Ossos

Foto de Marcelo Henrique Zacarelli

A MATÉRIA QUE RENEGAS

A MATÉRIA QUE RENEGAS

O que mais pode me doer que a solidão?
Meus ouvidos estão cerrados
Exceto a o som estridente
Desta matéria impulsiva;
Madeira e cordas
Ombros e mãos de um angustiado;
Que ao decorar as notas
Absorveu a alma de um tal miserável;
Ao longe bem ao longe
Posso senti-la me horripilando;
Veiculadas ao ar
Como faca nos meus tímpanos;
Meus olhos vendados
Perseguem as sombras
Que se movimentam;
O que passa por mim
As meninas entorpecidas
Passam-me por despercebidas;
Meus lábios sim provaram
A sede de esquecer alguém;
Como o ribeirão profundo
Ou o mais seco dos desertos;
Porem o que restou?
Eu nunca soube ao certo
Onde pairavam meus pensamentos
Adrenalina das minhas veias
Levaram-me a caminhos
Que eu não queria ir;
Eis me aqui
Estilhaços dos meus ossos
Não mais me vês
Não estou aqui!
Exceto a matéria que renegas
Não estendas as tuas mãos em vão
Nem te apiedas deste fraco;
No coração deste instrumento
Está a esperança que me atormenta
No cansaço deste humano músico
A dor deste miserável ecoa
A solidão e a saudade
São irmãs inseparáveis
E moram aqui comigo
Desde que partiu.

Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Village Outubro de 2008 no dia 20

Foto de Sonia Delsin

DESEJOS LIBIDINOSOS

DESEJOS LIBIDINOSOS

Acordei com vontade de teu beijo.
Com desejo.
Não falo dos desejos libidinosos.
Acordei querendo deitar-me contigo.
Encostar nossos ossos.
Trazer a tona a lembrança do pó.
Só.
Te acho lindo.
Não falo apenas da beleza de agora.
Falo de outrora.
Do nosso amor eterno, antigo.
Te chamo de amado.
Amigo.
Acordei querendo tua boca.
Teus olhos, tuas mãos...
Tudo... tudo.
Acordei querendo tua presença.
Me sentindo sem paciência.
De esperar que o tempo possa de novo nos aproximar.

Foto de Rosinéri

MEU TESTAMENTO

Senhor advogado estas são as primeiras notas, para o caso do inevitável evento:
Já vivi 43 anos.
1º- Não deixo bens.
2º - Deixo minha pele. Está um pouco marcada pelos anos: Alguns riscos. Foram artes da infância. Outros, pancadas da vida.
Vê-se que não é muito bonita, mas bem tratada servirá como agasalho.
Outra opção é curti-la bem; poderá redundar em boa sola , esquentará o pé de alguém.

3º- Meus olhos eram bonitos, de um verde profundo. Hoje apresentam vestígios do tempo enxergo pouco, operado e outro por operar.
Mesmo assim, são expressivos - Enquanto vivos.
Leve-os imediatamente a um banco de olhos, pois as córneas são aproveitáveis.

4º- As vísceras poderão alimentar qualquer cachorro faminto. Não as deixe estragar.

5º- A gordura ( Fiquei um pouco obesa nesta puta vida pequena) fornecerá bom óleo para qualquer pessoa que faz sabão.
6º- Meu cérebro- pobre cérebro -tem muito fosfato. Adube qualquer terreno estéril.

7º - Do resto façam o que quiser.
Os ossos darão bons artesanatos ou, se triturados, bom adubo também.

NB: Quanto ao coração deixem-no sossegado.
As coronárias estão meio obstruídas, mas o
coração é grande... É bom. Cheio de amor.
Enterrem-no em lugar simples e bucólico.
Não demarquem o local.
Tenho certeza que lá brotarão flores.
Corpo presente de amores deixados.

Foto de fernando gromiko

Amor igual à Dor

O que sinto que é tão arrasador?
Algo abstrato que a alma tem desconsolado
Antes quebrassem meus ossos como ser demolidor
Ao poluírem minha alma com tal maldita dor

Estou condenado a sofrer?
Neste mundo sou maltratado
Ninguém quer saber o que posso ser
Já sou considerado um pobre coitado

Será que muito irei viver?
Desse jeito não faço questão
O mundo distante posso ver
Agora sei o que é solidão

Será que alguém vou poder amar?
Não quero deste mundo ter que partir
Preciso com você ficar
De uma chance para o “Nós” existir

Mas se acaso não puder?
Não vejo razão para respirar
Até a morte se eu quiser
Maldita irá me negar

Isso que sinto, não sei explicar
Talvez seja isso que chamam de amor
Mas não sei se vale à pena enfrentar
Este sentimento que só me causa dor
(autores: Fernando Gromiko, Enzo Bicalho, Cosmissismo)

Foto de pttuii

O rapaz da vagina de fogo

Gostava de bigodes. Até os desenhava, com bocados de carvão que apanhava religiosamente da oficina abandonada que poluía aquela rua de desavindas imaginações. Roçava, embalava, desejando mesmo que o homem do espelho, fosse o homem com que se deitasse se a sorte quisesse. O sol dizia-lhe sempre que sim, mas um sim pouco embalado. Havia dúvidas. Sim, tal como a terra cai em cima do que de nós resta.
Era o rapaz da vagina de fogo. Uns dias com medo de pisar pecados alheios. Por momentos digno de abraçar a diferença, e com ela dançar a uma música inaudível, e religiosamente barulhenta.
Chamava-se assim, para não se chamar coisa pior. Aliás, chovia. Por certeza de menor importância, o dia era igual ao de ontem. Volteavam ventos, desnorteavam-se nuvens que deslindavam o dia assimétrico.
Aquela terra era de uma humidade atroz. Fazia mal às pessoas que não queriam fazer mal a si próprias. Enleava-se nos ossos das pessoas muita coisa pior que cinza. Futilidades que não interessam na altura de escolher decisões. Pecadilhos que os homens a sério mexem em si mesmos, e depois comem para os esquecer de vez.
Pronto, estava assim até escrito. As folhas de quase seda de um caderno com capa de rosa que cheirava a testosterona, digladiavam-se com o vento. Letras de copista, com curvas e contracurvas de sinuosas certezas, mostravam ao mundo que o rapaz tinha vagina. Não se via, é certo. Lambuzava amores perfeitos para cima de jovens que dobravam a esquina com ar gingão e pronto a enfrentar o mundo. E à noite. Quando a lua ganhava a luta com a rotação omnipotente, aquela coisa que não se via, via-se. Encenavam-se histórias de amor com cheiro a rosmaninho. A mulher, homem, era do homem, antes de ser de si própria. Era uma mulher suave, meiguinha. Que cativava. Meiguinha. Adorava amor. Meiguinha. Dormia com esta palavra, quando sons menos inseridos no mainstream da capacidade auditiva humana envolviam aquele leito.
De fogo a vagina. Deitava chamas, porque queria ser vagina. E nunca foi vagina. Mas será. Será mulher. Ao menos o catalisador do devir assim o queira.....

Foto de Joaninhavoa

Uísque ou UísKy...

*
que importa!...
*

Sinto a vespa a picaretar a néspera
Dois caroços entranhados na carne
Ossos escondidos acres de espera
E de boca! Um azeviche

Viche! Uísque! Vice

Venho procurar o que busco
A mais ninguém importa
Minha alegria e eu própria

Lágrimas! Sumo de limão
Escorrem em meu coração
Em gelo ninguém mais toca

Minhas coxas de papoila!

Joaninhavoa,
(helenafarias)
01 de Setembro de 2008

Foto de Sentimento sublime

O doce e o amargo do passado! Osvania_souza

O doce e o amargo do passado!

A vida me abriu as portas, porém o tempo as fechou.
A vida dizia-me ser útil, e o tempo se quer me avisou.
Que ele passa tão rápido. E será que feliz eu sou?
No início a vida era doce, tão doce como o mel.
Com o tempo amargou-se, amargou-se como o fel.
Foi um passado cheio de sonho, sonho conturbado.
Dedicando-me e trabalhando, para alguém que foi tão amado.
Porém não foi possível, realizar meu sonho dourado.
Pensei que tivesse a felicidade encontrada.
Conheci muitas pessoas, fiz amigos no trabalho.
Poucos amigos do peito, outros somente de agrado.
Tive duas famílias distintas, uma genética e outra profissional.
Para elas eu podia falar tudo que sentia.
Eu falava, eu as ouvia, sem medo e sem pudor.
Tive fases em minha vida, como todo ser humano tem.
Algumas de alegria, outras de dor.
E nestes momentos eu contava:
Com minhas famílias e também com meu amor.
Fui trabalhar em uma cidade, que para mim era estranha.
No início foi difícil, mas eram ossos do ofício.
Não conhecia ninguém, e ninguém me conhecia.
Mas com persistência e coragem.
Continuei carregando minha bagagem.
Conquistei muitas pessoas, fiz novas e grandes amizades.
Fui me acostumando com o ritmo daquela cidade.
Que passei a gostar de verdade.
A vida continuava, e o tempo então passava.
Cuidando de minha casa, da firma que possuía banco que eu trabalhava.
Com muito amor e carinho, dediquei todo tempinho aos três sem distinção.
Foi tanta dedicação, porém tive que fazer uma opção.
Cometi meu maior erro então, pedi sem pensar minha demissão.
Continuei tocando a firma, e cuidando do meu lar.
Porém faltava algo “grandioso” para meu sonho concretizar.
Não podíamos ter filhos, depois de oito anos esse sonho pude realizar.
Foi aí que nasceu então, brotando do meu coração.
Recém-nascida em meus braços, minha filha querida.
A única que adotei em minha vida, minha maior amiga.
E o tempo continua passando:
Voltei para minha cidade em busca da felicidade.
Mas não foi essa a realidade porque aquela cidade estranha.
Entrou em minhas entranhas deixando tanta saudade.
Hoje chego a pensar, naquela cidade estranha onde conheci a felicidade.
E continuo minha vidinha nesta pequena e pacata cidadezinha.
A mesma que me viu nascer, porém não me deixa crescer.
É como se seu fosse um pássaro com asas quebradas.
As tenho e não posso voar.
Então resolvi deixar escrito, meu passado de conflitos.
Um amor mal resolvido, o qual eu me dediquei.
O tanto que me doei e o muito que me entreguei.
Foram muitos anos de minha vida.
De uma estrada comprida , quando olho para trás, me pergunto.
Se o tempo tivesse me avisado, que ele passa tão rápido.
Eu não teria o que lamentar.
Quero dizer a vocês “Olhadores do Passado”
Para o tempo não se manda recado, ou se faz ou não se deixa esperar.
Hoje tenho casa, mas não tenho lar, passo na terra por passar.
Estou apenas vivendo por viver porque o presente não me deixa sonhar.
E tudo aquilo que ajudei a construir, vejo por terra ruir.
Antes que o presente se torne passado resolvi deixar meu recado.
Não sei se irá resolver, mas pelo menos quero aqui dizer:
Desabafar meus sentimentos te contar meus lamentos.
Que há anos guardo no peito, não sei qual será o efeito que poderá te causar.
Mas faça o que tem que ser feito, sem medo de ser feliz.
E como escritora principiante te deseja neste instante.
Um presente e um futuro radiante.
Se ame bastante e seja muito feliz.
Espero que você nunca sinta o amargo do passado.
Mas somente os doces momentos do presente.
Osvania_Souza

Foto de Sonia Delsin

QUEM SOU EU AFINAL?

QUEM SOU EU AFINAL?

Sou este monte de carne e ossos?
Sou isto somente?
Sou gente.
Quem eu sou afinal?
Me retorna, se desejo o mal.
Se desejo o bem, ele me volta também.
Quem eu sou?
Este mundo tanto me mostrou.
Sou especial.
Uma criatura de meu Pai Eterno.
Penso em eternidade.
O que sou de verdade?
Quem eu sou? Por qual caminho ainda eu vou?
Penso que tenho raízes e asas...
Prendo-me à terra.
Piso em brasas...
E vôo.
Alcanço o inatingível.
Vou com meu dirigível.
Vou com minha mente.
Sou gente...
Gente.
E o que é ser gente?

Foto de Henrique Fernandes

ATÉ LOGO AMOR

.
.
.

Como é bom ouvir o cantar do galo
Misturado com o teu respirar ao meu lado
Num acordar agarradinhos na fornalha dos lençóis
Calorosamente tingidos por mais uma noite de tantas
Em que assinamos a dois um adormecer apaixonados
Madrugada fora, abrigados numa partilha de calor
Enquanto o galo canta desperta a ternura em nós
Num presente que partilhamos num beijo terno
Nas nossas faces pálidas e quentes madrugadoras
Que depois de um suave bom dia em voz rouca
Soltamos nossos corpos em gemidos de preguiça
Interrompida por um abraço que estala os ossos
Finalmente espertamos numa brincadeira de cócegas
Carregando positivamente mais um dia de felicidade
Nessas primeiras gargalhadas quase silenciosas
Quão barulhentas de energias inventadas por nós
Recordações que nos sustentará até ao fim do dia
Depois de nós acorda o dia timidamente da aurora
Com o som repetido de todas as manhãs da natureza
Convidando-nos para o banquete da vida simples
De repente a corneta do padeiro na rua que ainda dorme
Lembra o pequeno-almoço em mais uma troca de carícias
E espalhando sorrisos pelo nosso ninho de amantes
Terminamos o jejum e combinamos os planos do dia
Que depois de umas apalpadelas delicadas e agradáveis
Por entre beijos e beijinhos satisfeitos em pressa
Despedimo-nos para mais um ganha-pão com orgulho
Dos sacrifícios que os nossos sonhos exigem
Até logo amor!

Foto de Cabral Compositor

Vida

Sofria sozinha, calada no canto
Uma vida inteira, uma vida em dor e desespero
Coitada, tão mal entendida, entediada, sempre em prantos por ai
Nunca imaginaram uma criatura tão bela, tão calma, tão meiga
Não dispor de alegria, encanto, sorriso e olhar contente
Que pena, a vida, as vidas, os caminhos que ela tem que percorrer
Que pena, a vida, aquela que Deus nos legou
Tão plena de si, tão arrebatadora, tão intensa e com dor
As alegrias, as vezes, em tese, em lances rápidos, não tão mágicos
A vida de incertezas, em medos, em meios aos destinos ditos
A vida, em preces, em encantos, em sim bolos desertos
Com ternura, com amparo, com respeito ao próximo, aos próximo
Sentida, na carne, no osso, nos ossos dos nossos ofícios.

Páginas

Subscrever Ossos

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma