Desamor

Foto de Paulo Gondim

Lições do tempo

Lições do tempo
Paulo Gondim
26/11/2014

O que se aprende com o tempo
Se as lições são sempre reais
Nelas não há fantasias
A lições do tempo são frias.

Mas é preciso aprender
Nelas não há disfarce
E o tempo não espera nosso viver
Com o tempo, tudo é face a face

E o tempo cobra e não espera
Ele passa de forma invisível
Sem aviso, do que seja possível.
Ele passa. É imprevisível

Mas o tempo serve de remédio
Quem sabe esperar atinge a calma
O tempo cura as feridas da alma
E um desamor que nos faz sofrer
O tempo nos faz esquecer.

Foto de diny

IMPIEDADE

IMPIEDADE
Deus... Tem piedade!
Dessa desencaminhada humanidade,
Que diz com o coração louco e infeliz;
Não há Deus!...

Ah essa descrença...
Meu Deus que tormento!
Desamor... Maledicência,
Desespero, sofrimento...

Tudo isso destrói,
Corrói desgraça,
Aleija, corrompi, traça;
Morte inconsciente...

Ah a miséria humana,
Que deturpa tudo, maldade,
Ser o nefasto, dessa nefasta;
Impiedade...

Diny Souto

Foto de Carmen Lúcia

Quisera eu...

Quisera eu ter o dom
de consolar os aflitos,
prevalecer o perdão
e calar todos os gritos
de dor, desamor, solidão...

Quisera eu levar a paz
aos corações em conflito,
acabar com a guerra fria,
aquela que trazem consigo,
fazer da mágoa, magia
e da poesia, canção
cantada em comunhão de amigos.

Quisera eu ter o dom
de devolver ao ente querido
o filho que não voltou,
o pai que se perdeu na ida...
À mãe sofrida, o consolo
pra sua dor mais doída.

Quisera eu ter o dom
de invadir o universo
com poemas, trovas e versos
e dispersar o que é perverso,
plantar sementes de amor
e de amor fortalecer a terra.

Quisera eu ter o dom
da palavra que enxugue o pranto,
de levar esperança ao que creu,
mas que hoje lhe sangra a ferida
e que vive como quem morreu
desprezando a própria vida.

Mas quem sou eu?
Pobre vivente carente de amor
em busca do dom que alivie
a própria dor...

_Carmen Lúcia _

Foto de Carmen Vervloet

Anjos sem Asas

Nascemos anjos,
à medida que crescemos
absorvemos conceitos
e preconceitos,
cresce a razão...
E a dimensão do corte das asas...
Por um tempo ainda
somos Anjos com pequenas asas,
sonhadores insistentes,
contra mentiras,
contra injustiças, contra o mal!
Mas sobreviver é preciso!
Somos mortais indecisos,
imprecisos, imperfeitos, anuentes,
ausentes, indulgentes,
carentes, viventes, duais!
As injustiças sociais, a descrença,
o desamor, a desilusão, a mesmice,
a falta de espaço
amputam de vez nossas asas.
Inertes... machucados, sangrando
já não podemos voar...
Pés colados ao chão,
transigentes,
somos arrastados pela procissão
onde o santo carregado no andor
é o “santo poder dos influentes”
cego, surdo, mudo,
“santo do pau oco!”
A nós só cabe dizer amém
ou então
usar o voto como arma
e em união vencer a guerra
contra a corrupção,
ferir mortalmente este
“santo” hipócrita,
que nada entende de sonhos
e que nós faz desistir dos vôos
além da rotina da sobrevivência.

Foto de Paulo Gondim

Confissão

CONFISSÃO
Paulo Gondim
14/04/2012

Eu sei quanto mal te fiz
Da mesma forma, quanto te fiz infeliz
Sei também, confesso, não merecias
Mas fiz. Fato consumado
Não posso ser perdoado

Magoei quem tanto me amou
Mesmo de longe, mas me amou
Verdadeiramente, quem sempre me deu valor
Quem sempre me deu colo
Nunca negou seu calor

Mas na minha estupidez, dissimulei
Não tive a sensibilidade, fui rude
E, mais uma vez, destilei minha insensatez
Fiz sofrer a quem muito me amparou

E o que sou? O que restou?

Somente a mágoa, pela indelicadeza
A indiferença justa, pela certeza
Da decepção da amizade rompida
Pela descrença do desamor da pessoa querida

E que faço eu diante dessa confissão
A não ser pedir perdão?

Preciso de colo

Foto de Carmen Lúcia

Lamento

Lamento pelo inconcebível,
pelo incabível,
pelo que poderia ser e não foi...
pelo que foi e não se pôde mudar...
Pelo desamor,
pelo botão de flor,
pelo não desabrochar...

Lamento a inocência perdida,
imagem denegrida
arremessada, distorcida,
cotidiano da vida...
Lamento pelo vandalismo,
pelo desprezível e insano
cenário de desafeto humano.

Lamento pela fome doída,
pegadas de idas e vindas
buscando um lugar ao sol...
Pelas palavras prometidas,
mal ditas, não cumpridas,
perdendo-se pelo arrebol.

Lamento a alma desprovida,
o descaso pela vida
e todo poder abusivo.
Lamento a lágrima rolada
e o coração corroído
da mãe pelo filho querido...
Lamento o filho nas mãos do bandido.

Lamento a existência atribulada,
o amanhã dilacerado,
o nascer inopinado,
o querer e nada ser ...
A indiferença no olhar, que jaz,
o curvar-se ao onipotente...
Viver ou morrer?Tanto faz!

Lamento minha impotência,
procedimento estático
de nada poder transformar...
E em linhas mal traçadas
esboço, derrotada,
meu triste lamentar...

_Carmen Lúcia_

Foto de Dileno

Suicida De Ventre

Eu nem saí
Eu ja bebi
Eu ja fumei
Ja me droguei
Ja apanhei...
Eu ja chorei.

Me deixem aqui
não quero sair
Estou amedrontado
Estou machucado.

Ja passei fome
Ja sofri sede
Ja fui chingado
Maltratado
Não quero sair.
Morrerei aqui
Chega de dor
De desamor.

Ainda no ventre
Ja sou descrente
Pressinto sangrento futuro
Não vou sair.
Só se for para o túmulo.

Foto de luzimar xavier

PAIXÃO É COMO FOGUEIRA: TEM TEMPO CERTO PARA SE EXTINGUIR.

Realmente existem exceções mas, principalmente para quem têm experiência de vida, não é
O comum ouvir-se que o unir-se de forma “urgente, urgentíssima”, ou
Seja, “olhou, gamou, casou”, deu certo. E é justamente esse
Imediatismo que contribui, infelizmente, para que
Não dê certo um relacionamento que tinha aparência de
Estável. Sabe porque? Falta de planejamento. Pelas palavras do famoso escritor Lauro
Trevisan em seu livro “AME”, ele relata que os
Especialistas em matrimônio afirmam que “é comum sabermos que

Duas pessoas quando resolvem se casar, esse começa em tempo de paixão
Impetuosa em que só existem dois seres no mundo,
Apaixonadíssimos, donos desse mesmo mundo, invejados por todos os
Seres do planeta e até pelos deuses: ELA E ELE,

De forma que o mundo passa a ter apenas
O tamanho dos dois. Torna-se assim,
Sem dúvida, completamente inadmissível não

Se comunicar de hora em hora, correndo, portanto,
Até o risco de ‘morrerem de saudade’. Os beijos são contados por atacado porque,
No varejo, é sinal de desamor. E os outros? Ora, os outros ficaram do
Tamanho da cabeça de um alfinete”. Bonito esse relato, não? Pessoas que tenham
O mínimo de sensatez: maravilhoso, excelente, magnânimo,
Sabermos que tal fase realmente existe; mas união entre duas pessoas têm que ir além da fantasia.

Porque quando se cai na realidade e se vê que foi ótimo ter vivido momentos tão sublimes, mas que infelizmente foram passageiros, então chega-se à conclusão de que foi um erro não procurar ter dado tempo ao tempo para se conhecerem melhor. Por isso que torna-se necessário evitar o “olhou, gamou, casou”.

TENHA ESSAS EMOÇÕES REPENTINAS MAS, PORÉM, DÊ TEMPO AO TEMPO. É PRECISO SE CONHECEREM MELHOR. UM ANO, DOIS... NÃO É O BASTANTE.

Elixis - 07/04/08

Foto de Mitchell Pinheiro

O sorriso de Mel (especialmente para os Pais de plantão)

Hoje saí pra andar de bicicleta com minha linda filha
E o mundo se transformou numa pequena ilha
Não havia mais o urbanismo sem urbanidade
Bem como inexistia a velha civilização sem civilidade
Extinguiram-se as contas a pagar
E todo stress de trabalhos por realizar
Desapareceram os políticos corruptos e as doenças incuráveis
Pra onde foi a guerra, a violência e a fome dos miseráveis?
O tormento de um litígio conjugal?
E a devastação da degradação ambiental?
A depressão, o desespero, a desesperança...
Tudo ofuscado no sorriso de uma criança
Só sobrou o canto dos pássaros e o azul do céu
A magia envolvente do sorriso de Mel
O cheiro de mato verde temperando o ar
O balé das ondas, a brisa do mar
E a serena melodia de uma cachoeira
No sorriso puro e simples de minha pequena herdeira
Livrei-me de toda irracionalidade mundana
Do crescente desamor dessa rotina insana
Um sorriso que refletiu no pai que só quer se doar
Doar vacinas, mapas e toda bonança que puder ofertar
Doar o que quis e não me foi doado
Evitar os erros e imitar o que foi acertado
Plantar a felicidade da forma que for preciso
E colher o amor irradiado de seu sorriso.

Foto de Carmen Lúcia

Ainda restam os sonhos...(homenagem póstuma)

O vento move fagulhas
em minhas mãos calejadas...
Agulhas é minha harpa,
sonhos de Via Láctea.
O vento corre em zigue-zague
movendo o fadário
do diário trabalho ralo...
De sonhos, o que há de vir?

O pleonástico ser que me torno,
e me transforma em supérfluo cidadão,
sonha sonhos que não apavoram
nem sombra, nem multidão.
A fome me bate à porta,
o frio não traz carvão...
As goteiras me servem
como imundo colchão.
Os sonhos criam galácticos reinos
dissimulando a putrefação,
realidade sem nome,
de pura exclusão...
Executam o homem
em troca da devassidão

E nessa redundância caótica,
parida da enfática “velha opinião...”
prioridade moldada pelo desamor,
desnorteando o viajor,
velejo meu veleiro
sem meta, nem direção,
num mar de águas paradas
que nunca vêm, tampouco se vão.

Sem ver cais ou ancoradouro,
sequer pistas ao mapa do tesouro,
ansiando que o vento se aprume,
sopre águas e feridas,
crie ondas, movimente a vida,
pra que meu destino enfadonho
ancore em futuro risonho,
vindouro e assaz almejado...
Porque ainda me resta um legado
de sonhos, não naufragados.

co-autoras:Angela Oiticica & Carmen Lúcia
04/08/2008

"poema feito em parceria com minha inesquecível amiga, Angela Oiticica, falecida em 06/06/2011."

Carmen Lúcia

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