Noite

Foto de Carmen Lúcia

Hoje faltou-me inspiração...

Hoje faltou-me inspiração...
Saí para observar o dia...
Olhar o céu...
Às vezes azul silvestre
E outras, cinza agreste...
Onde um sol que desconheço
Aparece pelo avesso,
Ilumina em tom grotesco
Em desarmonia com o universo
Como um grito de protesto
Contra a humanidade que o vestiu assim...

Hoje faltou-me inspiração...
Saí pra observar as flores
Que antes exultavam cores,
Beleza a incitar poetas
A versejar sobre mil amores...
Hoje choram a natureza ultrajada,
Enxertada de artificialidade,
Onde a falsidade se faz prevalecer
E a verdade já não tem razão de ser...

Hoje faltou-me inspiração...
Saí pra observar a noite...
E a lua de luto, escondida
Em negro véu, no céu, chora a despedida
Das noites claras onde seu luar
Prateava serenatas que já não há mais...
E estrelas sonhadoras vinham suspirar
O suspiro dos amantes...
Hoje já não são mais tão brilhantes...
Muitas já não se encontram lá...

Hoje faltou-me inspiração...
Saí pra observar o mundo
Que corre o risco de inexistir,
Globalizado pela hipocrisia
Obcecado pelo ter...pelo não ser...
Onde a maquiagem camufla o caráter,
Onde se banaliza a célula-mater ...

Hoje faltou-me inspiração...
Só versos sem rumo, sem rima, sem noção,
Que morrem antes de tornarem poesia
Por falta de fantasia, por falta de coração...

Carmen Lúcia

Foto de Raiblue

Saliv(ando)...

.
Nas noites brancas
De sua pele
Me dis traio
Guardo Dostoiéwisk
Num canto do quarto...
Nos olhos
O ópio prolongando
Colóquios do tato
Con textos e texturas
Da língua
Corroendo tédios
Catando cacos
Cactos na superfície
Da carne árida ...
Arranhando as horas
Sangrando os minutos
Dissolvendo dores
Anti-corrosiva língua...
Sal e saliva
Lambendo as feridas
Fechando cortes
Subcutâneos labirintos
Na sanha da linguagem
Esquecida no tempo
O toque...
Palavras diluídas no suor
Poesia líquida
Numa noite dis traída...
Na pausa da razão
No dança dos sentidos...

(Raiblue)

Foto de NiKKo

O frio da saudade.

Sinto saudade de você e minha alma chora.
Quando olhando da janela, vejo a noite a terra dominar
no meu peito meu coração sangra relembrando
os dias onde a fantasia e o sonho me fizeram voar.

Fechando os olhos deixo-me guiar pela saudade
que carrega meu pensamento para junto do infinito.
Através do vento eu ouço uma musica suave
que embala meu choro e sufoca meu grito.

Olho as estrelas que brilham no céu tão distante
que mesmo com o clarão da lua, não conseguem iluminar
as ruas e as estradas desta minha vida,
que deixam meu céu noturno, triste e sem luar.

E vou buscando motivos para sobreviver
mesmo longe de você, que é a minha razão do meu existir.
Mas não consigo sufocar em minha alma essa dor
que me rouba o sono, a alegria e o sorrir.

Hoje eu estou muito diferente do que era.
Reconheço que perdi o viço e a minha mocidade.
Vivo somente de lembranças do que você me deu,
hoje a saudade e a dor, são a minha realidade.

Sei que viver só do passado não é vida
e ficar só te recordando, não te faz voltar para mim.
Mas minha alma por sentir saudades chora,
não sente alegria pela vida que parece chegar ao fim.

Sinto-me sem animo para vida e presa ao passado,
e fico te recordo pela noite a fora, ate o amanhecer.
Mas deixo que o frio da saudade embale minha alma solitária
e saio às ruas fingindo que consegui te esquecer.

Foto de Henrique Fernandes

VANTAGEM DE SER FRACO

.
.
.

O mar está por todo o lado
Tudo que nos rodeia é feito de imenso
Os dias e as noites são como ondas
Que chegam e partem no areal da alma
Subindo e descendo as marés do espírito
Fazendo-se ouvir em gritos mudos
Ensurdecedores de silêncio
Pintando o serão com lágrimas de solidão
Olho o horizonte negro e distante
Entre as paredes que me apegam ao mundo
Sem fundo onde suspiros são melodias frias
Aquecendo a ausência de prazer
Numa desvantagem de ser forte
E em vantagem de ser fraco
O ser fraco morre rápido e não sofre
O forte é levado pela morte lentamente
Criando um exercito de trevas
Transporto-me pela noite
Onde me cai no olhar um céu estrelado
Dividido entre dor e satisfação
Onde quero ir sem o sabor do chegar
Guiado por um mapa falso do destino
Na pele que se ergue de ansiedade
No vácuo que entoa fantasias
Abrindo fossos até o raiar dos dias
E a alvorada é uma cortina de hipóteses
No labirinto que me leva e trás até mim
Nas dunas da vida forjadas a tempo
Cada instante é uma batalha

Foto de pétala rosa

LENTAMENTE

LENTAMENTE

Lentamente me desnudas a alma, o corpo, depois
de suspiros e pensamentos dentro da
Tua pele.
Grito, e chamo-te em gemidos no roçar do meu calor
e dos teus lábios que fervem
dentro de mim.
Desvairado, soltaste nos lençóis deslizando
Nesta paixão e deitaste em mim num sono quente.

Escorre nos meus lábios o teu corpo.

Descobri que és meu, ou foste ontem, mas as tuas mãos fazem-me
Frio na barriga e lembro-me que sou tua.
Deixo-me levar neste encontro de olhares e na aceitação divina
Dos orgasmos vividos e sentidos na mais
Pura das delicias.
Beija-me sem convite ou hora marcada.
Abraça-me simplesmente sem explicação, e escorrega
os teus dedos dentro de mim.
Arrasta-me ao sol-pôr, nos contornos do meu rosto
e descobre o desejo dentro das delicias que
Ontem guardei para ti.

Bebe de mim o que resta dum abraço.

Lentamente
Somos poesia na madrugada
Somos cheiro a pele
Somos segredos
Somos paixão
Somos o luar dentro das estrelas...

À noite, quando as estrelas despertam a saudade
escuta a minha voz, semeando rosas
no teu olhar, e...guarda o meu sorriso
Na tua alma...

Amália LOPES
Setº 2007

Foto de Sandra Ferreira

Meia-lua...

Meia-lua
Infinito céu
Acumulado de névoas
Desaparece e volta
Num vai e vem
Contagiante, hipnotizante
Não tiro os olhos dela
Meia-lua
Pensamentos vagueiam
Solitária cama
Estendida sobre os lençóis
Deslumbro a noite
Cortinas por correr
Quero adormecer
Contemplando a meia-lua
Relembrando teus braços
Circundando meu corpo
Protegida, querida
Atraída
Com palavras e afectos
Adormecer
Vou adormecer
Com o desejo
Que o meu querido
A esteja a contemplar
Pelo menos
Nesta noite
Nossos olhares
Estarão unidos.

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Obra registada na
SOCIEDADE PORTUGUESA DE AUTORES

Foto de Raiblue

Inv(f)ernais...

.
Sempre gostei do inverno, seu hálito de mofo e cheiro de sombras frescas com as quais adorava brincar de adivinhar o que havia por trás delas. O mistério das coisas sombrias me fascinava!Talvez existisse em mim um lado desconhecido, submerso em águas profundas do meu ser inquieto e inconstante.
Alguma coisa acontecia, quando chegava o frio, era como se rompesse a placenta naquele momento e eu nascesse ali, naquele instante, ele era aquecedor para as geleiras da minha mente,irrigava mais intensamente o sangue que parecia parado nas demais estações,as mãos formigavam como se começassem a existir a partir dali...
Finalmente, resolvi sair de casa, estava ansiosa por rondar a cidade à noite, após meses de silêncio quase fúnebre. Foi quando,de repente,o avistei,atravessamos o mesmo caminho.Destinos cruzados?Almas gêmeas ou corpos desesperados ,ansiando carne...? Seu olhar parecia perfurar meu corpo, um punhal rasgando impiedosamente meu coração há muito tempo enclausurado nos porões da alma.Cada um seguiu seu caminho,retornei para casa com uma estranha sensação,estava ardendo,tudo em mim era só chama vermelha, incandescente...,.tudo era só desejo....uma vontade de devorar aquele desconhecido,e,quando pensei nisso,senti um gosto diferente na boca, um cheiro forte impregnava em todo meu quarto,era dele,eu sei,eu reconheci,ficou no ar,ficou em mim...
Acendi velas brancas, coloquei lençóis vermelhos na cama,e me deitei,completamente nua,cheirava apenas à carne crua...fresca...estava ali pronta para ele,num ritual apocalíptico,iria exterminar a solidão. Em meio às sombras da noite, entreguei-me àquele desconhecido, senti seus dentes em minha carne como se quisesse mastigar-me em pedacinhos e aquilo deixou-me louca!De repente, um gosto de sangue na boca e um orgasmo misturado à dor da carne arrancada por suas presas afiadas, prazer infernal!!Despertei gritando!Um misto de sensações me tomava, passei a mão no pescoço, procurei o sangue jorrado ou alguma marca, mas só havia suor, quente,cheirando à coisa antiga,um incenso talvez...As contrações no meu corpo continuaram por um certo tempo,meu sexo estava vivo e explodindo...Como poderia tudo ter sido apenas um sonho?
Levantei absorvida pelo tédio dos dias sempre iguais. O sonho trouxera o gosto amargo da decepção, ao acordar.Continuava sozinha, na minha escuridão de sempre.Antes, ela não me incomodava,mas agora era dilacerante,deixava-me angustiada e faminta...uma fome esquisita que nenhum alimento saciava...
Na noite seguinte, tornei sair, porém,dessa vez,parecia determinada a encontrar algo ou alguém específico,alguma coisa me impulsionava e me atraia de forma irresistível...morte! Essa palavra se repetia em minha mente como um mantra mórbido,eu sei,mas de salvação,eu adorava seu eco, engraçado, ela tinha um sentido diferente...,de vida...,de algo que pulsava,vibrava...
Entrei num botequim situado na esquina de um beco chamado Beco dos Imortais, cada bar tinha um nome de um célebre imortal, escolhi o Bar do Baudelaire,pois estava bem baudelaireana naquela noite,até cairia bem um vampiro...Algo me puxava para lá,farejava qualquer coisa indefinida,começava a sentir aquele gosto na boca novamente...aquele do sonho,e aumentava a minha fome...
Entrei, sentei, não vi nada no cardápio que me agradasse, contudo, na mesa em frente à minha, vi um homem de olhar fulminante a me fitar insistentemente.E, de repente,misteriosamente,vi-me sentada ao seu lado.Ele era de poucas palavras,mas despertava cada vez mais minha fome com seu olhar de serpente, seu veneno era apetitoso...Acho que estava obcecada,tarada ,depois de tanto tempo em reclusão,precisava urgentemente de uma noite orgástica!Então veio o convite tão desejado... e eu aceitei de imediato,é claro!Quando saíamos do bar, ele me abraçou subitamente, um abraço quente, de arrepiar cada poro da pele.Ao abrir os olhos,mirei um espelho que ficava bem na minha direção,para minha grande surpresa,só havia uma pessoa refletida...
Enquanto ele me apertava contra seu corpo, e o seu sangue parecia se concentrar todo no seu sexo,minha boca sentia intensamente aquele gosto daquele dia...estava muito gelada e tonta ,talvez de desejo,não sei,só sei que necessitava de algo quente urgentemente, e ele estava ali,eu podia deixá-lo ir,mas foi inevitável o beijo...a mordida...,ele precisava morrer para que eu sobrevivesse...

(Raiblue)

Foto de diana sad

"Vento novo"

A noite escurece meu peito que não adormece
Aquele menino que segurou minha mão
Trouxe mais que tudo saudade e paixão
Eu não sei aonde pôr os meus pés...

A vida que me guia
Cantando poesia, cadê o meu verso que contigo ganhou o mundo?
A voz que tenta ser minha, me acompanha sonolenta e exausta noite e dia, acontece que os dias de prece já se foram na estrada da solidão...

Menino que segurou minha mão
Entenda que eu te dei além de sorrisos e prazer
Eu dei uma parte da minha vida para você.
E não posso lamentar corri por livre vontade na tua mão
Só não estava preparada pra sofrer por paixão...

Meus discos distorcem aquilo que entorpece o juízo
E meus queridos amigos têm saído mais comigo
Eu tenho me divertido, ido ao cinema.
Comprado pipoca e rido bastante
Mais depois de você nenhum vento novo da vida
Terá o mesmo sabor de antes.

Foto de Bruna matias

TE DESEJAR

NOS DIAS EM QUE ACORDAMOS
E NOS DEPARAMOS COM UM COMPLETO NADA,
PERMITINDO QUE SUA IMAGEM
TOME CONTA DO AMBIENTE,
COM SEU JEITO MAIS ENVOLVENTE
DEMOSTRANDO O QUE SEU INTERIOR TANTO PEDE...

E COM UM DESEJO INCONTROLÁVEL
DESVENDA EM MEUS OLHOS
QUE SEU DESEJO TAMBÉM É MEU.

E ASSIM COM DELICADEZA
ME AMPARA EM SEUS BRAÇOS,
E ME PROMETE AMAR COMO JAMAIS AMOU...

A NOITE CORRE DEVAGAR...
E ASSIM COM ELA,
NOSSO AMOR...

OS ESPAÇOS EM NOSSA VOLTA SÃO POUCOS...
AS HORAS SÃO CURTAS...
AS CARICIAS SÃO MUITAS...

E O MUNDO LA FORA,
JÁ NÃO NOS PERTENCE.

E É COM UM SIMPLES PENSAMENTO
QUE ACORDO DE MANHA,
SENTINDO SEU CHEIRO.
TE SINTO POR TODAS AS PARTES,
PRINCIPALMENTE EM MEU CORPO...

POIS TUDO NÃO PASSOU DE UM SONHO.
COM A MAIS REPLETA LOUCURA,
DE TE POSSUIR EM MEUS BRAÇOS...
QUE DURANTE DIAS,
SONHO POR TE DESEJAR...

E PARA TODO SEMPRE LHE AMAR...

TODOS OS DIAS INTENSAMENTE...

Foto de Mentiroso Compulsivo

Não consegues ser poeta!

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Já é noite! E se faz tarde!
Acabei triste e cansado neste dia.
Por momentos parei e suspirei:
(Não sei se senti cobardia!)

- Não consegues ser poeta!

O que escrevo anda errante… distante!...
Só, eu caminho por um trilho diferente
(se é que existe algum caminho!)
Mas, ao som de silêncio, a lembrança voltou,
Poeta a escrever eu sei que não sou…
Mas poeta sou e serei a ouvir a Vossa voz…
A ler e a sentir os poemas de todos vós!

© Jorge Oliveira 25.FEV.08

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