Cima

Foto de Arnault L. D.

Castelo e flor

Na rua, uma sombra alta e triste
ergue-se dentre a névoa gélida;
noite suspensa de um passado.
Tal braço, retesado em riste
do afogando, mão a buscar vida
e um mistério no tempo guardado.

Alta torre faz relevo à vista,
contrasta ao azul, somando ao céu.
Nuvens bordam a moldura entorno;
acima, janela a lua avista
e a filtra em vitrais, a luz pincel...
Quadro vivo, tela o chão, adorno.

Vestígios da beleza em ruína,
restos de sonhos, solvem a volta,
dos risos, dos casos em segredo.
Degraus subindo o mármore a cima,
ligando ao nada a ilusão solta...
Velhos fantasmas a trazer medo.

Apenas restou o que se ergue,
pois, mais ninguém, mais nada lá ficou.
Junto a ultima gota que verteu,
taça de cristal, vinho, e sangue,
estilhaçada a vida se quebrou.
Por testemunha a noite, que esqueceu.

O solo pontilhado de luar,
vazando aos vidros coloridos;
cintilou em matizes de carmim,
que a aurora escureceu ao raiar.
Revelando os Reis adormecidos,
em uma noite, que não teve fim.

Mas, o Sol não trouxe a claridade
que rompesse a densa névoa escura,
que encerrou dentre a alvenaria,
atrás de portas, paredes, grade.
Causas, culpas da história, pura,
não se soube, o oculto não traia...

E veio o anoitecer novamente.
Trancou as portas, fechou as grades,
cerrando as cortinas e os portões...
Desbotando tons, e o inconsciente
se encarregou de criar verdades.
Por provas, fez de mitos as razões...

Recolhido entre as salas desertas,
os anos a somar o abandono
pilharam a beleza em pedaços.
Abrindo furos, rasgando frestas.
E o dormir deste eterno sono,
Morfeu colheu por entre seus braços.

Tudo agora é escombro somente;
cravado à cidade, triste confim
de velhos espectros e da sombra.
Partilhado ao mendigo, indigente,
covil de ratos, aranhas, capim,
que feri aos olhos frágeis que assombra.

Mas, longe da escuridão, um alguém
guardara a lembrança, a luz vencida.
Que afundou-se aos relógios se pôr.
Lembrando a quem, já a muito além...
por tantos anos, por toda vida.
Posto uma prova que houvera o amor.

Solitária rosa, deixava ali.
Em data exata, quando ao ano vem:
De aniversário um presente terno,
no envelhecer do castelo e a si...
Até que a noite deitou-se também,
a pele esfriando-lhe de inverno.

E a ruína, assim, ficou mais só
e a historia, tornou-se rumor.
O castelo apartou-se do mundo,
sequer memória, saudade, ou dó.
Como se sempre ele fora a dor;
tal de canto algum oriundo...

Quiçá, a torre, querendo altura,
qual mão, apenas anseie outra flor,
pelo céu procurando a encontrar...
E para não quebrar-se a jura,
fez das pedras, pétalas, por amor.
Fez-se o castelo uma rosa a murchar.

Foto de P.H.Rodrigues

Caminhando

Vou brincar com o destino.
Vou rir das coisas sérias.
Meu navio naufragado já navega.
Não é como se um caminho se apagasse.

Vajo as flores em minha bagageira,
no mapa, vejo as rotas. E se...
Eu as joga-se ao vento?!
O mundo iria vibrar em alegria, por um momento...

A ironia de rir da catástrofe. Um Mimico, Palhaço,
um Estranho, que se sente a vontade,
em meio ao caos cotidiano.

Seja louvado o vento, o verde, a chuva!
Chuva! Obrigado por vir hoje, não queria levantar!
Agora nem ao menos vou estagiar!

Esse dom deve ser um maleficio!
Como pode?! Um ser encontrar graça,
e rir, em meio a destroços?! inaceitável!
Mas, tudo parece tão engraçado!

É como um formigueiro observado de cima...
de frente és gigantesco e confuso,
mas à distancia... és simples, e pequeno.
Mais uma boa dose de café!

Café...

Foto de Bruno Silvano

A Caverna

Seu olhar era triste, talvez pela saudade que estava sentindo de casa, ou por esta se sentindo uma estranha, em um pais desconhecido, sem nenhum amigo. Cursava o primeiro semestre de Moda em uma das maiores universidades de Londres, mas ainda era uma garotinha ingênua e insegura, cheia de expectativas para o que mundo pudesse vim a lhe mostrar, a lhe trazer.
A primavera chegava, e florescia o coração daquela jovem, que por muitas vezes pegava-se a observar o céu estrelado chorando de solidão, da falta que uma companhia lhe fazia. Deitava-se sozinha na rede para acompanhar a transformações das flores, sentia-se como uma, a mais sensível e perfumadas delas, uma daquelas flores que enfurecida com o descaso das pessoas abria somente a noite, onde realmente tinha liberdade para ser somente uma flor.
Costumava banhar-se em um riacho com águas claras, doces, ao som de passarinhos e da goteira que pingava uniformemente da parte de cima da caverna. Era o lugar em que costumava se encontrar com seu interior, em que botava calma na alma, o que ajudava a disfarçar o seu semblante triste.
Sua solidão era cada vez maior, procurava relações de todos os tipos, porém nada fazia com que aquele sentimento tivesse um fim. Sempre procurava cura naquela caverna, aquilo se tornava um vicio, porém em uma de suas idas encontrou algo lá, algo que para ela realmente valesse a pena, a os seus olhos ele era diferente, tinha seu brilho especial, era espetacular, tinha seu toque de humor e simpatia. Foi paixão a primeira vista, fez dele o seu tudo, passava horas com ele, já mais havia sentido tanto amor e prazer quanto o que ele deu a ela, juntos, ela realmente se sentia mulher, algo que não sentiu com mais ninguém.
A caverna tornou-se seu ponto de encontro, não havia alegria maior do que ir todos os dias para lá, e em seu ponto de êxtase deixou-se seduzir de vez por ele, o acariciou com vários movimentos, se deu toda a ele, utilizou de todo os artifícios que havia aprendido em sua vida, deslizou sua mão suavemente sobre todo seu corpo, fazendo-o sentir vibrações, porém ele já não estava com mesmo brilho de como ela a viu pela primeira vez, porém insistiu em acariciá-lo, deslizando com toda sua sedução, a mão até suas partes mais sensíveis, e em um gesto de amor ela pediu “me deixa cuidar de você?”, porém não obteve resposta, o seu brilho foi diminuindo lentamente, até que sem saber o que fazer, ela o deixou ali imóvel, até que toda sua bateria acabasse. Porém não se deixou abater, saiu correndo em direção a cidade e em menos de uma hora já estava com um novo amor, um iphone 4s, que embora seja menos compacto que seu antigo amor ainda trazia lembranças de seu já sem bateria iphone 5.

Foto de Carmen Lúcia

Jeitinho brasileiro

Co-autoras: Fátima Cerqueira e Carmen Lúcia

Parece que vai dar errado
mas eis que na hora H,
basta um jogo de cintura
e pelo gongo é salvo...
aquele jeitinho improvisado
chega de mansinho e envolve
e o que ia “pras cucunhas”, resolve.

De repente, sai de cena,
deixando ao salvador da pátria
o mérito de todos os créditos,
toda a lábia que encena,
ao ser milagroso e inédito...

E os jeitinhos que por aí vivem,
por mais que se duvidem,
usam seu jeito teatral
até de maneira formal,
tanto para o bem, como para o mal.

Cada um quer seu quinhão:
correr atrás do prejuízo,
Cruzar a linha de chegada,
estar por cima da carne seca,
ser o rei da cocada preta,
mesmo que o fruto seja maculado.

Os meios justificam os fins.
E se respingos de lama sujam a honra,
o tempo é borracha.
É ficar ausente, atravessar o mar,
e voltar na surdina da noite.

Há exceções...
Basta abrir a janela de casa
e perceber que somos jeitosos,
quando nos solidarizamos na dor,
superamos nossas misérias,
e simplificamos as burocracias da vida.
O “jeitinho” pode ser também criativo,
solidário e benevolente.

Tudo parece normal
nesse país continental,
onde cada um age de acordo
com seu traço regional
ou com o que lhe é primordial.
Matar um leão por dia
só pra quem tem muita raça,
quem traz no peito registrada
Jeitinho Brasileiro, a marca.

(Carmen Lúcia)

Carmen Lúcia Carvalho de Souza
15/08/2008

Foto de Fernanda Queiroz

O Show

Em meio aquela multidão eu me sentia perdida. Por mais que imaginasse nunca cheguei a pensar que pessoas poderiam ser tão apressadas e barulhentas.

Na hora de reservar meu ingresso optei pela geral, pensei que assim passaria despercebida, a idéia de camarote não me inspirava privacidade e sim destaque e como jamais tinha assistido a show de uma Banda famosa ou qualquer outra tudo era novidade. Minha experiência se resumia nas quermesses organizadas pela Associação Comunitária da Vila onde o som da banda dominical entoava valsas enquanto desfilávamos entre barraquinha de jogos e doces e aguardávamos os fogos, estes sim eram a estrelas das festas. Ficar olhando para cima vendo um pequeno zumbido se transformar em imensas partículas colorida era um espetáculo, mesmo que ás vezes acarretasse lembranças nostálgicas, eu amava aquele céu pontilhado de luminosidade.

Enquanto tentava entrar em um enorme recinto, daqueles que se vê somente pela TV, empurrada para lá e para cá por uma multidão que parecia não conhecer as normas da boa educação, estava pensando o que tinha me levado a tomar esta decisão.

Já havia se passado quase dois anos desde que falei com ele pela última vez, neste tempo tão forte quanto às lembranças que sobreviveram estava meu medo de saber o rumo que ele tinha dado a tua vida.
Afastei-me completamente do mundo das manchetes, onde certamente ele sempre seria destaque. Não lia revistas, jornais somente seção de investimentos e cultura, TV canal fechado sobre economia e agricultura, assuntos fundamentais em meu trabalho.
É claro que sem que eu pudesse evitar ás vezes os ouvia cantando, no radinho de pilha de algum operário, nas grandes magazines de eletrodomésticos na cidade, na faculdade onde os rapazes bonitos e famosos fazem à cabeça das garotas que até tatuavam em teus corpos nomes juntamente a desenhos exóticos.
No principio sofria muito por isto, depois sabendo que nada podia fazer, passei a ignorar, afinal quem tinha mandado me apaixonar pelo ídolo do Rock?

Finalmente tinha conseguido entrar no estádio onde a multidão se aglomerava onde estar á frente era certamente um privilégio para expressar o fanatismo que alterava o comportamento das mais diversas maneiras.
E agora estava ali, há poucos minutos e metros de onde ele entraria, duvidando de minha sanidade em ter tomado a decisão de ir vê-lo. Talvez se não fosse próximo à cidade que estava a trabalho há dois dias, jamais teria ido. Fui exatamente para ficar dois dias resolvendo questões de Marketing, mas era impossível não ver todos os outdoors espalhados pela cidade. Minha primeira reação foi de pânico, queria voltar sair correndo ao fitar ele entre o grupo sorrindo, como sorriu muitas vezes para mim... Deus...as lembranças voltavam em avalanche fazendo meu corpo estremecer, meu coração disparava, como aquele ressoar de buzinas que soavam atrás de mim, foi quando me dei conta que estava atrapalhando o transito e com mãos tremulas segui em direção ao hotel onde me hospedara, parando somente em uma loja especializada onde adquiri um potente binóculo, se fosse levar esta loucura a frente ele seria necessário, pois pretendia me manter mais distante possível e algo dentro de mim gritava para ir...Eu iria.

Já se passava 1 hora do horário grifado nos cartazes, a multidão que formara era tudo que jamais tinha visto, parecia uma disputa de quem conseguiria gritar mais alto, ou agitar mãos blusas lenços ou faixas mais altos. De onde estava bem retirada da multidão a tudo assistia ocultando minha ansiedade.

De repente os gritos se tornaram mais forte e contínuo em resposta a presença deles no palco.
Minhas mãos suavam tremulas, meu peito parecia que iria explodir lançando meu coração ao palco, por um momento pensei em desistir e sair correndo para meu abrigo, meu canto onde meus segredos me protegiam... respirei fundo, ergui a cabeça, encostei em uma pilastra, como se ela pudesse segurar meu fardo de dor, estava cantando acompanhado eloqüentes pela platéia minhas mãos levantaram o binóculo sem a pressa de quem esperou tanto por este momento, lentamente o ajustei aos meus olhos onde avistei gigantes holofotes, estava tentando me orientar, olhei em volta tentando ajustá-lo. Vi o baterista movimentado ao frenético ritmo que me fez piscar várias vezes, parecia a minha frente, lentamente movi para a esquerda encontrei o saxofonista, voltei-me para a esquerda devagar, quase sem respirar para não perder o foco, quando o vermelho da guitarra coloriu as lentes senti um impacto tão grande que parecia atingida por um soco no estomago.Engoli saliva inexistente, tentei suavizar os ressequidos lábios passando a língua por eles, meu peito arfava e meus olhos buscava naquela potente tecnologia, tua face amada.

Recosta bem no fundo, longe da entusiástica platéia sabia que precisava vê-lo. Determinada, ajustei as lentes tentando reencontrar o foco reluzente de tua guitarra e lá estavam tuas mãos a segurarem firmemente, dedos firmes dedilhando-a, mãos de artista. Fui subindo, encontrei tua camisa alaranjada, Deus eu amava esta cor em você, lembra-se daquele casaco? Quando o vi sabia que tinha sido feito para você. Caiu como uma luva ficou lindo como sempre foi, será ainda que o guarda? Ou estará jogado e esquecido em algum armário?

Pela camisa entreaberta pude ver tua inseparável medalha segura pelo fino cordão de ouro que cismava em colocar entre os lábios quando estava nervoso, como naquela vez que esqueci o celular desligado por toda tarde exatamente no dia que te aconteceu um imprevisto, tinha que viajar, e não conseguia contato. Quando conseguiu falar, a primeira coisa que disse... já mastiguei todo meu cordão... risos, era sinal de perigo... mas também das pazes de teus beijos ardentes de tuas palavras que compunha as mais belas declarações de amor.

Teu rosto... Deus... a barba feita, cabelos desalinhados como sempre te dando um ar de garoto, tua boca em movimento, cantando ... para a platéia...para o mundo, como gostava quando cantava só para mim que entre risos sempre podia ouvir dizer que me amava... muito, fitando-me longamente com este olhos da cor do oceano e infinitamente maior, pois era a janela que me transportava para as portas do paraíso que meus sonhos tanto almejaram.

Deus... é ele, meu eterno amor, há poucos metros de distancia, no palco, no teu show, no teu mundo.
A lente ficou turva, lágrimas desciam copiosamente por minha face, uma dor física me invadiu fortemente fazendo-me escorregar pela pilastra até encontrar o abrigo do chão, pensamentos desatinado trazia o passado de lembranças onde o presente se fundia em uma imagem com o olhar perdido na platéia.

Teus olhos sorriam as manifestações enlouquecidas, gritavam teu nome em todos os tons, gestos, mãos erguidas, cartazes, onde os pedidos nítidos requeriam tua atenção... teus olhos vagavam acompanhando em um misto de alegria e encantamento.
Olhos para o flash, foi como me disse um dia. Que era um olhar reservado á todas outras garotas do mundo... que para mim sempre seria um único e eterno olhar.
E agora? Que olhar era este? De flash? E se pudesse me ver, me olharia de novo como se tivesse me inventado? Como se tivesse me feito nascer a partir de teu olhar?

Levantei-me cambaleante, tonta, ouvindo o frenesi se tornar mais acentuado, você jogava rosas...a toalha que usou para secar teu rosto...como se doasse um pouco de você...e tudo de mim.

Às vezes vivemos em minutos, muito mais que em dias ou meses, minha mente parecia entorpecida diante da lente que deixava você tão perto quanto eu queria estar, teu rosto, teu sorriso, teu corpo... você do jeito que eu sempre amei... no mundo que não conhecia...no palco...na fama...tua vida, tua carreira, teu destino.

Sai caminhando devagar, virar as costas me custou muito... muito mesmo... nunca saberá o quanto...
A menos que um dia queira assistir um show... em um palco diferente... cheio de galhos e flores... talvez se quiser se juntar á platéia dos passarinhos... ouvindo somente o som de minha flauta, que mesmo tocando baixinho pode-se ouvir além do horizonte...

Fernanda Queiroz
Direitos Autorais Reservados

Foto de poetisando

Humildade

Vou fazer por ser melhor
Falando sempre a verdade
Vou continuar a sonhar
A ter ainda mais humildade
Irei continuar a ficar por cima
Para mais tarde ser lembrado
Por todos que me conheceram
e pelos Ex amores ser amado
Irei vencer todos os obstáculos
Vou perder até os meus medos
Esquecendo-me o meu passado
Calando todos os meus segredos
Estou cansado do mundo
Até de não me sentir ninguém
Vivo a minha vida na solidão
Que não desejo a ninguém
Irei fazer tudo para ser melhor
Continuando a falar verdade
Mesmo aqueles que me mentiram
Lhes mostrarei sempre humildade
Assim mostrarei que sou melhor
Irei continuar a falar verdade
Ate aos que de mim tanto falam
Para eles terei sempre humildade

De: António Candeias

Foto de Bruno Silvano

O Hotel

Eram 19h, a noite a noite começava a chegar, o vento fazia barulhos desconfortáveis que aliados a tempestade que estava chegando dava tons aterrorizantes para aquela pequena e isolada cidade, esquecida no meio do mapa.
Não era dali, mas estava hospedado em dos mais nobres hotéis da região, era bastante antigo e lembra em muito um cortiço, o que reforçava ainda mais o cenário bucólico. Era as férias de julho e chegará ali por um antigo sonho de meu pai, o de viver em um lugar calmo e seguro, ou que ao menos acreditava-se de lá.
Tínhamos mapas antigos e meus pais haviam ido a uma vendinha da região atrás de mapas atualizados quando a tempestade começou. O céu escureceu rápido e estava lá, sozinho, preso naquele fúnebre e bucólico quarto, sentado em uma cadeira que mais parecia um balanço, sendo embalado sorradeiramente pelo vento que se atrevia a abrir a janela, e sendo seduzido pelo barulho ensurdecedor do assobio do vento. As ruas, os campos, o ceú da cidade, ficaram ainda mais desertos, até os menores seres se retiraram. O vento se intensificava cada vez mais, foi quando em um só solavanco a janela se abre por inteira, e mais embaixo vejo vindo do infinito uma bela garota ao meu encontro, se aproximando, e quanto mais ela se aproximava mais vultos se criavam ao meu redor.
A noite acará de possuir por completo o sol e a cidade toda estava sem energia. Havia conseguido arrancar a porta que trancava o quarto, comecei a ouvir sussurros e gemidos, que começavam baixos e iam aumentando, sai desesperadamente em direção a recepção, mas estava tudo trancado, corri em direção a cozinha em busca de velas, mas estava fechada, não havia mais ninguém dentro do hotel. O ar-condicionado havia ligado de repente e consigo começaram a escorrer sangue pela parede. Os gemidos aumentavam e vinham do ultimo andar, fiquei receoso em subir até lá. As escadas haviam suado e estava escorregadias, mas com bastante esforço cheguei até lá em cima, encontrei uma garota bastante pálida e chorando apontando para o quarto 666 – Não era muito ligado a crenças, mas mesmo assim me custei a entrar no quarto -. Ao entrar quase não pude ver nada, achei não ser tratar de nada, até que a porta do quarto bate e se tranca, bati desesperado para abrir, mas os gritos de choro da criança sumiu, e eu estava mais uma vez trancado.
Minha respiração começava a ficar aguniada, sentia cianeto no ar. Não enxergava nada até que duas lâmpadas vermelhas se acenderam rapidamente no quarto, via muitas mariposas, e dois corpos amarrados em pé, totalmente ensangüentados, começaram a sair sanguessugas de dentro deles, até que em um deles solta um grito sorrateiro e acabado batendo na parede e desmaiando.
Fiquei em coma por alguns dias, quando acordei recebi umas das piores noticias da minha vida, que a do meu pai havia sido atacado por sanguessugas e morreu lentamente.
Minha mãe me fazia companhia no hospital, porém teve que sair e fiquei trancado dentro daquele quarto de hospital, esta convencido de que lá era seguro. Quando de repente de algum lugar surge misteriosamente uma enfermeira, com uma espécie de Teres medicinal para mim tomar, dentro dele formaram-se as palavras “Sangue”, “Choro,”Menina”,”Missão”, “Sanguessuga”, “Morte” e “Cemitério Funerário das Capivaras”. Achei ser coisa da minha cabeça, e continuei tomando, até que meus olhos ficaram todo branco e meus dedos todo cortados.
O Tempo passou sem sobre naturalidades, até que tomei coragem pra ir ao cemitério onde meu pai estava, procurei por vários túmulos até eu o achar na lapide de numero 666, e ao seu lado havia três mulheres enterradas, uma menina de aparência pálida, uma adolescente e uma enfermeira, que coincidentemente morreram em ataques de sanguessugas, que foram provocadas por causa do desmatamento ilegal, que meu pai estava comandando na região.

Foto de poetisando

Porque se entra na solidão?

Ninguém entra na solidão porque quer ou deseja, embora haja excepções. Quem entra na solidão muitas das vezes é porque foram rejeitados, ou pelos próprios pais que os despejaram ainda em bebés e deixaram de os acompanhar, fosse a ir visitá-los, a ir buscá-los para passarem uns dias com os pais, essa criança ficará sempre com magoas por ver os outros meninos a serem visitados pelos pais ou levados a fim de passarem umas ferias com eles, quem já passou por isso sabe o que dói ver isso, e vai acompanhar-nos pela vida inteira, é certo que também varia de pessoa para pessoa, mas estas crianças despejadas em instituições são mais vulneráveis, não é fácil esquecer. Temos também namoros ou mesmo casamentos interrompidos ao fim de por vezes anos de relacionamento, aqui a pessoa entra normalmente 1º numa tristeza digo eu “quase profunda” que lhe é difícil sair dela sozinha, precisa de amigos, amigos de verdade que a ajudem a atravessar essa fase, que a ouçam que estejam ao seu lado, que a incentivem a seguir em frente. Esta última que me refiro fica a maior parte das vezes sozinha, os que ela pensava serem amigos afastam-se, e quando não dizem coitada/o ficou maluco/a por ter perdido o marido, ou o namorado caso namorasse, como se não houvesse por aí mais mulheres ou homens, nestas alturas a pessoa prefere isolar-se a falar seja com quem for a desabafar, o que a pode até levar á depressão. Dou um conselho a todas/os que estão a atravessar uma situação destas, gritem chorem mas nas suas casas, o gritar e chorar também nos faz bem mas não se isolem não chorem ao pé dos outros, porque afinal quando vocês precisaram desapareceu toda agente que vocês tinham como amigos/as esses/as, se vos verem a chorar, são as/os 1º a dizerem que vocês são malucos, ou na “melhor” das hipótese, começam a ver-vos como umas coitadinhas/os. Não tem companhia para sair? E quem disse que precisamos de uma companhia que vai com agente só para fazer frete? Saiam se puderem viajar, viajem, se gostam da natureza porque não ir descobrir a natureza? Ou se morarem perto de praias, vão até á praia escolham sítios na praia que dê para vocês desabafarem, vão ver que o mar faz muito bem, aqui falo por experiência própria faço-o até muita vez. Sei bem que não é fácil ultrapassar essa fase, são dores muito fortes que só quem as viveu é que sabe o que custa ultrapassá-las, e fica sempre a cicatriz, como eu digo a uma amiga muito especial, eu coloco pedras em cima, mas de vez em quando as pedras caem, mas já consigo viver com as mágoas, com as dores do passado.
De: António Candeias

Foto de Fernanda Queiroz

Antes que o Ano Termine

Falta um dia para que o ano termine. Um dia intenso que pode mudar toda minha existência. Só preciso ter coragem e ir até onde você está... Antes, 450 km, agora 50 km. Por que veio para cá? Queria me confundir ainda mais? Estaria esperando que a proximidade me fizesse ser mais mulher... mais corajosa? Sabe que meu destino está traçado. Não me deixaram editá-lo. Sabe que não posso voltar, então porque não vem... Rouba-me, Toma-me, Leva-me para nosso mundo de sonhos; onde tua ausência presente foi marco de nossa história.

O sol está se pondo, o alaranjado de céu é o contraste perfeito com a relva que se estende verde e úmida pelas chuvas de dezembro. Tanta calmaria vem de contraste a minha alma conturbada e sofrida. Posso sentir meu coração batendo forte, tão forte quando o podia ver por aquela janelinha mágica do computador, cenário de nossa história, testemunha de nosso amor, cúmplice de nossos segredos, arquivo de momentos que perpetuarão dentro de mim. A brisa suave sopra. Parece querer brincar com meus cabelos, alheia a tempestade que envolve meu coração. Deixo a mente explorar o passado... Tão presente... Teus olhos, tua mania constante e única de apoiar teu rosto nas mãos. O sorriso espontâneo, a cara emburrada, os olhos se fechando de sono, e a vontade de ficar um tempo mais...e mais ...até o galo cantar...a madrugada... o sol nos encontrar ...felizes ou tristes...juntos.

A noite traz a transparência de minha alma, negra, sem luzes, sem amanhecer. Preciso me movimentar, sair deste marasmo de recordações. Thobias, meu companheiro de peripécias, que um dia correu tanto quanto no dia em que estouramos uma colméia; está selado, entende o que me vai à alma, conhece meu estado de espírito, sabe quando é preciso deixar as paisagens para trás, mais rápido, mais rápido, até se tornarem uma massa cinzenta, sem cor, ou forma retratando o mais profundo que existe em mim. Agora, no embalo do cavalgar, meus sonhos se afloram. Estou indo ao teu encontro, nossas mãos se tocarão, nossos corpos se unirão, nossos corações baterão em um só ritmo. A brisa tornou-se um vento tão gélido quantos minhas mãos que seguram as rédeas de um futuro-presente. Gotas de chuva descem sobre minha face, misturam-se as minhas lágrimas. Tenho a sensação de não estar chorando e sim caminhando para você. Na volta para casa nem o aconchego da lareira, o crepitar constante elevando as chamas transmite liberdade, as sombras sobrepõe à realidade que trará o amanhecer, elevo ás mãos solitárias tentando voltar ao tempo de criança onde elas davam vidas retratadas na parede imagens de bichinhos animados, mas não se movimentam, parecem presas ao aro de ouro reluzente que por poucas horas trocarão de mão fecundando o abismo que se posta diante de nós. O cansaço e as emoções imperam. Entre sombras e sonhos, meu pensamento repousa em você, na ilusão, nos sonhos, na saudade pulsante de momentos mágicos vividos, onde nossas almas se encontravam, onde nossos corpos não podiam estar. De desejos loucos e incontidos de poder realizar, antes que o ano se finde, antes que as horas levem tudo que posso te dar.

O amanhecer desponta, caminho a esmo, no escritório, ao lado direito da janela que desponta para colina verdejante (cenário de nossa história). O computador me atrai.. Você está off, está há apenas 50 km, mas em meus arquivos de vídeo teu rosto se faz presente, tua boca elabora a mímica de três palavras mágicas “EU TE AMO”.A musica no fundo é a mesma que partilhamos tantas vezes juntos COM TI RAMIRO, gravada em meu studio amador ao som de flauta. As notas enchem o ar, a melancolia prevalece, meu coração se enternece, “POR FAVOR, VENHA ME BUSCAR”, não vou conseguir sozinha, você sabe disso, é exigir demais de quem só soube amar, sem nunca saber lutar, sem nunca poder gritar, com um destino a cumprir, um dever de tempos idos e protocolados nos princípios de toda uma existência. O dia se arrasta imortalizando o passado. Estou diante do espelho, o rosto moreno não consegue esconder a palidez, o vestido branco de seda cai placidamente sobre meu corpo inerte. Vestido que outrora minha mãe usara com os olhos brilhantes de felicidade. Os meus não têm brilho, este fora reservado às perolas que adornam meus cabelos negros, sempre me achei parecida com ela, mas a imagem reflete somente uma semelhança física onde a mortalidade de meu semblante contradiz a vida de tempos passados.

Pedi que me deixassem ir só, queria ficar com meus pensamentos, onde você é soberano. Que bom que ninguém pode me tirar isto: tua imagem, teu sorriso, tua forma única de existir para mim, mesmo que em sonhos, mesmo que em lembranças, mesmo que em minha morte para a vida que se inicia. A escada imperial e central se desponta com teu corrimão de prata por onde desci tantas vezes lustrando-o com minhas vestes. Minhas mãos se apóiam nele, trêmulas, frias, para que eu não quede diante da realidade... Apenas trinta degraus? Deveria ser trezentos, três mil, ou trinta milhões? Eu os percorreria com gosto, antes de pisar na relva verde coberta por um tapete de pétalas de rosas que conduziam à capela. Porque desfolhá-las? Porque enfeitar a vida com a morte? Rosas brancas, pálidas como minha alma, desfolhadas e mortas como minha vida. Ao lado o lago que outrora me fazia sorrir, brincar e acreditar....queria parar...descalçar o pequeno sapatinho branco e sentir a frescura das águas elemento mais forte e presente da natureza em minha vida...mas agora não posso parar a poucos metros está minha rendição, meu destino onde o oculto será sempre meu presente, onde o passado será minha lembrança futura, onde você viverá eternamente, onde ninguém poderá jamais alcançar. A capela parecia lotada, não guardei rostos, somente sombras. No altar uma face, feliz, despreocupada, livre, sentado em uma cadeira de rodas estava papai, tuas pernas não mais suportavam me conduzir, teus braços que muito me embalaram, já não mais me apoiavam...segui em frente. Pensei em me voltar ..olhar para trás, mas não iria te encontrar. Palavras ditas e não ouvidas... trocas de alianças...abraços de felicitações....buquê lançado ao ar, festividades...todo ar de felicidade.

Faltavam dez minutos para findar o ano...minha existência já tinha terminado, o celular em cima do piano da sala...8 minutos...mãos tremulam ao aperta a tecla da re-discagem...minutos eternos...do outro lado a apenas 50 km, tua voz ...doce...amada...terna, parecia querer ouvir o que eu queria falar e não podia...engolindo as lágrimas. Apenas um pedido: seja feliz, seja feliz por nós dois...uma resposta que mais parecia um lamento, que por mais suave, parecia um grito...Seja feliz também.....um tum tum era o sinal de desligado....zero hora. Fogos explodindo no ar...

Fernanda Queiroz

Direitos Reservados

Foto de Allan Dayvidson

PROVOCAÇÃO

"..."

PROVOCAÇÃO
=Allan Dayvidson=

Tenha muito cuidado... com sua imaginação.
e com o que lhe escapa por entre os lábios...
Pura indiscrição!...

A vida é um permanente experimento,
e nós, cobaias por excelência.
Você me deixa curioso... e sem paciência!

Porque no embaçado de sua lente,
vejo motivos demasiadamente honestos,
mas a noite costuma ser devastadora, não deixando sequer restos.

Só será crime se formos pegos,
eis seu plano fantástico,
porque vivemos numa sociedade de cegos performáticos.

Não aponte seus olhares para mim
com esse ar taxativo.
Não coloque essas mãos em cima de mim,
cheias de bons motivos.
Não me provoque, porque no choque
nossos estilhaços voarão para toda parte.

Então, não me aponte olhares em desfoque...

Pois bons garotos são obedientes,
atravessam fronteiras ilegalmente,
espalham digitais por aí negligentemente
e acham-se imunes diplomaticamente.

Pobres vítimas da normatividade voraz e indecente!

Páginas

Subscrever Cima

anadolu yakası escort

bursa escort görükle escort bayan

bursa escort görükle escort

güvenilir bahis siteleri canlı bahis siteleri kaçak iddaa siteleri kaçak iddaa kaçak bahis siteleri perabet

görükle escort bursa eskort bayanlar bursa eskort bursa vip escort bursa elit escort escort vip escort alanya escort bayan antalya escort bayan bodrum escort

alanya transfer
alanya transfer
bursa kanalizasyon açma