Blog de JGMOREIRA

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DE CUJUS

DE CUJUS

Não me amas mais
nada em mim te encanta.
A mim não se parece aquela
A quem querias na tua ganância.

Nada em mim te provoca
Fica essa boca em brasa
Manchando os lençóis da casa
E tu nada. Nada de resposta.

Queria que me dissesses palavra
capaz de espantar minha mágoa
Mas nada dizes. Nada te ocorre
A esperança desfalece e morre.

Na cama vazia me deito
Como é de costume
Enquanto jazes ao lado
Defunto, de cujus, decúbito

Sei que não dormes
Mas morres todo dia
E morto ficas e morto vives
Eu? Nada. Fui um deslize.

Um dia no mesmo cigarro
Nas duas bocas um único trago
Promessa, conversa, afago
Te amo, te como, te guardo

Hoje finges um sono que não existe
Mas antes dormias no meu sonho mais triste
Ate que me convencestes a dar meu destino
Para que me deixasses sem rumo sem trilho.

Não me amas mais nem nada te encanta
Porque não vives em paz e me deixas solta
Para que eu seja a viúva, o véu na sombra
O olhar que não mais interroga?

Nada em mim te encanta
Mas não adianta
Teu costume é defunto criança
Que em mim apenas descansa

Não me amas mais
Nada em mim te provoca
De cujus, decúbito, demais
o amor nunca suporta

E se afasta
Nefasta a hora
Em que dissestes
Sempre e agora.

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ANJOS

ANJOS

É por onde ando vergando
Cambaleando sem mar
Que deixam seus rastros

Encontro seus vestígios
Coisas que caem das alturas
Enquanto passo adernando
Nas calçadas apertadas
De pernas ocupadas

Na escada do prédio
Também encontro vestígios
De uma curta revoada
Impossível no espaço exíguo

Caem-me sobre a cabeça
Por vezes irritando pelo excesso
Às vezes, quando anojado, sublimando
Elevando minha dor à felicidade

Do terraço na São Sebastião
Aspiro fundo até ofender a respiração

Um dia, quando forem suficientes,
Com paciência, desvelo e arranjo
Colarei cada uma das penas perdidas
Que encontro todos os dias da minha vida
Para construir asas como as dos anjos

que farão voar
Quem sequer anda direito

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DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE MALES QUE ATORMENTAM A ALMA

DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE MALES QUE ATORMENTAM A ALMA

Se não fosse essa doença invisível
Que me torna essa coisa previsível
Decerto a vida seria diferente
Comigo inventando gente
de nova estirpe e contente.

Todos os cômodos da casa
Tornaram-se enfermaria
Onde guardo meus curativos
Para proteger a doença que procria.

Criei em mim esse mal, esse inimigo
Que abriga-se em mim, que se refugia
Dentro da minha alma e covardia

Estou doente. Terminado está cada dia.
Só tenho momentos de oxigênio
Não existe mais presente
O que respiro alimenta o mal que carrego
Que minha vida é quarto escuro
Sem janelas ou odores decentes.

Somos nós, eu e o mal, afrontados
Como amigos nunca afastados
Siameses, híbridos, assensos seres
Ao nascer do dia de guarda montada
Sabendo eu que ele se alimenta
Da minha vilania, alegria, palavra.

Nesse quarto escuro, sem portas
Sem trancas, sem futuro ou dignidade
Cultivo o que me mata
Sem poder fugir,
Dada a sua exigüidade.
Ficamos assim, a nos contemplar
Dia-a-dia, todo o tempo
Sem nada a dizer ou pensar
Para não lhe dar alimento para germinar
Que sua metástase ganha força no sofrimento
Que com o passar do tempo
Termino oferecendo
Quando passo a me expressar.

Entrei nesse retiro forçado da humanidade
Para que todas as dores fossem só a minha
Para não dividir, compartilhar, ofertar
O olhar triste de quem esqueceu amar

Cria-me homem imenso, imortal
Ulisses a suportar todas as dores
Mas desconhecia essa capacidade
Humana de vergar a qualquer custo
O mais forte sem nenhum esforço.

Criei esse mal em minha alma
Essa tristeza que procria no fundo
Que vara com calma e paciência
Meu coração com sua indecência.

Os doentes do corpo, nas enfermarias
Lamentam a sorte, afrontam Deus.
Cá, nessa minha construída agonia
Ignoro a morte, ergo as mãos ao céu

Dono dessa tristeza que me assaltou
Não sei bem quando nem aonde
Vou descobrindo que todas as doenças
São inventos puros da falta de amor.

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DA GRANDE DECEPÇÃO DO HOMEM AO VER-SE SÓ, CONTEMPLANDO O ABISMO

DA GRANDE DECEPÇÃO DO HOMEM AO VER-SE SÓ, CONTEMPLANDO O ABISMO

Estou só no mundo com todas as alegrias resguardadas
De contaminações humanas. Estou só e porto uma espada
Para desafiar os perigos que encontro na jornada
das adagas insanas.

Estou só. Tenho nas mãos as cartas que me envias
Não as respondi com medo de revelar
Quem em mim não mais residia.

Todos os laços estão rompidos
Todas as flechas lançadas
Todos os corações partidos
Mas ouço nas lembranças
Uma canção de amor evoluindo

Estou à beira do abismo
Enquanto as rochas resistem
À investida das águas insistentes
A distância entre mim e as pedras
É a desse amor dissente
Que em ti sobrevive

Tenho nas mãos a espada
As cartas e o vento no rosto
Enquanto olho estupefato
A violência das águas.

Queria o amor, sim
Como desejei amar
Mas queria que entendesses
Um amor sem carne dentro
Que tivesse palavra por alimento
Que se deixasse amar
Para que amasse o corpo
Como se linimento
Para todos os sofrimentos
Infligidos por esse tempo impiedoso
Que sorri ao desamarrar mãos de amantes
Como se sua maior obra fosse o desgosto.

Estou à beira dessa profundidade
Dessa altura estonteante
Completamente enlouquecido
Pela certeza da inutilidade
Desse amor por ti enaltecido

Defendes o grito do gozo
Enquanto aguardo o silencio do êxtase
Derramo-me em ti para escapar da morte
Enquanto te abres para esquecer do dia.

Passo os olhos nas tuas palavras
Que nada comovem em mim.
O homem a quem as dedicava
Há muito retirou-se de ti
Evadiu-se de mim
Esquecendo essa espada
Largando essas cartas
Que não servem para nada

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CREIO, MEU AMOR

CREIO, MEU AMOR

CREIO, meu amor, que passarei
Como os vendavais
Os temporais, as marés, o verão
O inverno, céu e inferno
Os anos vitais

Passarei como passa a brisa
Entre os bambuzais

Creia-me,meu doce e inocente amor
Passarei queimando tuas entranhas
Como bebida forte e estranha
Cicatrizando teu peito ferido
Apagando, em ti, depois
Minha mais linda lembrança

Me esquecerás como esquecestes
As brincadeiras da tua infância

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CARÍCIA

CARÍCIA
p/SXCF

Ponha tua mão
sobre o meu coração
sinta como me dispara
essa paixão
Ponha tua língua
no céu da minha boca
Percebe o deflagrar
de todas as pólvoras
que puderem os chineses inventar

Seja minha dona inglesa
me destrate de vez
Me colonize e me plante
novamente a tua semente
que saberei frutificar
todas as malícias
de fazer sonhar

Ponha tua mão sobre meu peito
Sinta que já perdi o jeito
Esquece todos os outros cavalheiros
Seja sempre minha primeira mulher
Levarei teu cio nas minhas costas
o teu desejo nessa emoção
que dispara
quando descansas a mão
sobre meu coração.

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CÂNTICOS

CÂNTICOS

És bela, Amada pela minha alma
Como o sol afastando a madrugada.
Teus olhos são frescas paragens
Abrigando os meus da vida voragem.

Teus lábios são fontes murmurantes
Que matam a sede dos meus, ofegantes
Beija-me e embriaga meu coração
Com o licor da tua boca em profusão.

Formosa és entre as mais belas
Reconheço-te entre todas elas;
estando entre mil, quando passas
meu coração desperta e dispara.

Passa o tempo; muda a estação.
A natureza doa flores em admiração.
Teus seios são taças macias
Que me saciarão ao findar o dia.

Tua pele agradável como o linho
Tua cor deslumbra o peregrino
Abundante é o mel que alivia
Que sorvo desejoso da tua delícia.

Tua palavra doce acalanta
Tua voz é flauta que encanta
Ergo-me mais homem a cada dia
Que teus amores são puros, amada minha

Quisera fosses minha irmã, amada
Para desde antes termos as mãos dadas
Desde o primeiro dia da tua vida
Estarias entre meus braços protegida

A mão esquerda te apoiaria a cabeça
Para que te abraçasse a direita
Envolvendo teu corpo nos braços meus
Sou um homem que chega a Deus.

Deleito-me ao ver-te preparando o leito
Perfumando-o com aromas perfeitos
Para transformar a noite do nosso amor
Em palácio de ouro, puro esplendor.

Teu ventre é obra de mão apaixonada
Tuas pernas duas torres cinzeladas
Que guardam arca de rico tesouro
Que será entregue ao amado venturoso

Vem, amada minha, apressa teu passo
Que minha alma ressente-se sem teu abraço.
Acolhe-me em teu colo e apascenta
Ouve a melodia do coração na tua presença.

Amada minha, amiga fiel, irmã querida
Aceita o presente dos meus dias de vida
Afasta de mim os males da alma dos tristes
Salva-me com o amor que só em ti existe.

Sela meu coração com teus lábios
Ampara-me quando, triste, caio.
Leva-me ao leito que preparastes
Para com teu amor o desfrutasse.

És a flor banhada pelo orvalho
Quando ouço tua voz me calo
Música encantando a cotovia
Esta mulher, amada da alma minha.

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CALVÁRIO

CALVÁRIO

O OLHAR DE MARIA
PARA O FILHO NA TRILHA
É O OLHAR DO AMOR
QUE MAIS AMOU

OUTRA MARIA OLHA O AMADO
COM OS OLHOS TURVADOS
OS OLHARES DAS DUAS SE TROCAM
SEM QUE NADA POSSAM

SÃO DUAS MULHERES AMANDO
O MESMO HOMEM, ANDANDO
SOB A CHIBATA E ESPINHO
OLHANDO AS DUAS COM CARINHO

-PAI, MEU CORAÇÃO ESTÁ PRONTO!
MARIA CONTÉM O PRANTO
ENQUANTO A OUTRA LEVANTA O VÉU
ESPERANDO O MILAGRE DO CÉU

O OLHAR DE MADALENA NO OLHAR DE JESUS
ALIVIA-O DO PESO DA CRUZ
POR INSTANTES SUA DÔR FICA VAZIA
PARA QUE VÁ AOS VALES ONDE PASTOREARIA

SOBE A COLINA COM O SOL NAS COSTAS
MADALENA, LINDA, O ESPERA À PORTA
OS FILHOS BRINCAM NA SOLEIRA
UM SORRISO AFLORA SOB A CABELEREIRA

AS PALAVRAS QUE LEVARÁ NAQUELE DIA
SERÃO OUVIDAS PELAS DUAS MARIAS
QUE O OLHAM COMOVIDAS PELO AMOR
TEMEROSAS DA SUA CORAGEM DE PASTOR

A CHIBATA IMPIEDOSA O TRÁZ DE VOLTA
PARA O CENTRO DO PALCO DA HISTÓRIA
O SANGUE DE SEU ROSTO COROADO PELO ESPINHO
PUXA DE MARIA UM GRITO PELO SEU MENINO

MADALENA, QUE AGUARDAVA O MILAGRE
SOLUÇA AO VER O CENTURIÃO COM VINAGRE
A FÉ DA MULHER NESSE INSTANTE FRAQUEJA
PEDE A DEUS QUE NÃO MAIS LHE PEÇA QUE CREIA

QUANDO, POR FIM, ERGUE-SE O MADEIRO
AS DUAS MARIAS DE ABRAÇAM EM DESESPERO
DUAS MULHERES PERDEM O HOMEM AMADO
QUE GRITA AO PAI PORQUE FOI ABANDONADO

DURANTE TODA SUA AGONIA,
JESUS ESTÁ COM MARIA
SOBRE A MORTE SEU CORAÇÃO VOA APAVORADO
ANINHANDO-SE EM MADALENA: DOIS DESACRETIDADOS

DUAS MARIAS OLHAM FIXAMENTE JESUS
ALHEIAS À REALIDADE DA CRUZ
OLHANDO AS DUAS, DO ALTO, O NAZARENO
PASTOREIA NAS COLINAS COM SEU CAJADO.

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ANJOS TRISTES

ANJOS TRISTES
(Com Anna Müller)

"Vou libertar-me de mim....deixar as asas no chão.
atirar-me nessas ondas de vento. Libertação.
plainar sobre o denso vazio na quietude do nada
anjo rebelde a revoar sobre tua sombra pasmada

tirar da garganta o pio das amarras,
atirar-me nessas ondas de vento. Libertação.
plainar sobre o denso vazio na quietude do nada

Sentir o eco de liberdade
Escorraçando Deus no ruflar das asas
de dor, pesadas

Lutando contra a tua divindade
Voando alto, para longe do teu amor
deixando-me assim... longe de ti...asas no chão.
E aqui, neste frio, padeço a tua saudade.

Asas cansadas, largadas em vão.
Retorno a ser homem, andando por onde passavas
Recostado no medo o coração
Medo de que me surjas à frente
e assim, apenas na doce lembrança do vôo,
guardo apertado no peito.

Medo do reencontro.
quando Deus se afasta dos anjos
fazendo carne o que fora sonho

Quisás meu anjo viesse
dele tivesse o abraço.
tornasse meu sonho real...
Água cristalina em manso regato
Pudesse eu matar a sede nas águas dividas
afastando essa dor
essa tristeza, da alma o mal
limpando minh'alma da dor que me causastes.
Pensando ser amor o mal que me atirastes

roubando das asas o ruflar
do coração, o sonhar
do meu corpo, o dom de amar

Desse amor que me fizestes voar sem asas
Voar o sonho do corpo ao coração...
E simplesmente amar
como voam os anjos, sem pretensão
Amar sem distinção
livre da tua marca, tua cara
Amar por destinação

Vagar á procurar o anjo que me fez amar
Que hoje rotula saudade essa dor infinda
Destinada na morte de uma alma de asas no chão.
Esquecida de que um dia tivera um anjo
onde, agora, estático, terreno, agonia o coração

A alma caída e um anjo ferido.
Sentir o eco de liberdade
Escorraçando Deus ruflando as asas
pesadas de dor
Lutando contra a tua divindade
voando alto, para longe do teu amor

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AMOR E PAIXÃO

AMOR E PAIXÃO
(aulas)

O amor nada perdoa nunca
nada releva.
Não contém o carinho,
este é um dos seus sintomas.
Ele é tão metódico
que aninha em seus escaninhos
cada fala franca (que magoa)
cada gesto espontâneo (que fere)
como se fossem documentos
que devam ser apresentados
ao escrivão-chefe para o livro de tombo.

O amor anota no diário
cada falta do amor.
O amor é o estudante atento às aulas
que não faz o dever de casa
que se nega a aprender no dia-a-dia
as lições que cairão na prova do novo amor
Quando repete o ano
o amor acha tedioso, enfadonho
e repete ano de novo
mesmo mudando o professor.

Ao amor que nada esquece, a paixão.
Essa sucessão de portas que se abrem
de memórias saudosas
lembranças sutis e violentas.
A paixão, aluno gazeteiro
que não aprendeu e não quer
que doa tudo de uma vez por todas.
Onda violenta que remexe
o lodo no fundo da baía serena
deixando ver o podre do belo.

Ao amor que nada esquece,
a paixão que nada lembra.
O amor tem memória de elefante,
a paixão, suas patas e o marfim.
O amor repousa, terno, a cabeça
após exigir do amor o cetim e a seda.
A paixão não deixa dormir
ignorando a aspereza.

Chega o momento em que se diz
'te amo para sempre'
perdendo-se no tempo
a paixão.
É quando o amante olha atrás
lamentando ter faltado às aulas
não ter feito o dever de casa
não aprender a lição.

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