Policiais

Foto de Civana

E o Rio de Janeiro continua... LINDO???

Havia postado esse texto anteriormente em 07/01/2008, resolvi editá-lo e reenviar, devido ao assunto "violência" ainda ser tão atual nos dias de hoje, infelizmente.

E o Rio de Janeiro continua... LINDO???

Acho que como todas as mães, estou sempre rezando e pedindo a Deus, e a todos os anjos e santos protetores que guiem os passos de meu filhote na rua. Mas infelizmente, existem aqueles que vivem no lado escuro, e insistem em cruzar nossos caminhos. Graças a Deus não aconteceu nada com ele, mas ainda não me refiz do susto. Meu filho chegou em casa um dia desses, e ao entrar no quarto estava sem camisa, o que me fez logo reclamar, pois estava muito frio e ele tem andado com infecção de garganta e ouvido constantes nessas férias. Achei que ele havia tirado a camisa ao entrar em casa, mas não, sentou na minha cama e falou que foi assaltado. Só então me dei conta da cara de assustado que ele estava, fiquei desesperada perguntando se o machucaram, tentando examiná-lo todo, imaginem a situação. Resumindo, ele não quis ficar até o fim da tal festa que foi, e como os amigos não queriam sair antes, resolveu vir sozinho pra casa. No ponto de ônibus, quatro rapazes o cercaram, perguntaram se tinha celular e dinheiro, ele respondeu que não, aí mandaram tirar a camisa. Depois teve que pedir ao motorista do ônibus pra deixar entrar sem camisa, pois foi assaltado, ainda bem que o motorista parou quando fez sinal. Enfim, já podem imaginar que fiquei passando mal, imaginando o medo, a vergonha e o frio que meu filho sentiu na rua. É assustador e insuportável conviver com essa violência aqui no Rio, saber que a adolescência do meu filho será marcada por essa fase (ainda acredito que isso é uma fase), é muito triste e desanimador.
Mas agora tento fazer com que ele não fique traumatizado, andou meio com medo de sair logo depois, mas já está bem agora. Só peço sempre que não reaja, se tiver que ficar nu na rua fique, mas não responda, nem reaja! E até deu pra rir depois, pois ele brincou comigo dizendo que falo isso, mas não foi o que fiz em uma das vezes em que fui assaltada. Eu respondi o velho ditado, "faça o que digo, mas não faça o que faço!”.

Resumindo o fato trágico, mas cômico do meu assalto.

Um belo dia de sol, após terminar as aulas, saí da faculdade, na Lagoa, fui pegar o ônibus de volta pra casa. Lembrando que antes já havia trabalhado, na época trabalhava meio expediente no aeroporto, de 05:30 as 09:30h. E pior, foi dia de pagamento e havia recebido, estava tudo na bolsa.
Voltando ao ônibus, que a louca aqui nunca deveria ter pego com tanto dinheiro na bolsa. Passei na roleta, pra variar estava cheio, e de repente senti uma mulher me imprensando e acabei reclamando, quando olho pra bolsa estava aberta, e sempre tenho cuidado de fechar após pagar a passagem. Mexi e vi que faltava a carteira, enquanto isso a tal mulher já estava pedindo pra parar o ônibus, dizia estar passando mal. Imediatamente gritei para o motorista fechar a porta porque ela havia me roubado, o que ele, por milagre de Cristo, atendeu na hora e continuou com o ônibus em movimento. Gente, não sei o que me deu na hora, comecei a andar pra frente do ônibus, o povo abrindo caminho e parei de frente pra ela. Dei tanto na cara da mulher, ela caia pra trás e o povo a empurrava pra frente pra apanhar mais. Isso com o ônibus voando na rua Nossa Sra de Copacabana, até que o motorista parou na esquina da Av. Princesa Isabel, onde havia uma viatura da polícia. Chamou os policiais, contou o que houve e nesse instante um rapaz já havia me devolvido a carteira que ela havia jogado no chão. O policial me pediu pra conferir a carteira, eu olhei, conferi, e ainda dei mais um tapa na cara dela na frente dele. Enlouqueci de vez, ainda bem que ele não ligou e arrancou a talzinha do ônibus.
Vocês pensam que acabou? Nada! Um rapaz me avisou que ela não estava sozinha, e o cara que estava me encarando lá da frente estava com ela, fiquei desesperada de medo, ele ia me seguir quando descesse. Mas dois homens, tipo armário duplex, me disseram para não ficar preocupada. Quando o ônibus chegou na Central do Brasil, como o tal cara não descia, os dois armários pegaram o cara pelos braços e desceram com ele a força do ônibus, dizendo "você não vai atrás da garota não, desce aqui com a gente". Cheguei em casa, contei para meus pais e irmãos, chorei muito pelo medo e principalmente por ter agredido alguém, mas depois até que isso rendeu umas boas gargalhadas ao lembrar do barraco no ônibus em movimento, em plena Nossa Sra de Copacabana.

(Publicado pela primeira vez, no meu antigo blog, em 27/07/2003...e nada mudou no RJ.)

(Civana)

Foto de Wilson Madrid

BOA NOITE GRABRIELA

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* BOA NOITE GABRIELA
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José é paulistano, trabalhador, escritor e poeta. No ano de 2004, em que sua querida cidade de São Paulo, no dia 25 de janeiro, completaria 450 anos, ele já tinha 53 anos de idade.
Desde as primeiras notícias dos preparativos das grandes festividades em comemoração aos 450 anos da sua cidade, José tem a intenção de escrever uma poesia dedicada a esse dia e participar com o seu dom nessa data tão significativa para a sua cidade.
Passam-se os meses e José não tem nenhuma inspiração para concretizar essa intenção. Finalmente, no dia 21 de janeiro à noite, restando apenas quatro dias para o grande e esperado dia, eis que surge a tão necessária inspiração e José, escreve “Estação Paulo 450”:

São Paulo locomotiva de luz solar, do luar e da garoa,
formigueiro agitado de gente operosa e muito boa,
metrópole acolhedora do nosso gigante e querido Brasil,
brilhante guerreiro, branco, verde, amarelo e azul anil,
formigueiro de estrelas valentes, nascidas para enfrentar a labuta,
caminheiros perseverantes que não desistem e vão à luta ...

São Paulo de Anchietas, paulistas e paulistanos,
virgulinos, marias bonitas, baianos, cearenses e paraibanos,
jesuítas, portugueses, potiguares e pernambucanos,
salesianos, italianos, sergipanos e alagoanos,
brancos, negros, espanhóis, piauienses e franciscanos,
orientais, maranhenses, índios tupis e latino-americanos ...

São Paulo dos irmãos da Praça da Sé e dos manos da periferia,
do povo batalhador imigrante de todos os recantos brasileiros,
esperança de liberdade e de conquista da devida igualdade,
dos seus cidadãos carismáticos e inconfidentes maneiros,
da fraternidade, das músicas e poesias do alto astral,
palco das lutas pela democracia, cidadania e justiça social ...

São Paulo do arco-íris sonoro do pagode, do forró e do axé,
do sertanejo, do reagee, do rap e do clássico samba no pé,
bilheteria da estação primeira dos passageiros do trem das onze
do maquinista Adoniran Barbosa que partiu da saudosa maloca,
com os turistas Arnesto, Iracema, Cibide, Pafúncia, Nicola,
Inês, Irene, Moacir, Gabriela, Matogrosso e o Jóca ...

São Paulo rondada por Vanzolini e batucada por Germano;
Sampa caetaneada por Veloso e poetizada por Bonfim,
amada por tantos brasileiros e pelos seus leais paulistanos,
não és mais apenas a minha São Paulo que não pode parar,
a famosa terra da garoa e do grito do Ipiranga de onde eu vim,
porque ao ver a tua grandeza, força e beleza aos 450 anos,
muita coisa acontece no meu coração,
que vibra feliz e com muita emoção,
ao te parabenizar, abraçar e beijar,
pois tu és São Paulo, a feliz cidade da minha paixão...

A sua nova poesia ficou muito boa pois todos que a leram gostaram e elogiaram bastante. Animado com esse resultado José a encaminha para amigos, jornais e para o comitê de organização da grande parada que seria realizada no dia 25 de janeiro entre a avenida 23 de maio e o vale do Anhangabaú.
Versos da sua poesia ele encaminha pela internet para o sítio “Declare seu amor à cidade” pois segundo havia sido divulgado pela imprensa, no dia 25 as melhores frases seriam exibidas através de raios laser nos prédios da cidade, próximos ao local do show de encerramento das comemorações no vale do Anhangabaú e durante a grande parada que o precederia ocorreria uma chuva de papéis com trechos de poesias dedicadas a São Paulo.
José sonha com a possibilidade de ver sua poesia ou ao menos partes dela serem aproveitadas em tão memorável data, fato este que muito o honraria. O prazer que esse fato lhe proporcionaria só mesmo os poetas entendem; os que possuem outros importantes dons, que não este, não possuem condições de avaliar o valor que isso teria para ele, afinal de contas, o que José ganharia com isso? Por acaso seu saldo bancário tem algum incremento de algum centavo quando algumas das suas poesias são apreciadas, aprovadas e publicadas? Não! Então isso é coisa de maluco ou de quem não tem o que fazer. Ou então, como dizem outros, isso é coisa de sonhador ou de poeta...
Mas tudo bem, José costuma respeitar todas as opiniões, sabe que nem todos pensam assim e procura fazer o que lhe compete, pois se não existissem os poetas o mundo conseguiria ser bem mais medíocre do que na maioria das vezes já o é.
José se anima com as perspectivas e decide participar pessoalmente das principais festividades programadas para o aniversário especial da sua cidade.
Sua família programa visitar um dos seus irmãos que reside em São Bernardo do Campo, cidade da grande São Paulo, justamente na tarde do dia 25 de janeiro quando ocorreria a grande parada tão esperada. José sempre tem muito prazer em visitar os seus irmãos e as suas famílias, mas essa data e essas comemorações seriam únicas. Como não consegue convence-los a acompanha-lo nas mesmas e adiar a visita à família do seu irmão para o domingo seguinte, resolve ir sozinho nas grandes festividades.
Da mesma forma, apesar de insistir em convidar sua esposa e seus filhos a acompanhá-lo na noite do dia 24 ao Parque do Ibirapuera, para conhecer a nova fonte luminosa inaugurada no dia anterior e seguirem posteriormente para assistirem ao show com Caetano Veloso na avenida Ipiranga com a avenida São João, que faziam parte daquelas comemorações, nenhum deles interessou-se em acompanhá-lo.
Na tarde daquele mesmo dia tinha combinado com uma amiga que lhe informou que iria assistir a inauguração da restauração da fachada da Estação da Luz e logo depois iria ao show do Caetano Veloso, para comunicarem-se através de seus telefones celulares objetivando encontrarem-se na estação república do metrô, próximo à rua Barão de Itapetininga, para assistirem juntos a esse show e posteriormente voltarem juntos para suas residências.
Como José acabou não tendo com quem ir ao parque do Ibirapuera, mudou seus planos e resolveu também ir para a Estação de Luz e tentar encontrar sua amiga já nesse evento e depois seguirem juntos para o show do Caetano Veloso. Antes de sair, tentou falar com ela, não conseguiu, deixou recado na caixa postal do seu celular avisando que também estava indo para a Estação da Luz e que de lá ligaria novamente para o celular dela e saiu da sua residência às 19:30 horas com destino àquele evento.
Lá chegando tentou fazer contato com o celular da sua amiga e as ligações não conseguiram ser completadas.
Com a presença do governador Geraldo Alckmin, da prefeita Marta Suplicy, do ministro da cultura Gilberto Gil e de várias outras autoridades e apresentações artísticas de Kleiton e Kledir, Almir Sater e Elza Soares, leituras de textos, inclusive da oração do Pai Nosso, na língua tupi-guarani lida pelo grande ator Lima Duarte, dentre outras apresentações de outros artistas, danças e projeções de filmes com grande conteúdo histórico e cultural da sua cidade, o evento converteu-se num grande espetáculo muito interessante e valioso de ser assistido.
Após uma maravilhosa queima de fogos que concluiu este evento por volta das 22:30 horas, José encaminhou-se a pé para a avenida Ipiranga com a Avenida São João, onde estava previsto para as 23:00 horas o início do show com Caetano Veloso, que compôs Sampa, cuja letra cita que “alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga com a avenida São João”, cruzamento este que se localiza próximo da Estação da Luz onde ele se encontrava.
Conforme houvera combinado com a sua amiga tentou novas tentativas de contatos telefônicos para encontrarem-se no local deste outro evento, com a intenção de assisti-lo juntos e voltarem juntos para suas residências, haja vista residirem no mesmo bairro e pela conveniência sob o aspecto de segurança pessoal de ambos, principalmente dela, por ser mulher e do horário do evento.
Até mesmo para facilitar esse retorno tinha deixado seu automóvel estacionado próximo à estação Vila Mariana do metrô para leva-la até sua residência quando retornassem de metrô do centro da cidade e posteriormente voltar para sua própria residência.
Como as ligações entre os celulares não se concretizavam, José ligou para sua residência e pediu a um de seus filhos para ligar para o celular da sua amiga dando a sua localização, em frente à Igreja Internacional da Graça, na própria avenida São João, distante há uma quadra da localização do palco do show.
Depois de alguns minutos, voltou a ligar para o seu filho e este o informou que a sua amiga estava na avenida Ipiranga, ao lado direito do palco do show. José tentou ir até aquele local mas não conseguiu, pois uma aglomeração enorme de pessoas presentes no local impedia a sua passagem até onde ela se encontrava. Então José ligou novamente para seu filho e pediu para avisar a amiga que a aguardaria, no final no show, em frente àquela igreja já informada anteriormente.
O show começou às 23:00 horas com Caetano Veloso; participaram também Jair Rodrigues, Gilberto Gil, Nando Reis e outros artistas. Exatamente à 00:00 hora, Caetano declamou a parte da letra de Sampa que diz respeito ao local onde o show estava sendo realizado:

Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João
é que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
da dura poesia concreta de tuas esquinas
da deselegância discreta de tuas meninas

Ainda não havia para mim Rita Lee, a tua mais completa tradução
Alguma coisa acontece no meu coração
que só quando cruzo a Ipiranga e a Avenida São João

Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto
chamei de mau gosto o que vi
de mau gosto, mau gosto
é que Narciso acha feio o que não é espelho
e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho
nada do que não era antes quando não somos mutantes

E foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vem de outro sonho feliz de cidade
aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva

Panaméricas de Áfricas utópicas, túmulo do samba
mais possível novo quilombo de Zumbi
e os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa.

O público delirou com aquele momento histórico. O show continuou foi muito bom e terminou às 1:30 horas já do dia 25, aniversário de 450 anos de São Paulo.
José, conforme havia combinado com a sua amiga, a aguardou naquele local durante 30 minutos. A quantidade de pessoas era muito grande; com o passar do tempo a multidão foi se diluindo e José resolveu seguir em direção ao local onde ela se encontrava na esperança de encontrá-la no caminho. Não a encontrando, seguiu em direção à entrada da estação república do metrô, próxima a rua Barão de Itapetininga, que era um dos locais que haviam comentado anteriormente como sendo um dos possíveis pontos de encontro para assistirem juntos ao show e através da qual retornariam para as suas residências.
José ficou parado sozinho, como sempre estivera durante a noite toda, naquele local durante alguns minutos na esperança de encontrar a sua amiga, pois estava preocupado com ela que também deveria estar sozinha e tendo que voltar para casa sem companhia, em horário um tanto quanto perigoso numa cidade como São Paulo.
Ao lado de onde José se encontrava ainda funcionava uma pastelaria ou lanchonete onde algumas pessoas ainda consumiam alguma coisa. José resolveu tomar uma cerveja e o balconista o alertou que o estabelecimento já estava para fechar e que somente o atenderia se o consumo fosse rápido. José comprometeu-se com o balconista a consumir sua cerveja rapidamente e ele o serviu no próprio balcão, situado bem em frente e próximo do passeio público, de onde ele poderia continuar observando se sua amiga apareceria.
Próximo a ele um outro homem que também tomava uma cerveja iniciou uma conversa a respeito do show do Caetano. Disse-lhe que era da Bahia, de Porto Seguro, e que estava de passagem por São Paulo e não poderia perder a oportunidade de assistir ao histórico show do seu conterrâneo. Apesar do horário, muitos policiais cuidavam da segurança de todos e muitas pessoas ainda passavam pela avenida e outras faziam rodas de música e cantavam do outro lado da avenida, na praça da República.
Passados poucos minutos, surgiram duas mulheres, aparentemente simples e comuns, perguntando como deveriam fazer para retornar para suas residências, no distante bairro de Interlagos, na zona sul da cidade. Como o outro homem, de Porto Seguro, não conhecia São Paulo, José lhes informou que pelo seu conhecimento a única condução que estava funcionando, apenas para embarque, naquele horário era o próprio metrô e apenas em algumas estações próximas dali, inclusive aquela quase em frente de onde estavam.
Conversaram mais alguma coisa a respeito do show, elas criticaram a qualidade do som, que acharam que não estava muito bom no local onde ficaram assistindo, mas que apesar disso tinha valido a pena vir assisti-lo. Ao saber que o outro homem era de Porto Seguro, uma delas, a mais nova, comentou que conhecia aquela cidade e citou vários nomes de cidades e lugares daquela região da Bahia. Logo depois elas agradeceram as informações e dizendo que o metrô não serviria para elas retornarem para casa teriam que encontrar alguma outra alternativa para faze-lo, despediram-se e seguiram pelo passeio público na direção da rua Sete de Abril.
Depois de alguns minutos os funcionários do estabelecimento começaram a lavar o piso do estabelecimento para fecha-lo logo a seguir.
José apressou-se em terminar de tomar sua cerveja para ir embora e nesse momento ressurgiram aquelas mesmas duas mulheres e uma delas perguntou a José se ele teria isqueiro para ascender um cigarro. José acendeu o seu cigarro e elas comentaram que não tinham encontrado solução para retornarem para Interlagos naquele horário, insinuaram que estavam sem companhia e já que aquele estabelecimento estava fechando sugeriram para irem até uma lanchonete, cerca de cinqüenta metros dali, próximo da segunda esquina ali ao lado na própria avenida Ipiranga, entre a rua Sete de Abril e a avenida São Luís.
O homem de Porto de Seguro apressou-se em aceitar o convite e pediu para aguarda-lo por um momento enquanto ele iria até o banheiro da pastelaria que já estava para fechar.
Enquanto o outro homem que entrara para usar o banheiro demora-se a voltar elas comentaram que acharam-no uma pessoa estranha, com algum problema e que preferiam evitar a companhia dele. Como o tempo decorrido indicava que certamente sua amiga já havia ido embora, já eram 2:40 horas, José acabou desistindo de aguardá-la e aceitou a sugestão de sair dali e seguir com elas até a referida lanchonete para comer algo pois não havia jantado e estava com fome.
A lanchonete estava lotada, com todas as mesas ocupadas, restando apenas um canto bem discreto num balcão interno com algumas banquetas onde José e as duas mulheres sentaram-se de frente para a janela que dava para o passeio público de uma rua pouco movimentada naquele horário e de costas para o ambiente principal do local .
Pediram então uma cerveja e continuaram a conversar. Como José estava com pouco dinheiro e não sabia se elas teriam algum para dividir a despesa, evitou pedir qualquer coisa para comer pois não teria como oferecer e pagar para os três.
José ficou sabendo, segundo elas lhe contaram, que a mulher morena escura de meia idade, aparentando uns cinqüenta anos, chamava-se Dara ou algo parecido, residia em São Carlos, interior de São Paulo, e que estava a passeio em São Paulo, hospedada na residência da amiga que a acompanhava. A sua amiga, mais nova do que ela, morena clara, aparentando uns trinta anos, chamava-se Gabriela, trabalhava num hospital de São Paulo e residia em Interlagos.
José informou que era casado, que tinha família, alguma coisa sobre o bairro onde morava, também na zona sul, que se desencontrara de uma amiga e que para ele o metrô seria o suficiente para retornar para casa, coisa que pretendia fazer logo a seguir.
Perguntado se apesar de casado estaria com a noite livre, com várias insinuações de Dara para que José passasse a noite com a Gabriela, José, meio constrangido e estranhando a conversa pois elas não aparentavam ser prostitutas, respondeu que apesar dela ser muito simpática não poderia, pois precisava retornar logo para casa pois sua família o aguardava e que pretendia participar das festividades do início e final da tarde às quais ele esperava com tanta ansiedade em função da poesia que ele havia composto para aquela oportunidade. Perguntou se elas pretendiam participar das mesmas e Gabriela informou que gostaria de participar mas que não poderia pois teria que trabalhar a partir das 14:00 horas.
No retorno de uma ida ao banheiro, Gabriela comentou que encontrara, por acaso, numa das mesas da lanchonete, um colega de trabalho do mesmo hospital em que ela trabalhava; de onde estava sentado José não podia ver essa movimentação e tampouco viu esse contato que ela comentou imaginando que talvez ele o tivesse percebido.
Após pedirem pela terceira cerveja e Dara insinuar que também pretendia comer alguma coisa, José comentou que não tinha dinheiro suficiente para pagar aquela conta, pois não previa ter despesas naquela noite e que teria que fazer uma retirada de dinheiro num caixa eletrônico para acertar a conta e ir embora. Gabriela prontificou-se de imediato a acompanha-lo dizendo que aproveitaria para também fazer uma retirada. José manifestou sua intenção de ir até uma agência bancária do outro lado da praça da República e Gabriela sugeriu para evitarem irem para lá pois aquele local era muito perigoso naquele horário e sugeriu um caixa eletrônico ao lado do Hilton Hotel, distante apenas duas quadras do local onde se encontravam e local bastante movimentado naquele momento, em função de uma concorrida danceteria existente bem ao lado do caixa eletrônico.
Lá chegando, cerca de 3:45 horas, entraram juntos na cabine do caixa eletrônico, Gabriela usou o seu cartão, porém alegou que estava ocorrendo algum problema e não obteve êxito na retirada do dinheiro. José usou o seu e retirou R$-100,00-.
Voltaram à lanchonete e reencontraram Dara na companhia de um outro homem ao qual os apresentou como um amigo que conhecera naquele intervalo de tempo.
Gabriela informou que desejava comer algum salgado, retirou-se por alguns instantes enquanto José continuou conversando distraidamente com Dara e o suposto novo amigo dela. Mais uma vez, da posição em que estava, José não acompanhou o movimento da Gabriela, supostamente em direção ao balcão para escolher o salgado. Gabriela retornou com um quibe que ofereceu, dividiu ao meio e serviu a José que o comeu.
José comeu a metade daquele quibe e tomou o último gole do seu copo de cerveja por volta das 4:00 horas daquele importante e histórico dia 25 de janeiro de 2004.
Depois disso, os únicos lapsos de memória que ele teve foi o de ter sido acordado por alguém que o informava de que a sua diária já havia vencido e que ele tinha que se retirar do local onde se encontrava dormindo sozinho, provavelmente num dos hotéis existentes naquelas redondezas do centro velho de São Paulo, sendo impossível lembrar-se até mesmo em que endereço o mesmo se situa.
Saiu de lá já à noite e notou que estava sem nenhum dinheiro e sem o bilhete da passagem de metrô que ele tinha reservado para retornar para a sua casa.
Lembra-se apenas que andou pelo centro velho de São Paulo totalmente grogue e sentindo uma ligeira dor na nádega esquerda e uma certa dificuldade para caminhar, tentando desesperadamente entender o que estava ocorrendo e conseguir um meio para retornar para sua residência. Não consegue se lembrar por quais locais passou nem tampouco qualquer coisa que fez nesse trajeto e espaço de tempo totalmente apagado da sua memória.
O único fato que José consegue se lembrar desse período foi que numa determinada rua ou praça, que não consegue se lembrar onde fica, resolveu apelar para uma moça loira, provavelmente uma prostituta, resumindo-lhe o que se lembrava do ocorrido e pedindo-lhe ajuda para pagar-lhe uma passagem de ônibus para retornar para casa. A moça informou-lhe que teria que ir até o hotel apanhar o dinheiro e se ele poderia espera-la. José ficou aguardando, ela retornou e lhe deu cinco reais com os quais ele pegou um ônibus e com muita dificuldade, cochilando no ônibus e ainda com muito sono e meio dopado chegou na sua residência às 21:00 horas daquele dia 25 de janeiro de 2004, final do aniversário dos 450 anos de São Paulo.
Ao lembrar-se dessa moça, cujo único detalhe gravado é o de que era loira, José não pode deixar de lembrar-se de Madalena e de ser-lhe muito grato.
Talvez essa gratidão seja motivada por ela ser a única lembrança parcial e boa que tenha ficado daqueles horríveis momentos que ele viveu e provavelmente isso se deva nem mesmo ao precário funcionamento do seu cérebro e da sua memória mas sim no seu coração. Pois ela acreditou e confiou na sua história sem pestanejar e de todos que ficaram sabendo do motivo do horário que ele retornou para a sua casa ela foi a única pessoa que não o acusou, julgou, condenou e crucificou precipitadamente.
Após alimentar-se de algo e tomar um rápido banho logo após chegar ainda atordoado na sua residência e dormir durante toda a noite, na manhã seguinte percebeu que a dor que sentia e o incomodava foi motivada por uma injeção que lhe aplicaram não sabe quando, nem como, nem de que medicamento ou substância química; deduziu que pelo tempo que ficou desacordado e atordoado durante todo o dia 25 e ter ainda dormido a noite toda seguinte, totalizando cerca de 30 horas, devem ter lhe aplicado algum sonífero muito forte e poderoso para terem o tempo suficiente para agirem nas operações com o seu cartão bancário magnético, cujo desaparecimento só tomou consciência ao acordar naquela manhã do dia 26.
Dirigiu-se à agência do estabelecimento bancário onde possuía sua conta corrente para cancelar o cartão magnético que havia sumido e constatou que enquanto ocorriam as festividades que ele tanto aguardava e que não pode participar, fizeram todas as retiradas possíveis tanto do seu saldo credor como do seu limite de crédito totalizando R$-1.575,00-, deixando-o devedor do banco em R$-1.000,00-, que era o limite do seu crédito.
Retornando à sua residência José procurou certificar-se de terem tido roubado também o seu telefone celular que é comum, seu relógio antigo e de pouco valor material, seu isqueiro de certo valor e seus documentos pessoais. Para sua surpresa, encontrou todos em casa. Ficou surpreso com o fato e imaginou que provavelmente, algum problema operacional das totalmente desconhecidas ações que os seus seqüestradores tomaram os impediu de rouba-lo também nisso. José também acredita na possibilidade de terem ficado satisfeitos com o montante de dinheiro que retiraram da sua conta bancária, o que teria tornado seus demais pertences pouco significativos e atrativos. Ou até mesmo ser interessante ele ficar com o celular para atender alguma eventual ligação de seus familiares, evitando, desta forma, que os mesmos acionassem a polícia.
José sabe e tem consciência do grande risco de vida que correu e que, mais uma vez, errou ao confiar em pessoas desconhecidas e compreende seus familiares e amigos que no princípio tiveram dificuldade ou uma certa resistência em acreditar nesta sua história que parece enredo de filme de aventura ou de terror. Afinal de contas não seria a primeira vez que ele errara, coisa incrível e inaceitável num mundo composto por pessoas que na maioria das vezes se julgam tão perfeitas e infalíveis e juízes muito competentes. Muito mais fácil supor, naquelas circunstâncias, uma balada irresponsável, completada com uma prazerosa aventura erótica de fim de festa.
Também entende e lamenta o constrangimento da sua amiga que ficou sendo contatada pelos seus familiares durante o dia 25 para obter informações quanto ao seu paradeiro, como se tivessem passado aquele tempo todo juntos, sendo que na realidade sequer se falaram nem mesmo através das ligações telefônicas, várias vezes tentadas por ambas as partes, todas elas não completadas. José só veio a ficar sabendo que ela lhe telefonara e que conversaram no próprio dia 25, cerca das 21:30 horas, meia hora depois dele chegar na sua residência, porque seus familiares lhe contaram o fato ao rememorarem todos os acontecimentos três dias depois, sendo que naquela oportunidade ele mal conseguira raciocinar e conversar normalmente com ela, por estar ainda sob efeito da droga que lhe aplicaram, dando-lhe a péssima impressão de estar totalmente embriagado.
Na verdade, juntando todos os fatos e detalhes possíveis de serem lembrados, José concluiu ter sido vítima de um seqüestro relâmpago planejado e executado por uma quadrilha que ao invés de se utilizar qualquer tipo de arma e cativeiro tradicionais, utiliza-se do já conhecido e popularmente conhecido golpe do “boa noite Cinderela”, onde a vítima, sem que perceba, é dopada através de substâncias que colocam na sua bebida ou comida, complementado com a utilização de conhecimentos da área médica para aplicação de algum medicamento, no seu caso, uma injeção, que mantém a vítima sedada durante o tempo necessário para agirem junto aos caixas eletrônicos, mantendo-o desacordado em qualquer hotel, cuja diária é paga com o seu próprio cartão de crédito.
Provavelmente além das duas mulheres que o abordaram os demais membros da quadrilha já deveriam estar naquela lanchonete ou os seguiram até lá; o amigo casualmente encontrado pela “Gabriela” numa das mesas seria um deles e devia lhe passar orientações; provavelmente logo que começaram a tomar a primeira cerveja colocaram alguma droga no seu copo o que o levou a tomar uma atitude tão absurda de dirigir-se a um caixa eletrônico na companhia de uma pessoa que ele acabara de conhecer; o suposto cartão magnético utilizado pela “Gabriela” e que “não funcionou” deve ter sido algum artefato de clonagem que memoriza informações da senha do cartão utilizado a seguir, no caso o de José, e provavelmente assim que saíram do caixa eletrônico algum outro membro da quadrilha já estava a postos na porta do mesmo para entrar e retirar o possível artefato ou, até mesmo, simplesmente a “Gabriela” observou e memorizou a senha digitada por José; o novo amigo de “Dara” que já a acompanhava quando retornaram do caixa eletrônico também deveria ser um outro elemento do grupo já devidamente posicionado junto a ela para exercer alguma função necessária a seguir. José também acredita que até mesmo o primeiro personagem que puxou conversa no início do episódio, o “conterrâneo de Caetano, de Porto Seguro”, talvez também pertencesse ao grupo.
Tendo conseguido executar todas essas etapas, restou apenas incrementar o doping da vítima com um apetitoso e simpático quibe turbinado com algum “tempero” especial, já preparado para “Gabriela” oferecer a José assim que voltassem do caixa eletrônico, tornando muito mais fácil e rápido convence-lo, já muito atordoado e inconsciente, a acompanha-las para onde eles bem entendessem e lá chegando completarem o “tratamento” com a aplicação de uma injeção que o deixou desacordado praticamente o dia inteiro, tempo suficiente para, de posse do cartão magnético, facilmente retirado do bolso do “apagado”, e com a respectiva senha captada anteriormente mediante fraude, executar o furto de todo dinheiro possível da sua conta bancária.
O prejuízo financeiro sofrido por José foi o de menos pois muito mais significativos foram os danos morais que, além dos fatos em si, incluíram os constrangimentos que teve que enfrentar para contar essa sua história para seus familiares e amigos envolvidos, para a assistente social que o atendeu na sua solicitação de exame de sangue para controle de HIV, hepatite e outras doenças infecciosas, pois não se sabe que tipo de agulha as criminosas utilizaram para aplicarem-lhe o medicamento intravenoso; para o escrivão e delegado de polícia que o atenderam para a confecção do boletim de ocorrência policial; para os que o atenderam para a realização do exame de corpo delito requisitado pelo delegado ao IML; para o funcionário e a gerente do banco para o cancelamento do seu cartão magnético e entrada de pedido de restituição dos valores que não foram sacados por ele mas sim pelos marginais que o vitimaram e muitas outras conseqüências na sua vida particular.
Felizmente, apesar de todos esses prejuízos e transtornos, José agradeceu a Deus por estar vivo para poder contar esta história e constatar que não lhe retiraram nenhum rim ou qualquer outro órgão, cuja subtração e tráfico, por incrível que pareça, vem se tornando um mercado em expansão neste mundo cada vez mais materialista, egoísta e ateu.
José resolveu contar a sua história porque a arte imita a vida e tirando o melhor proveito possível do ocorrido pretende aproveitar seu drama até mesmo para, mais uma vez, apesar de muito divulgado, alertar seus semelhantes para o risco de caírem numa cilada como esta, que ele mesmo, uma pessoa já experiente, já ouvira falar e julgava que jamais cairia nela.
José ficou triste e chateado principalmente pela preocupação e transtorno causados aos seus familiares e à sua amiga; assim como ele perdoou todos os que duvidaram da sua história, espera ser perdoado pelos seus eventuais erros humanos e inconscientes e receber um voto de confiança na sua palavra, da mesma forma em que nele confiou a provável prostituta loira, mulher que é da vida, e que por isso mesmo conhece muito da vida e da malandragem e dificilmente se deixaria enganar por ele, concedendo-lhe imediatamente o crédito e a solidariedade que ele tanto necessitava naquele momento.
Como ele se recorda de todos os detalhes ocorridos antes de ser dopado, chama-lhe a atenção da profética coincidência de terem cantado tanto na Estação da Luz como no cruzamento das avenidas Ipiranga com a São João uma música que há muito tempo não ouvia, cujos trechos da letra confessam: “chorei, não procurei esconder, todos viram, fingiram, pena de mim não precisava, ali onde eu chorei, qualquer um chorava, dar a volta por cima que eu dei, quero ver quem dava... um homem de moral, não fica no chão, nem quer que mulher lhe venha dar a mão, reconhece a queda e não desanima, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima....”
Motivado por essa música e ao ter sua história transformada neste conto José já se sente, por esse simples motivo, levantando-se, dando a volta por cima, reconhecendo a queda, não desanimando e sacudindo a poeira, discordando apenas que um homem de moral não possa aceitar que uma mulher lhe venha dar a mão, seja ela quem for, pois na vida tudo é muito relativo e nós seremos sempre nós e as nossas circunstâncias.
Porém, o que o deixou muito inconformado, como poeta que também é, foi não ter percebido no devido tempo a notável rima do já conhecido golpe do “boa noite Cinderela” com a ironia do seu clone “boa noite Gabriela”.
Fosse ele um gênio da categoria de um Adoniran Barbosa ou de um Paulo Vanzolini certamente comporia mais uma das muitas obras primas que eles imortalizaram sobre as personagens desta fantástica São Paulo e de seus tão diferentes habitantes com seus dramas, culturas, formações e valores tão incompatíveis e eternos participantes da cotidiana luta entre o bem e o mal, onde todos lutam para sobreviver, seguindo caminhos tão diferentes e até mesmo opostos.
José também não pode deixar de notar a incrível coincidência dessa sua experiência, nesse dia histórico e feliz para a sua querida cidade de São Paulo e tão infeliz para ele, que tanto desejou e acabou não podendo participar das principais comemorações do dia 25 de janeiro de 2004, com a memorável poesia que leva o seu nome, composta pelo grande mestre Carlos Drummond de Andrade:

“E agora José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
E agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
E agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais,
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?”

Apesar de tudo e sem abdicar de vivenciar tudo aquilo que faça acontecer alguma coisa boa no seu coração e que não prejudique nenhum semelhante, José pretende seguir marchando; marchar para onde? Marchar para onde segue qualquer um daqueles que como ele compõe a sua raça humana, criaturas falíveis e eternos aprendizes: para onde Deus quiser!

28/jan/2004

Wilson Madrid, o Poeta Azul
e aqui, o José...

Publicado no Recanto das Letras em 19/05/2006
Código do texto: T159150

Foto de JGMOREIRA

AINDA LEMBRAS? II

AINDA LEMBRAS? ll
RRR

Minhas desesperanças são vagos lumes
Na mata fechada sem alumiar nada
Além dos passos que dou, morta de cansada
Alpinismos milimétricos
Verminais gostos inodoros da tua saliva
Visual insípido aos teus olhos cépticos

Não sou nem o riso ou a dor
Comumente transparente em seu dorso
De suor no ato da falta de amor
O lirismo acabou?
Não incubou em teias de aranha na alma
Satanás ainda batendo palmas
Cristo se envergonha e chora
Vês? Todas as lágrimas transbordam

Não te espero mais na calçada
Não ando descalça nem sou sem graça
Policiais policiam meus fatos típicos
Feriados singulares, coincidentes
Sem reincidência, coerência, decência

Onde andamos nós que ficamos tão sós?
Velhos jovens loucos sãos e de antemão, contraceptivos
Canto mas nada entoa
Falo mas nada em ti ecoa
Grito sem orgasmo
Só doloroso espasmo de músculo contraído

Onde fugimos de nós?
O hoje se masturbou no ontem
Lançou sêmen morto no amanhã
Que nasceu à noite
Abortou a tarde
Enterrou uma manhã pálida
Do dia ofuscante já morto

Não consigo estremecer perante o medo
Nem tenho medo perante o ladrão
Não há roubo. Só roubados
Não consigo aspirar e expirar
Os hélios ou helênicos que respiras
A mim não concedo o pão do Senhor
Não prossigo que a escada encaracolou
Submergiu no teu rodamoinho

Essa vida toda contida na cabeça de alfinete
Esse teu congelo e degelo, setenta quilos
De pedra e sub sal.
Meus afagos desafogam energias nucleares
Em homens que encontro nos bares
Acordando em camas alugadas
Faço amor sem amar, dando sem entregar
Essa imaginaria guerra real se prolonga
Ao som de tambores e caças
Submarinos submergem à minha aparição
Sou o front, o desalinho da tropa dispersada
Na tua farda mal amada, branca de medo

Somos as engrenagens enferrujadas das máquinas
Gosto ácido de azia que corrói o estômago
Espinho na pata do leão; Paleótipo vazio
Puro som de grito abafado na fronha usada
A caldeira do diabo a que me atiraste
Harpa de archanjo que jamais ouvirei
Depois que meu Deus passou para o terno e gravata
Cabelo cortado, ar compenetrado, empresário de almas

Correria se tivesse pés
Falava se houvesse voz
Amaria se meu coração não estivesse partido
Fragmentado em dor atroz
Amaro amargo, Cinzano
Corte de fazenda barata
Peso perdido na balança desregulada

Acima de tudo, quero amar
Projetar-te em outro corpo
Que seja meu, meu de tudo
Para amar essa parte tua
Como nunca pude te amar
Que não deixarias
Sem mágoas nem angústia
Nem caos nem paz

Ainda te perpetuo
Teimo contigo no meu peito indeciso
Incoerente
Ainda te sinto apesar do tempo cretino
Que só sabe medir distância
Sou o nãoseioquê na tua vida
Talvez, teu olho cego, um sonho teu
Despertado
Armário de respostas que não abres
O porto seguro no qual atracas após
A deriva diária
Um vício, mania de criança
Algo em alguém destemido
A força fraca de ser valente
Encarar e debochar da vida
Chamar homens de meninos
Rir dele e fazê-lo crescer
Estacionar o trem do tempo
No garimpo do sentimento
Carregando a bateia para te achar
Ou achar uma pedra preciosa
Não mais a rosa fria, cadáver de flor
No que esse amor me tornou

Talvez, seja só meu esse amor...

Outro dia/1979

Foto de Dirceu Marcelino

ERAM DOIS AMIGOS INSEPARÁVEIS

Dois meninos.
Moradores da mesma cidade.
Um de olhos azul outro verdes.
Eram orgulhos da cor de seus olhos?
“_Ah! Meninos vaidosos”.
Falava nossa professora, Dona Marta.
Foram poucos os episódios de que um não participou na vida do outro.
Um deles ainda no “parque infantil”, neste ainda não haviam se encontrado.
Foi quando o de “olhos verdes” fora expulso da escola em face de se envolver em uma briga juntamente com seu irmão de três anos.
Não aceitaram a justificativa do menino de cinco anos e naquela época ele não sabia se defender.
Vamos pular vários episódios, pois, o objetivo deste conto é apenas justificar o porquê da carta-poesia postada aqui e endereçada ao primeiro depois de muitos anos.
Mas, tem fatos marcantes que precisam ser mencionados:
Tal como a apresentação para incorporação ao Exército Brasileiro.
Lembra-se: Todos nós bem arrumados. Você com um terno que parece que fora tirado do baú de seu pai, o mesmo com que ele viera da Espanha.
Eu, com uma roupa esporte.
Na rua um comboio de mais ou menos vinte caminhões do Exército Brasileiro e no ponto de ônibus do Mercado Municipal não parava de descer jovens cabeludos, muitos naquela época queriam imitar os “Beatles”.
Lembro-me que no momento de subir no caminhão meus cabelos longos caíram na testa e meu pai com os olhos lacrimejados dizia:
_ “Pare com isso. Você agora vai ser soldado!”.
Sinceramente, só fui entender isso depois que já estávamos na barbearia do quartel.
Justamente, quando via os que estavam na fila saírem de “coco pelado”.
Cerca de oitocentos jovens com dezoito anos de idade deixavam caídos ali no chão da barbearia madeixas de vários tipos de cabelo, dava-se para perceber que pouca era ruiva, outras loiras, mas a maior parte de cabelos negros e castanhos escuros.
Como os meus. Os seus eram loiros.
Quanta recordação poderia falar do quartel, ei!
Lembra-se daquele que ocorreu dias depois dos cortes de cabelos.
Sabe que como “cabo da guarda” soube por ele próprio que fora uma vingança, pois, não se conformava com o fato de lhe cortarem os cabelos.
Com ele aprendi que cadeia não regenera ninguém, o pior é que ele dando baixa do quartel, entrou em outra corporação importante e a desonrou, pois cometeu um crime maior: “latrocínio”. Justamente contra um industrial alemão que instalava uma indústria em nossa cidade. Esse não é assunto para comentarmos aqui. Muito grave.
Mas eu tenho que mencionar nossa viagem para aquela pequena cidade vizinha, onde participaríamos do desfile comemorativo de aniversário da municipalidade, quando um comboio de seis caminhões nos levou.
Você dirigia um deles e eu estava na carroceria.
Você teria com certeza condições de narrar melhor o acidente ocorrido, pois via a frente uma estradinha de terra batida, o aclive acentuado e a curva à esquerda. Eu na carroceria só pude ver e pressentir o caminhão que derrapava, empurrado pelo obus 105 mm, peça de artilharia muito pesada que ao mesmo tempo servisse para segurar o veículo não o deixando que caísse abruptamente o tombava, devagarinho, dando-me tempo de pressentir a metralhadora ponto 50, tombar e seus ganchos inferiores caírem sobre meu pescoço, mas eu o colocar como um “boxista” entre os ferros e evitar ser atingido.
Salvo desses fomos para o desfile.
Você dirigindo aquele caminhão com a frente amassada e o vidro dianteiro quebrado e eu como sempre na carroceria, com mais dez soldados.
Lembro-me que conforme treinamento feito durante semanas no quartel todos os soldados deveriam descer e depois sob a ordem do comandante todos deveriam subir rapidamente, dando-se às mãos, o que lhes proporcionava subir com facilidade, mas eu, como sempre ficava isolado, sozinho, pois era o “cabo serra fila”.
A que dificuldade foi subir naquele caminhão, primeiro que me desconcentrei ao ver entre os assistentes que se acotovelam uma linda morena de “olhos verdes”.
Ela me olhava de tal modo que me atraía, me seguravam, me dominavam, mas acredito que quando ela percebeu que eu iria passar vergonha pois os caminhões já estavam sendo acionados, ela me liberou e então em movimento mágico pulei e não sei como já me vi segurando os guidões da metralhadora.
Sim. Espécie de guidões, semelhantes ao de uma bicicleta.
E, naquela posição o comboio circulou por toda a praça e ao retornar, novamente, eu vi ali defronte ao cinema, mas sobre a calçada da Praça Rodrigues de Abreu aquela musa.
Alguém poderá perguntar, mas como ele sabe o nome da praça se aquela era a primeira vez que tinham ido aquela cidade. Bem, aí é outra estória, a ser contada no capítulo II do “menino que queria ser maquinista de trem”.
Antes de perseguir o objetivo deste conto, ainda tenho de contar mais uma breve estória, pois ela está registrada nos anais da história do Brasil.
Refere-se ao período ditatorial, mas sobre um episódio no QG do II Exército época de subversão e quando alguém soltou da porta do ginásio de esportes do Ibirapuera um veículo carregado de bombas que adentrou pelo acesso do quartel semi-subterrâneo e explodiu espetacularmente, matando uma das sentinelas. Sua foto consta de arquivos da internet.
Com esse episódio o jovem de “olhos verdes” acabou sendo promovido a sargento.
Posteriormente, terminado o período do serviço militar obrigatório, nos separamos por vários anos, mas outra vez, o destino nos uniu.
Fomos nos encontrar em Campo Grande – MS.
Em uma academia e depois designados para trabalhar na região da tríplice fronteira entre os Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e Paraguai. Esta região ainda fazia fronteira com uma parte do Estado de São Paulo.
Sei que em contos não se devem por nomes. Mas o faço, pois é um conto baseado em fatos verdadeiros.
Verdadeiros mas desconhecidos das autoridades responsáveis, dos chefes, dos governantes.
Talvez, saibam eles de alguns dados estatísticos, do número de carros furtados que são levados para o Paraguai, interessante, ainda hoje da mesma forma que acontecia há vinte anos.
O “menino de olhos verdes” agora se transformara no Delegado Regional e o “menino de olhos azuis” no Delegado de Polícia da cidade mais importante da sub-região. Mas a deste ficava exatamente na confluência da tríplice fronteira.
Este episódio ocorreu em porto Caiuá, local onde estava sendo construída uma usina hidrelétrica no Rio Paraná e a estrada se delineava exatamente sobre a barreira de contenção.
A operação consistia na abordagem dos veículos suspeitos ainda sobre as balsas que faziam travessia dos veículos do Estado do Paraná para Mato Grosso do Sul.
Na primeira incursão foram apreendidos quatro carros, dois Del Rey e dois Monza, furtados na cidade de São Paulo, no dia anterior, cujos veículos eram conduzidos até as pequenas cidades do Paraná, e ali permaneciam aguardando o momento adequado para serem atravessados. Depois faltariam cerca de cem quilômetros para alcançar uma das inúmeras cidades fronteiriças “Del Paraguay”.
Logicamente, desconhecíamos no que consistia esse “momento adequado”.
Outro fato interessante, mas, por favor, não dêem risadas, más é verdade, os presos eram levados para a única cadeia da cidade e ela era de “madeira”. Aliás, a maioria das casas daquela cidade era de madeiras, naquela época. Não sei hoje.
Só viemos, a saber, na segunda operação, quando afoitos em realizar um trabalho maior escalamos doze policiais que deveriam agir em duplas.
O Delegado Regional chefiava, mas também fazia parte de uma dupla operacional, seu companheiro era um Agente de Telecomunicações. Este tinha a incumbência de se comunicar com os demais componentes e transmitir-lhes as ordens operacionais.
Mas que operação, pois, logo após a descida dos carros da balsa, quando tudo deveria estar concluído, o que vê o Delegado Regional, cada grupo de seus agentes, sim, perto dos carros apreendidos, mas aos seus lados, também, outros homens armados, desconhecidos e entre eles ainda teve a chance de reconhecer um famigerado bandido procurado justamente por ser famoso nesse tipo de tráfico de veículos.
O que restou ao delegado regional, ao ver aqueles homens armados caminhando em sua direção, a não ser, lembrar-se do brocardo:
-“Pernas para que te quero”.
Subir então no veículo que acabara de aprender, praticamente, obrigar o preso e o Agente de Telecomunicações a adentrarem no veículo, tomar o assento no banco de motorista, acelerá-lo e arrancar provocando muita poeira e deixar atrás de si uma nuvem.
Acredita que essa ação os deixou momentaneamente desorientados, pois já estava a uma distância de 40 ou 50 metros quando os viu subindo em suas camionetes, alguns na carroceria e começavam a acioná-las e em comboio a persegui-lo.
Poderia dizer que foi uma delícia, se não fosse trágico, mas lembra-se como se fosse agora do ronco acelerado do Monza, vermelho, lindo... “Vrrooouuummmmmmmmmmm” e o chiado dos pneus nos pedregulhos do chão de terra batida “tchuaaaaaaaaaaaaaa”.
A corrida do carro que batia a “Kart” e assoalho em algumas saliências irregulares da estrada que na verdade era a barreira da futura hidrelétrica.
Olhando para trás via que se formava uma nuvem de poeira que com certeza inviabilizava a perseguição dos bandidos e desse modo foi possível ao término da barreira, adentrar em solo pedregoso sem deixar rastros e desse modo adentrar num paiol e enfiar o veículo sob um monte de feno, que parece que ali fora adrede preparado para esconder o veículo como vemos nos filmes americanos.
O feno cobriu o veículo, desceu do mesmo cuspindo capim, o bandido com um monte enroscado em sua algema, o agente reclamando de estar sujando seus equipamentos.
O delegado regional puxou o preso pela algema, praticamente o arrastou e com palavras de ordem obrigava o agente de telecomunicações a segui-lo e assim subiram em um morro, onde em local alto e camuflado, se assentaram. Dali se podia ter uma visão geral da planície formada pelas margens do grande rio e da estrada que se descrevia agora sinuosa para o oeste.
Dentre os veículos perseguidores três camionetes Ford e duas de marcas Chevrolet, além de um Fiat 147.
Sorte que coube aos dois ocupantes do Fiat fazer a verificação neste paiol, onde o Monza estava escondido. Negligentes os bandidos, deram uma espiada e sequer tiveram o cuidado de cutucar com varas o monte de feno. Depois de alguns minutos também seguiram para o Oeste.
E, nós ali.
Passadas cerca de seis horas viu-se ao longe sobre a barreira o ônibus interestadual que se dirigia para a cidade sede da sub-região, dando tempo de escrever, em uma caixa de bala CBC, um bilhete pedindo ajuda.
Entre as dobras da caixa colocou o Delegado Regional outro bilhete, que teve tempo de redigir, afinal ficou ali várias horas.
Depois de mais algumas horas chegou o reforço, o pior, que entre eles retornavam alguns dos mesmos policiais que tinham participado da nefasta operação.
Mas agiam como se nada tivesse acontecido.
Posicionou-se o Delegado Regional adequadamente de modo que pudesse reagir com armas, mas logo percebeu que tudo aparentava certa normalidade, iria fazer o jogo deles, talvez fosse naquele instante a estratégia adequada.
E, assim, retornaram para a sede.
O “bandido” foi autuado por receptação. Presidiu o flagrante o Assistente do Delegado Regional que foi o condutor.
Ah! Que trabalho em vão, o “cidadão” autuado, no dia seguinte foi posto em liberdade por ordem judicial.
Mas, tudo isso se repetiria depois, quando convidado para uma pescaria o ingênuo Delegado Regional foi e lá depois de ter pescado um grande “serubim”, que ajudou a limpar, no momento de saboreá-lo começaram a lhe contar a estória do “Delegado Bigode”.
Bem, esta estória, será narrada em outro conto, talvez, até o término do concurso, logicamente, se esta for bem recebida.
Ah! Sim.
Vocês querem saber por que contei tudo isso.
É simples.
Só quis justificar porque não entreguei a poesia ao amigo ODAIR ANTONIO ORTIZ, diretamente a ele e naquela época.
Justamente, porque, ela a carta-poesia, fora o bilhete que escrevera em um papel de revestimento de maço de cigarros e a introduziu, entre as frestas da “caixinha de balas CBC”. A mesma caixinha e papel que tem guardada em seus arquivos.
Normalmente, esqueço-me do teor das poesias que escrevi horas antes.
Aconteceu recentemente.
Escrevi para “baianinha” e perdi em meus escritos no próprio computador.
Espero encontrá-la. Mas ainda ontem quando não conseguia revisar este texto, em razão de erro de formatação, reescrevi a poesia “Baininha”, mas exatamente, no momento em que falava com ela pelo MSN.
Amigo com tudo isto estou lhe querendo dizer, que da mesma forma que tenho amigas, musas, você foi uma pessoa importante na minha vida, veja, fiz uma poesia, pensando que iria morrer.
Imaginava que você continuasse naquele Estado, como outros de nossos colegas continuaram.
Mas o destino não quis assim, outra vez nos encontramos aqui em nosso Estado, trabalhamos novamente juntos, divertimos em alguns momentos, trocamos nossas confidências e até fomos confundidos com buques de flores que mandamos.
Finalizando, para corroborar nossas brincadeiras, veja como fiz para você tomar conhecimento da poesia que ainda tenho aqui guardada em casa, no papel celofane, revestimento do maço de cigarros e da caixa de balas CBC, que a recuperei, pois afinal. Eu era o Delegado Regional. E, finalmente, desejo lhe dizer que tivemos a oportunidade de acabarmos com Defensores, pois sempre quis sê-lo, como quis quando tinha apenas quatro anos de idade e não conseguia dizer à minha Diretora que agira em “legítima defesa de terceiro” de meu irmão que contava apenas três anos e eu mais velho: cinco.

Foto de Fernanda Queiroz

Como comecei a escrever - Fernando Sabino

Como comecei a escrever
Fernando Sabino

Quando eu tinha 10 anos, ao narrar a um amigo uma história que havia lido, inventei para ela um fim diferente, que me parecia melhor. Resolvi então escrever as minhas próprias histórias.
Durante o meu curso de ginásio, fui estimulado pelo fato de ser sempre dos melhores em português e dos piores em matemática — o que, para mim, significava que eu tinha jeito para escritor.

Naquela época os programas de rádio faziam tanto sucesso quanto os de televisão hoje em dia, e uma revista semanal do Rio, especializada em rádio, mantinha um concurso permanente de crônicas sob o titulo "O Que Pensam Os Rádio-Ouvintes". Eu tinha 12, 13 anos, e não pensava grande coisa, mas minha irmã Berenice me animava a concorrer, passando à máquina as minhas crônicas e mandando-as para o concurso. Mandava várias por semana, e era natural que volta e meia uma fosse premiada.

Passei a escrever contos policiais, influenciado pelas minhas leituras do gênero. Meu autor predileto era Edgar Wallace. Pouco depois passaria a viver sob a influência do livro mais sensacional que já li na minha vida, que foi o Winnetou de Karl May, cujas aventuras procurava imitar nos meus escritos.

A partir dos 14 anos comecei a escrever histórias "mais sérias", com pretensão literária. Muito me ajudou, neste início de carreira,ter aprendido datilografia na velha máquina Remington do escritório de meu pai. E a mania que passei a ter de estudar gramática e conhecer bem a língua me foi bastante útil.
Mas nada se pode comparar à ajuda que recebi nesta primeira fase dos escritores de minha terra Guilhermino César, João Etienne filho e Murilo Rubião -- e, um pouco mais tarde, de Marques Rebelo e Mário de Andrade, por ocasião da publicação do meu primeiro livro, aos 18 anos.

De tudo, o mais precioso à minha formação, todavia, talvez tenha sido a amizade que me ligou desde então e pela vida afora a Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, tendo como inspiração comum o culto à Literatura.

Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 4 - Crônicas", Editora Ática - São Paulo, 1980, pág. 8.

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