Vinagre

Foto de Arnault L. D.

A idade do vinho

O tempo a cada coisa é diferente,
mas se aprende, sempre haverá final.
O prazo de chegar, ou ir a frente,
dia de começo e fim, do bem e mal...

Ao acabar-se algo “permanente”,
vem incerteza de caber valido ou não?
Esquece, prazos fogem de repente,
se apartam, ao seu próprio tempo vão.

Talvez, o mal é sermos duradouros,
além dos tesouros dentro do peito.
Sobrevivendo aos anos, elos d’ouros
que se partem ao seu prazo feito.

Para todas as coisas rége a vida;
histórias que se juntam por instantes
e quando esta hora lhe é cumprida,
ficamos sós, porém sobreviventes.

Saber da taça o último gole
e não beber, p’ra tentar o eternizar,
somente o vinagre é o que se colhe.
Nada mais além dali se irá gozar.

Cabe apreciar viver, gozo e prazer;
língua a se banhar no doce paladar.
Até o fim da copo, penso beber.
Quero-te morrer, de todo até acabar.

Foto de andrelipx

Máquina...

Podes não sentir nada, podes não dizer nada, mas eu sei o porquê desse teu silêncio sofredor, é um silêncio que mexe com as minhas entranhas, que penetra até a veia mais profunda do meu corpo. Não sei porque não falas... Sei que estas ai sempre em baixo e eu tento fazer de tudo por tudo para estares comigo, mas tu desapareces e não dizes nada. És como uma máquina as vezes, ficas sem te mexer e sem dizer nada, silencias e foges. Procuras algo, mas nãos sei o que é, cada vez que te sinto, não sinto nada senão um barulhinho que faz em redor do teu coração. Muda, porque tens que mudar, em vez de humano estas maquina, e em vez de seres sentimental, estás a transformar-te numa pessoa vazia... Só tens cabos dentro de ti, mas sentes algo, não queres exprimir porquê... Gostava de te compreender, mas não consigo, és vazia como uma maquina, mas lá no fundo a maquina ainda entende o que é sentir, o que é falar, e ainda tenta se exprimir. Tu não, é oco, sem nada por dentro, cada fio que tu tens começa a corroer, mesmo sendo de cobre, cada ligação que tens começa a desligar-se e perdes o que tens de melhor...Mas existe outro problema o teu olhar, a tua forma de falar é diferente, gostava de comparar com algo mais bonito, mas só me recai sobre a minha memoria uma coisa, pareces uma maquina.
Cada vez que tento olhar para o teu interior, só vejo ferrugem porque o teu sangue já não é sangue, mas óleo com vinagre, porque o açúcar que tinhas dentro de ti, e que te tornava doce ficou ácido, que agora te torna numa pessoa arrogante. Pensava que te podia mudar, mas o teu cérebro, já não é de carne mas de fios, cada cavidade de pensamento, foi preenchida pela cavidade de ligar uma ficha, cada brincadeira se transformou numa ordem, já não brincas, já não sentes, já não falas, já nada, porque tu és uma máquina. Podia dizer o que ainda em ti é carne, mas não adianta porque és uma maquina, e sendo uma maquina nada te serve o coração. Peço que voltes ao que eras, deixa de lado essa vida de oco, não sei se és feliz, mas volta ao que eras, não sejas maquina...sê humano...

[Texto dedicado a P03tiza]

Foto de Arnault L. D.

Patê de coração

Vou fazer um patê
com o meu coração
para passar no pão
e depois comer

Vou mastigar bem devagar
para apreciar o gosto
e se verá no meu rosto
o quanto é amargo

Para acompanhar
um grande copo de cachaça
da pior que se acha
que irá bem combinar
e se quiser grelhar
vou untar com graxa
pra melhor temperar

Mas antes preciso arrancar
do peito o coração;
e esmagar com os pés,
socar e chutar pelo chão

E do sangue que vazar
um molho: Areia e vinagre, bater
E no vácuo será o oco que habite.
E mesmo me envenenando comer
e irei dizer: Bom apetite

Foto de THOMASOBNETO

Frenesi de Frutas

Se hoje saboreio a fruta vermelha,
É porque ontem saboreei um limão!
Se hoje saboreio a fruta do frenesi!
Ontem tomei vinagre e não o suco da uva!

Gotas de orvalho escorrem pela popa...
Molhados desejos desta fruta sensação!
Mordo os lábios... Pensamentos pecaminosos...
Eflúvios desejos de serenas paixões.

Frutas cerejas ou cerejas frutas?
O que importa é a excitação de abocanhá-las
Retirando pedacinhos delicados desta fruta...

Sentir adoçar meus desejos e que desejos...
Aguçados ao toque destes, insinuosos beijos.
Onde eu e você do mundo nos esquecemos

Baroneto.

Foto de Carmen Vervloet

Uma Prece - Para nossos irmãos do Haiti

Chorei... Chorei tanto
e não consegui lavar
com meu pranto
tanta dor...
O horror de presenciar
tanto sofrimento
esse imenso tormento
que assola o Haiti.
E então peço a ti,
meu Jesus,
alivia deles a cruz,
estenda-lhes sua mão,
faça o milagre do pão,
dê-lhes um teto,
nem precisa ser completo,
mas que os abrigue
da chuva, do sol,
cubra-os com seu lençol
de esperança,
agasalhe suas crianças
com seu amor,
abrande o clamor
de tanta dor!
Só um milagre
pode transformar em vinho
o vinagre
do medo
que assola essa gente
que necessita urgente
de auxílio...
Um domicílio
para resgatar
suas vidas!

Carmen Vervloet

Foto de Wilson Madrid

VINHO

*
*
*
*
Você foi um delicioso vinho que adocicou o meu caminho;
as suas uvas rubras tão doces fermentaram no meu coração,
com você vivi um sonho encantado desde a primeira degustação...

Você foi o meu vinho preferido: doce, suave, fino e generoso;
gole a gole, todas as gotas da sua deliciosa safra madura sorvi,
momentos emocionantes de dois amantes espumantes eu vivi...

Você foi a inspiração inebriante e a musa das poesias nascidas dessa paixão
e eu lhe embriaguei com tantos carinhos, flores, versos e rimas da nossa emoção...

A vida e o tempo tornaram tudo muito abafado, surdo, carrasco e botado;
as embriagadoras mudanças repentinas de humor garrafas derrubou,
a garrafa do vinho azul e amarelo virou verde, azedou e quebrou...

O mar das atitudes incoerentes este Baco ressacou;
o vinho virou vinagre, o sonho evaporou
e o tempo da nossa festa acabou...

No céu, o azul entristeceu,
uma estrela se apagou,
o arco-iris enegreceu,
o sol um raio perdeu,
e a lua até eclipsou...

Na terra, um bem-te-vi se calou
e um beija-flor desabou...

No mar, uma nave iluminada afundou
e uma sereia se afogou...

No ar, mais uma poesia decolou
e mais um poeta dançou...

A vida continua,
o tempo não para,
primaveras ressurgem
e as parreiras florescem...

Foto de Edson Cumbane

A MINHA LÍNGUA E A VERDADE

A minha língua é como um sabre
Falo coisas desafiadas só se for por um milagre
Falo a verdade nua e crua por mais que seja acre
Ela é tão inviolável que vem em forma de lacre

Por vezes a verdade é louca como um massacre
Em doses altas é insuportável mais que o vinagre
Para a maioria ela se compara à um casebre
Para mim ela adiada de às vezes para sempre

Há quem a troca como quem troca Gato por Lebre
Para alguns triste mas para mim alegre
Os seus oponentes quando a tocam pegam febre

A verdade é um sabre
Para mim doce para outros acre
Não a deixo nem se for por um milagre

Foto de JGMOREIRA

CALVÁRIO

CALVÁRIO

O OLHAR DE MARIA
PARA O FILHO NA TRILHA
É O OLHAR DO AMOR
QUE MAIS AMOU

OUTRA MARIA OLHA O AMADO
COM OS OLHOS TURVADOS
OS OLHARES DAS DUAS SE TROCAM
SEM QUE NADA POSSAM

SÃO DUAS MULHERES AMANDO
O MESMO HOMEM, ANDANDO
SOB A CHIBATA E ESPINHO
OLHANDO AS DUAS COM CARINHO

-PAI, MEU CORAÇÃO ESTÁ PRONTO!
MARIA CONTÉM O PRANTO
ENQUANTO A OUTRA LEVANTA O VÉU
ESPERANDO O MILAGRE DO CÉU

O OLHAR DE MADALENA NO OLHAR DE JESUS
ALIVIA-O DO PESO DA CRUZ
POR INSTANTES SUA DÔR FICA VAZIA
PARA QUE VÁ AOS VALES ONDE PASTOREARIA

SOBE A COLINA COM O SOL NAS COSTAS
MADALENA, LINDA, O ESPERA À PORTA
OS FILHOS BRINCAM NA SOLEIRA
UM SORRISO AFLORA SOB A CABELEREIRA

AS PALAVRAS QUE LEVARÁ NAQUELE DIA
SERÃO OUVIDAS PELAS DUAS MARIAS
QUE O OLHAM COMOVIDAS PELO AMOR
TEMEROSAS DA SUA CORAGEM DE PASTOR

A CHIBATA IMPIEDOSA O TRÁZ DE VOLTA
PARA O CENTRO DO PALCO DA HISTÓRIA
O SANGUE DE SEU ROSTO COROADO PELO ESPINHO
PUXA DE MARIA UM GRITO PELO SEU MENINO

MADALENA, QUE AGUARDAVA O MILAGRE
SOLUÇA AO VER O CENTURIÃO COM VINAGRE
A FÉ DA MULHER NESSE INSTANTE FRAQUEJA
PEDE A DEUS QUE NÃO MAIS LHE PEÇA QUE CREIA

QUANDO, POR FIM, ERGUE-SE O MADEIRO
AS DUAS MARIAS DE ABRAÇAM EM DESESPERO
DUAS MULHERES PERDEM O HOMEM AMADO
QUE GRITA AO PAI PORQUE FOI ABANDONADO

DURANTE TODA SUA AGONIA,
JESUS ESTÁ COM MARIA
SOBRE A MORTE SEU CORAÇÃO VOA APAVORADO
ANINHANDO-SE EM MADALENA: DOIS DESACRETIDADOS

DUAS MARIAS OLHAM FIXAMENTE JESUS
ALHEIAS À REALIDADE DA CRUZ
OLHANDO AS DUAS, DO ALTO, O NAZARENO
PASTOREIA NAS COLINAS COM SEU CAJADO.

Foto de Magroalmeida

INGRATA

INGRATA

Não adianta
Já fiz de tudo
Pra sair da tua vida
Mas eu não consigo

Então,
Pode me xingar
Pode me olhar de cara feia
Pode dar as costas
Olhar para os lados
Me mandar pra onde você quiser

Pode fingir que não me conhece
Pode me chamar de chato,
Preguiçoso, pentelho encravado,
Mala sem alça, pudim de vinagre

Pode me encher de desaforos e
Até me mandar embora.
Eu vou, mas volto.
Vou ficar no teu pé
Ate você entender que eu fiquei assim
Porque fui contaminado pelo teu amor.

Eu te adoro!
Eu te quero!
Eu te desejo!
Eu gosto muito de você!
Eu te amo pra valer!
Ingrata...

Nov/2006
Magroalmeida

Foto de Lou Poulit

Por Que Veio Súbita Essa Estrela?

Por que veio súbita essa estrela
dançar aos meus pés cansados?
Pois, alheio, nem penso em vê-la,
tantos séculos assim depois
de passarem tantos passados,
que nenhum deles compôs,
espelhada sobre o silêncio meu,
a quietude que esse lago me deu?

Que seio seu ainda me sustenta,
sem ao menos dizer a que veio,
a morbidez terçã de querê-lo
e de deitar nele o branco do cabelo?
Que horizonte ainda acalenta
como destino de tão vagos penares,
se em meus vagares nunca o vejo,
por que tanto me tenta o desejo?

Volte, estrela, às tuas profundezas.
Tua galáxia já te espera aflita.
E leva de mim as tuas tristezas.
Anda, vai... E pelo caminho reflita.
Ou tirarei meus pés e pronto!
Espero (a tona ao repouso reverte)
a ver-te a agonia ao ponto
de ser mais uma estrela inerte.

Mas não me tomes por ingrato...
De fato tivemos nossos momentos...
Mas folhas secas só se alardeiam
quando passam ventos e se esbatem;
pelo caminho do perdão, rodeiam.
O estranho passa, os cães latem...
Mas não há mais do que vingar-me.
Poesia, só da paz de dar-me me arme!

Porque uma outra estrela me verte
e ver-te vinho, vinagre amargo
sem embargo de mim vazado,
não me apraz, nem envaidece.
Hoje ledo, o velho lagar pisado,
legado ao momento não envelhece
o peito, ao tato do relento no convés.
E conhece a sua estrela... Pelos pés.

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