Simples

Foto de Ricardo Barnabé

Eterna despedida

Através do dia espelhou-se as trevas,
refugiadas no teu corpo
perdido no silêncio,
e refundido na ausência,
daquele que para ti,
se tornou "morto".

Tudo nas mãos tiveste,
e nada deixaste por ficar,
com o teu arrependimento
simplesmente casaste.
e a tua felicidade já não consegues alcançar.

Ciumes loucos, desavenças em vão,
tudo se derramou sobre minha mão,
e assim se consolidou,
a tua dura perdição.

Procuras pelos tons do meu meu amor.
mas nada mais que a simples cor da dor
que por mim será tingida,
a dor da minha ausência cheio de ardor.

Voltar nunca mais.
Encontraste-me nesta vida
mas noutra jamais.

E hoje as trevas oferecem-te a lua cheia,
e a minha alma nesta noite,
pelo teu corpo vagueia.

Porque hoje a tua noite é o meu dia
e nas paginas da tua vida,
assinarei a minha eterna despedida.

Ricardo Barnabé

Foto de João Freitas

CONTO DE FADAS

CONTO DE FADAS
Que bom tempo a memória me traz do colégio, dos amigos, da alegria de viver, da falta de futuro.
Todos iguais, com gostos convergentes, muitas disputas, quase sem lideranças.
Primeiro amor, mesada, poucas tarefas em casa, comida e roupa lavada.
Política, de ouvir falar, esperando o final do horário gratuito.
Mas um dia, no dia a dia, amigos ficam distantes, cobranças tornam-se reinantes.
Novas vidas adentram na de cada um, desviando caminhos, antes paralelos.
É a tal idade adulta, matando a infância e a adolescência.
São desencantos, que transformam carruagens em aboboras e cavalos em simples roedores.

João Freitas - Direitos autorais registrados.

Foto de maestrimg

Paixão

Como posso te mostrar o que sinto
Fazer você acreditar no que digo
Te fazer entender o que quero

Paixão, pura paixão
Verdadeira, sincera, única
Inexplicável, incontrolável, incompreensível
Simplesmente existe

Invade, arrebata, conquista
Impossível de ser dominada
Torna tudo obsoleto

Quando longe de ti
Nada tem sabor, luz ou cor
Nada agrada ou acalma
Coração para, e adormece a alma

O sol não anima
A lua não encanta
Noite e dia tornam-se um simples passar de horas

Uma agonia incessante
Que enlouquece o pensamento
Como um afago escuro
Mostrando a felicidade distante

Como explicar-te
Fazer com que aceites
Um sentimento tão belo

Doce, puro e ingênuo
Que trago dentro do peito
Esperando apenas uma chance
Para dizer te amo

Foto de Gideon

Chico Buarque e o "sempre"

Sempre! – As vezes esta palavra soa irônica. Eu a uso sempre (viu só?), e muitas vezes, sempre (de novo)! Certa vez achei que estava sendo pouco criativo quando terminava um verso com o sempre.

Sábado, cinco da tarde, entre um afazer e outro, puxei o Segundo Caderno do jornal O Globo, de 19 de março de 2006, que guardara para ler no futuro. Observando a matéria sobre o lançamento do filme de Cacá Dieguez “O maior amor do mundo”, chamou-me a atenção a letra da trilha sonora escrita por Chico Buarque para esse filme. Letra inédita que passo a transcrever aqui:

Sempre

Eu te contemplava sempre.
Te mirei de mil mirantes,
Mesmo em sonho estive atento
Pra poder lembrar-te sempre,
Como olhando o firmamento
Vejo estrelas cintilantes
Que se forma para sempre.

O teu corpo em movimento,
Os teus lábios em flagrante,
O teu riso, teu silêncio,
Serão meus, ainda e sempre.
Dura a vida alguns instantes,
Porém mais do que o bastante
Quando cada instante
É sempre.

Letra inédita de Chico Buarque para a canção-tema de “O maior amor do mundo” – Jornal O Globo – Segundo Caderno de 19/03/2006

Pois é, cá está o grande Chico se safando no apelo do sempre. Engraçado, percebi já há algum tempo, que quando estamos em estado do que chamo transe poética, a eternidade parece se lançar à nossa mente como a realidade preponderante e que norteia toda a nossa poesia. Mais ainda quando o sentimento em questão é o amor. Nesse caso a eternidade parece construir em nossa mente uma estrada para o amor caminhar (que poético, não acham?).

O destino dessa estrada seria o sempre. Talvez isto fosse um desejo subconsciente de que aquilo que é tão bom e tão almejado, como é o amor, nunca se acabe. O sempre surge, então, como aquela palavra que representa muito bem e completamente a idéia deste estado de transe poético que me referi anteriormente.

Bem, depois de ler esta poesia, do Chico Buarque, senti-me mais aliviado, e já não vou mais rejeitar de pronto o sempre, que, aliás, fica tão bem quando acompanhado com umas reticências em forma de pontinhos: sempre...

Claro que não ouso me comparar ao Chico, mas confesso que me senti meio vingado com o meu lado chato e questionador, aquela personalidade, dentre tantas outras que os psicólogos dizem termos, e que vez outra me aborda acusando-me de ousado, metido e sem senso do ridículo, quando escrevo as minhas poesias, ensaios, etc...

Imagino o que não passava na cabeça do Chico Buarque, que de tão treinado em poetizar, deve, ao conversar, espontaneamente falar todas as palavras em metáforas. Agora, no entanto, quando escreveu esta poesia, parece tão simples e ingênuo ao ponto de aparentemente não ter incomodado-se em recorrer aos antigos clichês poéticos, contudo válidos ainda, que a natureza nos empresta: “sonho”, “firmamento”, “estrelas cintilantes”, “corpo”, “lábios”, “riso”, “silêncio”, “instantes”, e o, claro, “sempre”, que, aliás, termina a sua poesia como que caminhando pela tal estrada que me referi poeticamente.
Só faltaram as reticências...

As poesias do Chico, claro, são para sempre...

Foto de Gideon

O Nascedouro de Pedras

Bicuda Pequena. Lugar mágico nas montanhas da minha vida...
Escalo-a sem planejar. A minha vida me surpreende. Mas tem também a Bicuda Grande. Dizem ser irmã mais imponente que a Pequena... Não importa, o que vale é que estou feliz... Sorrindo das pedrinhas bicudas ao pé da montanha imponente...
Mete medo olhar o cume, parece que vai despencar, mas claro que não vai, é só impressão.
É que somos pequenos mesmo, percebo isto olhando admirado a enorme pedra. Me surpreendo com a música tocada pelo vento nos foles do vale... Ninguém parece ouvi-la, mas ela está lá nos meus ouvidos. Não sei o modo tonal, se maior ou menor, talvez nenhuma nem outro outro... Mas ainda sorrio, encantado com este milagre...

Ofegante quero parar de subir, mas não posso. A montanha não deixa. Parece que a gravidade lá funciona ao contrário... Tenho de chegar ao redil, na laje. Ovelha guiada pelo pastor...

O Nascedouro

De repente um sobressalto! Um nascedouro de pedras... Surpreendo-me e quase me precipito sobre ele. Equilibro-me no vento e me delicio com a visão. Centenas de pedras pontudas, lá em baixo, no vale. Combinam comigo, e com a música que ouço no vale...
Agora, queria ter uma montanha à minha destra, penso, para me proteger da vida... mas elas estão lá, esperando milênios para crescerem... Sinto-me um pássaro pousado na colina a olhar o vale... Que vontade voar, pular, quem sabe me tornar uma pedra, também do nascedouro...

As pessoas da montanha

Volto-me e vejo o redil... Ovelhas simples, rodeando seu pastor... Vou tocar hoje, uma música qualquer, que gosto muito... para as pedras do nascedouro ouvirem...
Toco na sua direção. As ovelhas ouvem-na primeiro, Mas a música é para as pedras do nascedouro, juro, e que se movem, suavemente, de um lado para o outro no ritmo e direção do som...

Olhos vivos, vestidos de chitas, corações despojados... Vida, muita vida ali, à beira do nascedouro. As ovelhas cantam, mostram-se com o seu belo que é belo. Gosto. Extasio-me, me delicio com a vida à beira do nascedouro.

O Som no Nascedouro

Meu som ecoa deslizando montanha adentro, vertendo os vales, fincando-se nas grutas.
Visitando as rochas, rios, cachoeiras... Mistura-se com a vida da montanha... As pedras do nascedouro dançam ao novo som... Divertem-se ao pé de sua imponente mãe...
Deixo o som lá. Ele se perde fugindo montanha a dentro como um cão fugidio, feliz... Importa não. O que vale mesmo é que vi o vale, o vale da minha vida, e percebi que sempre ao lado de um vale existe uma montanha imponente...

Mas na Bicuda, tem mais...

Tem também um nascedouro de pedras, que esmaga o meu coração, de pedra...

Foto de carlos alberto soares

DECLARAÇÃO

NÃO SE ADIMIRE SE UM DIA,
EU TE PEDIR UM BEIJO
OU SIMPLESMENTE ME ATIRAR EM DIREÇÃO A SEU CORPO,
POIS, EU SEMPRE PENSEI EM FAZER ALGO LOUCO.

AGORA, APAIXONADO COMO ESTOU,
O PIOR QUE PODERIA FAZER ERA FICAR CALADO,
DEIXANDO QUE OUTROS TE ENCANTASSEM,
COM PALAVRAS BONITAS, FLORES FORMOSAS OU PERFUMES FINOS.

EU PODERIA SIMPLISMENTE SONHAR,
EM TE TER POR ALGUNS MOMENTOS, COMO TANTOS OUTROS
JÁ DEVEM TER FEITO.

ESTE DEVE SER O MEU DEFEITO,
EU TE QUERO, COMO NENHUM OUTRO HOMEM TE QUER,
COMO NEM MESMO O MAIOR FILÓSOFO DA HUNANIDADE
PODE ENTENDER.

EU TE QUERO, POR UM AMOR
QUE EU MESMO NÃO SEI DE ONDE VEIO,
QUE NÃO HÁ COMO EXPLICAR.

QUE COMEÇOU TÃO LOGO ME DEPAREI,
COM ESTES SEUS OLHOS CHEIO DE BRILHO,
EU NÃO SEI SE UM DIA ESTE AMOR VAI SE FINDAR.

MUITO PENSEI E DECIDI,
ANTES QUE EU TE VEJA EM OUTROS BRAÇOS
OU QUE O SEU CORAÇÃO TENHA OUTRO AMOR,
EU TE ENTREGO ESTAS SIMPLES LINHAS,
QUE EU PENSEI TRANSFORMAR EM UM LINDO POEMA.

APESAR DA SIMPLICIDADE,
DO POUCO BRILHO QUE REFLETE,
AINDA ASSIM, CONSEGUE SER UM POUCO DA DECLARAÇÃO
DE AMOR, QUE QUERO TE FAZER.

Foto de Gideon

A mulher do Metrô

Dias desses consegui viajar sentado no metrô. Abri o livro do Wittgeinstein, e comecei a ler.

Em alguma estação à frente entrou uma mulher pobre, morena, cabelos molhados provavelmente do banho da manhã, meio ondulados e soltos. Parte caindo pela frente dos ombros, parte por trás. Braços musculosos e as veias das mãos bem salientes sugerindo trabalho árduo. O semblante era rígido. Não percebi qualquer vestígio de maquiagem. Lábios soltos e frequentemente mordidos pelos dentes inferiores. O vestido era simples com flores estampadas de baixa qualidade. O formato dos seios era sugerido pela falta de sutiã, contudo nada indecente. A barriga um pouco maior que o normal para uma pessoa magra. Diria que era meio barrigudinha, mesmo assim ligeiramente sexy.

O vestido descia até próximo os joelhos. Não tinha qualquer enfeite. Os pés rugosos com as veias também à mostra. Os dedos enfileirados, mas indecentemente separados do maior pela tira da sandália rosa. Unhas dos pés pintadas de gelo, única vaidade que notei. Uma bolsa de plástico aparentando falso couro estava pendurada pela alça, bem acomodada em seu ombro esquerdo, que por sua vez estava à mostra.

Parei de ler Wittgeinstein para observá-la atentamente. Ela estava recostada entre o final do banco à minha frente, do outro lado do vagão, e a beira da porta do trem. O ombro cuidava em manter o resto do corpo um pouco distanciado da parede do trem. Devia ter não mais que vinte e sete anos. Bonita mulher, rosto bem desenhado, mas sem brilho e expressão. Fiquei tentando adivinhar a sua profissão. Julguei que fosse uma empregada doméstica, mas pela hora, quase nove da manhã, percebi que não devia ser.

Enfim, fiquei imaginando aquele corpo por baixo da roupa. A sua barriguinha protuberante formando um colo acolhedor. Como disse, os seios bem formados e provavelmente um umbigo discreto.. Vez outra, pelo balançar do trem, ela mudava a posição dos pés me chamando a atenção os seus dedos enfileirados sobre a sandália. O trem estava cheio e tive dificuldade em continuar reparando-a. Talvez isto tenha-me feito forçar o olhar, e ela percebeu-me. Me olhou naturalmente. Apertou mais uma vez os lábios e desviou logo o olhar. Outra vez trocou a posição do pé de apoio e passou a mão direita sobre o cabelo. Aproveitou, ainda, para arrumar a alça da bolsa, que teimava em escorregar de seu ombro esquerdo.
Voltei a leitura de meu livro. Quando tornei olhar para ela, não mais a encontrei. Descera em alguma estação. Fiquei meio frustrado. Me ajeitei no banco, curvei um pouco mais a cabeça e voltei à minha leitura.

Bem, não a perdi, claro. A descrevi aqui.

Foto de Ana Botelho

PÃO E VINHO

PÃO E VINHO

( In memorian: Eurípedes (Macedônia), Omar Khayyan e F. Pessoa)

Sem vinho, onde haveria amor?
E quando o inverno nos batesse à porta,
Que ares deveríamos logo assumir?
Recorreríamos aos do Mediterrâneo,
Filtrando o binômio trigo/vinha
E passaríamos as tardes os saboreando.
À noite, quando tudo parecesse dormir,
Ficaríamos inertes até nos pensamentos,
Buscando somente uma cristalina taça
E o que houvesse de precioso a acompanhá-la.

E sem pão, qual fibra vibraria em nós?
Tudo fluiria, pegaria o veio do vento
Passaria eqüidistante por entre dois pólos,
Dentre os quais existiriam indiferentes
Apenas os dias, o que foi e o que virá,
Já que o hoje seria o bastante
E completo para nos alimentar.

A vida pode até ser boa, mas o vinho
Ah, esse sim, é muito, muito melhor!
Quem sabe amanhã a lua nos procurasse em vão,
Sentemo-nos ao relento, sentindo-nos, apenas...
E o regresso do sol apagaria as estrelas
E desvaneceria as luzes mais soberbas
Das tantas salas requintadas e vazias.
Tudo a nos mostrar o curso da vida,
De que ela deveria ser simples e natural.
Com luta para nunca nos sentirmos sós
E sempre brindarmos a um prenúncio
Dos bem - vindos e necessários amores.

Foto de mafalda silva

SOLITARIA

A SOLIDAO NAO MATA,POREM
E SIMPLESMENTE NINGUEM
POR TRAS DO NOSSO EGO BAIXO
ONDE NESTE MOMENTO ME ENCAIXO
SIMPLES,E O MODO DE VIVER,POREM
MELHOR QUANDO SE TEM ALGUEM
TRISTE E UM SENTIMENTO PROFUNDO
POR VEZES APETECE PARTIR DO MUNDO
ESPERAR A MORTE NAO COMPENSA
CADA QUAL TEM SUA SENTENCA
NAO DESEJO MORRER
NAO DESEJO DESAPARECER
APENAS PROCURO A RESPOSTA
QUANDO TE PODEREI TER

Foto de Senhora Morrison

O Aviso de Clarice

Era manhã de sol, bonita e incentivante, mas não para Clarice que a muito não reparava na beleza dos dias, ainda dormia, na noite anterior havia exagerado nos entorpecentes se encontrava ainda anestesiada, tinha que procurar um novo lugar para ficar estava preocupada até, mas o corpo já não correspondia. O contrato com o apartamento estava vencido e Clarice ainda devia alguns meses do aluguel, tinha uma vida corrida em meio a mentiras, dividas a traficantes e coisas do tipo. Não se preocupava em buscar um trabalho fixo, era jovem e muito bonita pra isso, o que queria trocava por “favores sexuais” e assim caminhava. Ouviu um barulho muito distante franziu a testa e esticou o pescoço tentando distinguir aquele som como se assim ouvisse melhor, identificou o inicialmente indistinguível toque, era o telefone, estendeu o braço deixando o corpo esparramado de bruços em seu colchão atendeu ainda tonta, era o Sr. Abreu, um velho imobiliário pelo qual procurara muito nos últimos dias, Clarice quase se arrastando levantou-se e tentou prestar atenção em tudo que ele disse fazendo caretas despertando a face ainda dormente, fez alguns rabiscos em um pedaço de papel qualquer, cheirou duas carreiras do para ela milagroso pó trocou-se nitidamente com dificuldade por conta dos exageros e com certa esperança foi ao seu encontro. Avistou o Sr. Abreu ao longe, um senhor robusto, cabelos brancos que usava um óculos gigantesco que só não cobria seu rosto inteiro porque este era muito largo, com uma barba mau feita que lhe dava um aspecto de desleixo e mistério ao mesmo tempo, lá vinha ele atravessando a avenida, Clarice era uma menina pequena, tinha traços finos, a pele alva, cabelos negros a altura dos ombros que realçavam ainda mais seus olhos igualmente negros, Sr. Abreu lhe cumprimentou e foi logo adiantando o assunto lhe entregou o molho de chaves da respectiva casa dizendo que não poderia realizar a visita com ela pois, tinha muitos afazeres pr’quele dia e como já estava acostumado com sua presença na imobiliária não via problema algum em deixá-la ir sozinha, ressaltou ainda que havia recebido a ficha daquela casa no final do expediente do dia anterior e que ainda não tinha tido tempo de vê-la pessoalmente, mas que segundo o proprietário ela se enquadrava no que procurava. Clarice agradeceu e seguiu sozinha para conferir a tal casa. Chegando ao destino andando pela rua que designava o papel escrito de forma quase ilegível pelo Sr. Abreu, foi observando tudo que lhe cabia aos olhos, a vizinhança, crianças uniformizadas com mochilas nas costas despedindo-se dos pais e entrando em seus transportes escolares, a rua arborizada que lhe trazia um odor do campo, tantas eram as árvores carregadas de inúmeras flores, as casas em sua maioria muito antigas dando o toque final a rua perfeita, estava entusiasmada, sentia que finalmente encontrara um decente lugar para morar. Agora era só não dar "bandeira" de nada, tinha que manter a descrição antes ignorada, assim não seria facilmente encontrada por seus credores. Entretida com o seu redor percebeu que havia passado do número indicado, voltou alguns metros e deparou-se com uma casa branca simples de muro baixo o que a fez lembrar da casa de seus avós marejando seus olhos, pois a muito não os via, conseqüência de sua escolha de vida. A casa parecia ser pequena, tinha detalhes de azulejo na parte superior da entrada principal como se fosse um enfeite em forma de quadrado, a casa era exatamente do jeito que queria, simples. Abriu o portão destravando uma pequena tranca e adentrou o quintal o qual se mantinha limpo apesar das várias árvores pela rua e em sua possível futura calçada, o que achou ótimo sinal de que o proprietário era zeloso. Na busca da chave certa para abrir a porta o molho caiu de suas mãos, ao se abaixar para apanhá-lo sentiu como se alguém estivesse parado as suas costas, ainda abaixada olhou para trás nada viu, não dando importância nenhuma a este fato, levantou-se e continuou a testar as chaves até encontrar a que servisse enfim, deu dois passos para dentro da casa e se viu numa sala espaçosa, espaçosa demais para quem a vê apenas do lado de fora, franziu a testa, era bem ventilada por uma grande janela que dava vista para a rua a que também pareceu menor do lado de fora. Estava a caminho da próxima dependência quando um forte vento fechou a porta principal as suas costas, voltou-se assustada e quando retornou seus olhos a passagem do outro cômodo deparou-se com um imenso abismo e duas gigantescas escadas uma a sua direita empoeirada, cheia de teias e com degraus de madeira quase toda podre e outra a sua esquerda limpa e iluminada com degraus de madeira vistosa que lhe parecia muito mais segura, ambas tinham o mesmo comprimento e a mesma nivelação, Clarice esfregava os olhos como a querer enxergar ou até mesmo entender o que diabos estava acontecendo, virou a cabeça repetidas vezes querendo encontrar a causa daquilo tudo girou o corpo em seus pés, apavorada segue pela escada da esquerda, mas não suporta a aflição quase a queimar seu corpo por dentro e desmaia.
Clarice recobra os sentidos ainda sonolenta lembra da visão que teve com os olhos ainda fechados, prevê que tudo não passou de um sonho, esfregou os olhos querendo despertar e viu que se encontrava num lugar que decididamente não era o seu quarto.
Inexplicavelmente sem medo algum, Clarice se levanta e olha aquele estranho lugar,observa tudo que lhe cerca sentia o ambiente pesado, soturno, era uma espécie de igreja, templo, com várias fileiras de bancos ordenadas simetricamente, uma arquitetura indescritível medievalmente gótica, iluminações como a de uma aurora austral entrava pelas várias vidraças com imagens horríveis de supostos demônios multicoloridos, todos a apontar para ela, sentiu um arrepio aterrorizar seus poros. Clarice foi andando em direção a um suposto altar por um extenso corredor, encostou sua mão direita em um dos bancos cheios de teia e pó percebeu então que em cada banco havia um cadáver,levou a mão a boca em um repentino e milimetrado susto, os corpos eram de negros escravos, imagens que a deixou enojada afirmando seu ódio por esta raça, não suportava negros abria exceções quando estes ofereciam uma boa quantia em dinheiro para usufruir de seus serviços sexuais, mas mesmo assim tomava um longo banho querendo eliminar qualquer resquício daquele maldito contato, de crianças lindas crianças muito bem vestidas, mas todas imundas e defeituosas de alguma forma o que fez Clarice agradecer todos os abortos que praticou, definitivamente não nascera para procriar, quando chegou ao fim do corredor a frente das fileiras de bancos foi caminhado para o outro extremo desse estranho lugar, viu que os outros bancos estavam ocupados por mulheres muitas mulheres vestidas de noiva. Sem esboçar nenhuma comoção ou medo, apreensão ou curiosidade talvez, dirigiu-se ao centro do lugar ficando de frente a um mezanino de madeira todo trabalhado com vários objetos como castiçais de aparência antiqüíssima e um grande livro visivelmente pesado aberto ao meio, atrás deste mezanino a figura de um animal com chifres enormes em forma de caracol e olhos vermelhos como rubis estampados na parede. Clarice olhava tudo aquilo hipnotizada, reparou então que suas vestes mudaram, estava igualmente vestida de noiva em uma renda branca com rosas negras espalhadas sutilmente por todo o vestido que marcavam muito bem as curvas de seu corpo, deixando-o insinuosamente sexy, sentia-se incrivelmente atraente naqueles trajes e se admirava como se não tivesse nada ao seu redor, em uma volúpia vil de si mesma. Sentiu seus ombros acalentados por calorosos afagos, Clarice rodopiou o seu caloroso corpo a seus pés e deparou-se com o homem mais bonito que havia visto na vida, este era alto, esbelto, cabelos negros e os olhos azuis mais inebriantes que poderiam existir, sorriu, o misterioso homem também lhe sorria um sorriso branco e confiante e olhava-a com um desejo descomunal, entregaram-se a um ardente beijo, Clarice foi tomada por arrepios voluptuosos desta vez, olhou novamente para aquele homem que lhe estendia os braços oferecendo-lhe uma rosa, uma negra rosa. Clarice sentia-se desejada como nunca havia sentido antes, esta sensação lhe trouxe um conforto que jamais experimentara sua pobre alma, não se importava em sentir-se amada não acreditava em tal sentimento tudo o que desejava eram os olhos masculinos devorando-a em pura cobiça. Isso sim era real o prazer carnal, isso sim podia-se sentir. Interrompidos por um estrondoso barulho Clarice volta a si, escutando uma voz que gritava:
_ Ação de despejo, acorde! Sabemos que esta aí!
Clarice remexe-se na cama não querendo permitir que lhe furtem aquele momento tão intenso percebendo então que estava sonhando, e enfurecida pensa: _ Será que nem no inferno eu posso me divertir em paz? Levanta-se para abrir a maldita porta e vê cair uma única pétala da negra rosa que ganhara.
Sorriu!

Senhora Morrison

14/05/2008

Páginas

Subscrever Simples

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma