duvidarás de mim? Não sabes que só quero o seu bem!
-Viva constantemente o agora, pois, tudo que fizeres hoje refletirá amanhã.
Com os olhos lacrimejando, levanto-me do chão, conformado com tudo que ouvi, silencio-me.
Cabisbaixo, saí do anfiteatro, triste, mas convicto que: a escola da vida formará apenas aqueles que têm a sensibilidade de escutar o que todos rejeitam, de ver o que ninguém quer e de fazer o que todos têm medo.
Quando saíres em busca de seus objetivos não se esqueça de levar contigo uma caneta, para você reeditar todos os erros cometidos, os erros são quem te fortalece para o amanhã.

Foto de betimartins

Cai o pano no silêncio da noite

Cai o pano no silêncio da noite

Agora neste momento é exatamente vinte e três horas e vinte minutos, distraidamente, eu, olho o para a TV, escuto as vozes alegres, ali corre vida, ação e muita vida do faz de conta.
Faz de conta que eu sou tudo o que os outros são e não é assim, claro que a maior parte de nós, vivemos a vida do outro e nos desleixamos com a nossa própria vida, ou a deixamos correr para que os outros a possam viver por nós.
Estranhamente, senti bastante desconfortável, senti o silêncio mórbido entrar em mim, sacudi minha mente, abri-me para outros lugares, lugares onde ninguém acessa apenas eu e Deus.
Olhei meu monitor, teclado, as formas do meu quarto, paredes apenas e um quadro, que não parecia estar sozinho, mas olhando para mim, ali naquele momento, arrepiei pelo olhar que refletia dele, entrou na minha alma, deixou-me confortável e alegre.
Para muitos era apenas um quadro, um simples quadro, simbólico e decorativo, mas para mim representava algo imenso e sagrado, representava meu irmão Jesus.
Desligo a TV, abro uma janela do meu computador, olho apenas pensando que fazer naquele momento, respiro por momentos, bem fundo, mesmo bem fundo, inicia uma busca e apenas esta, deságua num site de meditação.
Eu adoro musica calma, que relaxa a minha mente e deixa em união com o Cosmo e com o Grande Arquiteto do Universo que é Deus de todas as coisas visíveis ou invisíveis. Seja até independente de religiões, mas sim do amor que deveremos ter por nós mesmos, pelos outros e por nosso amado Deus, se ele é exatamente uma parte de nós e nós a parte que completa a Deus.
Nós somos amor, sendo nós amor, não entendo a dor, a crueldade, aquele que mata, o que comete a violação sobre outro, o que engana e o que até cobiça o alheio. Não entendo a guerra, os políticos, o desrespeito contra a natureza e a falta de entendimento e começar por mim mesma.
Exatamente a minha falta de entendimento, talvez se deva a não procurar mais, as respostas, claro que dão muito trabalho, são pilhas de livros, dias, meses e anos de pesquisa, assim por diante e penso que já seremos bem velhinhos e estaremos a entender um pouco melhor, mas claro que com muita duvida normal do ser humano.
Nesta caminhada o que mais me doeu dentro de meu peito, foi à falta de fé, falta de entendimento pela vida, se eu neste momento morresse que medo teria que sentir? A dor que poderia o meu corpo sentir?
Aqueles, em que nada acreditam, apenas nasceram, viveram e morreram e estão certos da lei natural da vida terrena, mas devem ter um pânico terrível. Aqueles bichinhos afinal vão devorar o corpo ali sem vida e inerte, apenas mais um composto da natureza para adubar a mesma, mas não será mais um pesadelo?
Uns pesadelos da vida real, a vida terrena, aqui fazem, aqui recebes ou como disse Jesus daí a “Cesar o que é de Cesar”, claro que isto é para todas as nossas atitudes, julgamentos, condutas e até porque Deus é justo e não deixa para os outros colherem o que não é deles.
Podem não acreditar eu gostava ser Ateu, apenas acreditar que nasci, vivi e morri, era melhor que estar pensando em meus atos e atitudes. Diria que estaria livre para aprontar e fazer tudo o que desse na minha vontade, até fazer frente aqueles que me fizessem frente, transformar-los em escadas e subir.
Lá em cima, olharia com o meu nariz empinado e os sacuda ria, nos meus pensamentos, diria, eu cheguei aqui pelos meus próprios méritos. Engano meu, eu para chegar ali, humilhei, subjuguei e maltratei, ou seja, causei dor e lágrimas.
Refletindo na dor, que possa ter causado nas lágrimas que posso ter feito chorar, apenas fico pensando na vida e no que ela, tanto danos nos causa, por escolhas, por mágoas, procuras no nosso preenchimento da alma.
Assim fico a pensar que esta vida aqui é um teatro a três tempos, o primeiro tempo, apresenta-se a peça e seus atores e o que ela vai representar, segundo tempo a verdadeira historia da peça, enredos e protagonistas, terceiro tempo apenas é o tão esperado fim, o desejado final da peça e logo o pano se fecha.
Luzes se acendem, os espectadores eufóricos ou não, se levantam, ou talvez não, conforme a qualidade da mesma peça e batem palmas, elogiando-ª. Os que não conseguem representar bem a sua peça, apenas ficam sozinhos no palco e nem as luzes se acendem no final. Apenas o vazio, vazio e solidão, nada mais.
A vida é feita de momentos, apenas são esses belos momentos que levamos gravados na nossa alma, saibamos escrever nossa peça em amor. Só assim o nosso teatro, eleva e deixa-nos levantar e aplaudir a nós mesmos pelo belo desempenho vivido.
E agora vou dormir mais aliviada, embora saiba que ainda tenho muito a fazer, mas antes de dormir e como acredito em Meu Pai, Deus, não me vou deitar sem agradecer o fato de estar aqui escrevendo e vivendo este nosso momento “eu e ele”.
Boa noite e obrigado por estar aqui comigo.
A você também...

Foto de fisko

Deixa lá...

Naquele fim de tarde éramos eu e tu, personagens centrais de um embrulho 8mm desconfiados das suas cenas finais… abraçados ao relento de um pôr-do-sol às 17:00h, frio e repleto de timidez que se desvanece como que um fumo de um cigarro. Eu tinha ido carregar um vício de bolso, o mesmo que me unia, a cada dia, à tua presença transparente e omnipotente por me saudares dia e noite, por daquela forma prestares cuidados pontuais, como mais ninguém, porque ninguém se importara com a falta da minha presença como tu. Ainda me lembro da roupa que usara na altura: o cachecol ainda o uso por vezes; a camisola ofereci-a à minha irmã – olha, ainda anteontem, dia 20, usou-a e eu recordei até o cheiro do teu cabelo naquela pequena lembrança – lembro-me até do calçado: sapatilhas brancas largas, daquelas que servem pouco para jogar à bola; as calças, dei-as entretanto no meio da nossa história, a um instituto qualquer de caridade por já não me servirem, já no fim do nosso primeiro round. E olha, foi assim que começou e eu lembro-me.
Estava eu na aula de geometria, já mais recentemente, e, mais uma vez, agarrei aquele vício de bolso que nos unia em presenças transparentes; olhei e tinha uma mensagem: “Amor, saí da aula. Vou ao centro comercial trocar umas coisas e depois apanho o autocarro para tua casa”. Faço agora um fast forward à memória e vejo-me a chegar a casa… estavas já tu a caminho e eu, entretanto, agarrei a fome e dei-lhe um prato de massa com carne, aquecido no micro-ondas por pouco tempo… tu chegas, abraças-me e beijas-me a face e os lábios. Usufruo de mais um genial fast forward para chegar ao quarto. “Olha vês, fui eu que pintei” e contemplavas o azul das paredes de marfim da minha morada. Usaste uma camisola roxa, com um lenço castanho e um casaco de lã quentinho, castanho claro. O soutien era preto, com linhas demarcadas pretas, sem qualquer ornamento complexo, justamente preto e só isso, embalando os teus seios únicos e macios, janela de um prazer que se sentia até nas pontas dos pés, máquina de movimento que me acompanhou por dois anos.
Acordas sempre com uma fome de mundo, com doses repentinas de libido masculino, vingando-te no pequeno-almoço, dilacerando pedaços de pão com manteiga e café. Lembro-me que me irrita a tua boa disposição matinal, enquanto eu, do outro lado do concelho, rasgo-me apenas mais um bocado de mim próprio por não ser mais treta nenhuma, por já não me colocares do outro lado da balança do teu ser. A tua refeição, colorida e delicada… enquanto me voltavas a chatear pela merda do colesterol, abrindo mãos ao chocolate que guardas na gaveta da cozinha, colocando a compota de morango nas torradas do lanche, bebendo sumos plásticos em conversas igualmente plásticas sobre planos para a noite de sexta-feira. E eu ali, sentado no sofá da sala, perdendo tempo a ver filmes estúpidos e sem nexo nenhum enquanto tu, com frases repetidas na cabeça como “amor, gosto muito de ti e quero-te aos Domingos” – “amor, dá-me a tua vida sempre” – “amor, não dá mais porque não consigo mais pôr-te na minha vida” e nada isto te tirar o sono a meio da noite, como a mim. Enquanto estudo para os exames da faculdade num qualquer café da avenida, constantemente mais importado em ver se apareces do que propriamente com o estudo, acomodas-te a um rapaz diferente, a um rapaz que não eu, a um rapaz repentino e quase em fase mixada de pessoas entre eu, tu e ele. Que raio…

Naquela noite, depois dos nossos corpos se saciarem, depois de toda a loucura de um sentimento exposto em duas horas de prazer, pediste-me para ficar ali a vida toda.

Passei o resto da noite a magicar entre ter-te e perder-te novamente, dois pratos de uma balança que tende ceder para o lado que menos desejo.
É forte demais tudo isto para se comover e, logo peguei numa folha de papel, seria esta, onde me iria despedir. Sem força, sem coragem, com todas aquelas coisas do politicamente correcto e clichés e envergaduras, sem vergonha, com plano de fundo todos os “não tarda vais encontrar uma pessoa que te faça feliz, vais ver”, “mereces mais que uma carcaça velha” e até mesmo um “não és tu, sou eu”… as razões eram todas e nenhuma. Já fui, em tempos, pragmático com estas coisas. Tu é que és mais “há que desaparecer, não arrastar”, “sofre-se o que tem que se sofrer e passa-se para outra”. Não se gosta por obrigação, amor…
Arranquei a tampa da caneta de tinta azul, mal sabia que iria tempos depois arrancar o que sinto por ti, sem qualquer medo nem enredo, tornar-me-ia mais homem justo à merda que o mundo me tem dado. Aliás, ao que o teu mundo me tem dado… ligo a máquina do café gostoso e barato, tiro um café e sento-o ao meu lado, por cima da mesa que aguentava o peso das palavras que eu ia explodindo numa página em branco. Vou escrevendo o teu nome... quão me arrepia escrever o teu nome, pintura em palavras de uma paisagem mista, ora tristonha, ora humorística… O fôlego vai-se perdendo aos poucos ornamentos que vou dando á folha… Hesitação? Dúvidas?... e logo consigo louvar-me de letras justapostas, precisamente justas ao fado que quiseste assumir à nossa história. Estou tão acarinhado pela folha, agora rabiscada e inútil a qualquer Fernando Pessoa, que quase deambulo, acompanhando apenas a existência do meu tempo e do tic-tac do meu relógio de pulso. Não me esqueço dos “caramba amor”, verso mais sublime a um expulsar más vibrações causadas por ti. Lembro-me do jardim onde trocávamos corpos celestes, carícias, toques pessoais e lhes atribuíamos o nome “prazer/amor”. Estou confuso e longe do mundo, fechando-me apenas na folha rabiscada com uma frase marcante no começo “Querida XXXXXX,”… e abraço agora o café, já frio, e bebo-o e sinto-o alterar-me estados interiores. Lembro-me de um “NÃO!” a caminho da tijoleira, onde a chávena já estaria estilhaçada…
Levantei-me algum tempo depois. Foste tu que me encontraste ali espatifado, a contemplar o tecto que não pintei, contemplando-o de olhos cintilantes… na carta que ainda estava por cima da mesa leste:

“Querida XXXXXX, tens sido o melhor que alguma vez tive. Os tempos que passamos juntos são os que etiqueto “úteis”, por sentir que não dou valor ao que tenho quando partes. Nunca consegui viver para ninguém senão para ti. Todas as outras são desnecessárias, produtos escusados e de nenhum interesse. Ainda quero mesmo que me abraces aos Domingos, dias úteis, feriados e dias inventados no nosso calendário. M…”

Quis o meu fado que aquele "M" permanecesse isolado, sem o "as" que o completaria... e quis uma coincidência que o dia seguinte fosse 24 de Março... e eis como uma carta de despedida, que sem o "Mas", se transformou ali, para mim e para sempre, numa carta precisamente um mês após me teres sacrificado todo aquele sentimento nosso.
Ela nunca me esqueceu... não voltou a namorar como fizemos... e ainda hoje, quando ouço os seus passos aproximarem-se do meu eterno palácio de papel onde me vem chorar, ainda que morto, o meu coração sangra de dor...



Foto de Xaverloo

As Partes de mim sem som

É mim
Que agora luz se apaga
É mim que quase já sem som afaga o vazio
Em forma de esperança que morreu.

É mim
Que quando partes de mim sem som
Destila os ruídos para ouvir de longe e em mim
A mistura dos sons que o silêncio faz.

É mim que agora já sem forma
Contando pedaços me perco
É mim em subtrações,
Dividendos,
Proporções inconcebíveis.

É mim agora já sem voz
Perdido em olhos de ninguém
Prisões sem muros
Apuros
Impossíveis.

É mim que agora vela
O facho de luz que se desfez antes que o tocasse.

Xaverloo

Foto de João Victor Tavares Sampaio

A Última Cruz

Não foi o primeiro pai de família que existiu, nem o último que faleceu. Sua vida, assim terminada, refletiu a solidão que quer queremos ou não, nos faz sentir saudade, amor, essas coisas de gente viva. Deixou uma falta que não se sacia nos dias de finados, aniversários, missas de sétimo dia. Foi, e não voltou mais. Quem sabe um céu lhe aguardava.

Sua morte foi trágica, solitária, isolada. Ninguém deu-se conta de tanto, ou melhor, poucos. Seu corpo ficou ali, largado por dois dias entre o chão da cozinha e a entrada do banheiro, era uma casa de pobre, mas bem assentada, na periferia de uma cidade periférica. Morreu e o esqueceram, ali na sua morte. Houve um vizinho não se preocupou com sua recente podridão, razão de seu óbvio enterro.

Uma coisa deve ser explicada, para melhor entendimento do texto. Ninguém quer a morte. Ela é um processo doloroso, traumático. Não há um ser humano que não responda aos seu instinto de não sofrer, sentindo uma dor que só se apagar com a entrega ao sono final, o último descanso injusto ao redor que lhe agride, a última cruz que se carrega para se manter a existência.

Mas o mundo é um quente, corrosivo, oxigenado pelos ares das novidades. Não há lugar para o sofrimento eterno e improdutivo, ainda mais o próprio. Sua dor cessou, mas foi uma pessoa útil. Assim merece essa homenagem.

Foto de raziasantos

Será que Vai Sobreviver?

Será Que Vai Sobreviver?
Apocalipse Urbano
Abri os olhos, vejo grade e concreto é zica
Hoje é visita, eu quero ver minha família
Sonhei com morte a noite passada
Nem me liga da minha mina, dos manos quero ter notícias
A alguns dias meu irmão veio me visitar
Ficou lá fora, devido as normas do lugar
Depois de muito tempo só lembrando e com saudade
Eu pode vê acenando de fora das grades
Minha coroa hoje chegou na portaria aflita
Logo de longe eu percebi que ela estava abatida
Se aproximou, me abraçou, notei que não queria
Que eu soubesse na real o que acontecia
Falsa amizade, trair agem, pilantragem
Fez meu irmão sentir o gosto da crocodilagem
Pra minha mãe desilusão, só decepção
Tendo um filho quase morto e outro na prisão
[refrão]
Será que vai sobreviver?
Não sei não
Falou mais alto o grito da DP
Foi pro chão
Infelizmente não tem nada a fazer
É caixão
Mais uma mãe que vê o seu filho morrer
Traição
Eu um criminoso que não perdoava ninguém
Fui enquadrado pelo desespero e feito refém
Nem pensei em orar, pela sua recuperação
A sede de vingança envenenou meu coração
Maluco, uma arma velha, um tiro só
O meu mano numa cama de hospital vai de mal a pior
Eu distante do bem e mal informado
Me pergunto quem será o culpado, Deus ou o diabo?
Resultado do seu erro e do meu ódio pegou pesado
Um dia antes do enterro eu fui comunicado
Eu algemado, policia pra tudo que é lado
Eu vi meu sonho de família sendo enterrado
Olhar inconformado, cai lágrima, do céu cai chuva
Enquanto isso, seu corpo desce a sepultura
Naquele instante só Jesus tinha o que eu queria
Descanse em paz, amanhã é outro dia!
[refrão]
Só restam lembranças daquela velha infância, em que a inocência tomava conta dos nossos olhares
Que a maldade era encarada como uma brincadeira
Que um puxar de orelha não nos trazia tristeza
Que a falsidade eu ainda eu não conhecia
E quando muitos choravam, para mim era só alegria
Que o choro vinha quando eu queria e não podia
Aí eu percebi o valor que a vida tinha
Essas palavras são para você entender
Que a vida nos oferece surpresas der repentes
Que devemos estar sempre crentes e não desanimar
E sempre caminhar para a vitória alcançar
Tudo na vida tem o seu lado contrario, seu mundo imaginário
Existe o certo e o errado
Nem tudo o que queremos nós obtemos
Temos que aprender a ganhar, não se contente em perder
Para que nos momentos das fraquezas saibamos nos fortalecer
Eu vou tentando entender certo faz das vida
Em que momentos de alegria, se transformando em grandes feridas
E que um pensamento se perde ao relento
E que o domínio da solidão é só uma questão de tempo
Isso não é heresia e sim a pura verdade

Foto de raziasantos

O Choro do Adeus.

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Choro do Adeus
Apocalipse Urbano
Raciocínio ativo cérebro vivo, melhor amigo ou inimigo
Oculto inculto, minha sombra me assusta a consciência acusa,
Minha mente esta confusa e se recusa a acreditar
Primeiro passo dado venci vários obstáculos,
Na caminhada o suspense fez da vida um espetáculo, um final trágico
Sem truque, mágico, varias contradições, contravenções
Abandono de missões, poucas boas ações
Alguém me disse bem, olho pros lados, mas não vejo ninguém
Um dia tenso, reflito e penso um medo imenso, fico em silencio
Sinto um calafrio meu corpo frio, alguém disse ‘psiu’ depois sorriu.
Hoje pediram a sua alma, ouço vozes tento manter a calma
Sinto cheiro de flores fico assustado a cada passo dado olho pros lados
Tem algo errado, to abalado, o coração acelerado um clima pesado
Lembro do sonho que alguém teve comigo,
Eu sendo velado e enterrado em um domingo
Só de pensar que eu conheço a bíblia, só de pensar nas minhas tias, na minha família, preciso parar com a cocaína da um basta em tudo isso mudar minha vida,
Vou até um bar peço uma cerveja, tento esquecer a morte uma surpresa.
(lágrimas)
Gotas de arrependimento escorrem pelo meu rosto em forma de lagrimas um pedido de socorro , um ultimo suspiro antes do toque no gatilho
O olhar fixo transmite o ódio antes do tiro ,
Bíblia e cocaína adivinha o que escolhi ?
Sei que e tarde demais pra dizer que me arrependi.
Eu rancoroso, cheio de mágoa agora choro, lembro da minha coroa, lembro de deus, imploro que não queira morra eu quero mais uma chance a vida e bela percebo agora e vejo rosas no ultimo estante, alguém dando risada ouço altas gargalhadas, percebo que a morte pra muitos e uma piada sem graça
Principalmente quando passa o efeito da fumaça, a brisa e uma farsa o paradeiro da desgraça o cubo de gelo , coração petrificado se derrete , despedaça
Com disparos do oitão refrigerado.
Como cristos entre comprimentos e abraços foram traídos, cada gole de cerveja
Era um sonho destruído, decepção pra minha família, tristeza pra minhas filhas
Quando souberem que seu pai não valorizou a vida
Vida? E uma só NE, não tem mais chance então adeus foi meu ultimo estante
Estou morrendo por merecedor da sua palavra o deus , me perdoe , restou pra mim o choro do adeus!
(refrão)
O choro do adeus não quer calar, a morte dizia (lute pra mudar)
A vida se foi , sem se despedir só restou lembranças ( mas tenho que seguir )
Abalou de surpresa me pegou , quanta dor
A vida não tem mais valor
Ontem a morte , hoje as lagrimas , amanhã e só lembrança .

Foto de Amy Cris

A verdade

Mais uma vez meus sentimentos me trouxeram a dor

Você, a pessoa que mais amei, era apenas mais uma ilusão

Tolice minha pensar que poderia ser feliz

Não serei feliz com ninguém, e agora, muito menos com você

Eu te amei e você me enganou

Essa é a vida, a maldita e inútil vida

Mas estou bem, conformada

Não posso me matar por você

Tenha a felicidade que nunca terei

Ainda te amo...

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