Blog de JGMOREIRA

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AINDA LEMBRAS? II

AINDA LEMBRAS? ll
RRR

Minhas desesperanças são vagos lumes
Na mata fechada sem alumiar nada
Além dos passos que dou, morta de cansada
Alpinismos milimétricos
Verminais gostos inodoros da tua saliva
Visual insípido aos teus olhos cépticos

Não sou nem o riso ou a dor
Comumente transparente em seu dorso
De suor no ato da falta de amor
O lirismo acabou?
Não incubou em teias de aranha na alma
Satanás ainda batendo palmas
Cristo se envergonha e chora
Vês? Todas as lágrimas transbordam

Não te espero mais na calçada
Não ando descalça nem sou sem graça
Policiais policiam meus fatos típicos
Feriados singulares, coincidentes
Sem reincidência, coerência, decência

Onde andamos nós que ficamos tão sós?
Velhos jovens loucos sãos e de antemão, contraceptivos
Canto mas nada entoa
Falo mas nada em ti ecoa
Grito sem orgasmo
Só doloroso espasmo de músculo contraído

Onde fugimos de nós?
O hoje se masturbou no ontem
Lançou sêmen morto no amanhã
Que nasceu à noite
Abortou a tarde
Enterrou uma manhã pálida
Do dia ofuscante já morto

Não consigo estremecer perante o medo
Nem tenho medo perante o ladrão
Não há roubo. Só roubados
Não consigo aspirar e expirar
Os hélios ou helênicos que respiras
A mim não concedo o pão do Senhor
Não prossigo que a escada encaracolou
Submergiu no teu rodamoinho

Essa vida toda contida na cabeça de alfinete
Esse teu congelo e degelo, setenta quilos
De pedra e sub sal.
Meus afagos desafogam energias nucleares
Em homens que encontro nos bares
Acordando em camas alugadas
Faço amor sem amar, dando sem entregar
Essa imaginaria guerra real se prolonga
Ao som de tambores e caças
Submarinos submergem à minha aparição
Sou o front, o desalinho da tropa dispersada
Na tua farda mal amada, branca de medo

Somos as engrenagens enferrujadas das máquinas
Gosto ácido de azia que corrói o estômago
Espinho na pata do leão; Paleótipo vazio
Puro som de grito abafado na fronha usada
A caldeira do diabo a que me atiraste
Harpa de archanjo que jamais ouvirei
Depois que meu Deus passou para o terno e gravata
Cabelo cortado, ar compenetrado, empresário de almas

Correria se tivesse pés
Falava se houvesse voz
Amaria se meu coração não estivesse partido
Fragmentado em dor atroz
Amaro amargo, Cinzano
Corte de fazenda barata
Peso perdido na balança desregulada

Acima de tudo, quero amar
Projetar-te em outro corpo
Que seja meu, meu de tudo
Para amar essa parte tua
Como nunca pude te amar
Que não deixarias
Sem mágoas nem angústia
Nem caos nem paz

Ainda te perpetuo
Teimo contigo no meu peito indeciso
Incoerente
Ainda te sinto apesar do tempo cretino
Que só sabe medir distância
Sou o nãoseioquê na tua vida
Talvez, teu olho cego, um sonho teu
Despertado
Armário de respostas que não abres
O porto seguro no qual atracas após
A deriva diária
Um vício, mania de criança
Algo em alguém destemido
A força fraca de ser valente
Encarar e debochar da vida
Chamar homens de meninos
Rir dele e fazê-lo crescer
Estacionar o trem do tempo
No garimpo do sentimento
Carregando a bateia para te achar
Ou achar uma pedra preciosa
Não mais a rosa fria, cadáver de flor
No que esse amor me tornou

Talvez, seja só meu esse amor...

Outro dia/1979

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AINDA LEMBRAS? I

AINDA LEMBRAS? l
RRR

Talvez ainda tenhas neurônios
Talvez ainda recordes, pense e sonhe...

Quem nos viu não entendeu
Quem viveu foi sepultado
Vivemos em catalepsia
Seremos fetos no formol?
Seremos um pouco de dó em si-be-mol?

Ah, realmente me concebi no teu ventre fértil
Fui algum dos espermas que ejaculas sem prazer
Faço concorrentes na tua memória áudio-visual
Serei teu encontro provocado-casual?

Ah, meu amor, os homens marcham
As guerras se abastecem de almas desvairadas
E nós? Dois bêbados lúcidos a perambular
Sem importância por qualquer lugar
A pensar, queimando os fios do cérebro
A confundir os sistemas gastos
Convencendo nossos espíritos
A convalescer de cada endemia de mágoa.

Realmente já passei dos talvez
Sou fruta madura à espera de solo com ph
Mais propício, úmido, fecundo
Já sou a anciã desgastada que foge calada
Cabeleira alvoroçada

E tu?
Rocha metamórfica
Tumulo descaverado
Alquimista falido
Engenho inacabado
Pecador sem pecado
Inseto urgente de formicida
Autômato despilhado

Eu vivo e sobrevivo
Sempre recomeço dos barrancos aos trancos
Sobre pés descalços, raros tamancos
Os homens olham, mas não me vêem
Os meus olhos olham sem enxergar
Procuro a forma simples de amar
Como amo a ti
Amo do amor mais profundo além do corpo
Para dentro da alma
Não vejo teu amor em ninguém, solto por aí
Não ouço o que diz a tua boca lacrada
Não rio seu riso em dente algum

Tanto amo que desamo
Nem sei se estou dando ou negando
Orando ou odiando
Subtraio ou multiplico
Se retrocedo ou ascendo no holocausto de espinhos

Não falo mais de coisas normais, informais
Imorais, sensuais, iguais, banais
Ando escutando sem ouvir
O astigmatismo me castra as pupilas
A miopia retrai o nervo ótico
Encurta os espelhos, já nem me vejo
Nem te vejo refletido nas poças de chuva

Ainda lembras-se das não promessas?
Dos teus adeuses solitários e burros?
Dos retornos às pressas com ar soturno
De quem lançou as últimas moedas no poço do infortúnio?

Talvez ainda recordes, sonhe e ao acordar, pense
Que sequer existimos.

Um dia/1979

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CARTAS DE AMOR II - O escrevedor

Homens tristes, olhos encovados
Faces macilentas, noites de segredo
Andando pelas ruas atrás de cigarro
Que o acompanhe em seu desterro

Ritual de amor oculto nas trevas
Coração, chaga que não fecha
Passo a passo pelas alamedas
Que nada dizem à alma cega

Cavoucando guardados enterrados
Sob toneladas de papéis envelhecidos
Antiguidades que nada têm de raro
Querendo reviver o há muito esquecido

Depois de cumpridos todos os ritos
Senta-se no quarto em brasa
Convoca deuses esquecidos
Inicia com floreios uma carta

Carta de amor se escreve à noite
No silencio das rodas da lembrança
Erguendo as costas do açoite
Permitindo-se ares de bonança

O coração se acalma da arritmia
As mãos tornam-se rochas milenares
O rosto se abre em repentina alegria
Tendo a sombra amada por companhia

A carta de amor faz bem ao remetente
Mas mais bem faz a quem a remete
Que amor que é amor é amado sempre
Retirando os amados do mundo dos ausentes

Não importa quem a receba, ou quando
O importante é que se a escreva com amor
Mesmo que voltem, voltarão amando
Mesmo que entristeça o escrevedor

Carta de amor, quando o amor é amado
Com muito cuidado, escreve-se à mão
Para que chegue cheia de bordados
Para ser guardada dentro do coração

E um dia, quando for hora de abandono
Será a carta de amor que trará algum sentido
Fará com que uma lembrança seja sonho
Para viver mais um dia pelo amor um dia vivido

Escrevo cartas de amor todos os dias
Mesmo que seja para não serem lidas
Mesmo assim as escrevo todos os dias
Que declarar amor é o que salva a minha vida.

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CARTAS DE AMOR III

CARTAS DE AMOR III
Noturnas

Mesmo que sejam tristes os poetas
Suas palavras sempre serão belas
Estarão sempre a um passo do abismo
Amparados pelo amor se vão à queda

Escrevem poemas para todos ou ninguém
Seus poemas são cartas que vão e às vezes vêm
Mesmo quando o destinatário as rejeita
Continuam prenhes de amor, perfeitas

As horas de desterro do mundo verdadeiro
Para escrever linhas de amor verdadeiro
Torna o mundo em que vivem um pesadelo
Que só termina quando escrevem do desterro

As cartas de amor são obras noturnas
Cardiográficas, uma espécie de mágica
Que faz ferozes donos de coturnos
Esquecerem suas vidas trágicas

E assim segue o amor nessas vidas
Fluindo através de poros insones
Depositando-se na palavra escrita
Para aliviar a dor que os consome

Coisa imensa de tão grande
Que não há palavra que traduza
O que mora na alma desses homens
Que escrevem cartas noturnas

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CARTAS DE AMOR I

CARTAS DE AMOR I
A entrega

Carta de amor não se escreve
À luz do dia, hora dos apressados
Nem deveriam ser entregues
Por carteiros assalariados

Que levam nas algibeiras
Entre outros trastes
Promessas de uma vida inteira
Ou um adeus de desastre

As cartas de amor deveriam ser levadas
Por abnegados voluntários apoetados
Que sairiam nas noites enluaradas
Com mãos de seda, olhares amados

Esses operários do amor alheio
Receberiam por salário
O olhar de surpresa ou receio
Que soe a todo apaixonado

Nas noites de caminhada pela cidade
Cantariam nas ruas canções de saudade
Os porteiros por sabê-los puro cuidado
Os cumprimentariam com longos abraços

Andar por andar, sem usar elevadores
Chegariam de porta em porta, toc toc
Surpreendendo os moradores
Com cartas perfumadas com miosótis

De volta às casas, felizes pelo trabalho
Conhecendo todos, os abnegados
Fariam poemas, reuniriam retalhos
De palavras para alegar os desamados

Assim, todos os dias portas se abririam
Com rostos felizes, gente saudável
Que ao vizinho cumprimentaria
Com palavra boa e sorriso amável.

Carta de amor, quando é amor amado
Não se entregue sem certo cuidado
Nem se lê de dia, hora amarga
As palavras da amada.

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PLEXO

PLEXO

Na tua casa
Ando tonto
Asa de ave
Pé de anjo

Nos cantos
Encantos
Tua pele
No espelho

Quimera
promessa
O desejo
Sem jeito

A espera
O sonhado
Cruel desejo
Transformado

Quando nua
Deslumbra
Acentua
Cada curva

Minha sempre
A boca pede
cala nunca
Perco a fala

Queria poemas
Desejava
Luz pequena
Sombra clara

No corredor
Sem palavras
Sem jeito
Amarras

Toque
Beijo
Calor
Peito

Língua
Lábios
Coxas
Lavras

Tesouro
Silencio
Suores
Momento

Pela tua casa
Ando com as asas
Dos anjos da sala
que se revelam

Mãos de andorinha
Peito em vulcão
Que fosses minha
Olhar de cão

Na tua casa
Perco a fala
Aguardo a vez
Primeira vez

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TEMPO VAZIO

TEMPO VAZIO

É de janeiro e fevereiro
Que chegamos a março e abril
De maio e junho
Alcançamos julho e agosto
Para deslumbrar setembro
Com o próximo outubro
Que se encanta em novembro
Desagua em dezembro
E puxa janeiro e fevereiro
Para ajudarem
Nos março e abril
Que suportam meus ais
De saudade da tua presença
Que só Deus sabe como dói
Cada dia só de ti em minha vida
Não é só um coração partido
É uma vida perdida
Com Deus por companhia

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MESES

MESES

Saio de dezembro atrasado
Vestindo um janeiro apertado
Já quase chegando a março
Pulando fevereiro aos pedaços

De abril faço azuis e maio
Junho marrom, de desmaio
Julho sem gosto quase insosso
Imitando agosto, o do desgosto.

Setembro é mês de virada
Ridícula parada armada sem graça
De casa nem saio, me cubro
Adormeço esperando outubro

Que passa desvairado, nem lembro
Arrastando às pressas a cruz de novembro
Para atirá-la ás costas do Nazareno
Que morreu no coração de dezembro

Assim levo meu tempo, sem pensar em nada
Aguardando uma época mais naturada
Aguardando que chegue um dia de vento
Que sopre tempo para não matar o tempo

Tempo que transborda pela vida
Como água na fonte esquecida
Aos poucos criando limo
Que cobre do fundo ao cimo

As pedras não se mexem, estagnadas
Nessa poça de água parada
Que não corre para nenhum rio
À espera de que voltes, meses a fio.

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AMOR TRISTE

AMOR TRISTE

Fico rodeando nada
Esperando milagre
Dormindo tarde
Saxofone na tarde

Fico olhando o tempo
Esperando o momento
De soprar o instrumento
Algum som sem lamento

Deixo correr a solto
Ouvindo sinfonia
Acordando o dia
Às vezes, alegria

Assim passo o tempo
Rodeando o nada
Devagar na estrada
Poupando a caminhada

Devagar ando muito
Observando à volta
Até a Inês estar morta
Sem teto nem porta

O que chamavas ataraxia
Digo que é pura apatia
De quem nunca aceitaria
Amor sem alegria

Por isso, rodeio nada
De olho na estrada
Que amor sem risada
É queijo sem goiabada.

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VENTOSO

VENTOSO

Rodopiam no vento essas folhas
Essas coisas todas que rodopiam
Quando venta como se escolha
Da natureza para embaralhar o dia

A confusão que traz a ventania
Com tudo que nela rodopia
Afasta os velhos que pitam
Faz rirem os meninos que a desafiam

Levanta anágua das moças que coram
Leva guarda-sóis das senhoras que oram
O vento que nesta terra pequena rodopia
Almeja viajar e ser vento de travessia

A terra vermelha que levanta a ventania
Cansa-se logo e nos telhados se aninha
A roupa no varal estendida pela mão morena
Embola, roda, solta e voa sem pena

Sem outro lugar para ir ou perturbar
A ventania se cansa e descansa no ar
As folhas despedem-se sem pranto
Agonizando em volta dos troncos

Os meninos voltam às suas capetices
Janelas abrem pro disse me disse
A mão morena nem pára para pensar
Recolhendo o alvo lençol para quarar

O vento que brinca às vezes de ventania
Deitado no ar, cheio de vento, se divertia
Doíam-lhe as nuvens de tanto que ria
Treinando para ser sudoeste um dia.

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